15/09/2013

Crítica do filme: 'Eu, Anna'

Baseado no best seller internacional de Elsa Lewin, chegou aos cinemas na última sexta-feira (13) o thriller Eu, Anna. Nesse primeiro longa metragem do diretor britânico Barnaby Southcombe somos jogados em uma trama misteriosa onde o jovem cineasta tenta criar elementos surpreendentes a todo instante o que acaba provocando uma lentidão exagerada na narrativa cinematográfica. O ponto positivo fica para a atuação impecável da experiente britânica Charlotte Rampling (Melancolia).

Durante os 93 minutos de fita frequentamos a vida misteriosa de Anna Welles (Rampling)que após passar por um doloroso divórcio se envolve com o desiludido inspetor chefe Bernie Reid (Gabriel Byrne) que investiga um caso de assassinato. Aos poucos vamos descobrindo os segredos desta mulher de meia idade que possui um relacionamento conturbado com sua própria mente, além de estar ligada a uma série de acontecimentos estranhos que ocorreram na cidade nos últimos dias.

Como todo filme de suspense, a trilha sonora tem papel importante. Só que neste caso, é mais um elemento que atrapalha a interação com o público. A narrativa lenta e o complexo quebra cabeça que é instaurado deixam o espectador confuso.  Em muitas sequências no decorrer a trama, o diretor apresenta diversos detalhes que ao desfecho do filme vemos não serem tão importantes assim. Será que houve um problema de adaptação? Pode ser, a questão é que não convence como cinema.

A veterana das telonas Charlote Rampling é a grande estrela do projeto. Constrói sua personagem de maneira retilínea, sem brilho e com ar confuso, deixando ao longo dos minutos o desespero e o ar do suspense ser desmascarado pelo espectador. No final do trabalho há uma certa confusão saudável, não sabemos definir se sentimos pena ou ódio da protagonista. Todas as subtramas passam por Anna Welles e seria muito fácil se perder na personagem. mas não com tamanha competência da artista britânica.

Pode ser que os amantes de thrillers curtam esse trabalho. Clima de mistério, tensão e surpresas são ingredientes do projeto mas o cinéfilo pode sair da sala de cinema com a leve sensação de que faltou alguma coisa, ou, que todos esses elementos misturados foram mal dosados, exagerados.  



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12/09/2013

Crítica do filme: 'Elysium'

Rodado no México e no Canadá, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (20) o mais novo trabalho da dupla de brasileiros Alice Braga e Wagner Moura, Elysium.  Muito bem contextualizado e tendendo mais ao lado da ação do que o da conscientização, o diretor do excelente Distrito 9, Neill Blomkamp, tenta criar um universo sci-fi com muitas referências a nossa sociedade de hoje deixando a desejar apenas em seu roteiro tremendamente superficial.

A ficção científica comandada por Blomkamp é ambientada em um futuro próximo onde os humanos se dividem em dois lares: a terra que conhecemos hoje - onde ficam os mais pobres - e Elysium, uma espécie de estação espacial onde moram os ricos que não morrem e se curam de todas as doenças. O eterno Jason Bourne, Matt Damon (Compramos um Zoólogico), vive Max da Costa um famoso ladrão de carros que após um acidente na fábrica em que trabalha, ganha uma armadura (impossível não fazer uma analogia à Robocop) e vai em busca de sua cura e a da humanidade.

O enredo é mais simples que o último trabalho de Blomkamp, Distrito 9. Não possui complexidades e nem de longe é um filme difícil de se entender. Nos primeiros minutos, a impressão que passa é a de que vamos conferir um dos grandes lançamentos do ano. Pena que essa sensação dura apenas 15 minutos, no máximo. O filme acaba se perdendo em sua simplicidade e o lado ‘cinema pipoca’ acaba dominando a maioria das cenas.

O elenco é um dos pontos altos do filme. O ator que faz o enigmático personagem Kruger - Sharlto Copley (Distrito 9) – rouba a cena em algumas sequências utilizando muito improviso em seu personagem – que é um dos vilões da história. Alice Braga interpreta a sofrida Frey, uma espécie de par romântico do personagem principal. O trabalho da veterana das telonas deixa a desejar e se parece muito com sua personagem no filme Eu sou a Lenda.

