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11/02/2021

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13 Filmes Sobre Pais E Filhos – Parte 4


Continuando nossa pesquisa do ICGE (‘Instituto Cinéfilo de Geografia e Emoções’) para refletirmos sobre filmes que abordam a temática ‘Pais e Filhos’ das mais diversas formas. Com trajetórias percorridas, profundas ou não, conseguimos extrair um pouco das mensagens de cada um dos variados 13 filmes dessa quarta parte de nossa jornada. Nessa, temos filmes de Luxemburgo, Japão, Itália, EUA, Austrália, Brasil, Espanha, China, Austrália, França e Dinamarca. Vamos a ela:

 

Barrage (Luxemburgo)

 

Como percorrer 10 anos em alguns dias? Buscando responder a essa e a muitas outras perguntas, Barrage, dirigido pela cineasta de Luxemburgo Laura Schroeder (em seu segundo longa-metragem) é um recorte de uma mãe e sua tentativa de recuperar anos perdidos na criação e afeto da filha. O ritmo é lento, sem muitas informações sobre o passado da protagonista, vamos pela dedução de acordo com as migalhas de memórias que nos apresentam o roteiro. Há um paralelo interessante entre o jogo de tênis (assunto que mãe e filha possuem em comum) e a maternidade, sobre a questão existencial da ‘obrigação x pelo amor’. O projeto conta com a participação especial da fabulosa atriz francesa Isabelle Huppert.

 

Na trama, conhecemos Catherine (Lolita Chammah), uma mulher que possui abalos psicológicos ligados a seu passado e volta após dez anos morando na Suíça a frequentar a mesma cidade de sua filha Alba (Themis Pauwels), que fora criada e mora com sua avó materna Elisabeth (Isabelle Huppert). Buscando essa reaproximação, mãe e filha embarcam em uma jornada de mágoas e ressentimentos sobre tudo que não viveram.

 

Co-produzido por Luxemburgo, Bélgica e França, o projeto explora em pouco mais de 100 minutos, uma dupla ótica, que é a grande sacada do roteiro. Com seu primeiro ato tenso e sem muitas informações, percebemos as dificuldades iniciais de Catherine de se entender minimamente com a filha. Há um divisor de águas nessa relação, que começa muito distante, logo nesse arco inicial. Contando histórias de sua família pela sua visão, Catherine embarca com Alba em uma viagem pelas emoções que foram vividas separadamente durante todos esses tempos. Já que as memórias acabam machucando muito, há algumas cenas sem diálogos, onde o olhar diz bastante.

 

Barrage é mais um filme que explora relacionamentos entre pais e filhos. O final aberto deixa margens para interpretações: será que elas algum dia vão se entender? Será que elas já se entenderam?

 

 

Três Solteirões e um Bebê (EUA)

 

Há mais de 30 anos atrás, uma comédia atemporal e que transpira carisma chegava a vista dos cinéfilos. Dirigido pelo eterno Spock, Leonard Nimoy (sim, ele mesmo!), Três Solteirões e um Bebê fala de forma leve e engraçada sobre a paternidade na visão de três adeptos do ‘solteirismo’ que precisam readequar suas vidas quando um bebê de poucos meses é deixando na porta de onde moram. Disponível no streaming Disney+ (assim como sua continuação), o longa-metragem de enorme sucesso é protagonizado pelos ótimos Tom Selleck, Steve Guttenberg Ted Danson. A trilha sonora, com a música chiclete Bad Boy, segundo single lançado pela banda americana Miami Sound Machine liderada por Gloria Estefan, é excelente.

 

Na trama, conhecemos três amigos muito bem sucedidos que moram em uma cobertura em Nova Iorque. Peter (Tom Selleck) é arquiteto, Michael (Steve Guttenberg) é desenhista e Jack (Ted Danson) é ator, todos eles são adeptos da vida boa e cultivam sua solteirice como modalidade de vida. Tudo muda quando um bebê é encontrado na porta da casa deles dizendo ser filha de Jack. Como o papai viajou para a Turquia para rodar um filme, Michael e Peter precisarão passar dias muito intensos, confusos e engraçados tentando cuidar da nova hóspede.

 

O foco principal é a paternidade em uma visão muito bem elaborada dentro de um roteiro simples onde a própria história ganha seu brilho através das lentes de Nimoy. Os personagens são ótimos, se encaixam com perfeição dentro de um contexto importante para a época mas a história não deixa de ser atemporal mesmo após mais de três décadas. O relacionamento pais e filhos pode ser mostrado de muitas formas, Três solteirões e um Bebê nos apresenta uma forma muito descontraída que o amor de quem cuida é o que vale no final das contas.

 

 

Verão Feliz (Japão)

 

Quando a tristeza pela decepção encontra as metáforas da vida. Indicado à Palma de Ouro em Cannes em um ano que tinha como concorrentes Almodóvar, Lynch, irmãos Dardenne, Greenaway, Manoel de OLiveira, Jarmusch, Sokurov, Egoyan, Bellocchio entre outros, Verão Feliz mostra a saga de um homem sem trabalho e um garoto criado pela avó que, quase sem direção, e contando com a ajuda além de caronas de desconhecidos, embarcam em uma aventura à procura da mãe do garoto que levarão na memória por toda uma vida. Contendo a força da delicadeza em todas as esferas, Takeshi Kitano, que escreve e dirige esse lindo trabalho, consegue encher de emoções e alguns risos as duas horas de projeção. Poucos são os diretores que com bastante sutileza nos mostram emoções com suas lentes.

 

Na trama, conhecemos Masao (Yusuke Sekiguchi) um triste menino, de olhar para baixo, que está sem amigos para brincar durante as férias. Ele é criado desde sempre pela sua avó já que sua mãe nunca aparece pois trabalha em uma outra cidade para poder sustentar ele. Certo dia, Masao resolve ir atrás de sua mãe e para isso vai contar com a inusitada ajuda de um amigo de sua avó, Kikujiro (Takeshi Kitano) um homem que vive seus dias sem muitos objetivos ao lado da esposa (Kayoko Kishimoto).  Assim, passando por diversas situações, ambos embarcam em uma saga à procura da mãe do menino.

 

Exibido no Festival do RJ e na Mostra de SP em um ano antes da chegada dos anos 2000, com planos longos e definindo arcos mostrados na tela, acompanhamos a junção equilibrada de um profundo mundo das emoções e situações de riso fácil, o drama e a comédia. Kitano fora conhecido no início de carreira pelos seus trabalhos como comediante e joga na tela todo seu talento além de mostrar uma grande habilidade em trabalhar os sentimentos principalmente na parte dramática do projeto.

 

Podemos enxergar esse lindo filme por duas perspectivas, a do menino que se protege da realidade dentro dos sonhos que são compostos por pessoas ou situações que encontra pelo caminho, ou do homem desajustado, trambiqueiro, no início nada simpático, que com uma transformação pura e bonita se torna uma referência para alguém que ele nunca imaginou. Ambos os personagens, nos brindam com uma história que irão contar por toda uma vida.

 

 

 

Bænken (Dinamarca)

 

Até aonde vai à redenção de alguém que pensara em não ter mais nada a perder? No início dos anos 2000, lançou-se na Dinamarca o longa-metragem Bænken que nunca pousou por aqui. O filme, escrito (Kim Leona também assina o roteiro) e dirigido pelo cineasta Per Fly conta a trajetória dura sobre um homem sem destino que achava que estava sozinho no mundo mas acaba indo buscar algum tipo de redenção quando encontra de maneira inesperada a filha que não via faz 19 anos. Tocando em muitos pontos polêmicos sobre alcoolismo, abandono e assistência social, o projeto se torna aos poucos reflexivo drama sobre escolhas da vida.

