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22/07/2023

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Pausa para uma série: 'O Negociador'


A verdade é o único caminho. Abordando diversas questões dentro da linha de ação de uma equipe do Gate, o novo seriado brasileiro da Prime Video, O Negociador, apresenta ao espectador conflitos, traumas, dramas, de um experiente negociador, envolto em uma crise emocional que precisa lidar com um abalo traumático de num passado recente e seu cotidiano repleto de variáveis já que a violência faz arte da sua própria rotina. Ao longo de oito intensos episódios de sua primeira temporada O Negociador busca refletir em cima das ações dos personagens e principalmente na linha que existe entre a justiça e justiceiro.


Na trama, conhecemos Gabriel Menck (Malvino Salvador) um policial que fez parte do processo de reestruturação do GATE, se tornando seu principal negociador. Num presente, retornando de uma licença após a morte da esposa e ainda em evidente estresse pós-traumático, ele precisa lidar com seu dia a dia, uma nova major que assume o comando da sua equipe, os olhares duvidosos de seu ex-mentor e em paralelo o olhar da corregedoria que caminha para acusá-lo pela morte da esposa.


Produzido por Zasha Robles e Gustavo Mello, com direção de Isabel Valiante, esse thriller policial possui uma narrativa consistente que busca um olhar amplo para os dilemas de alguns personagens quando a vida pessoal se choca com o lado profissional. Além do protagonista e seus conflitos, ganham espaço uma major (interpretada pela ótima Barbara Reis) que assume o comando tático depois de passar um tempo de treinamento na SWAT que possui um relacionamento no passado com outra pessoa da equipe e Embates com outros membros do time tático. Também há um olhar pra um suspeito chefe do GATE com óbvias questões misteriosas.  


A informação como interesse público ou questão de segurança? O papel da mídia em cima das ações ganham espaço na figura de uma repórter em muitos momentos deveras crítica em relação aos desfechos de algumas operações. Em paralelo enxergamos a parte política que acabam se associando à impudências dentro de todo o teatro de operações. Adotando o lema: ‘Hoje ninguém morre’, vemos uma equipe de homens e mulheres que se descontroem não limitando questões a certas ou erradas, tudo é muito mais profundo.


A cada episódio um novo caso de sequestro e uma subtrama envolvente sobre uma investigação sobre a morte suspeita da esposa do protagonista. Com isso, a série se torna dinâmica, até mesmo com um ritmo eletrizante espalhando surpresas principalmente na última cena do episódio que fecha a temporada que além e ser uma baita surpresa deixa margens para uma possível próxima jornada.



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05/07/2023

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Pausa para uma série: 'Agentes do FBI'


O que foi, o que é, e o que pode ser. A visão de uma turma de aprendizes do FBI sobre o mundo virtual mapeando o mundo real, conectadas por novas leis ligadas a avançada nova tecnologia, é a base de Agentes do FBI, minissérie disponível na Star Plus criada por Tom Rob Smith. Em três linhas temporais, uma no presente, uma no passado e uma no futuro, vamos percorrendo a obsessão pelo trabalho, os dilemas pessoais, as difíceis escolhas, os traumas que nunca vão embora de diferentes personagens e seus respectivos pontos de vistas na hora de entender mudanças drásticas na instituição que fazem parte. As relações pessoais são a base do refletir dessa distopia, através de um microscópio social proposto.


Na trama, acompanhamos um grupo de novos recrutas que são selecionados para fazerem parte de uma nova turma do FBI que vai se formar no ano de 2009. Assim, acompanhamos alguns protagonistas e suas dificuldades no início do recrutamento, depois no presente, já com alguma experiência na nova profissão, e também no futuro, onde uma série de situações acaba culminando na chegada forte de uma inteligência artificial que passa a realizar julgamentos de futuros transformando leis em donos de destinos onde o estado democrático aos poucos de torna um perigoso autoritarismo.


Ficção científica camuflada de drama policial, Class of '09, no original, joga luz sobre os recortes profundos sociais quando surge a variável da tecnologia desenfreada ligada às leis. As evidências, as relevâncias, entre outros pontos, se tornam variáveis com enorme peso, como se as linhas do algoritmo criado fosse capaz de prever situações através de uma estatística cheia de falhas. A visão dos personagens nessa trajetória é fundamental para entendermos as ações que são tomadas ao longo da longa linha temporal. Onde mais enxergamos pontos de refletir através da desconstrução na maneira de pensar é no personagem Tayo (interpretado pelo indicado ao Oscar Brian Tyree Henry), um brilhante agente que de aprendiz virou o chefe do FBI no futuro e se vê em conflito quando percebe as reais interpretações do que seriam as novas ‘Buscas pela justiça’.


Ao longo dos vigorosos oito episódios, o espectador precisa estar atento, em um mesmo episódio é um vai e vem danado na linha temporal. Como o debate proposto sobre a tecnologia é muito impactante, algumas subtramas (relacionadas a vidas pessoais) não conseguem profundidade, mas nada que atrapalhe a narrativa que executa com muito dinamismo as linhas do roteiro.


Agentes do FBI se torna marcante por trazer para debate os perigosos caminhos que se chega em uma ditadura, no autoritarismo, na censura, onde códigos culturais são substituídos por códigos artificiais.



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28/06/2023

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Pausa para uma série: 'Falando a Real'


Criado por Jason Segel, Bill Lawrence e Brett Goldstein (o Roy Kant de Ted Lasso), Falando a Real chegou sem muito oba oba ao ótimo streaming da Apple Tv+ e foi logo conquistando corações por todo lado. Com ótimos personagens, um episódio melhor que o outro, aqui o debate é sobre as camadas de emoções a partir de um trauma e as novas formas de lidar com conflitos que parecem gigantescos obstáculos. Batendo forte na tecla de que ajudar aos outros também é uma forma de se ajudar, o seriado, de 10 episódios em sua primeira temporada, é um aulão divertido e emocionante de reflexões sobre a vida.


Na trama, conhecemos Jimmy (Jason Segel), um terapeuta que trabalha com outros dois amigos em um enorme consultório que depois de um ano apenas sobrevivendo após o falecimento da esposa em um trágico acidente de carro, volta a despertar para a vida, reconectado laços perdidos, principalmente com a única filha, a adolescente Alice (Lukita Maxwell). Para buscar soluções para suas próprias barreiras que ele mesmo colocou na sua vida, contará com a ajuda dos amigos Paul (Harrison Ford) e Gaby (Jessica Williams) com quem divide esse enorme consultório de atendimento psicológico e também de um casal de curiosos vizinhos, Derek (Ted McGinley) e Liz (Christa Miller).


O luto é um canalha ardiloso. Nesse projeto, tudo começa com o luto e as variáveis que se aproximam quando esse chega em uma trajetória. Assim, conhecemos o protagonista na primeira etapa de sua recuperação que é reconhecer que precisa de ajudar. Redescobertas, memórias, lembranças positivas começam a fazer mais sentido para uma fuga de um lugar que afeta sua vida e aos de muitos ao seu redor.


Para entender mais sobre a vida, é preciso sofrer, chegar ao fundo do poço e assim recomeçar. Esse acaba sendo o lema do protagonista num segundo estágio, um homem que se vê em um presente confuso, com muitas arestas a se consertar após um tempo longe de tudo e todos. Quando se aproxima dos conflitos se vê forçado a usar suas habilidades para também tentar ajudar e assim buscar inspirações para seus próprios conflitos. Algo como um start é dado na sua sistemática emocional, como se a felicidade e conquistas dos outros fossem ferramenta para ele entender melhor a vida.