Wagner Moura mostra mais uma vez uma maturidade gigante em um importante papel na trama, Spider, um contrabandista que ajuda o protagonista a encontrar seu destino. Para alguns vilão, para outros um dos mocinhos da trama, Moura consegue mostrar ao público toda sua versatilidade como ator agora falando inglês fluente. Com toda certeza, após mais esse belo trabalho, as portas vão continuar abertas para o ator baiano no mercado internacional.

Mesmo com um clima de ação e aventura que empolga o público em algumas cenas, Elysium não consegue se aprofundar no que pretendia, deixando um bom argumento sem grandes desenvolvimentos, afogando-se a cada segundo em intensas cenas de tiros e explosões.


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Alice Braga e Wagner Moura falam sobre o sci-fi Elysium

Em 2011, o diretor sul-africano Neill Blomkamp (Distrito 9) assistiu ao filme Tropa de Elite e ficou entusiasmado com o personagem Capitão Nascimento, interpretado pelo ator brasileiro Wagner Moura (A Busca). Assim, logo após assistir ao trabalho de José Padilha (Robocop), pegou o telefone e ligou para os agentes de Moura nos Estados Unidos o convidando para seu novo projeto – que chega aos nossos cinemas no dia 20 de setembro – Elysium. Para falar sobre o projeto, a imprensa carioca foi convocada para conversar com os atores Wagner Moura e Alice Braga em um hotel na orla carioca. O Núcleo do Cinema teve acesso e bateu um papo descontraído com os artistas brasileiros.

Elysium, Tropa de Elite e Distrito 9 são filmes populares e com conteúdo político. Nesse novo trabalho do diretor de Distrito 9, abre-se argumentações para imigração, segurança pública, saúde e desigualdade social inserido em um contexto de um filme pipoca. “Cada vez mais eu fico interessado em fazer parte de projetos que gerem discussões. Ninguém vai sair fazendo tratados sociológicos mas vão gerar discussões importantes sobre questões importantes. Elysium é muito mais um filme que reflete o mundo de hoje do que uma previsão futurística. É mais fácil você fazer um filme cabeçudo para pouca gente e um filme bobo para muita gente. Neil Blomkamp consegue ter um equilíbrio entre diversão e conscientização”, diz Moura logo no início da conversa.

O convite para a atriz Alice Braga foi sugerido pelo próprio Wagner Moura ao diretor do filme. “Eu estava em Nova Iorque quando vi o Distrito 9. Eu adorei. Quando soube da chance de fazer parte do projeto, batalhei, fiz o teste, e me reuni com ele. No final, deu tudo certo. Estou super feliz de fazer parte de um projeto como esse, com um diretor tão talentoso da nossa geração. Foi uma experiência gratificante”, disse Alice.

Um dos trunfos do diretor sul-africano de 34 anos é optar por atores de outras partes do mundo, não só utilizar atores que já caíram no gosto do público, por trazer visões diferentes, sentimentos novos em relação ao tema que seu filme aborda. Em relação a isso, Alice Braga mostra sua visão sobre a personagem que interpreta, Frey: “Minha personagem representa muitas jovens mulheres de comunidades no Brasil e no mundo que precisam amadurecer mais rápido, por ser uma mãe mais jovem e mesmo assim não desiste dos seus sonhos não tem auto piedade”, disse Alice.

O filme conta também com a participação do ator sul-africano Sharlto Copley (Distrito 9) – um dos destaques do longa – que já trabalhou com o Blomkamp em Distrito 9 e atualmente está rodando a aguardada comédia sci-fi Chappie que será lançado em 2015. Sobre o talentoso e desconhecido ator, Wagner Moura foi só elogios: “Ele é muito talentoso e excelente com improvisos, faz do seu personagem um homem muito enérgico. Esse é um cara que eu tenho mantido muito contato”.

Wagner Moura consegue brilhar no filme muito pela liberdade que lhe foi concedida para criar em cima do roteiro escrito pelo diretor. Assim, as comparações do personagem Spider (Moura) com o célebre Capitão Nascimento (Moura) foram levadas com muito bom humor pelo artista baiano que se consolida, ano após ano, como um dos grandes atores de nosso cinema. “Eu nunca mais vou poder falar no rádio que as pessoas vão associar ao Nascimento (risos)”, desabafa aos risos o ator brasileiro.

