As dores de um viver no sufocamento constante. Explorando as relações amorosas, as formas de enxergar o amor, o companheirismo, as duras batalhas pela liberdade dentro de um autoconhecimento, a cineasta Julia Rezende nos apresenta uma história guiada por uma protagonista em crise no seu presente que acaba se jogando em uma nova estrada de oportunidades ligadas ao desejo. Caminhando em passos largos dentro de uma previsibilidade, há ótimas atuações mas sem momentos brilhantes, guiados por um roteiro que se atrapalha no detalhismo e demora para acontecer.
Na trama, que teve sua primeira exibição nacional no
Festival do Rio 2022, conhecemos Mari (Letícia
Colin), uma jovem chef de cozinha, que tem seu próprio restaurante e vive
seus dias monótonos e até mesmo distantes com o marido Rafa (Dan Ferreira) em um apartamento
confortável de uma grande cidade do Brasil. Um dia, Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara
Paz), se mudam para o prédio dela, o que acaba mexendo com sua rotina,
principalmente quando começa a demonstrar interesse por Fred e automaticamente
se distanciando ainda mais do marido. Há um olhar profundo para a complexa protagonista,
interpretada pela excelente Letícia
Colin. Mesclando em partes momentos dentro de uma não lineariedade, vai
sendo construída essa personalidade marcante que se enxerga presa (mas não
demonstra) em um relacionamento onde ela tem tudo e mesmo assim fica longe de
ser feliz. Mas o que seria esse tudo?
A desconstrução do casamento vai sendo vista aos poucos, o
estopim chega na maneira de enxergar a relação dos novos vizinhos, esses com um
relacionamento aberto. E essa tal liberdade acaba sendo algo que a protagonista
nunca experimentou, talvez caminhando nesse sentido em um presente impulsionada
pela desconfiança das mensagens que o marido troca, até mesmo dos compromissos
dele até tarde no trabalho. O roteiro consegue chegar em seu objetivo que pode
ser entendido como mostrar a desconstrução e um início da construção dessa personagem
dentro de um processo de autoconsciência, mesmo que o excesso de detalhes
direcionado somente à uma personagem acabem atrapalhando o topo dessa jornada
que seria a compreensão pelo público de seu estado emocional.
A iminência acaba se encontrando com a previsibilidade. Com
coadjuvantes apenas sendo vistos de forma superficial (há pouco desenvolvimento
do importante conflito que enfrenta Isis, por exemplo), vemos uma protagonista
em processo de se libertar de uma aflição que teve na porta ao lado seu início,
seu meio e quem sabe seu recomeço.