Paralelo a trama principal, subtramas profundas são acopladas as linhas do roteiro, nos levando a entender novos conflitos na visão de outros personagens. Tem o emburrado Paul e seu problema com o distanciamento da filha, Gaby e suas impulsividades além de ações e consequências no seu conturbado relacionamento, o casal Derek e Liz, o primeiro próximo da aposentadoria e a segunda querendo ter função na vida alheia, além de Alice, uma jovem que se vê sozinha com o pai em conflito e a descoberta de amores e situações conflituosas. Além dos pacientes do Doutor Jimmy, principalmente o carismático Sean (Luke Tennie).


Falando a Real é aquela série que você precisa ver todos os episódios de uma vez, no melhor estilo maratona. Os arcos complementares e as deixas fazem de cada episódio uma peça importante para diversas reflexões com enormes paralelos com a realidade do mundo.



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17/05/2023

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Pausa para uma série: 'Billy The Kid'

 


A saga de um famoso anti-herói. Criada pelo britânico Michael Hirst, produtor de Vikings e The Tudors, entre outros sucessos, chegou na Paramount Plus, quase desapercebido, uma série que nos leva de volta às disputas e conflitos no epicentro de um tumultuado velho oeste americano nos apresentando um amplo recorte sobre a vida do mais famoso pistoleiro desse período, Billy The Kid. Passeando pela história do marcante do período ligado à expansão americana, nos poucos mas intensos anos que viveu, o anti-herói presenciou a corrupção, terras sem lei, violência, disputas de comerciantes. Conhecido por alguns nomes, figura polêmica de uma época onde o sobreviver era o ganha pão de cada dia, Billy The Kid participou da famosa Guerra do Condado de Lincoln, fato que ficou integralmente para ser conferido nas próximas temporadas. No papel principal, o ótimo Tom Blyth brilha no papel principal.


Na trama, conhecemos os primeiros passos de William H. Bonney (Tom Blyth), depois conhecido como Billy The Kid, Desde o início de vida conturbado, vindo de uma família de imigrantes irlandeses, se muda para o velho oeste norte-americano junto com sua família ao mesmo tempo que uma série de tragédias começam a cercá-lo. Se vendo sozinho em um mundo cruel, onde sobreviver rompe com sua moral quase que instantaneamente. A primeira temporada foca em como ele tornou aos poucos um dos rostos mais procurados pelas autoridades da época.


Princípios que ferem princípios. Uma ampla análise é feita sobre essa figura controversa. O roteiro é bem detalhista, começando pela sua visão inicial do que seria sua vida dali em diante. Sua família foi para os Estados Unidos com o desejo de um tratamento justo para todos, fato que logo se revelara ser um objetivo difícil de se encontrar. As mortes que acompanham sua trajetória parecem o fazer entender a vida de outras formas, onde a justiça tem interpretações variadas o deixando em uma linha tênue sobre o que é ser justo e até mesmo suas interpretações para lealdade. Suas inúmeras fugas de prisões ganham real sentido além das escolhas que faz quando se vê entre traições e lealdades.


Na segunda metade da temporada, acompanhamos a história seguindo rumo ao epicentro dos seus conflitos (e os fatos que o tornaram conhecido), dentro das ações desenfreadas com uma gangue a princípio comandada por um impiedoso e perigoso amigo e o iminente rompimento, fruto de um idealismo conflitante. Aqui apresentam-se mais conflitos que o cerca. A disputa por gados, por meio de fazendeiros poderosos, um mundo onde a manipulação era uma ferramenta na busca por objetivos unilaterais, as concessões de terras espanholas, um clássico jogo pelo poder, em uma terra onde a lei é corruptível. Vivendo intensamente o período do Velho Oeste americano, os caminhos percorridos pelo protagonista segue em paralelo à história norte-americana.


Ao longo dos ótimos oito episódios da primeira temporada, a série criada por Michael Hirst é um retrato marcante de uma época, de atitudes moralmente questionáveis, que ainda tem muito a desenvolver nas próximas temporadas.



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10/05/2023

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Pausa para uma série: 'Rabbit Hole: Jogo de Mentiras'


Nem tudo é o que parece ser. Chegou no catálogo da Paramount Plus um seriado cheio de reviravoltas, idas e vindas por meio de diferentes pontos de vistas, que exploram as possibilidades da espionagem industrial através das ações de um protagonista desconfiado com tudo e todos, que tem uma empresa que resolve situações, cria vantagens, das mais diversas, para quem o contrata, mas se vê constantemente perdido pelas falhas de um enorme plano que envolve questões democráticas e que podem afetar o planeta das informações. Criada pela dupla Glenn Ficarra e John Requa, Rabbit Hole: Jogo de Mentiras, não entrega muito nessa primeira temporada, deixando as principais respostas para as próximas etapas.


Na trama, conhecemos John Weir (Kiefer Sutherland), um dos criadores de uma empresa de sucesso que resolve questões ligadas à espionagem para empresas e pessoas que os contrata. Em um novo e audacioso plano, a conclusão não sai como esperado e ele se vê envolvido em uma trama cheio de caminhos dentro da narrativa que tinha criado. Lutando contra seu complicado passado, memórias doloridas, e perdas no presente, ele precisará se juntar a um grupo de novas pessoas para enfim colocar o trem de volta aos trilhos e sair vencedor em uma batalha que gira em torno da informação.


O roteiro busca ser engenhoso, modifica peças de lugar frequentemente através das peculiaridades do seu confuso protagonista, usa do flashback para ampliar o entendimento na parte psicológica dos personagens. As perguntas começam aqui. Será que é tudo parte de um plano dele? Qual o plano? Será que está sendo enganado? Engana-se quem acha que encontrará respostas nessa primeira temporada, na verdade muitas perguntas são introduzidas pelas entrelinhas, inclusive.


Por falar do lado psicológico de John Weir, essa é a parte mais interessante para se seguir  observando. A mente e suas complexidades viram elementos importantes nessa história, o começo do visualizar outros cenários, até o real entendimento dos traumas de um passado que não esquece, até mesmo suas aflições do que pode ser real ou não são ingredientes que tornam esse protagonista enigmático.


A subtrama policial, com o foco na detetive que os investiga, é o ponto fraco dessa primeira parte da história, parece distante adicionado apenas o óbvio dentro de um limitado ponto de vista de quem, assim como nós espectadores, não está entendendo os principais porquês que atravessam essa mirabolante história.


Pelas ruas de uma grande cidade norte-americana, ou mesmo escondidos em lugares remotos,  vamos acompanhando os passos do novo grupo formado por Weir em busca de respostas, onde a busca pelo controle da informação é o início de um caminho com muitas motivações e possibilidades.



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01/05/2023

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Pausa para uma série: 'A Diplomata'


Os caminhos para o centro do poder. Criada pela norte-americana Debora Cahn, o novo seriado que desembarcou na Netflix nesse primeiro semestre de 2023 aborda as intrigas, os jogos políticos, os conflituosos momentos de um casamento em crise, tudo isso na visão de uma mulher, especialista em situações de risco, que vê no centro dos bastidores do poder ao aceitar ser embaixadora norte-americana em uma grande nação europeia. O roteiro funciona de forma maravilhosa, desfilando críticas de formas diretas e outras de formas sutis e fazendo refletir sobre todos esses conflitos que a protagonista enfrenta pelo caminho. Na pele dessa protagonista, a maravilhosa atriz Keri Russell que mais uma vez nos brinda com seu talento na arte de interpretar.