Em uma das curiosidades que aconteceram durante as filmagens, Wagner Moura contou uma situação cômica com o ator Matt Damon: “Eu sugeri que o meu personagem fosse brasileiro já que ele não tinha uma nacionalidade definida no roteiro. Assim, pensei vou colocar uma bandeira do Brasil no braço aí o Matt Damon olhou assim de longe e me perguntou porque eu tinha um hambúrguer tatuado no braço (risos)”.

A atriz Alice Braga se prepara para rodar o faroeste argentino The Ardor, do diretor argentino Pablo Fendrik, já Wagner Moura se prepara para seu primeiro trabalho como cineasta, a cinebiografia de Carlos Marighella, adaptação do livro Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo.




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11/09/2013

Crítica do filme: 'Repare Bem'

Eleito como melhor filme estrangeiro do último Festival de Gramado, o documentário Repare Bem - oitavo trabalho como diretora da atriz mais brasileira de Portugal, Maria de Medeiros (O Xangô de Baker Street) – empurra o público para dentro de um debate inteligentes sobre  mudanças repentinas de governo forçadas, narradas pelos olhos e memórias de quem viveu assiduamente essa época terrível que atingiu governos sul-americanos em décadas passadas. De maneira delicada e muito real, a luta contra a ditadura mais uma vez é apresentada nas telonas em forma de documentário.

O ótimo trabalho de Medeiros conta a história de uma família que por meio de depoimentos vívidos relembram os duros tempos da ditadura brasileira e chilena. Assim, conhecemos a história de Eduardo Crispim, o Bacuri, militante durante a ditadura militar no Brasil. Os relatos são emocionantes e detalhistas. As histórias de terror contadas através dos abusos da polícia nos tempos da ditadura ganham contornos poderosos na voz e memória da ex-militante Denise Crispim.

Os depoimentos das duas protagonistas, mãe e filha, são de arrasar o coração. Conviveram com duas ditaduras terríveis em dois governos militares sul americanos. Imaginem uma mãe com uma filha pequena tendo que viver com agressões e situações desumanas para tentar sobreviver em meio caos e um mundo que desaba mais a cada dia. Nômades, viajaram o planeta em busca de proteção e um pouco de paz, fato que nunca as distanciou da vontade tamanha de viverem em sua verdadeira pátria, o Brasil.

O espectador precisa estar preparado e ter um coração forte, os depoimentos são intensos e comovem facilmente o público. Mesmo quem não viveu naqueles tempos de luta armada no Brasil consegue encontrar pontos de interessante para discutir assim que a sessão acabar. Principalmente nas sequências que possuem uma argumentação muito bem fundamentada pelos envolvidos com as situações de guerrilha da época.


A cada relato, o público faz um exercício saudável de tentar recriar o filme em sua cabeça, usando como mecanismos imaginativos as falas enternecedoras dos personagens. O trabalho não deixa de ser uma busca por respostas sobre o que de fato aconteceu com bacuri e tantos outros militantes brasileiros que sumiram tentando fazer do Brasil um país mais livre.
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08/09/2013

Crítica do filme: 'Esse Amor que nos Consome'

Dirigido pelo cineasta Allna Ribeiro, o drama cheio de esperança Esse Amor que nos Consome não é só um filme, é uma experiência. Talvez, por este fato, possa não ser bem recebido pelo público cinéfilo. Há uma certa falta de ritmo propositalmente inserida nas sequências que fala sobre a vida em forma de poesia. No mundo dos sonhadores encontramos os protagonistas, seus  desejos de realização são escancarados na telona e ganham grande destaque ao longo do projeto em forma de metáforas e movimentos corporais.

Na trama, acompanhamos os coreógrafos Gatto Larsen e Rubens Barbot. Companheiros de vida há mais de 40 anos. Juntos resolvem se instalar em uma grande casa abandonada no centro do Rio de Janeiro. Para alimentar seus desejos e sonhos, passam a viver e ensaiar com sua companhia de dança – formada por jovens talentos da dança que enfrentam a dificuldade da falta de patrocínio. A luta cotidiana mistura-se à luta contra mosquitos que tocam violinos em suas orelhas.

Por mais que a beleza tome conta e boa parte das sequências, algumas tramas com personagens reais ou histórias reais simplesmente não conseguem se encaixar. O roteiro, ponto básico de qualquer filme, é fundamental para isso. Nesse quesito o filme comete deslizes sérios, o uso da narrativa em marcha lenta atrapalha qualquer tentativa de interação com o público.