 

Na trama, conhecemos Kaj (Jesper Christensen), um rabugento alcóolatra na fase final de sua vida que vive gastando seu dinheiro de trabalho com cerveja. Sem ter mais ambições na vida e tratando mal a todos ao seu redor, acaba sendo surpreendido pela chegada de Liv (Stine Holm Joensen) e Jonas, mãe e filho que buscam abrigo no condomínio de apartamentos onde Kaj mora, mas especificamente no apartamento de um frustrado e lunático escritor. Um curto tempo depois, Kaj descobre que Liv é sua filha que não via a quase duas décadas e assim embarca em uma tentativa de jornada de redenção, principalmente, protegendo sua filha e neto do ex-companheiro de Liv e pai de Jonas, um homem ciumento e violento.

 

As lacunas à preencher após a chegada da dor na consciência. Completamente perdido em sua mesmice, o protagonista sofre com o alcoolismo, uma fuga sempre que não consegue enfrentar o mundo que construiu ao seu redor. As mudanças que chegam em sua vida acabam trazendo memórias perdidas/esquecidas que acabam se reativando por conta dos erros do passado cometidos por ele. Não sabendo lidar com a situação imposta pelo destino, busca se redescobrir como ser humano de maneira simples e objetiva, contando inclusive com a ajuda de alguns que pensas ser amigo. Tocando em assuntos delicados como a violência contra a mulher, a falta de assistência dos governos para determinadas situações emergenciais que muitos sofrem por aí, a trajetória do bom projeto se encaixa em sua essência como um profundo drama sobre relacionamentos entre pais e filhos.

 

 

Pieces of a Woman (EUA)

 

Quando os sentimentos viram uma série de portas fechadas. Com um abre alas angustiante, antes do título aparecer na tela, onde não conseguimos tirar os olhos das ações que acontecem Pieces of a Woman é um poderoso drama que mostra desenrolares da vida de um jovem casal e os passos seguintes que precisam caminhar durante o luto. Dirigido pelo cineasta húngaro Kornél Mundruczó e com roteiro assinado por Kata Wéber, o filme, disponível no catálogo da Netflix, é um dos mais badalados projetos desse ano: merecidamente! É tenso, polêmico, excelente para reflexão. Poderosas interpretações, personagem principal interpretada magistralmente pela atriz britânica Vanessa Kirby, um roteiro com bastante profundidade e uma excelente direção tornam esse longa-metragem um dos fortes concorrentes a algumas indicações em categorias do Oscar (inclusive já levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza do ano passado).

 

Na trama, conhecemos um jovem casal, Sean (Shia Lebouf) e Martha (Vanessa Kirby) apaixonado e com alta expectativa com a chegada da primeira filha. Eles optaram por um parto domiciliar, feito por uma parteira. No dia onde a chegada do bebê se torna iminente, a parteira que faria o parto não consegue chegar a tempo e uma outra vai no lugar dela. Durante o processo do parto, uma alta tensão acontece, um nervosismo de todos, pai, mãe e parteira. Infelizmente uma tragédia acontece. Nos meses após o corrido, a maneira como o casal lida com a terrível tragédia é o que vai moldando a trajetória desse impactante filme.

 

Como lidar com a perda? Os personagens são os grandes motores do filme. Levados ao limite após a tragédia que acontece em suas vidas, nada vai ser como antes e eles já sabem disso. Conflitos antes suportáveis, se tornam estopins para discussões ou intromissões injustas nas escolhas que os dois devem tomar juntos. Sean é um homem que trabalha com construções e em especial nas pontes, está a seis anos sóbrio, possui um relacionamento conflitante com a sogra, assim precisa lutar contra seus demônios após a tragédia. Já Martha é introspectiva, de fala mansa, de família com mais dinheiro que a do companheiro, mostra um controle na aparência para os outros mas um descontrolado ninho de sentimentos conflitantes por dentro após o ocorrido, principalmente lutando contra as interferências de sua mãe Elizabeth (Ellen Burstyn, em atuação também digna de aplausos). A habilidade de Mundruczó em mostrar as entrelinhas através da expressão dos personagens é digna de aplausos, emocionante em muitos momentos, nos sentimos próximos das dores dos personagens.

 

O filme toca em alguns pontos polêmicos. A questão da comunidade médica vs parteiras e os dilemas sobre doação de corpos para estudos médicos. As partes jurídicas de uma dessas questões são colocadas como ferramenta de ‘justiça’ por Elizabeth, insensível e intrometida, em muitos momentos. O projeto chega fácil aos corações dos espectadores, dentre os dilemas e os sofrimentos, vamos tentar entender como é possível (ou não) reunir peças de uma vida despedaçada.

 

 

Babyteeth (Austrália)

 

O drama comum de alguém que não querem que se vá. Debutando na direção de longas-metragens, a cineasta Shannon Murphy apresenta ao público seu olhar para um tema difícil, doloroso, uma doença terrível em uma adolescente e como tudo muda muito rápido para todos que estão ao redor da corajosa protagonista que busca em suas ações fugir de rótulos dando lindos e emocionante gritos de liberdade. O roteiro, assinado pela também debutante em roteiros para longas-metragens Rita Kalnejais, possui arcos divididos em situações de encontros e desencontros dos personagens, fator muito interessante. Babyteeth, made in Austrália, emociona bastante, principalmente nos últimos 10 minutos com cenas maravilhosas e inesquecíveis.

 

Na trama, conhecemos a jovem Milla (Eliza Scanlen) que mora em um bairro de classe media com seu pai, o psiquiatra Henry (Ben Mendelsohn) e sua mãe Anna (Essie Davis). Os três, cada um à sua maneira, precisam enfrentar a doença de Milla que tem um câncer agressivo em evolução. Certo dia, Milla conhece Moses (Toby Wallace), uma desregulado alma que acabou a escola, praticamente um nômade que é expulso de casa pela mãe, mas por quem Milla logo se apaixona. Assim, enfrentando a cada dia uma dura batalha pela vida mas também para sair de vez do ninho montado pelos pais, a personagem principal encontra em Moses, um importante companheiro na luta pelas suas fortes tomadas de decisões.

 

A princípio os personagens parecem excêntricos mas é que a troca da apresentação do filme vai nos confundindo um pouco, muito até para quem nem leu a sinopse. Mas isso faz parte do ótimo roteiro de Babyteeth, produção australiana ganhadora de muitos prêmios, que fala sobre a vida de uma jovem, sua visão do seu entorno e como a doença que tem afeta a todos. Buscando ser quem sempre quis, começa a tomar decisões que fogem da normalidade que os pais se acostumaram, vivendo intensamente como se fosse o último dia de sua vida. Os pais, procuram entender a situação, eles estão em um casamento cheio de amor mas abalado pela situação da filha. A mãe é medicada pelo pai e vive em crise constante. O pai também, muitas vezes perdido no seu pensamento se equivoca mas tenta logo consertar.

 

Com muitos assuntos de bem ampla reflexão, ao longo das duas horas de projeção, há espaço para um ótimo debate sobre o uso de medicamentos controlados para problemas de todos os tipos. Babyteeth ainda nos brinca com dez minutos finais arrasadores, com uma força impressionante, de tocar nossos corações.