Na trama, conhecemos Kate Wyler (Keri Russell), uma diplomata que as véspera de viajar para o oriente médio recebe o convite para ser a nova embaixadora dos Estados Unidos na Inglaterra, logo após um incidente com um navio britânico ser foco de tensões geopolíticas. Pega de surpresa, ela logo aceita o convite e junto com ela embarca para a terra da rainha seu marido Hal (Rufus Sewell), um famoso diplomata que dessa vez precisa ficar nos bastidores mesmo seu ego não deixando muitas vezes isso acontecer. Além de tudo, o casamento entre os dois está no pico de uma crise praticamente irreversível. Assim, tendo que lidar com um jogo político ardiloso e cheio de variáveis, Kate se vê em enormes conflitos pois ainda por cima precisa resolver sua situação com o marido.


O liquidificador de conflitos por aqui é muito bem explorado na narrativa. As subtramas, além de caminharem de forma que encostam na trama principal, nos levam a campos de visões diferentes sobre uma mesma situação, fruto dos ótimos personagens que percorrem os oito intensos episódios dessa primeira temporada. O bla bla blá político aqui é substituído por inteligentes diálogos que não deixam a trama ficar maçante. O ritmo é intenso, são muitas informações a todo instante. Praticamente percorremos o novo cotidiano da protagonista, uma mulher inteligente, que precisa se adequar as cerimônias mas sem deixar de perder sua forte personalidade.


Um dos pontos que mais se tornam interessantes é o fato do casamento em crise, algo escondido mas que logo se revela. A partir da apresentação dos ótimos personagens vamos entendendo alguns porquês, torcemos para que eles fiquem juntos mas isso pode mudar na próxima cena. As reviravoltas por aqui são impressionantes. Com um final super aberto, com uma chocante revelação nos últimos minutos do último episódio, A Diplomata já ganhou uma segunda temporada. Vale a pena conferir!



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29/04/2023

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Pausa para uma série: 'Treta'


A raiva é um estado transitório da consciência? Uma das gratas surpresas no universo das séries que chegaram aos streamings em 2023, sem dúvidas, é o projeto criado pelo sul-coreano Lee Sung Jin, Treta. Com uma trama sólida e com camadas e mais camadas que giram em torno da história principal, o seriado reflete sobre por duas pessoas ligadas por uma inusitada situação que se veem presos numa crise existencial onde o limite para ações e consequências extrapolam qualquer normalidade. O projeto tem uma curiosidade bem legal, alguns dos chamativos títulos de episódios são citações de mentes famosas, como uma do escritor tcheco Franz Kafka e outra da poeta norte-americana Sylvia Plath.


Na trama, conhecemos Danny (Steven Yeun), um empreiteiro, com problemas, que vem de uma decepção com um empreendimento familiar passando por um presente confuso, desiludido, com pensamentos ruins. Também conhecemos uma empresária chamada Amy (Ali Wong), dona de uma marca que foi ficando poderosa ao longo do tempo, ligado à plantas. Parece ter uma vida perfeita, de sucesso no campo pessoal e profissional, mas nem tudo é o que aparenta ser, vive seus dias em um enorme stress. Certo dia, o destino desses dois personagens se cruzam de maneira peculiar, após uma briga de trânsito, o que desencadeia uma série de situações surpreendentes.  


Um acúmulo dentro de si e uma explosão de uma só vez é o estopim dessa história, assim vamos acompanhando os pontos de vistas do dois protagonistas. Viciada no seu telefone, Amy vive resolvendo problemas em grande parte do seu dia, seja no campo profissional com uma enorme oportunidade de venda do negócio, ou mesmo no campo pessoal, com o acomodado marido que se dedica à sua arte que não traz dinheiro para dentro de casa, além de ter que lidar com a sogra jararaca. Já Danny, mora com o irmão mais novo em um pequeno apartamento e parece nunca acertar o seu rumo, vendo o tempo passar, amigos próximos progredindo na vida, não conseguindo sair de uma situação de dependência com a óbvia má companhia de um primo que acabara de sair da prisão. Essas duas almas viram o estopim um do outro trazendo nas bagagens um cansaço do mundo que gira ao redor deles.


De maneira inusitada somos testemunhas do encontro de certos propósitos na vida, já que quando nenhum lugar parece um lar, você começa a olhar a si mesmo. As ações e consequências tem um papel importante nesse criativo roteiro onde os protagonistas são colocados em sinuca por eles mesmo mas sem deixar de levar outros para dentro do caos que criaram. Buscando encontrar respostas na fé, na psicologia, até mesmo na terapia, os personagens se veem perdidos constantemente como se um curativo fosse colocado em todas suas dores mas logo percebem que nunca encontram soluções para resolver o problema.


Com uma trilha sonora empolgante e a real possibilidade de ter uma continuação, seguindo formatos de antologia ou não, Treta não perde o ritmo um instante se tornando uma fonte de reflexões sobre o vazio existencial.



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16/04/2023

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Pausa para uma série: 'Desejo Obsessivo'


O estopim oriundo da obsessão e do desejo. Minissérie caliente que busca uma reflexão no campo emocional de um absurdo e obsessivo relacionamento em paralelo ao rompimento da linha tênue entre o controle e o descontrole, Desejo Obsessivo navega a um passo da tragédia.  Reunindo um protagonista com uma vida perfeita que encontra uma singular mulher, o roteiro levanta questões sobre desejo, a obsessão, onde os deslizes se tornam iminentes e a irrelevância de qualquer outro vira algo frequente. Esse embarque no desequilíbrio é o ponto de interseção que costura o roteiro para as ações e consequências dos personagens.  


Na trama, conhecemos William (Richard Armitage), um cirurgião brilhante, de fala mansa, casado com uma advogada, com dois filhos que o idolatram, que vive seus dias com um enorme recente sucesso na carreira, fato que o leva a uma provável carreira política. Tudo ia na mais perfeita harmonia e equilíbrio na sua vida até que se vê envolvido, encantado, seduzido, obcecado, pela futura noiva do próprio filho, a enigmática Anna (Charlie Murphy). A partir do momento que ele se deixa levar por essa história, a vida apresentará duros golpes em seu caminho.


A verdade tem mil faces. A relação que se estabelece é por onde buscamos decifrar os momentos dos personagens. A dominação, controle psicológico, o proibido, a necessidade da submissão do outro nos jogos sexuais impostos, são alguns dos elementos que se tornam pólvoras para inconsequências. O controle e a submissão, aqui ligados ao desejo, moldam os calientes momentos como se a cada novo encontro um tijolo fosse colocado na bolha criada nesse tabuleiro de sedução. Será algum tipo de amor? Será a necessidade de preenchimento de um vazio ligado a desejos? Percorrendo milhas e milhas distante da linha que divide razão e a inconsequência somos testemunhas de atos impensáveis, onde há a troca do equilíbrio (razão) pelo descontrole (emoção).


A subtrama da família e toda exposição perante à situação não consegue ser tão profunda, ficando em total segundo plano. Esse poderia ser um elemento mais bem aproveitado. A deslealdade na relação com filho é o que deixa marcas no desequilíbrio do protagonista, mesmo esse dominado pela obsessão onde qualquer um que não seja Anna sejam jogados para escanteio. Na construção para a estrada da obsessão aqui nesse projeto, logo percebemos ser uma rua de mão dupla, onde um personagem se joga nesse oceano de inconsequências e o outro busca soluções para sair dessa bolha angustiante que já lhe trouxe tragédias no passado.