O homem está na cidade, assim como a cidade está no homem. Partindo deste princípio e sabendo que a coreografia – definida muito bem por Larsen -  é o primeiro esboço de uma possibilidade, cada pensamento ganha coreografia e assim vai sendo mostrado um Rio de Janeiro cheio de cores e emoção. O palco, é o centro da cidade maravilhosa, com seus habitantes e seus imensos labritintos de paredes e janelas.  


A trilha sonora dita o ritmo das belas cenas de dança ao ar livre. Clara Nunes e outros grandes cantores aparecem dando sentido aos movimentos. Quem já está acostumado a assistir espetáculos de dança consegue criar um vínculo carinhoso com o filme, quem não gosta ou não está acostumado passará minutos em constante conflito com seu relógio. 
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05/09/2013

Crítica do filme: 'Jobs'

Com muita desconfiança após seu lançamento em outros países, o aguardado longa de Joshua Michael Stern (do irritante Promessas de um Cara de Pau), Jobs, chega ao Brasil nesta sexta-feira (06). O longa aborda seus pensamentos sobre ter um diploma universitário, sua dificuldade no começo de carreira de trabalhar em equipe, sua primeira grande chance na matriz da famosa empresa de jogos Atari e todas as confusões que enfrentou ao longo do tempo com sua famosa empresa, a Apple.

Desde seu início, Jobs tem o objetivo de transformar Steve em um Deus genial. A desconstrução do personagem feita ao longo do filme é muito bem feita tornando essa grande mente vulnerável, principalmente quando olhamos para os conflitos pessoais que o mesmo enfrenta. O homem que gostava de andar descalço e que não conseguia ver um futuro sem mainframes e plataformas tinha um emocional conturbado.

O filme relata com muita coerência e aos moldes cinematográficos o perfeccionismo que Steve Jobs lapidava todos os seus revolucionários projetos. Durante a década de 70 – período de aprovação mundial do trabalho de Jobs – o futuro criador da Apple fazia o que ninguém achava que era possível. Seus discursos memoráveis sempre com uma leve cutucada no seu rival Bill Gates e na poderosa IBM ganham grande destaque ao longo da projeção. Uma das melhores cenas no filme mostra exatamente como era difícil o relacionamento entre os dois grandes gênios da informática, quando Jobs faz uma ligação polêmica à Gates para tirar satisfação sobre uma cópia de um software.

Ashton Kutcher – que para se preparar para o papel, seguiu uma dieta só de fruta, similar à dieta de Jobs. - passa no teste, convence com sua determinação e o seu controle contra eventuais exageros cênicos, principalmente na fase inicial adulta de Jobs. Suas cenas de discussões com John Sculley (interpretado pelo sumido Matthew Modine), que foi vice-presidente e presidente da PepsiCo, antes de se tornar CEO da Apple, eram recheadas de elementos que poderiam deixar o filme maçante mas o roteiro de Matt Whiteley (em seu primeiro trabalho no cinema)  adéqua perfeitamente aos moldes do cinema tornando cada cena dessas grandes destaques dentro da trama.

A trilha sonora tem papel importante dentro da história. Consegue criar uma atmosfera aos sentimentos jogados na tela e cria um grande ritmo às sequências, principalmente no início do filme. As pessoas sairão das salas de cinema com uma visão diferente sobre Steve Jobs. Haverá uma dúvida se ele é um gênio, um vilão ou os dois. Não deixe de conferir o homem que era o começo e o fim do seu próprio mundo.


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27/08/2013

Crítica do filme: 'Se Puder...Dirija!'

Para a primeira tentativa nacional de gravar em live action usando tecnologia 3D, a história escolhida não poderia ser pior. Dirigido pelo cineasta Paulo Fontenelle (Intruso), a nova comédia brasileira Se Puder... Dirija! é uma experiência terrível para quem espera uma história inteligente e longe de bobeiras – típicas nos últimos filmes do gênero feitos no Brasil. Os personagens interagem de maneira superficial, o roteiro não se encontra e logomarcas de patrocinadores recebem mais atenção que a história. Resumindo, uma experiência sonolenta.