 

Minari (EUA)

 

Quando rezamos, podemos ver o céu enquanto dormimos? Exibido em muitos festivais e premiado com os dois principais prêmios do Festival de Sundance ano passado, Minari fala sobre os poderes da fé e até onde pode ir um sonho de uma família que enfrenta obstáculos de todos os tipos quando resolvem se mudar para Arkansas após saírem de uma grande cidade norte-americana. Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano Lee Isaac Chung o projeto, super badalado pela crítica internacional, também é um delicado retrato sobre tradições e culturas.

 

Na trama, conhecemos Jacob (Steven Yeun) e Monica (Yeri Han), um casal descendentes de coreanos com raízes nos Estados Unidos que estão de mudanças em busca de sonhos em uma terra de oportunidades junto com seus dois filhos Anne (Noel Cho) e David (Alan S. Kim), esse último possui um problema no coração. Chegando lá, as primeiras dificuldades aparecem, a questão da água, da terra... Jacob tem um grande sonho, de ter um enorme jardim onde cultivará vegetais coreanos, só que os obstáculos chegam e colocam seu casamento em risco. Mas a chegada da avó Soonja (Youn Yuh-jung), mãe de Monica, pode adicionar mais algum tempero positivo ou não para essa história.

 

Os diferentes simbolismos sobre a fé percorrem todo o filme. Podemos exemplificar as questões na figura do amigo Paul (Will Patton) ou mesmo na forte influência de Soonja sobre o cotidiano da família. A chegada da avó coloca em contrapontos valores e tradições, além de comparações sobre o modo de viver no seu país de origem e nos Estados Unidos. Durante boa parte do longa, os conflitos entre avó e neto preenchem a tela com muita delicadeza mostrando todas as etapas desse relacionamento repleto de amor e um pouco de desconfiança à princípio.

 

Os conflitos dos pais sempre chegam aos filhos de alguma forma. Jacob é orgulhoso, parece sempre estar em uma encruzilhada na qual lida muito mal com o revés, por mais que seja um amoroso pai e marido. Os irmãos sempre escutam os temas de discussão dos pais e conversam entre si sobre isso, um processo de amadurecimento precoce em meio a uma instabilidade emocional que a família passa, principalmente quando pensamos no universo da incerteza, terreno que o Jacob mais se encontra.

 

Lee Isaac Chung consegue transmitir os sentimentos de diversas maneiras, da fé à terra, das escolhas ao ponto de interseção entre todos: o amor.

 

 

Felicità (França)

 

Quantas variáveis existem na relação entre pais e filhos? Um dos filmes disponíveis no ótimo festival online e gratuito My French Film Festival desse ano, Felicità, é um road movie descontraído que nos conta a saga de uma família de três integrantes, meio nômades, que se mete em diversas confusões antes do início das aulas da jovem filha do casal. Parece simples e sem muitas saídas para reflexões mas o projeto consegue avançar a superfície principalmente quando analisamos o que assistimos pela ótica de Tommy, a jovem filha. Um trabalho interessante escrito e dirigido por Bruno Merle.

 

Na trama, conhecemos o ex-presidiário Tim (Pio Marmaï) e Chloé (Camille Rutherford), dois jovens sem muitas projeções na vida que vivem do dinheiro que a segunda recebe trabalhando na limpeza de casas para uma empresa. Eles tem uma filha, Tommy (Rita Merle), que acaba embarcando sempre nas loucas aventuras que os pais se metem ao longo dos dias que antecedem o início das aulas.

 

Os absurdos e as peculiaridades que navegam pela história não deixam de serem ingredientes interessantes para conseguirmos enxergarmos conflitos emocionais profundos. Um bom exemplo é a curiosidade da filha, e tudo o que sente quando percebe que seu pai repete os mesmos erros que o levaram para a prisão. As questões de dúvidas de Chloe quanto ao futuro da família e atabalhoadas tentativas de viverem uma vida repleta de amor mas longe de um ‘normal’. Tim é quem possui mais dificuldade em nos fazer refletir sobre suas construções emocionais, não há exatamente uma desconstrução mas algo é buscado para que tudo saia como melhor que ontem, mesmo que as velhas inconsequências não consigam estarem longe de suas ações.

 

Felicità é um recorte de uma família que se ama muito mas sempre fica distante de uma estabilidade.  Sempre bom assistir a filmes que possuam um bom desenvolvimento na temática muitas vezes vistas na telona que é a relação entre pais e filhos.

 

 

Mirador (Brasil)

 

A roda gigante entre a responsabilidade e o sonho. Selecionado para a Mostra de Tiradentes 2021, o longa-metragem Mirador conta a estrada percorrida por um lutador, em muitos sentidos, que precisa reajustar seu destino em uma nova jornada de vida pois agora precisa ser o responsável pela filha em tempo integral após a mãe da criança sumir do mapa. Buscando reflexões para a situação, parecida com muitos do lado de cá da telona espalhados pelo Brasil, o projeto dirigido por Bruno Costa é um drama existencial, profundo em muitos momentos. Belo trabalho, do Paraná para o Brasil.

 

Na trama, conhecemos Michael (Edilson Silva), um rapaz batalhador de trinta e poucos anos, vindo de Pernambuco para o sul do país anos atrás. Entre um bico e outro, envolve seu cotidiano juntamente com os treinamentos para uma eventual competição no Boxe, uma de suas grandes paixões. Ele tem uma filha chamada Malu. Certo dia, quando a mãe da menina some do mapa, Michael precisa aprender muitas coisas para criar sua filha.

 

Um dia a dia de batalha. O paralelo entre o ringue (boxe) e as duras batalhas da vida é ótimo, gera reflexões de várias maneiras, dentro do foco: a paternidade. O protagonista entra em construção muito bonita, após buscar se desconstruir da figura do pai que só vê a filha as vezes. Com seu cotidiano sendo afetado vemos uma luta constante dele para dar o seu melhor, sem desistir da vida, encontrando forças no amor e carinho pela única filha. A situação abandono de uma criança pela mãe (ou pai) não é fato raro infelizmente, sempre há notícias sobre o assunto nos noticiários.

 

As dificuldades legais na inscrição da creche da filha, problemas com o conselho tutelar, com quem deixar a criança para ir trabalhar, várias ótimas questões são levantadas pelo roteiro. Mirador merecia ser visto no cinema com debates após as sessões. De lição ganhamos que a verdadeira luta do protagonista, um homem honesto e trabalhador como muitos de nós é vencer a batalha da vida ao lado de sua filha.  

 

 

Little Boxes (EUA)

 

O pré-conceito e o preconceito na busca pela compreensão ao olhar do próximo. Disponível no catálogo da NetflixLittle Boxes é um recorte simples e objetivo de uma família inter-racial que se muda de Nova Iorque para uma cidadezinha do interior de outra cidade norte-americana e precisa enfrentar todas as diferenças navegando pelos pré-conceitos e com receio dos preconceitos em uma incógnita parte da sociedade norte-americana. Escrito por Annie J. Howell e dirigido por Rob Meyer o filme teve exibição no Festival de Tribeca anos atrás.

 

Na trama, conhecemos Gina (Melanie Lynskey) e Mack (Nelsan Ellis), um casal apaixonado que resolve se mudar para o interior dos Estados Unidos ao lado de seu único filho Clark (Armani Jackson). Gina é fotógrafa e conseguiu um emprego muito bom no departamento de artes de uma universidade dessa nova cidade, Mack é escritor e busca inspiração para seus novos textos ligados à culinária. A vida dos três passará por uma profunda mudança e tentativa de adaptação nessa nova cidade.