Mas afinal, quem tem mais culpa no cartório? Nessa minissérie de 4 capítulos disponível na Netflix, o lidar com a consequência dos próprios atos é a reta final de uma trama que busca ser envolvente e caliente, explorando os caminhos interpretativos do desequilíbrio.  


   

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15/04/2023

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Pausa para uma série: 'Ringo: Glória e Morte'


Dinheiro e medo, nós nunca teremos. Inspirada em fatos reais e com pouca divulgação em sua chegada ao catálogo da Star Plus, a produção argentina Ringo: Glória e Morte nos leva ao ano de 1976 onde um famoso pugilista argentino perderia sua vida de forma trágica num lugar onde estava em busca da volta aos tempos de glória. Ao longo de sete episódios, essa minissérie busca trazer um profundo recorte da vida de um ídolo do boxe argentino, uma figura que chegou até mesmo a lutar de igual para igual contra o mais famoso pugilista da história, Muhammad Ali.


Na trama, com começo já na parte de total declínio na carreira do boxeador argentino Oscar "Ringo" Bonavena (Jerónimo Bosia) acompanhamos suas inúmeras tentativas de conseguir uma revanche contra o super campeão Muhammad Ali, fato que nunca iria acontecer. Um ping pong temporal entre Estados Unidos e Argentina nos mostra o início da sua carreira, ascensão meteórica e com algumas polêmicas, passando por importantes lutas na carreira contra o já mencionado Ali e também Joe Frazier, chegando até seu assassinato repleto de circunstâncias misteriosas até hoje. Um fato curioso é que seu apelido, Ringo, foi dado por causa da semelhança com o cabelo do mundialmente famoso baterista dos Beatles, Ringo Starr.


Em duas linhas temporais que buscam um entendimento por completo nos principais recortes da vida desse polêmico lutador, o roteiro abre espaço para duas subtramas que se sustentam durante toda a narrativa. Os conflitos intensos com a família, que fica cada vez mais distante nas suas tentativas de alcançar a fama fora da Argentina é um do alicerces para o desequilíbrio emocional que passa o lutador, sem saber lidar com essa questão, colocando a carreira na frente de todos. Há também uma subtrama sobre um casal de empresários cafetões que estavam em tentativas de transformar Reno, em Nevada, no polo das grandes lutas do boxe, um esporte que sempre foi muito rentável para os produtores desses eventos, personagens que seriam peças chaves para o desfecho trágico do protagonista.


Filmado todo em Buenos Aires, o projeto, com muita competência, também explora os bastidores do auge desse atleta que tinha uma enorme necessidade (marcada pelo ego) de se promover no pré luta. Há flashbacks importantes, incluindo a passagem de Ringo nos Jogos Pan-americanos em São Paulo no início da década de 60. Também há passagens no início da sua carreira quando chegou a ser punido por ter mordido o peito de outro atleta durante um combate, além é claro, talvez do seu maior feito como atleta, sua luta contra Ali que bateu recorde de audiência na televisão argentina, só sendo superada anos mais tarde pela seleção argentina de futebol em uma edição da copa do mundo.


Ringo: Glória e Morte está disponível na Star Plus. Pra quem curte histórias do esporte, você precisa conhecer essa minissérie.



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06/04/2023

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Pausa para uma série: 'O Consultor'


As formas de interpretar a ética e a moral. Baseado na obra homônima do escritor norte-americano Bentley Little, o curioso seriado O Consultor aborda as linhas tênues na relação entre chefe e funcionários passando por dilemas morais e éticos numa visão maquiavélica do mundo trabalhista. Ao longo de oito episódios nesse primeira temporada, a narrativa se perde em alguns momentos ao buscar contextualizar os porquês dos absurdos e não conseguir sair de uma superficialidade quando insiste em focar na vida pessoal dos seus personagens principais. No papel principal, um dos atores preferidos de Quentin Tarantino, duas vezes vencedor do Oscar, o austríaco Christoph Waltz.


Na trama, conhecemos alguns funcionários de uma empresa de jogos que certo dia presenciam a trágica saída de seu chefe e a chegada de um misterioso consultor chamado Regus Patoff (Christoph Waltz) que de maneira nada ortodoxa muda completamente as regras do cotidiano do lugar. Assim, conhecemos mais a fundo a trajetória dos amigos Elaine (Brittany O'Grady) e Craig (Nat Wolff), dois funcionários dessa empresa que passará por mudanças profundas na sua gestão.


O que você faria para crescer na empresa? Há limites éticos e morais? Essas são algumas das perguntas que volta e meia aparecem em nosso refletir quando pensamos em O Consultor. Fator preponderante para se construir o caráter de qualquer civilização, a ética e a moral são valores que nesse seriado são colocados à prova em meio a hipocrisia das relações interpessoais propostas. As dinâmicas impostas pelo novo chefe, colocam em xeque o caráter dos funcionários do lugar, alterando a rotina e a vida de todos que estão por ali. De forma atabalhoada e usando o chocar como recurso, a narrativa busca ser surpreendente deixando margem para reflexões dentro de seu contexto. Em princípios básicos, um consultor tem a habilidade de influenciar pessoais, organizar processos e assim ser uma peça importante no reestabelecimento de sucesso de uma empresa. O sentido de consultor aqui passa por atos questionáveis e as interpretações acabam sendo diversas.


O quanto você depende do seu trabalho? Num mundo competitivo como o de hoje, a maneira como você se encaixa no cotidiano agitado pode indicar seu futuro a curto, médio e longo prazo. O Consultor busca também focos em alguns funcionários, dois deles sendo mais precisos, e suas complicadas relações pessoais e em relação ao ganha pão. Elaine é uma batalhadora, que mora sozinha e se vê em um momento de dedicação total ao crescimento na empresa. Já Craig é um programador que está em uma fase de desilusão na profissão e vê seu relacionamento com a namorada ir se evaporando aos poucos talvez mesmo até pela falta de ambição que ele demonstra.


Lançado em fevereiro desse ano na Prime Video, o projeto pode ser interpretado como uma peculiar sátira sobre o mundo empresarial contemporâneo ou até mesmo uma história que não tem pé nem cabeça.



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05/04/2023

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Pausa para uma série: 'Marinheiro de Guerra'


Um lugar onde ninguém queria estar. Em mais uma produção que traz recortes sobre o caos do maior dos conflitos da humanidade, o projeto norueguês Marinheiro de Guerra mostra a visão de participantes involuntários da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres que foram obrigados a estarem no conflito quando navios mercantes ficaram sob o comando da coroa norueguesa, servindo aos aliados nas frentes de batalhas. Escrito pelo norueguês Gunnar Vikene, Marinheiro de Guerra também abre espaço para a visão em terra das famílias e tudo que precisaram passar, com muita dificuldade, sem dinheiro e sem notícias dos parentes. Esse projeto marca mais uma página nos horrores da grande guerra.


Lá fora lançado como filme de quase três horas, aqui no Brasil virou uma minissérie com três capítulos, inclusive foi o indicado da Noruega ao último Oscar, Marinheiro de Guerra segue a trajetória de Alfred (Kristoffer Joner) um homem trabalhador que mora com a esposa e os três filhos na cidade de Bergen, na Noruega. Com dificuldades de conseguir emprego em terra, e contando com a ajuda do melhor amigo Sigbjørn (Pål Sverre Hagen), resolve embarcar em um navio mercante, onde fica responsável pela cozinha, mesmo com receio de ir par ao mar pois o conflito da Segunda Guerra Mundial já está em pleno vapor por mais que seu país, até aquele momento, não estivesse em guerra. Só que, alguns meses após seu embarque, quando Alfred e seus novos amigos estão no meio do oceano atlântico, a Alemanha invade a Noruega. Nesse cenário, eles são obrigados a estarem em embarcações que vão para frentes de batalhas e presenciam mais fortemente dias nebulosos além de viverem traumas inesquecíveis. Em terra, a esposa de Alfred, sem notícias dele, busca seguir em frente.