Distribuído pela Disney e pela Buena Vista, Se Puder... Dirija! conta a história de João (Luis Fernando Guimarães) um manobrista que vive deprimido por estar longe de sua família após o divórcio. Certo dia, após reflexões em um frustrado aniversário, resolve se tornar um pai mais presente e convida seu filho Quinho para passar o dia com ele. Atrasado para esse compromisso, pega emprestado o carro de uma cliente – a médica Márcia (Bárbara Paz), e parte para uma série de imprevistos no que era para ser um dia de diversão entre pai e filho.

O principal erro do filme tem haver com o roteiro. Personagens sem objetivos circulam pela trama como se estivessem em um desfile de moda. Situações forçadas – que dificilmente iriam acontecer no mundo real – são despejadas na tela transformando o enredo em uma grande confusão que é apresentada ao espectador. O personagem principal, interpretado pelo comediante Luis Fernando Guimarães (Os Normais 2) também é um pobre coitado perdido em cena. Sem objetivo fixo, fica vagando entre as toscas sequências captadas pelas lentes do diretor.

Uma das coisas que mais incomodam é a exposição – algumas desnecessárias – de logomarcas patrocinadoras nas cenas. O protagonista trabalha como manobrista e para surpresa geral, quase todos os carros são de uma marca famosa francesa (que patrocina o filme). Isso destrói qualquer tipo de veracidade. Outro fator irritante no filme é a interação de Reynaldo Gianecchini e Lívia de Bueno, os efeitos no cabelo da personagem feminina e um charme forçado do outro personagem fazem o público ficar atônitos com tamanha bobagem.

A experiência em 3D não muda em nada a interação com público, a expectativa gerada cai por terra quando a história não é boa. A única coisa que muda realmente é que o público vai pagar mais caro na bilheteria dos cinemas. E o que não muda é que o espectador vai comprar seu ticket para ver um filme nacional e – a maioria – se arrependerá.   

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23/08/2013

Crítica do filme: 'A Alma da Gente'

Com um lançamento modesto para os altos padrões que produções brasileiras se solidificaram recentemente, o filme de arte A Alma da Gente é uma aula de como fazer de uma simples ideia, um filme emocionante que leva facilmente qualquer coração às lágrimas. Dirigido pela carioca Helena Solberg e pelo norte-americano David Meyer, o documentário mostra diferentes destinos de pessoas marcadas pela transformação através da arte.

No longa metragem, acompanhamos a história emocionante de 60 adolescentes do Corpo de Dança da Maré, grupo coordenado pelo coreógrafo e educador Ivaldo Bertazzo. Dez anos depois dos ensaios de um espetáculo de dança com o elenco formado por esses jovens moradores da favela da Maré, os diretores buscam esses participantes para descobrir os surpreendentes destinos de cada um dos personagens.

O amor pelas artes é uma conquista que cada um dos jovens envolvidos no projeto adquire. Suas trajetórias de vidas são modificadas pela disciplina que é exigida.  A princípio, a oportunidade dada é um universo novo e as descobertas se renovam a cada novo ensaio. As lentes dos diretores conseguem com grande perfeição captar cada detalhe que expresse esse sentimento de mudança que vai criando em cada personagem conforme eles aparecem em cena.

Produzido em dois tempos, com um intervalo de dez anos, o longa-metragem tem início em 2002, quando os realizadores filmaram o dia-a-dia dos ensaios desses adolescentes. Uma árdua tarefa de planejamento e perseverança dos produtores e diretores do projeto. Criar uma história a longo prazo é uma das tarefas mais difíceis do cinema. A parte de pesquisa e os detalhamentos que o filme possui são fundamentais para o êxito da obra.

As surpresas que acompanham cada personagem surpreendem o público. Histórias de felicidades e tristezas se encontram, transformando o documentário em um presente que é aberto pelo público a cada novo depoimento. O espectador se diverte, chora e pensa sobre a importância do ajudar ao próximo. Emoções à flor da pele a todo instante. No desfecho, a reflexão sobre o que se viu na telona é eminente.