 

Um dos pontos interessantes desse filme é a trinca de ótica que consegue definir, entendemos melhor como essa família se sente individualmente (e também em conjunto), seu modo de pensar e os porquês de pensamentos defensivos em determinadas situações que logo surgem nessa nova cidade que se mudam. A mãe é branca e com o novo emprego na universidade vê sua carreira decolar, Mack é negro e está infeliz com o desenvolvimento de sua profissão após um livro de sucesso anteriormente, fica na defensiva sempre quando percebe algum tipo de pré-conceito em relação a ele ou a sua família. O jovem Clark também está passando por uma fase de mudanças, conhece outros jovens de sua idade e de alguma forma tenta conhecer melhor o universo de uma cidade do interior mesmo que isso gere alguns conflitos dentro de si.

 

Com menos de 90 minutos de projeção, essa fita norte-americana também pode ser considerada um filme sobre relacionamentos entre pais e filhos pois em algumas situações vemos como os pais tentam entender todas as ações (algumas inconsequentes) de seu filho. Little Boxes é bastante inteligente em navegar em cima do cismativo e tentar de alguma forma descontruir isso através de ótimos diálogos.

 

 

King of Peking (China/Australia/EUA)

 

Educar é aprender. Colocando em um liquidificador uma singela homenagem ao mundo mágico do cinema e abordando as curiosas saídas que um pai consegue encontrar para ter a guarda de seu filho, King of Peking, dirigido pelo cineasta australiano Sam Voutas é cômico e reflexivo. Sem ser tão profundo mas deixando à margem uma dezena de pontos para pensarmos sobre, se divide em duas vertentes que é a da relação entre pai e filho e as dificuldades do pai na busca de alguma saída para seus problemas aproveitando o início do que podemos chamar de entretenimento doméstico na década de 90 na China.

 

Nessa co-produção China, EUA e Austrália, acompanhamos a saga de Wong Pai (Jun Zhao) e Wong Filho (Wang Naixun) em busca de diversão e felicidade através das confusas ideias do primeiro. Wong Pai é projecionista e sem ter muito trabalho em um país repleto de crises, consegue um trabalho como zelador de um enorme cinema e logo em seguida tem a ‘brilhante’ ideia de piratear os filmes que são exibidos nas telonas através de gravações clandestinas espalhadas pela sala de cinema.

 

Exibido no Festival de Tribeca em 2017, King of Peking é quase uma mistura de alguns filmes dos Trapalhões com a fita norte-americana Rebobine, Por favor, só que consegue buscar sua luz própria no embate educacional causado pela situação do pai e toda a problemática sobre a guarda do filho. De longe, o ponto de vista mais interessante dentro do às vezes confuso roteiro.

 

Não é um filme para se emocionar e sim de riso fácil. Jogando os paradoxos da inconsequência para o lado cômico, o filme acaba perdendo pausas dramáticas importantes que somente os mais observadores conseguirão chegar ao ponto de reflexão.

 

 

Mais Outro Filho (Itália)

 

As eternas lições do aceitar. Escrito por Mattia Torre e dirigido por Giuseppe BonitoMais Outro FilhoFigli, no original, é um filme italiano que de maneira hilária aborda as dificuldades inesperadas de um casal apaixonado na chegada do segundo filho. Há um equilíbrio entre a comédia e o drama, além de hilárias metáforas em formas de pensamentos muito bem encaixadas que nos fazem entender melhor os personagens e seus conflitos. A paternidade, a maternidade, os medos dos pais, suas angústias e dificuldades na criação dos filhos, um ótimo filme vindo da Itália e disponível na HBO Go.

 

Na trama, conhecemos o casal Sara (Paola Cortellesi) e Nicola (Valerio Mastandrea) que ‘estão grávidos’ pela segunda vez. Ela uma inspetora sanitária de estabelecimentos, ele um dono de um frequentado armazém, são surpreendidos pelas dificuldades que enfrentam pois achavam que seria mais fácil que na primeira gestação. À flor da pele com as emoções, o casal começa a observar um novo mundo ao redor, inclusive outras formas de se entenderem em busca de soluções para os conflitos que muito se devem aos problemas de comunicação entre ambos.

 

Buscando soluções em teorias que chegam para eles quando sonham acordados, que vão desde a criação que tiveram oriunda do modo de pensar de outras gerações até conversas em sonhos com uma espécie de Deus e hilários ‘saltos para o lado de fora da janela’ quando querem sumir das discussões que os rodeiam. Exaustos emocionalmente tem ótimas cenas com a pediatra ‘guru’. O filme pode ser considerado uma grande análise sobre o universo que rodeia a mente dos pais com a chegada de uma nova criança a uma família. Várias situações eles enfrentam na tentativa de encontrarem ajuda: seja com os sogros, na busca pela babá perfeita, os conselhos dos amigos, as idas na caríssima pediatra, tudo é composto por um humor agradável que geram risos mesmo nas reflexões mais sérias.

 

Com ótimas sacadas, como a troca do choro por melodia do Beethoven, Mais Outro Filho é um dos bons filmes lançados em 2020 que falam sobre o universo de pais e filhos.

 

 

Thi Mai (Espanha)

 

Até aonde vai o amor de uma mãe na busca pelas concretizações dos desejos de uma filha que não está mais por perto? Escrito pela roteirista Marta Sánchez e dirigido pela cineasta Patricia Ferreira, o longa-metragem espanhol Thi Mai consegue mesclar com muita objetividade as superfícies de momentos cômicos com uma profundidade elegante para falar sobre luto e desejos não realizados. Camuflado de filme água com açúcar, o projeto é sobre a renovação de algum sentido na vida de uma mulher na terceira idade após uma perda terrível. Disponível no catálogo da Netflix.

 

Na trama, conhecemos a comerciante Carmen (Carmen Machi) que vive seus dias ao lado do marido Javier (Pedro Casablanc) gerenciando uma loja de materiais de construção e pequenos reparos. Certo dia, recebe a terrível notícia do falecimento da filha, que mora na capital, depois de um acidente de carro. Tentando entender os rumos do destino, acaba descobrindo que o processo de adoção que sua filha iniciou para adotar uma criança no Vietnã foi concluído e assim resolve partir para Hanói ao lado das inseparáveis amigas Rosa (Adriana Ozores) e Elvira (Aitana Sánchez-Gijón).

 

Há uma certa poesia acoplada na ótica da perda, do luto. O contraponto de uma nova vida depois de um trágico acontecimento em uma família acaba se tornando complementar para aliviar as dores que o destino causou. Colocando uma lupa sobre o processo de adoção internacional, onde famílias mundo à fora buscam mais a cada ano, (principalmente na figura do personagem de Eric Nguyen, Dan), entendemos os lados dessa jornada através também dos profissionais que organizam a burocracia e acompanham todo o processo.

 

Com direito a belas paisagens, situações a lá filmes da sessão da tarde, diálogos inusitados e pra lá de engraçados, ótimo espaço para coadjuvantes brilharem em suas respectivas subtramas, Thi Mai é uma ótima surpresa no catálogo da mais famosa rede de streamings disponível no Brasil.