A coragem de fugir do medo. A contextualização de uma época de conflitos intensos na Europa é muito bem feita em todos os três episódios. Mesmo sem explicar a fundo o porquê da invasão alemã ao território norueguês (que foi pelo minério de ferro, fato explicado bem melhor em outra produção da Netflix, Narvik) seguimos a história pela visão desses participantes involuntários. Vemos diversos dilemas que vão desde salvar ou não um alguém no meio de um conflito, os pensamentos de deserção e suas consequências, a agonia de estarem expostos e sem treinamento militar o que os torna um alvo certo dos perigosos submarinos alemães, a saudade da família. Passando por Liverpool, Malta, Nova Iorque, Canadá, e a cada novo porto que conseguiam chegar, o protagonista e seus companheiros  refletem sobre o que fazer e se voltariam para seus lares como as mesmas pessoas de quando embarcaram, drama que milhares de pessoas passaram nessa época de caos e desespero.


O projeto abre um espaço também para a visão da guerra por quem ficou em Terra, aqui na visão da família de Alfred. Sua esposa Cecilia (Ine Marie Wilmann) cuida dos três filhos, já com a Alemanha em território Norueguês, sofre com as incertezas, o aluguel atrasado e terrores de bombardeios constantes ainda na cidade natal deles, Bergen. Com o tempo que passa, essa parte da família de Alfred ganha novos holofotes quando Sigbjørn involuntariamente se torna um vértice de um improvável triângulo amoroso. Nesse surpreendente ponto, o projeto encosta em um forte dilema, visto em alguns filmes, como no longa-metragem Brothers da cineasta dinamarquesa Susanne Bier.


Marinheiro de Guerra está no catálogo da Netflix, se você curte recortes sobre a Segunda Guerra Mundial, esse projeto tem muito a oferecer ao seu refletir.



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25/03/2023

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Pausa para uma série: 'Origem' ('From')


Os fatos que levam a contradição lógica. O que você faria se estivesse em uma estrada dirigindo seu carro e encontrasse um lugar aparentemente sem saída, com pessoas que nunca viu na vida e ainda por cima tendo que se proteger de aterrorizantes seres quando anoitece? Criada por John Griffin e produzida pelos irmãos Russo e Jack Bender que também produziu e dirigiu a saudosa série Lost, Origem, também conhecida como From, possui um roteiro inteligente, repleto de proposições teóricas onde há um clima de tensão constante. Os paralelos com um jogo de xadrez, impostos nos primeiros episódios retratam bem o que é proposto dali pra frente, uma batalha contra o desconhecido, onde a paciência e a combustão emocional se tornam elementos que se chocam. Disponível na Globoplay, Origem é altamente indicada para os amantes de mistérios e também aos órfãos de Lost, Fringe, até mesmo as subestimadas Wayward Pines e Jericho.


Na trama, conhecemos Jim (Eion Bailey), um engenheiro que constrói atrações de parques de diversões e sua esposa Tabitha (Catalina Sandino Moreno), um casal em crise, perto de assinarem o divórcio que resolvem fazer uma última viagem juntos de trailer com os dois filhos após uma tragédia. Durante o caminho, são surpreendidos por uma árvore que impede de continuarem, regressando para uma outra parte da estrada onde se veem presos em uma cidade, dividida em dois grupos, que tem como referência o ex-militar e atual autoridade do lugar Boyd (Harold Perrineau). Muitas perguntas aparecem: será que eles sobreviveram ao acidente que sofreram? Aonde eles estão? O ótimo episódio piloto prende a atenção sem deixar de esconder os principais mistérios e nos contextualizar de boa parte do que seria a jornada dali pra frente.


Espíritos que manipulam? Pessoas presas em um pedaço de uma cidade? Lançada em fevereiro de 2022 no streaming MGM+ (antiga EPIX), e ainda pouco falada aqui no Brasil, Origem explora lacunas herméticas, adota o paralelo e teorias de paradoxo como fonte de reflexão. Pra quem curte ir mais profundo no pensar, teorias complexas reforçadas pelo evidente paradoxo, como o experimento ‘O Gato de Schrödinger’, criado pelo físico e vencedor do Nobel Erwin Schrödinger, são amplamente debatidas abrindo um enorme campo de interesse no espectador mais atento.


Os paralelos entre o estado caótico e a esperança (aqui revertida de fé) dominam as ações e consequências dos personagens, esses intrigantes, cada qual com sua forma de enxergar a situação em que não conseguem sair. A chegada dos novos membros na cidade acaba desencadeando conflitos no pensar, deixando muitos deles em dilemas profundos. Tem os que enlouquecem, os que pensam em como ajudar a comunidade como um todo deixando qualquer tipo de egoísmo para trás, os que enxergam o sonho de um lugar mais alto do que o pesadelo. Batendo na tecla do princípio darwiniano, de que quem consegue se adaptar vai ter chances de sobreviver, acompanhamos o cotidiano dessas pessoas, dentro de um liquidificador de sentimentos, que chegaram naquele lugar por cidades e estradas diferentes.


A organização da cidade nos leva para a reflexão de que uma sociedade só sobrevive quando há uma certa cadeia de comando e aqui tudo isso é colocado em prova na trajetória do ótimo personagem Boyd. Intitulado xerife da cidade, o homem que precisa tomar as decisões que precisam serem tomadas, por mais difícil que sejam, se vê em grandes conflitos procurando a fé, passando pela raiva, ainda buscando entender o que houve com a esposa logo depois que chegaram naquele lugar.

 

As histórias e embates dentro da trama nos guiam como se fosse uma mapa de personalidade. Os traumas vividos, as experiência compartilhadas, a chegada de muitos deles até ali, a forma como reagem quando são instigados pelas criaturas noturnas que fazem de tudo para entrar nas suas casas. Bebendo da fonte da premissa da ótima Wayward Pines, Origem é interpretativa sem deixar de ser inteligente seja qual o entendimento que você tiver sobre os surpreendentes acontecimentos da ótima primeira temporada. Que chegue logo a segunda!



 

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24/03/2023

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Pausa para uma série: 'Daisy Jones & the Six'


Como resolver os conflitos de almas perdidas querendo sair da escuridão? Percorrendo a década de 60 e entrando que nem uma avalanche na de 70, em terras norte-americanas agitadas pelo crescente e influente universo musical, a minissérie Daisy Jones & the Six explora o caótico relacionamento entre dois líderes de uma banda ficcional que após um enorme sucesso, realizam um emblemático último show e resolvem se separar, nunca mais se apresentando juntos. Baseado na obra homônima da escritora Taylor Jenkins Reid, com um roteiro que teve consultoria de Kim Gordon, da banda Sonic Youth, o projeto, no melhor estilo documentário (mesmo não sendo um!), apresenta dramas contundentes, laços que se quebram, traições, euforias, dilemas em um total de 10 episódios, alguns desses com uma narrativa que abre um olhar mais forte para as subtramas de forma novelesca e outros (como o excelente último episódio) onde brilha a força da harmonia dos protagonistas.