O belíssimo trabalho se torna mais um ótimo documentário produzido neste ano de 2013. A Alma da Gente estreou nesta sexta-feira em pouquíssimas salas em todo o Brasil. Se o filme estiver passando em sua cidade, não perca tempo, reserve um tempo na sua agenda e vá conferir as emoções da expressão perpendicular de um desejo horizontal. Bravo!
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21/08/2013

Especial com os 10 melhores filmes de Rodrigo Santoro

Rodrigo Junqueira dos Reis Santoro nasceu no dia 22 de agosto de 1975, em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Filho de um engenheiro e uma artista plástica, após terminar o segundo grau rumou a capital do Estado e se inscreveu no curso de comunicação social (com ênfase em jornalismo) da PUC. Mas o sonho do futuro grande astro do nosso cinema era ser ator e durante sua graduação cursava em paralelo a Oficina de Atores da Rede Globo.

O então jovem, de ascendência italiana, teve sua primeira experiência no cinema participando do curta metragem Depois do Escuro no ano de 1996. Somente cinco anos mais tarde voltou a se dedicar ao cinema aceitando o papel do complicado Wilson Souza Neto no elogiado filme de Laís Bodanzky, Bicho de Sete Cabeças. Com o sucesso desse trabalho, Santoro começou a receber muitos convites para participar de outras produções mudando todo o seu foco artístico.

O ano de 2003 foi um marco em sua carreira. Em sua primeira participação em um filme estrangeiro, Em Roma na Primavera (2003), contracenou com a ganhadora do Oscar, Helen Mirren (Red 2 – Aposentados e ainda mais perigosos). Logo após esse trabalho, emendou As Panteras Detonando (2003) e Simplesmente Amor (2003), fixando-se de vez no mercado internacional. No ano de 2006, interpretou o vilão do filme 300, Xerxes onde teve que contracenar com nenhum ator tendo apenas um fundo verde como referência. O filme foi um grande sucesso e Santoro volta a pele do personagem em 2014 para a sequência 300: A Ascensão do Império.

Abaixo analisaremos os dez melhores filmes desse veterano das telonas que já foi indicado ao MTV Movie Awards, na categoria Melhor Vilão, pelo filme 300. Confira a lista abaixo:


10. Os Desafinados (2008)

Para começar a lista nada melhor que um filme cheio de canções que relembram a nossa bossa nova. No filme de Walter Lima Jr. – Os Desafinados – voltamos aos 60, onde conhecemos cinco amigos que formam a desconhecida banda Rio Bossa Cinco. Eles se divertem cantando e tocando canções de sua geração sonhando um dia poder tocar no prestigiado Carnegie Hall. Quando chegam em Nova Iorque, encontram a filha de uma brasileira com um americano que volta com eles ao Brasil e se junta ao grupo. O filme possui uma das mais belas trilhas já feitas em um filme nacional.


9. Carandiru - O Filme (2003)

Na pele do travesti Ladi Dy, Rodrigo Santoro teve um dos seus grandes papéis na carreira no filme de Hector Babenco, Carandiru.  O longa é baseado no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, onde são narradas todas as experiências do médico no principal presídio do Brasil, até então. O filme rompe barreiras e corajosamente reproduz detalhadamente o massacre ocorrido em 2 de outubro de 1992, em que 111 presos foram mortos.


8. Heleno (2012)

Em seu primeiro papel representando um esportista, Rodrigo Santoro topou o desafio de interpretar o famoso craque do botafogo da década de 40, Heleno de Freitas. Em Heleno – todo rodado em P&B - , conhecemos a fundo a história daquele que se considerava o maior jogador de futebol do Brasil. Suas frustrações, seus sucessos, seus amores, são muito bem retratados pelo diretor José Henrique Fonseca (filho do famoso escritor Rubem Fonseca). Foi a primeira vez que Santoro também produziu um filme.

7. Meu País (2011)

Ao lado de Cauã Raymond e Debora Falabella, Santoro estrelou no ano de 2011 o drama dirigido por André Risum, Meu País. Na trama, conhecemos a complicada família de um executivo, casado e bem-sucedido que vive na Itália. Após muitos anos fora do Brasil, é obrigado a retornar ao país quando seu pai, Armando (Paulo José), sofre um derrame e muitas surpresas surgem como uma misteriosa irmã que desconhecia. O longa ficou pouco tempo em cartaz nos cinemas brasileiros e merece ser conferido pelos cinéfilos.