 

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28/11/2020

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13 Filmes Sobre Pais E Filhos – Parte 3


Seguindo em nossa jornada sobre esse tema complicado e bastante abordando de diversas maneiras por inúmeras produções pelo mundo todo ano, dessa vez reunimos filmes da Romênia, Israel, França, EUA, Argentina, um clássico sobre o tema com Christopher Walken e Sean Penn no elenco, até curta-metragem separamos para essa parte 3 de nosso especial.

 

O Caderno de Tomy (Argentina)

 

Ame, leia, veja, escute...e pense em mim de vez em quando. Baseado em uma história real, o longa-metragem argentino O Caderno de Tomy é uma história, antes de mais nada, sobre um último desejo de mãe para filho. Abordando temas delicados como a linha tênue entre procedimentos legais e a eutanásia, a difícil tarefa de dizer adeus, o projeto gera muitas emoções pois em nossas vidas já conhecemos ou conhecemos alguém que já conheceu quem teve câncer. Disponível na Netflix, o filme pode também ser definido como uma grande mistura de sentimentos. Escrito e dirigido pelo cineasta Carlos Sorin.

 

Na trama, conhecemos uma mulher de 40 e poucos anos (interpretada pela ótima atriz argentina Valeria Bertuccelli) que é diagnosticada com um câncer terminal. Seu marido (Esteban Lamothe), sempre ao seu lado, faz de tudo para que ela fique bem nos seus últimos dias em um quarto de hospital. Certo dia, fugindo de um quadro depressivo por conta de sua situação, resolve escrever um diário endereçado a seu filho pequeno, a cada página que escreve ela conta sobre sua experiência de estar ali mas também todos seus desejos par ao futuro dele. Além do diário, resolve ir twitando sobre sua rotina e acaba ficando famosa involuntariamente saindo em jornais e aparecendo na televisão.

 

Quando ser corajoso e forte é nossa única opção. Não é um filme fácil, há muita dor pelo caminho dos 84 minutos de projeção. Os diálogos da protagonista com o médico chefe são sinceros, fortes e com uma maturidade gigante. Sedação paliativa ou eutanásia, os contornos dessa linha tênue chegam já no arco final dando bastante profundidade para o polêmico tema.

 

Por mais que não seja o foco principal, está dentro de outros subtópicos o sentido do relacionamento de pais e filhos. Além disso é algo profundo, dolorido e notório que não é fácil para ela nem para todos ao seu redor. As cenas dos arcos finais deixam nossos corações apertados. O Caderno de Tomy gera muita reflexão sobre o sentido de nossas vidas e o que fazemos com ela.

 

Se Algo Acontecer...Te Amo (EUA)

 

Só o amor vence batalhas que durante muito tempo não pensamos em como superar. Como contar os reflexos de uma tragédia através da técnica de animação em menos de 15 minutos? O vazio existencial, a solidão. Uma tristeza que abala o casamento, portas abertas de uma lembrança que machuca mas que mostra uma esperança. Se Algo Acontecer...Te Amo, curta-metragem disponível na Netflix (que legal ter curtas em algum streaming!), busca transformar pequenos minutos em grandiosos momentos contando o recorte de uma família, suas desilusões e algum caminho para a esperança. Escrito e dirigido pela dupla Michael Govier e Will McCormack o projeto transforma a dor em forma de traços e tinta.

 

Utilizando as técnicas de animação, o drama Se Algo Acontecer...Te Amo mostra uma família que tem sua rotina completamente afetada com lembranças após uma tragédia acontecer com a filha dentro de um colégio norte-americano. Em 12 minutos somos testemunhas de um avassalador recorte de uma família abatida pelo luto.

 

A sombra, o espírito. A interpretação para tudo o que vemos vem de cada um de nós. Fica forte a tendência de que os sentimentos podem ser identificados como as sombras que vão e vém nesse pequeno grande filme. A paleta de cores se mostra presenta e sem entrelinhas indica o colorido quando geravam lembranças da filha. Govier e McCormack tem um grande méritos de conseguir envolver o espectador do primeiro ao último minuto. Um projeto corajoso e muito emocionante.

 

 

Uncle Frank (EUA)

 

Você vai fazer as coisas como querem que você faça ou da maneira como você quer fazer? Escrito e dirigido por Alan Ball (produtor de seriados de sucesso como A Sete Palmos e True Blood), em seu segundo longa-metragem como diretor, Uncle Frank é sensível recorte passado no início da década de 70 onde um professor universitário não assumidamente gay precisa enfrentar seus grandes fantasmas do passado quando seu pai falece. Delicado e com reflexivos diálogos, o filme percorre todas as dores de um personagem (e os ótimos coadjuvantes) inteligentes e cativantes. Os atores Peter Macdissi e Paul Bettany conseguem extrair de seus personagens todo amor e carinho de uma relação secreta que passa uma grande verdade para o lado de cá da tela. Um emocionante filme, disponível na Amazon Prime.

 

 

Na trama, conhecemos a jovem Beth (Sophia Lillis) que mora no interior dos Estados Unidos e não possui muitos sonhos na vida. Sua grande referência acaba sendo o seu tio Frank (Paul Bettany) um homem inteligente, educado, professor da Universidade de Nova Iorque, distante do resto da família, por motivos que a princípio não sabemos, que a faz entender alguns conceitos básicos para que tenha independência e consiga ser quem ela realmente quiser ser. Os anos se passam e Beth passa para a mesa Universidade que o tio dá aulas e acaba, durante uma festa meio que secreta, descobrindo que ele é gay e vive casado com Wally (Peter Macdissi), um engenheiro aeronáutico, a mais de 10 anos. Dias depois, Frank recebe a notícia que seu pai, avô de Beth, faleceu, e os dois precisam embarcar para a cidade natal deles para o funeral.

 

 

Há uma impressionante linda passagem entre os arcos, harmônicos e com recheio de emoções perdidas ou encubadas principalmente do amargurado protagonista que acaba se descontruindo e se construindo novamente aos nossos olhos. Não chega a ser um road movie mas é um caminho de descobertas, ou, encerramentos de capítulos não terminados de um passado que vivia gritando dentro de Frank. A delicadeza percorre todos os menos de 100 minutos de projeção, mesmo nas partes mais dolorosas como os preconceitos sofridos há uma quebra de hipocrisia com sarcasmos e muitos risos, alguns desses provocados pelo ótimo personagem Wally (o quase desconhecido por aqui, o ator libanês Peter Macdissi em grande atuação).

 

 

Fica mais rico ainda o filme se analisarmos pela ótica de Beth, a referência em quase tudo que conhece sobre livros e vivência vem desse tio tão especial para ela, como se fosse uma filha para ele. Uncle Frank não deixa de tocar o ponto principal a todo instante, relacionamentos pais e filhos, na linha do protagonista e na de muitos dos personagens coadjuvantes, seus conflitos e suas escolhas. Um belo trabalho de Bell e cia.

 

 

 

Caminhos Violentos (EUA)

 

Violência gera violência. Explorando uma relação explosiva entre pai e filho, o cineasta nova iorquino James Foley nos apresenta um longa-metragem repleto de questões que envolvem principalmente questões familiares e a falta de uma maturidade em um início de uma fase adulta conturbada, sem muitas referências. Somos testemunhas de caminhos inconsequentes, violentos em uma primavera de 1978 no interior da Pensilvânia. Vale o destaque também para a trilha sonora, com direito a canção Live to Tell da Madonna. Destaques para as atuações de Christopher Walken Sean Penn.