Na trama, conhecemos os integrantes da Daisy Jones & the Six um ex-famoso grupo musical que vendeu milhões de cópias mas ficou marcado também por um último show feito no final da década de 70 em Chicago. Anos depois, os integrantes se reúnem por meio de depoimentos isolados para contar o que houve naquele dia e as razões da banda nunca mais se reunir novamente. Assim, por flashbacks, acompanhamos um pouco sobre a criação da banda e tudo de importante que houve no tempo que faziam sua primeira e única turnê pelos Estados Unidos, com uma lupa maior para os líderes da banda Billy Dunne (Sam Claflin) e Daisy Jones (Riley Keough), duas almas em conflitos permanentes que vão desde o forte interesse amoroso que possuem um pelo outro até os caminhos quase sem volta de vícios.


Dois caminhos, uma mesma estrada. O sonho de ser um músico de sucesso percorreu toda a juventude de Billy, optou pela música em vez da siderurgia ou a guerra, se casou e viu seu mundo que rumava à perfeição dar uma virada com a chegada da enigmática Daisy. Essa, mesmo tendo todo o conforto que o dinheiro do pai comprava, é uma alma solitária que amava música desde pequena, viveu desperdiçando seu talento musical presa à traumas e até mesmo a falta de carinho dos pais.


A narrativa novelesca que se apresenta, de forma detalhista em muitos momentos, se molda através dos conflitos desses dois, principalmente na questão do triângulo amoroso com Camila (interpretada pela ótima Camila Morrone), esposa de Billy, indo até mesmo em questões existenciais e embates emocionais. Há espaço também para o cenário musical de um Estados Unidos pulsante, repleto de jovens correndo atrás do sonho de serem famosos. Também não há o esquecimento de críticas profundas sobre a indústria fonográfica, principalmente sobre machismo e assédio.


Há episódios que se perdem em enxergar determinada situação sem apresentar um todo e isso provoca uma certa confusão quando tentamos entender alguns porquês. Nesses momentos a melancolia e a aleatoriedade tomam conta como se a espinha dorsal de todo o roteiro fosse caminhando por caminhos simplistas e previsíveis. Mas a força da história deixa margens de interesse, desde o episódio piloto queremos saber o que houve com essa banda ficcional que fora vagamente baseado na Fleetwood Mac, banda formada em Londres no final da década de 60. Até mesmo o figurino dos protagonistas da série forma inspirados nas roupas de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, dois integrantes da banda.


Daisy Jones & the Six já está com todos seus episódios disponíveis na Prime Video. É um ótimo passatempo para quem curte reflexões sobre sonhos e histórias de amor que podem ou não ter um final feliz.  

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11/03/2023

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Pausa para uma série: 'Voo 370 – O Avião que Desapareceu'


Como é possível com a tecnologia de hoje um avião desaparecer e não ser mais encontrado? Tentando encontrar respostas para algumas perguntas que geram inúmeras interpretações, chegou nesse início de 2023 na Netflix a minissérie documental Voo 370 – O Avião que Desapareceu, dividida em três partes, que nos faz entender alguns pontos sobre uma inacreditável história sem conclusão que começou em um dia de março de 2014, quando, decolando de Kuala Lumpur na Malásia, em direção à Pequim, na China, um avião comercial marcaria para sempre a história da aviação mundial ao sumir menos de uma hora após decolar e nunca mais ser encontrado.


O documentário mostra a dor e sofrimento de muitos parentes que até hoje lutam por respostas satisfatórias dentro de uma investigação repleta de falhas, mistérios e que não foi nada transparente, inclusive gerando enormes protestos. Vemos depoimentos emocionados de pais e filhos que perderam pessoas queridas. O projeto abre o campo especulativo ao dar voz a jornalistas e estudiosos de vários campos que iniciam uma verdadeira maratona de investigação, alguns desses pegando caminhos repleto de pontas soltas.


Uma busca global sem trazer respostas. Com o caso sendo manchetes de todo o planeta, diversos países, principalmente os que estão próximos das possíveis rotas que o avião possa ter pegado iniciam buscam incessantes por terra e principalmente mar. Mas será que o raio de procura é o certo? As perguntas parecem se multiplicar conforme o tempo passa.


Qual foi o destino final do avião? Onde ele está? Quase dez anos depois do ocorrido, esse enorme quebra-cabeça parece ainda um caso sem solução. As teorias são várias, passando pela possibilidade do piloto ter provocado um suicídio coletivo, ou um sequestro ter ocorrido, ou até mesmo um conflito geopolítico por conta de equipamentos que poderiam chegar na China poderia ser a causa. Muitas dessas hipóteses, sempre especulativas de muitas dessas teorias da conspiração geram cada vez mais desconforto nos parentes das vítimas e críticas de quem acredita na sua teoria.


Mas qual será a verdade? Tudo é muito misterioso nesse caso. Será que ao longo dos próximos anos teremos alguma prova concreta do que aconteceu naquela noite de março com o Boeing 777, o MH370 da Malaysia Airlines? Será que ele foi em direção a parte sul do enigmático Oceano Índico? Será que ele foi abatido por questões de políticas internacionais? Será que houve um sequestro? Perguntas e mais perguntas se amontoam, nesse que é um dos mais misteriosos casos da aviação.



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01/03/2023

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Pausa para uma série: 'C. B. Strike'


O encontro da melancolia bruta e a objetiva razão. Buscando uma união entre características de vários detetives famosos do mundo da literatura para um moldar de um protagonista, um ex-veterano de guerra com um enorme trauma, imerso numa bolha de melancolia tendo à sua disposição apenas o seu modo de pensar limitado aos aspectos negativos de cada situação que aparecem em seu caminho, C. B. Strike, baseado nas obras assinadas por Robert Galbraith, pseudônimo da criadora do universo de Harry Potter, a escritora britânica JK Rowling , é um seriado que vai se construindo aos poucos sempre nos complementares contrapontos de seus intrigantes personagens. Ao longo de poucos mas intensos episódios por temporada, esse projeto é um prato cheio para os amantes de grandes mistérios.


Na trama, conhecemos Cormoran Strike (Tom Burke), um condecorado ex-membro do exército britânico que teve uma parte do corpo amputada. Ele é filho de um famoso artista (como quem não se dá bem). Tempos atrás resolveu abrir um escritório de investigações que atualmente, e também após o término com a ex-epsosa, vai de mal a pior. Tudo parece começar a mudar com a chegada de Robin (Holliday Grainger), sua nova assistente, uma jovem com grande vontade de trabalhar como detetive. Ambos embarcam em jornadas misteriosas buscando decifrar não só os crimes terríveis que aparecem pelo caminho mas também as mentes por trás.


Pouco falado no Brasil, o seriado britânico, produzido pela própria produtora de JK Rowling, Brontë Film and Television, possui muita eficiência em sua narrativa, trazendo para o público um raio-x de dois intrigantes personagens que mesmo sendo muito diferentes, se completam. Strike é amargurado, sempre tenso, parece ter um futuro incerto, bagunçado que nem seu escritório. Ele não é brilhante mas persistente, teimoso, características que transformam ele numa figura imprevisível e inconsequente. Robin por sua vez é a razão em pessoa, super organizada parece ter um apetite para investigar qualquer tipo de caso como se não houvesse problema em ser o braço direito de quem quer que seja.  Dessa relação, portas se abrem e ao longo dos episódios vamos vendo um clima de tensão que sempre está no ar.


Os casos são brutais e dizem muito sobre a psiquê humana. Desenhado a partir de um foco grande no motivo, nos porquês, até as surpresas de quem está por trás do executado, vamos acompanhando na visão dos protagonistas diversas batalhas emocionais que precisam enfrentar para chegarem em um veredito. Cada intrigante caso mexe demais com a relação deles, e a forma como cada um pensa sobre o outro. 