6. Simplesmente Amor (Love Actually, 2003)

Em uma de suas primeiras aparições em uma produção no exterior, Santoro interpreta o arquiteto Karl que se apaixona pela complicada Sarah – papel da sempre excelente Laura Linney (Operação Presente). O longa dirigido pelo neo zelandês Richard Curtis (Os Piratas do Rock) o filme conta a história de dez personagens em busca da paixão, mostrando situações sobre como o amor pode mudar a vida de cada um.

5. Che 2: A Guerrilha (Che: Part Two, 2008)

Dirigido pelo famoso cineasta Steven Soderbergh (Magic Mike), o drama que conta – em duas partes – a trajetória do militante Che Guevara foi um grande fracasso nas bilheterias. Rodrigo Santoro interpreta Raúl Castro, irmão de Fidel, em ambos os filmes. Na melhor das duas partes, Che 2: A Guerrilha somos situados a um Che Guevara após a Revolução Cubana, onde se encontra no auge de sua fama e poder. É um filme para aqueles cinéfilos que curtem biografias adaptadas nas telonas.

4. Abril Despedaçado (2001)

Em seu primeiro trabalho ao lado do diretor Walter Salles (Na Estrada), Santoro dá um verdadeiro show na pele de Tonho, o personagem principal da trama que foi baseada no romance Prilli i Thyer de Ismail Kadare, adaptado por Karim Aïnouz (O Abismo Prateado). No início do século XX, no sertão brasileiro, Santoro vive um jovem de vinte anos que passa a ser estimulado pelo pai a vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival. Abril Despedaçado é um filme inesquecível e merece estar na sua coleção de dvds.

3. Bicho de Sete Cabeças (2001)

Logo no seu início de carreira dentro do cinema, Santoro interpretou um dos seus personagens mais complexos. Em Bicho de Sete Cabeças conhecemos a história de Neto (Santoro), um jovem que é internado em um hospital psiquiátrico, após seu pai descobrir um cigarro de maconha em seu casaco. Lá, é submetido a situações abusivas. O longa é dirigido por Laís Bodanzky e com roteiro de Luiz Bolognesi baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, Canto dos Malditos. O filme até hoje é utilizado em palestras sobre instituições públicas ligadas a saúde mental.

2. Uma História de Amor e Fúria (2013)

Um dos últimos lançamentos da carreira do agora grande astro do nosso cinema, Uma História de Amor e Fúria é um drama com técnicas de animação muito bem executadas que praticamente joga o público dentro da inteligente história. O filme conta a história de um homem que está vivo há 600 anos no Brasil passando por momentos marcantes da história do nosso país, desde os conflitos indígenas na época da chegada dos europeus, passando pela Balaiada, no Maranhão, pela ditadura militar e a guerra pela água num futuro não tão distante. Uma história que merece ser conferida por todos os cinéfilos.

1.Não por Acaso (2007)

Em um dos melhores filmes do cinema nacional dos últimos tempos, Santoro dessa vez não é o protagonista mas comove o público com uma atuação competente na pele de um jogador de sinuca. No filme dirigido por Philippe Barcinski (Entre Vales) conhecemos Ênio, um engenheiro de trânsito que, operando sinais, busca comandar o fluxo dos automóveis da cidade de São Paulo. Quando encontra com a filha, Bia, faz com que ele se sinta sem o controle de tudo. No outro segmento, acompanhamos Pedro, dono de uma marcenaria especializada na construção de mesas de sinuca. Um acidente faz com que a vida de ambos tomem rumos surpreendentes. O filme conta com uma das cenas mais bonitas da história recente do cinema nacional, a sequência do semáforo. Não deixem de conferir!


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19/08/2013

Crítica do filme: 'Amor Bandido'

Após seu último filme, aclamado por crítica e público, O Abrigo, o jovem diretor norte-americano Jeff Nichols apostou na experiência de um ator sempre muito criticado pelo público cinéfilo - Matthew McConaughey (Magic Mike) -  e na juventude de um artista - Tye Sheridan (A Árvore da Vida) – para contar uma história sobre a redescoberta da confiança, a descoberta do espírito aventureiro e, porque não, dos incríveis laços de uma amizade. Amor Bandido se parece com tantos outros filmes que já vimos, nesse caso, o que convence são as ótimas atuações.