 

 

Na trama, conhecemos Brad Jr. (Sean Penn), um jovem que trabalha com um bico pouco rentável e vive com a mãe, a avó e o irmão em uma simples casa na Pensilvânia. Brad Jr. se apaixona por Terry (Mary Stuart Masterson) com quem deseja fugir da cidade e ter uma nova vida. Mas, ao mesmo tempo, Brad tem em sua vida novamente o seu pai, o bandido Brad Sr. (Christopher Walken) com que começa a ter uma reaproximação que culminará em um desfecho tenso, frio e sangrento.  



Baseado em fatos reais, At Close Range, no original, possui um roteiro bem desenvolvido, assinado por Nicholas Kazan. As verdades da vida são colocadas todas expostas, nem toda trama tem um final feliz, como muitas trajetórias inconsequentes e/ou perdidas do lado de cá da telona. O foco é total na relação complicada entre pai e filho, uma verdadeira luta entre a imaturidade e o pensar sem escrúpulos. Toda a trajetória é violenta, desde o abandono da ex-esposa e dos filhos até a maneira como lida com isso e os inconsequentes atos que se seguem. Um filme marcante, com cenas fortes que apresentam ao público uma história chocante, indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim.

 

 

Charter (Suécia)

 

Se tivesse que escolher, você ficaria com sua mãe ou seu pai? Indicado da Suécia ao próximo Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro, Charter, escrito e dirigido pela cineasta sueca de 34 anos Amanda Kernell, possui um arrepiante abre alas, um diálogo no escuro que diz muito sobre sentimentos dúvidas/incertezas que veremos ao longo dos intensos 94 minutos de projeção. No início tudo é muito misterioso, aos poucos vamos descobrindo as verdades e alguns porquês (nem todos) sobre como todos os personagens foram parar ali naquela situação complexa que envolve guarda das crianças, a polícia, assistentes sociais, e uma mãe em fuga com os próprios filhos. Um drama profundo, muito bem dirigido. A atuação de Ane Dahl Torp é uma das melhores dos últimos anos quando pensamos em filmes europeus.

 

 

Na trama, conhecemos Alice (Ane Dahl Torp) uma mulher que precisou se distanciar dos dois filhos, Elina (Tintin Poggats Sarri) e Vincent (Troy Lundkvist) por alguns meses esperando sair a decisão sobre a custódia das crianças. Mas certo dia, Vicent liga para mãe no meio da noite e isso faz com que ela volte correndo para o lugar onde seus filhos vivem e acaba sequestrando as crianças com destino às ilhas canárias. Mas o pai das crianças, o indecifrável Mattis (Sverrir Gudnason) não deixará barato e aciona a polícia em busca do paradeiro deles.

 

 

O roteiro bate na tecla ‘Peso na consciência’ constantemente. Há uma mágoa imensa dos filhos para com a mãe deles. Por conta de escolhas do passado, isso fica evidente com mais clareza quando analisamos as atitudes pela ótica da filha Elina. Mas as demonstrações de arrependimento os une, quando o espírito materno grita, atitudes desesperadas e impulsivas se jogam na tela gerando uma fuga para redescobertas e um entrelinhado pedido de desculpas embutido em cada atitude simpática vindo dessa mãe que se distanciou mas voltou.  Charter é uma poderosa Fita nórdica que fala sobre assuntos importantes que acontecem diariamente no mundo, principalmente quando envolve filhos, pais e separação.

 

 

On the Rocks (EUA)

 

As verdades precisam ser contadas ou descobertas? Analisando um peculiar raio-x da desconfiança na cabeça de uma esposa que se sente afastada do marido, a cineasta Sofia Coppola (que escreve e dirige esse projeto) nos leva em bom ritmo a uma trama repleta de ótimos diálogos mesmo com um clima amargurado que percorre toda a trama. Entre um drink e outro pai e filha nos divertem com diálogos sobre casamentos, o mundo, traições, escolhas, atos machistas. Bill Murray Rashida Jones nos brindam com ótimas atuações. As passagens dos arcos são lindas, metáforas de interseção entre a cidade e os problemas cotidianos entre quatro paredes.

 

 

Na trama, conhecemos Laura (Rashida Jones) uma escritora que está em uma péssima fase no seu trabalho e ainda começa a desconfiar da constante falta de tempo do seu marido Dean (Marlon Wayans). Nisso, surge seu pai Felix (Bill Murray) na história, um negociante de artes bem sucedido, sedutor, bom vivant, que acha ser o maior conhecedor sobre relacionamentos da face da terra. E assim, no vai e vém pelas principais ruas de uma nova Iorque que nunca dorme pai e filha tentarão descobrir se há segredos de Dean.

 

 

Uma pulga atrás da orelha é uma expressão que se encaixa na vida da protagonista. Em busca da própria aventura, Laura tenta a todo instante analisar cada variável da vida que leva e acaba entrando em constante pane emocional quando vestígios de mentiras aparecem em sua frente. Nessa hora que surge a figura do pai, de cara vemos uma relação pai e filha muito amistosa, resumindo é objetivo e deveras protetor por parte do mais velho. Caricato, porém, exalando carisma, o seu excêntrico Felix vira algo marcante na história, méritos do sempre hilário Bill Murray. Os ótimos diálogos não avançam muito em profundidade e a situação matrimonial ganha contornos de background em alguns momentos.

Mesmo não sendo perfeito, On the Rocks nos apresenta um drama disfarçado de comédia elegante com pitadas sobre um recorte do que acontece entre quatro paredes.

 

 

Mãe e Muito Mais (EUA)

 

Há sempre espaços nas histórias da vida para um final melhor. Camuflado de comédia bobinha Mãe e muito mais, é muito mais que uma historinha água com açúcar. Consegue traçar paralelos reflexivos sobre idade, dúvidas, incertezas dentro de um contexto de amizade que passa de mães para filhos. Escrito e dirigido pela cineasta Cindy Chupack (produtora do famoso seriado Sex and the City) o filme aposta em três recortes de relacionamento mãe x filho diferentes, com três artistas fantásticas que transpiram carisma.  Ao longo de simpáticos 100 minutos, o longa-metragem, que está disponível no catálogo da Netflix, caminha, nem tão raso, nem tão profundo, por assuntos tabus dentro desses relacionamentos.

 

Na trama, conhecemos as inseparáveis amigas Carol (Angela Bassett), Gillian (Patricia Arquette) e Helen (Felicity Huffman) que viveram a vida toda no interior de uma grande cidade e todas elas presenciaram a formação de cada um dos respectivos filhos delas. Quando em uma conversa argumentam sobre os porquês dos filhos não ligarem no dia das mães, impulsivamente resolvem ir atrás deles, que são amigos, e moram, cada um em sua casa, em Nova Iorque. A partir daí, casa uma delas tentará entender situações, melhorar relacionamentos e aparar problemas do passado pensando sempre em ter um futuro melhor no relacionamento mães e filhos.

 

 

Aquela sensação angustiante de ver o filho crescer e se importar pouco com a mãe. Esse raciocínio é a alma das personagens, seus objetivos passam por essa questão e o que o roteiro faz para descascar esse tema é muito produtividade, pois, habilmente, consegue abre abas, como subtemas, para questões existenciais resolvidas dupla, mãe e filho. Andando pelas ruas de Nova Iorque, muito parecido com a sensação de vários outros filmes (clichê mas bem válido), as mamães chegam à encruzilhada de que talvez não possam ser tão perfeitas como elas pensam, nem seus filhos.