C. B. Strike é feita para os amantes dos grandes clássicos de mistérios, daqueles personagens inesquecíveis que sempre estão em nosso imaginário, como: Sherlock, Poirot, Maigret. Somado a isso, há uma análise profunda sobre os personagens, repleto de dilemas,  brilhantemente interpretados por Grainger e Burke. Todas temporadas estão disponíveis na HBO Max.


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20/02/2023

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Pausa para uma série: 'Meu Namorado Astronauta'


Uma simples missão espacial? Um experimento? As duas coisas? Criogenia de humanos? Uma nova função para as células tronco? Top gun polonês? Um romance picante, sensual, com cenas calientes? De forma confusa e com corajosas lacunas em aberto, mesmo sem saber se haverá uma segunda temporada, chegou ao catálogo da Netflix em fevereiro desse ano um seriado polonês de ficção científica que busca nas mais diversas subtramas, que envolvem política, amorosos separados pelo tempo, e estudos do corpo humano, apresentar ao público um jogo de adivinha que se equilibra em duas linhas temporais separadas por três décadas. O espectador, se quiser se prender ao que assiste, precisa se jogar em alguma subtrama e a partir daí tentar entender o contexto que basicamente tem seu ponto em comum em um jovem que durante uma viagem espacial, em vez de dormir 24 horas, acaba dormindo 262.800, o equivalente a incríveis 30 anos.


Na trama, conhecemos Niko (Jedrzej Hycnar), um brilhante e indomável piloto da força aérea polonesa que certo dia tem seu destino cruzado com o de Marta (Vanessa Aleksander no passado, Magdalena Cielecka no presente) uma jovem por quem logo se apaixona. Niko é muito amigo de Bogdan (Jakub Sasak), um outro piloto. Esse amigo acaba se apaixonando também Marta, o que forma um intenso e imprevisível triângulo amoroso que terá desdobramentos no presente e no futuro já que Nico é selecionado para uma missão no espaço e acaba conseguindo retornar somente 30 anos depois. Assim, vamos acompanhando duas linhas temporais e os segredos que se revelam aos poucos.


Um caminho para abrir a mente e embarcar reflexões, pelo menos de parte da narrativa, é traçar os paralelos entre a rivalidade que se concretiza entre os amigos. Um deles um bon vivant, piloto brilhante, o outro um amargurado piloto com conflitos nada ultrapassados com o pai. O terceiro vértice do triângulo amoroso, Marta tem um grande desenvolvimento na trama que mostra os conflitos amorosos entre os três em dois tempos. Há o núcleo de 2022 que mostra a juventude dos personagens chaves da trama, e em 2053, somos apresentados aos mesmos personagens, só que envelhecidos. A questão é que o roteiro patina quando projeta a base de sua estrutura no piloto playboy da força aérea da Polônia, um protagonista que é mal definido em qualquer das linhas temporais.


As memórias são detalhes importantes nessa produção polonesa, seja na evolução da tecnologia em recriar momentos e lugares (algumas situações bem parecidas como algo já visto em Star Trek), ou nos laços de amor que vamos entendendo a força conforme as surpresas são reveladas, ou mesmo na ciência e sua busca por regenerar órgãos e tecidos lesionados.


Progresso requer sacrifício? Manobras políticas são o plano de fundo dessa tentativa de engenhosa trama que se perde em muitos momentos. Nos embates políticos que se estabelecem, vemos a mão de obra polonesa sendo usado por poderosos russos, algo complexo de se ver numa realidade já que historicamente há diferentes linhas de pensamento entre esses dois países ao longo do tempo.


Em resumo, Meu Namorado Astronauta tenta apresentar muita coisa em pouco tempo e ainda deixando lacunas em aberto, seja nas complexidades de uma batalha entre a ciência e a política, seja no inusitado reencontro de um jovem que não envelheceu e sua namorada que de repente tem quase 60 anos.



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18/02/2023

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Pausa para uma série: 'Tulsa King'


Imaginem um gângster daqueles das antigas mesmo, com seu terno arrumado, falando com sotaque, jogado em nossa atualidade após algumas décadas preso, onde ao alcance de um clique uma comunicação mundial acontece. Esse é um início do caminho da nova série da Paramount Plus, Tulsa King, que brinca de forma inteligente com o novo e o antigo de forma equilibrada, sem perder a profundidade dos conflitos dos ótimos personagens, trazendo para o público um protagonista carismático, um clássico anti-herói, violento, exigente, mas com um coração enorme, que precisa entender de forma rápida o mundo de hoje. O projeto marca a primeira aparição do astro Sylvester Stallone como protagonista em uma série de televisão.


Criada pelo texano Taylor Sheridan (de sucessos como Yellowstone, O Dono de Kingstown e outros sucessos), na trama, conhecemos Dwight ‘The General’ Manfredi (Sylvester Stallone) que após quase três décadas preso sem falar uma palavra sobre a família da máfia nova-iorquina da qual pertence acaba indo parar na cidade de Tulsa no estado de Oklahoma, situado no centro-oeste dos EUA, com um único objetivo de levantar um domínio criminoso na região. Aos poucos vai conhecendo outros personagens que se juntam a ele nessa jornada que também navega pelo campo pessoal, principalmente no relacionamento conturbado com a única filha.


Uma bomba pronta pra explodir? Um romântico das antigas? Quais as vantagens e desvantagens de não conhecer o mundo de hoje, repleto de tecnologias, criptomoedas? Empreendendo pelas vias da violência pois é a única forma que enxerga o sucesso, Dwight, um orgulhoso nova-iorquino, durante toda a vida antes da prisão pensando de uma forma, vai se tornando um peixe fora d' água em uma região completamente diferente de tudo que viveu. Os coadjuvantes que cruzam seu caminho o fazem entender melhor aquele momento que vive onde vai percebendo aos poucos que precisa se descontruir sem perder sua essência. Mas como fazer isso? Várias antíteses o perseguem, violento e doce por exemplo, cabem na mesma frase desse que é um dos melhores personagens da vitoriosa carreira do ator norte-americano de 76 anos.


Ao longo dos nove episódios da primeira temporada (já renovada para uma segunda jornada), o ótimo roteiro abre espaço para uma jornada familiar repleta de conflitos e aqui por dois caminhos há reflexões. O sentido de irmandade da máfia, que se tratam como irmãos, e as quebras dos protocolos e seus sangrentos e obsessivos conflitos. Em paralelo, Dwight tem uma difícil missão de se reaproximar com a filha que tem uma visão muito negativa sobre ele. Essa última parte é algo que deve ser mais explorado nas próximas temporadas.


Tulsa King não é um retorno mas sim a estreia de Stallone no universo em expansão das séries via streamings. E que estreia! Seu personagem domina nossos olhares exalando carisma do primeiro ao último episódio. Parece seguir rumo ao sentido de um conceito contido na frase de um revolucionário da realidade: ‘É preciso ser duro, mas sem perder a ternura, jamais’.



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16/02/2023

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Pausa para uma Série: 'Santo Maldito'



As dúvidas já dentro da incerteza pelos caminhos tumultuados do acreditar. Buscando refletir sobre diversos temas tendo como sua força motriz a fé, o seriado brasileiro Santo Maldito, de forma muito inteligente, propõe ao espectador um passeio investigativo canalizado pelos abstratos passos de um vazio existencial com forte ligação ao imprevisível, ao acaso, jogando seus holofotes para um professor de cursinho, declarado ateu, que ganha uma chance de sair da sua bolha de lassidão mas antes tendo que passar por um túnel de constantes questionamentos. Criado pela dupla Rubens Marinelli e Ricardo Tiezzi, com um elenco que merece muitos aplausos, Santo Maldito, disponível na Star Plus é um dos grandes seriados brasileiros lançado na ‘era do streamings’.