O drama – roteirizado pelo próprio diretor – conta a aventura de dois garotos de vidas complicadas, Ellis (Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) , que inesperadamente encontram um misterioso homem chamado Mud (McConaughey) durante um passeio em uma ilha próxima a cidade onde moram, no Mississippi. Após o início inusitado dessa amizade, o contador de histórias Mud começa a mexer com o imaginário dos novos amigos contando sua trajetória dura de vida e explicando o real motivo de sua presença naquela solitária ilha –  ser feliz com um grande amor do passado. Aos poucos os dois jovens sao incorporados aos planos desse homem, fazendo de tudo pelo objetivo.

A modelagem do lado emocional e superticioso de personagem principal é uma das grandes armas do filme para prender o espectador. Mud tem um apego emocional e supersticiosos por sua camisa, causa carisma contando sobre convincentes histórias comovendo o público por esses e outros elementos. É um grande personagem, cheio de trunfos na manga. Se torna misterioso aos olhos dos seus dois amigos e aos olhos do público também – muito, por não sabermos se tudo aquilo que é dito com tamanha firmeza realmente aconteceu de fato. O espectador se transporta para a história facilmente, louco para descobrir qual será o desfecho.

Muitos atores foram cotados para o papel principal. Michael Shannon (O Homem de Aço) – com o qual já havia trabalhado com Nichols em O Abrigo -  e Chris Pine (Star Trek) (que quase assinou contrato em meados de maio do ano passado) estiveram perto de dar vida à Mud. Mas a primeira escolha do diretor sempre foi Matthew McConaughey, desde que o mesmo viu a atuação do artista no ótimo filme Lone Star - A Estrela Solitária (1997). A decisão não poderia ter sido mais acertada, McConaughey domina seu personagem do início ao fim.  A melhor atuação da carreira do artista que é casado com uma famosa modelo brasileira.


Todo rodado na cidade de Arkansas – terra natal do diretor do longa – Amor Bandido (mais uma péssima tradução de título aqui no Brasil) é um longa simples, repleto de diálogos muito bem escritos e tornando  uma grata surpresa, principalmente para aqueles cinéfilos que desconfiam do talento de McConaughey. Viva essa aventura! 
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18/08/2013

Crítica do filme: 'Por que Você Partiu?'

Em 94 minutos de muitas receitas e grandes emoções, o diretor Eric Belhassen faz uma bela busca nas razões de grandes chefes de cozinha franceses terem partido da capital mundial da culinária para uma terra diferente, cheia de possibilidades. Com muita simplicidade e algumas pequenas escorregadas nos enquadramentos – que desconsideramos pelo todo da obra – o cineasta radicado no Brasil executa esse trabalho pois também queria saber sua própria resposta para a pergunta que indaga. 

Em mais esse ótimo documentário lançado esse ano no Brasil – Elena, Margareth Mee e a Flor da Luz  e Doméstica também se destacaram em 2013 – acompanhamos os percursos de cinco chefes de gastronomia que moram no Brasil e largaram família e seus respectivos empregos em busca de sucesso em nossa terra. Por meio de suas comoventes histórias familiares, o filme investiga as razões que os levaram a deixar a terra da culinária mundial.

Muito bem definido pelo roteiro, conhecemos o que precisamos de cada um dos personagens que possuem uma evidente busca pela perfeição em comum. Em algumas sequências acompanhamos o cotidiano estressante dos chefes e suas famosas cozinhas brasileiras. A rigidez e a cobrança de comprometimento sobre suas equipes é evidenciado em gritos e atitudes grosseiras por parte de alguns deles. Poucas cenas sao editadas e podemos acompanhar na íntegra o que realmente ocorre por traz do seu pedido em um restaurante.

Os depoimentos dos familiares de cada um dos profissionais da cozinha possuem suas peculiaridades e ajudam o público a descobrir as razões  de suas vindas para nossa terra. Brigas entre pai e filho, ciúmes da esposa, desilusões amorosas são alguns dos temas que são abordados neste documentário que estreou em apenas uma sala no Rio de Janeiro. Nessas horas, nos perguntamos o porquê os filmes bons não chegam ao público? Será falta de salas de cinema de arte ou será a ganância e o retorno do lucro com lançamentos blockbusters?


O documentário tem clima de road movie. O público se sente em uma aventura, viajando de um lado ao outro e descobre parte dos segredos de mentes brilhantes da culinária internacional.  A receita deles é outra coisa em comum. Pegue a coragem, bate no liquidificador, corte a saudade em rodelas, coloque pitadas de amor e boa sessão!
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