 

 

Falando sobre traição, sexualidade, síndrome do ninho vazio, questões mal resolvidas de um passado longe mas presente o trio de amigas se descontroem aos olhos mais atentos em busca de um novo norte. Por isso, podemos afirmar que Mãe e muito mais é uma jornada convincente que mostra muito sobre relacionamentos de mães e seus filhos.

 

 

 

Tempestade de Areia (Israel)

 

Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade. Selecionado como representante de Israel ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, Tempestade de Areia, falado todo em árabe, abre mais uma vez os campos de discussões sobre culturas e tradições sobre os direitos da liberdade de escolha na vida das mulheres que vivem cercadas de imposições de costumes. Na linha de frente da história estão duas mulheres corajosas que sofrem com essas imposições. A cineasta israelense Elite Zexer, em seu primeiro longa-metragem, consegue criar um drama delicado recheado de argumentos para discussões sobre o despertar da necessidade de mulheres que não possuem liberdade de escolhas.

 

 

Na trama, conhecemos Layla (Lamis Ammar) uma jovem filha de uma família de beduínos (parte de um grupo árabe habitante dos desertos) que consegue convencer seu pai a deixar ela freqüentar a faculdade. Lá, conhece um grande amor e decide tentar resolver sua situação com seu pai Suliman (Hitham Omari), esse que acaba tomando decisões drásticas em relação a isso. Ao mesmo tempo, sua mãe Jalila (Ruba Blal) está irritada com o segundo casamento de seu marido e busca, mesmo em meio aos próprios conflitos, entender a situação de Layla e ajudá-la.

 

Atrás dos véus, estão duas mulheres fortes e corajosas, mãe e filha. Um conflito ideológico, oriundo de tradições e culturas, é imposto para a jovem Layla. Querendo lutar pelo seu direito de amar quem ela bem desejar, entra em choque com a imposição do pai de arranjar um casamento com quem ele quer. Já sua mãe Jalila viveu todo o drama de não saber com quem iria se casar e sofre atualmente com a preferência do marido para a segunda esposa. Os retratos emocionais se refletem nas situações mostradas, como as necessidades que Jalila passa com suas filhas enquanto a nova esposa do marido tem uma nova casa com geladeira funcionando e eletricidade. 

 

 

A passividade do pai em alguns momentos chama a atenção. A mãe, figura forte e muito centrada tenta ajudar sua filha em certos momentos mas sempre na dúvida do que realmente quer para ela. Com o sofrimento imposto pelo segundo casamento de seu marido, as prováveis conseqüências de ajudar a filha a ir atrás do destino que ela quer são jogadas para escanteio, prevalece o amor pela filha. As escolhas que são feitas, já no ato final, mostram os conflitos e até onde conseguimos ir pra lutar contra quem amamos.

 

 

Vencedor do Grande Prêmio do Júri na categoria World Cinema Dramatic no Festival de Sundance, Tempestade de Areia é um grito de socorro para essas mulheres que vivem presas em conflitos sem poder respirar suas próprias escolhas e conhecer o que é liberdade.

 

 

Tempestade (França)

 

Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos. Vencedor de dois prêmios no aclamado Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2015, Tempête, no original, dirigido pelo francês Samuel Collardey, é uma daquelas pérolas sensíveis, raras, que explora a ausência até seu último suspiro. Dúvidas e escolhas são bastante explorados pelos personagens, repletos de indagações e sonhos, quase análogos à incerteza quando estamos passando por uma fase adolescente para a fase adulta. Um recorte maduro sobre a paternidade e a busca por melhores condições para uma família.

 

 

Na trama, conhecemos o pescador Dom (Dominique Leborne), um homem perto dos quarenta anos que trabalha em alto mar ficando pouco tempo por mês em terra. Ele recentemente se divorciou e conseguiu a guarda de seus dois filhos, Mailys (Mailys Leborne) e Matteo (Matteo Leborne) que escolheram ficar com ele por terem problemas com a mãe. Mesmo ausente, Dom sempre preenche a casa onde vive com os filhos de amor e carinho, mesmo com algumas irresponsabilidades. Quando a filha fica grávida aos dezesseis anos, Dom precisará encarar escolhas que mudarão para sempre os rumos dessa família.

 

 

A ausência é um tema importante, explorado com leveza, também acompanha toda a história, os caminhos da maturidade até a responsabilidade, grande dilema do protagonista. Há um certo descontrole quando se vê cheio de tempestades em sua vida, com a eminência da perda da guarda de seus filhos e a decisão de pensar em um trabalho remunerado que o deixe mais presente, em terra, perto deles. Movido pelo amor que tem pelos filhos, o protagonista embarca em uma transformação em sua vida pessoal e profissional, se apegando em seus sonhos para escrever um horizonte cheio de esperança e estabilidade.

 

 

Um pai ausente mas amoroso, irresponsável com detalhes da vida mas que ajuda quando está por perto. Dom, personagem marcante, é um retrato de parte da sociedade que na busca pro melhores condições para a família acaba abdicando de momentos importantes na formação dos filhos. Tempestade é um recorte que exala humanidade, duro, transformador quando estamos em um limite de nossas forças e de como todos os dias podemos aprender mais sobre nosso mundo.

 

Um Lindo dia na Vizinhança (EUA)

 

A mudança do mundo destruído pelas palavras. Um cotidiano das emoções em forma de declamações, um livro contado sobre a arte das emoções. Baseado em fatos reais, mais precisamente do artigo de Tom JunodCan You Say ... HeroUm Lindo dia na Vizinhança, que estreou faz poucos dias no concorrido (por termos muito poucas salas) circuito brasileiro de exibição, navega pelos sentimentos de forma bastante simples que dão a entender algo parecido a original, as declamações de pensamentos nos levam ao instantâneo ato de pensar sobre aquilo buscando referências em nossas próprias vidas. No papel principal o ator Matthews Rhys, em atuação apenas ok. No papel coadjuvante, nosso eterno Forrest. Tom Hanks é um ator diferenciado, sempre em busca dos mais complexos personagens e sempre com maestria para nos contar suas histórias. Somos sortudos por ser da mesma geração desse gênio da arte de interpretar. A direção é da cineasta californiana Marielle Heller (do elogiado Poderia Me Perdoar?).

 

 

Na trama, conhecemos um rabugento jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys, do ótimo seriado The Americans) que após uma ordem de sua chefe, precisa fazer um texto de 400 palavras sobre o famoso apresentador de público infantil, Fred Rogers (Tom Hanks). Conforme vai conhecendo mais a fundo seu entrevistado, o protagonista começa a passar por mudanças profundas na sua forma de pensar e expressar seus sentimentos, principalmente com o recém aparecido pai.

 

 

Um Lindo dia na Vizinhança é um projeto peculiar que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência. Não deixa de ter também quebra de certos paradigmas como o olhar para a câmera. A tal da inteligência emocional, a partir da inspiração. Um Lindo dia na Vizinhança é um filme que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência, isso pode acontecer. A paciência é um fator importante. Nas imperfeições, a subtrama do protagonista e sua saga em reconciliar com seu pai seja pouco profunda, quando Hanks sai de cena o filme dá umas despencadas, mesmo Chris Cooper estando ótimo no papel do pai do protagonista.

 

 

Onde ir onde quando a alma está ferida? Um fator interessante é que há uma conversa franca com o espectador. Uma grande sessão de terapia que ultrapassa as barreiras da telona. Muitos podem se identificar demais com a história contada, sobre pais e filhos. Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras precisam assistir a esse filme. Gera um bom debate.