Na trama, conhecemos Reinaldo (Felipe Camargo), um estudioso professor e escritor de meia idade que bate no peito defendendo seu ateísmo para todos desde sempre. Ele vive com sua esposa, a doutoranda Maria Clara (Ana Flavia Cavalcanti) e sua filha adolescente Gabriela (Bárbara Luz) em uma casa de classe média de uma grande cidade brasileira. Certo dia, sua esposa acaba sendo atingida por uma bala perdida e entra em coma praticamente irreversível. Desesperado, e não aguentando mais aquela situação ele vai tomar uma drástica atitude quando milagrosamente sua esposa desperta. Durante essa situação chocante, ele é filmado por um enfermeiro bastante religioso e o vídeo viraliza chamando a atenção do pastor Samuel (Augusto Madeira), o líder de uma pequena igreja, que vai lhe fazer uma inusitada proposta.


Será que o desespero do caos nos fazer acreditar em qualquer coisa? Ao longo dos oito episódios (um melhor que o outro), o surpreendente roteiro desse projeto passeia pelas tumultuadas incertezas do acreditar sem deixar de nos apresentar um completo raio-x de seu intrigante protagonista, um homem com orgulho de seu ceticismo que se vê totalmente perdido e com a necessidade de se descontruir entrando em ebulição quando se vê em conflito com suas antigas certezas.


Ajudando a contar essa intrigante trama, ótimos coadjuvantes brilham e aos poucos vamos descobrindo que na verdade estamos rumando para um enorme duelo entre dois homens, um anti-herói com atitudes moralmente questionáveis e um enigmático homem de fé que pode estar escondendo outras facetas, assim somos levados a explicações bem profundas sobre suas maneiras de enxergarem o mundo através de seus traumas. Todo o elenco está fantástico, mas temos que destacar Felipe Camargo e Augusto Madeira, que nos proporcionam cenas com forte oposição de ideias que geram reflexões por todos os cantos.


A violência também ganha espaço de reflexões por aqui, na verdade é até mesmo um elo intercessor dos eventos que rumam para o mais exposto ponto de tensão de qualquer narrativa. As atitudes de controle de quem comanda a região de onde fica a igreja de Samuel, o porquê Samuel é um cadeirante, a ação sofrida por Maria Clara. A fé e a violência acabam se encontrando em muitos momentos.


Santo Maldito é uma enorme, insinuante e surpreendente estrada de um improvável santo, maldito no sentido de estar condenado a enfrentar seus conflitos através de seu estado de espírito amargurado. Um projeto que pode fazer você também se questionar sobre aquela famosa frase: ‘Só uma coisa que sabemos: é que não sabemos nada’.



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31/01/2023

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Pausa para uma série: 'A Garota na Fita'


A busca pela verdade. Baseada na obra La Chica de Nieve, do autor espanhol Javier Castillo, a mais nova minissérie espanhola disponível no catálogo da Netflix, A Garota na Fita, ao não optar pela linearidade, sua narrativa se joga num ping pong temporal que aborda muitos temas angustiantes. Há duas estradas que o espectador segue, a do desaparecimento de uma criança e a do trauma que a protagonista sofreu no passado. Com seis episódios ao todo, o projeto começa em janeiro de 2010 em Málaga e vai se seguindo por quase 10 anos em uma busca desesperada dentro de um labirinto de informações.


Na trama, conhecemos um casal com uma filha pequena que vai até o tradicional Desfile dos Reis Magos nas ruas de Málaga, na Espanha. Durante o evento, a filha deles desaparece, levando a uma busca durante anos. A jornalista Miren (Milena Smit) fica obcecada pela investigação e resolve da sua forma ajudar a solucionar o mistério.


Há uma melancolia ligada à angústia que envolve a trama, dentro dos dois dramas que estão no foco. Há a dor e desespero da família, dependendo da polícia e uma investigação jornalística para ter alguma notícia da filha, vemos a transformação desses personagens ao longo de momentos chaves dos nove anos que navega a trama. Há também os traumas gigantes sofridos por Miren, sua relação próxima com o professor da faculdade (interpretado pelo ótimo Jose Coronado), sua busca por ajuda para conseguir seguir em frente e a obsessão pela verdade sobre o caso que parou o país.


As rupturas de tempo e espaço, alicerce de roteiros não lineares, aqui funcionam como prévias de reviravoltas. Os episódios são muito bem definidos dentro da narrativa, com hiatos, passagens de tempo em três linhas temporais que dentro das idas e vindas propostas, acabam se complementando como se cada um deles fosse uma peça de um quebra-cabeça investigativo.



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26/01/2023

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Pausa para uma série: 'Todo dia a Mesma Noite'

(Crédito: Guilherme Leporace/Netflix)

Uma dor que nunca terminará. Buscando trazer a história, além de detalhes chocantes para o público, de uma das maiores tragédias em território brasileiro, o incêndio na boate Kiss na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Todo dia a Mesma Noite nos faz reviver os horrores de uma madrugada onde as vidas de mais de 200 jovens se perderam, também o luto dos familiares, além da busca por justiça que vira uma estrada sem fim. Dividida em intensos cinco capítulos de cerca de 40 minutos, baseado no livro da jornalista Daniela Arbex, o projeto é profundo, intenso, impactante, angustiante com um foco grande, em seus últimos episódios, na lentidão e absurdos das questões jurídicas e seus desenrolares na busca pelos culpados.


Fundada em 1797, com um pouco menos de 300.000 habitantes, a cidade de Santa Maria, quinta maior em população do Rio Grande do Sul, nunca mais foi a mesma depois de 27 de janeiro de 2013 quando uma boate com super lotação (a capacidade permitida era pouco mais de 650 pessoas, lá tinham mais de 1.000) lambeu em chamas após o cantor da banda que tocava acender um sinalizador que tocou o teto do lugar e que logo se tornou um inferno em segundos. As dificuldades de sair do local foram diversas o que prejudicou a fuga de muitos que ali estavam. Pais, amigos e familiares foram acordados pela madrugada e partiram para o local em busca de notícias, se deparando com um verdadeiro cenário de uma tragédia. Uma cidade ficou em choque, o país em luto. Essa tragédia é difícil de sair da memória de todos nós que acompanhamos pelos noticiários tudo o que era divulgado.


Essa não é uma minissérie fácil de assistir. Principalmente os chocantes primeiro e segundo episódios. Gera um sentimento de revolta em todos. A luta pela condenação dos inúmeros culpados se torna um alicerce da narrativa nos três últimos episódios, onde o foco se desloca para a dor das famílias, os embates com o ministério público da cidade onde tudo aconteceu e as incontáveis idas e vindas à tribunais de várias cidades. A esperança de dar mais um passo na condenação de quem merece ser condenado se torna uma jornada cheia de lutas e burocracias e com um dos maiores absurdos: 10 anos depois que 242 pessoas foram mortas NENHUM réu foi responsabilizado por absolutamente nada que aconteceu naquela noite triste no sul do país.


Pode ser que para alguns esse projeto seja guiado por alguma polêmica sobre o uso como entretenimento, uma minissérie sobre uma tragédia. Mas como assim? Não existe a possibilidade de se negar o que aconteceu! Além do que, uma obra audiovisual traz ao espectador reflexões e o principal, o nunca esquecer!



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