 

Bacalaureat (Romênia)

 

Ética é a concepção dos princípios que escolhemos, moral é a sua prática. Depois de encantar o mundo cinéfilos com filmes como 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o renomado cineasta romeno Cristian Mungiu volta ao universo cinematográfico, após um hiato de quatro anos, com o profundo longa metragem Bacalaureat, que lhe rendeu nada mais nada menos que o prêmio de melhor diretor no último e badalado Festival de Cannes. Explorando os caminhos tumultuados que um pai precisa tomar para que sua filha tenha uma vida distante dos problemas de onde vivem, Mungiu acaba fazendo uma grande exploração bastante Kantiana traçando um paralelo emblemático entre escolhas e consequências no mundo atual.

 

 

Na trama, conhecemos o médico Romeo (Adrian Titieni), um homem de idade mediana que mora com sua mulher Magda (Lia Bugnar) e sua filha Eliza (Maria-Victoria Dragus) em um bairro de classe média de uma cidade da Romênia. Romeo possui uma amante, Sandra (Malina Manovici), por quem possui um carinho enorme. Quando sua filha Eliza sofre uma violência a caminho da escola e isso a impede de completar a tempo questões de uma prova importante para o futuro dela, Romeu precisará caminhar por uma estrada onde uma linha tênue divide as posições da ética e da moral.

 

 

Um dos fatores mais interessantes do fantástico roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme, é que as ações e consequências que vemos ao longo dos 122 minutos de projeção parecem um grande debate filosófico, pisando em linhas éticas e morais, passando pelo tráfego de influência e manipulação em um sistema de ensino rígido. Todas as peças contribuem para o debate, Romeo é apenas nossos olhos nesse tabuleiro de escolhas, um homem comum, com seus princípios, talvez nada diferente de mim ou de você.

 

 

As ações das pessoas influenciam o comportamento do indivíduo. Sem uma mancha no currículo e com uma reputação irreparável, Romeo em poucos dias ultrapassa todos os limites éticos possíveis fazendo com que sua personalidade mude e que as emoções fiquem à flor da pele. As variáveis do protagonista são muito bem exploradas pelas lentes inteligentes de Mungiu, percebemos o constrangimento e a decepção caminharem lado a lado, Romeo fica completamente esgotado. Os embates e diálogos com sua filha são as cerejas no bolo, definindo também uma necessidade de Eliza em trilhar seus próprios pensamentos, se distanciando da proximidade de seu pai e tomando as atitudes que melhor achar.

 

 

Bacalaureat, infelizmente, não tem previsão de estreia no Brasil. Uma pena, discutir sobre a maneira de se comportar regulada pelo uso (moral) e os costumes (ética), é um prato cheio para nós cinéfilos que gostamos de traçar paralelos com nossa realidade. Esse filme tem muito de muitos lugares. 

 

 

Fences (EUA)

 

Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Dirigido e protagonizado pelo genial artista Denzel Washington, Fences fala sobre a vida de um homem, seus conflitos, suas convicções e suas relações conturbadas e cheias de princípios com sua família. Baseado na peça homônima de enorme sucesso escrita por August Wilson (que assina o roteiro), e também protagonizada por Denzel nos teatros (papel que lhe rendeu o prestigiado prêmio Tony em 2010), o longa metragem tem momentos de pura poesia que nos faz pensar a cada minuto sobre nossa vida e nossos sonhos nesse imenso mundo cheio de diversidades em que vivemos. Talvez a cereja do bolo, as atuações de Denzel e Viola Davis são magistrais.

 

Na trama, ambientado na década de 50 nos Estados Unidos, acompanhamos a trajetória de Troy Maxson (Denzel Washington) um homem analfabeto, que foi preso por anos, e depois trabalhou duro todos os dias para sustentar sua família, de origem humilde, em um bairro familiar norte americano. Frustrado toda vida por não conseguir ter sido um jogador de baseball profissional, com todo o talento que tinha, seu destino lhe reservou outra história e assim ele vive o cotidiano entre um drink e outro, tentando se manter consciente em casa e no relacionamento conturbado que possui com sua mulher Rose Maxson (Viola Davis) e seus dois filhos além de ter que cuidar do irmão Gabriel (Mykelti Williamson), um ex-combatente do exército que voltou com problemas da guerra.

 

Mesmo falando de assuntos familiares complicados, com a ótica totalmente em cima nas escolhas que o protagonista toma, o filme respira poesia e leveza. As lições que o texto de August Wilson provoca no espectador são inúmeras. As cercas do título fazem total sentido, é o paralelo com Troy que parece ter colocado uma grande proteção em volta de quem os cerca. Mesmo com atitudes impulsivas e seguindo uma regra de disciplina fervorosa, Troy é o retrato de grande parte dos trabalhadores norte americanos de origem humilde na década de 50, esperando por chances que às vezes nunca chegam, lutando contra preconceitos todo dia. Podemos fazer uma analogia com os tempos atuais de crise não só no Brasil mas em boa parte do planeta.

 

O filme ganha contornos mais dramáticos quando Troy conta a sua esposa Rose, com quem é casado há 18 anos, que terá um filho em breve de uma amante. Essa cena já vale o ingresso, Viola e Denzel não dão só show, dão aula em cena. A partir desse ponto, muita coisa muda na visão de Rose mesmo Troy tentando se manter firme em suas atitudes e as conseqüências que chegam a partir disso, como o distanciamento do filho mais novo que é praticamente expulso de casa certo dia pelo pai.

 

 

Fences possui cerca de 140 minutos, e praticamente nem sentimos. Podemos dizer que é um teatro filmado, com poucos cenários e impactantes diálogos. É uma história forte, muito bem escrita e atuada que conta com atuações espetaculares de dois dos melhores atores norte-americanos em atividade. Bravo! 

 

 

Más Notícias para o Sr. Mars (França)

 

Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo. O novo trabalho do cineasta alemão Dominik Moll (O Monge) é antes de tudo um filme que dita suas regras nas entrelinhas da loucura de uma mente reclusa e exausta dos seus caminhos iguais dia após dia. Explorando bastante seu caricato protagonista, Moll transporta para tela, de maneira bem leve (e muitas vezes bem estranha), as dezenas de possibilidades que o ser humano tem todo dia de acordar e sair da rotina estressante.

 

 

Na trama, somos apresentados a Philippe (François Damiens), um analista de sistemas que vive uma vida certinha, cheia de regras e pacata em uma cidade francesa. Perto de fazer quase 50 anos sua ex-mulher, uma repórter famosa de uma emissora francesa,  decide de uma hora para outra se mudar para a Bruxelas, deixando os dois filhos adolescentes para ele cuidar. Só isso já seria impactante em sua rotina mas para deixar mais maluca essa história, Philippe começa a enfrentar problemas no seu trabalho, tendo que trabalhar com um funcionário que vai alterar de vez os rumos dessa história.

 

 

É preciso paciência e colocar nossas células cinzentas para buscar as associações que o roteiro também escrito pelo diretor busca explorar. Obviamente, a crise de meia idade é o ponto de start para que o fechado protagonista comece a navegar em sua controlada loucura que afeta (e ele também é afetado) a todos que o cercam, desde os novos ‘amigos’ de trabalho, a ira de um supervisor escandaloso, sua relação com os dois filhos, a distância de sua ex-esposa e o aparecimento em tons fantasmagóricos hilários de seus pais.  

 

 

Exibido no Festival de Berlim em 2016, esse curioso projeto, tem como protagonista o excelente e versátil ator belga François Damiens.

 

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