12/10/2013

Crítica do filme: 'Minutos Atrás'

Despejando pensamentos na telona, Minutos Atrás é uma produção nacional diferente de muitas obras made in Brasil que você já viu por aí. Dirigido por Caio Sóh e com apenas três personagens em cena, o filme é quase uma canção declamada e sem nenhuma obrigação cinematográfica. O roteiro se sustenta em um cavalo, um personagem pensador e seu discípulo, ou meramente um fã daquelas palavras jogadas. Vladimir Brichta, Otavio Muller e o inusitado ruminante Paulinho Moska compõem o elenco desse filme feito para pensar.

Na curiosa história – roteirizado pelo próprio diretor – acompanhamos dois amigos seguindo sem direção em uma estrada abandonada. Tendo apenas uma carroça cheia de bugigangas, pensamentos argumentativos sobre a sociedade, os sonhos, a vida e o destino, a dupla corre contra o tempo pois não sabem onde esse caminho os levarão. Assim, o público é envolvido em raciocínios oriundo da vivência dos dois, fato que os fazem refletir sobre sua própria existência no planeta.

Alonso (Brichta) e Nildo (Muller), os personagens principais desta curiosa saga, podem ser comparados a um mestre e seu aprendiz, mais ou menos a relação conflituosa que vimos no último filme de Paul Thomas Anderson, O Mestre (2012). Os pensamentos são descarregados um atrás do outro e um terceiro elemento, Ruminante (Moska) – um cavalo - é a figura prostrada que serve de auxílio para os desabafos, virando também uma zona de conforto para essas duas almas perdidas. Se o público não se identificar com as palavras jogadas ao vento não curtirá essa viagem, caso contrário pode sair do cinema cheio de assunto para discutir na mesa de bar mais próxima.


Não deixa de ser um filme corajoso – como peça de teatro funcionaria bem melhor. Caio Soh despeja seus pensamentos e ideias inusitadas tendo como base a poesia e a música. O ar poético com que são declamadas as palavras transformam essa jornada em um grande experimento que deve gerar reações diversas nas nossas salas de cinema. A dica, é se deixar levar e tentar contra argumentar, sempre nas loucuras estão presas raios de brilhantismo e ideias geniais. É só querer acreditar. Viva essa experiência.
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Crítica do filme: 'Gravidade'

Tentando transformar a sala de cinema em um verdadeiro templo angustiante e de muito drama, o cineasta mexicano Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança) chega – finalmente – aos nossos cinemas com o seu aguardado longa-metragem Gravidade. Com poucos personagens, muita tensão e efeitos especiais muito bem executados a esperança do veterano diretor era encontrar uma atriz que conseguisse passar sozinha toda a verdade da sensação de estar em uma situação desesperadora. A escolha não poderia ter sido melhor, Sandra Bullock tem o melhor desempenho de sua vida. Porém, o filme é apenas bom. Os exageros e a criação de uma heroína hollywoodiana não convencem e tornam o longa-metragem apelativo em seu final.

Na fantástica aventura acompanhamos o veterano astronauta Matt Kowalski (George Clooney) e a engenheira médica Ryan Stone (Sandra Bullock) em um dia tumultuado no espaço. Enquanto estão consertando alguns probleminhas em uma estação espacial, são surpreendidos por uma chuva de meteoritos que atingem uma outra estação espacial, caminhando rapidamente na direção deles. Do lado de fora da nave, com pouco oxigênio e quase entrando em desespero, precisam unir forças para tentar sobreviver a essa eminente catástrofe.

O filme é angustiante (muitas pessoas vão ter algum tipo de desconforto), eletrizante, mas apenas bom. A única coisa espetacular é a atuação da Sandra Bullock (As Bem-Armadas). Choramos, pensamos e nos identificamos com sua personagem. Esse – sem dúvidas nenhuma – é o melhor trabalho da vida dessa artista norte-americana de trabalhos deveras contestados ao longo de sua carreira. O filme se torna uma grande redenção tanto para a personagem quanto para a artista. O espectador torce pela doutora Ryan Stone o tempo todo. Sandrinha tem mais carisma q o Lula, podem apostar. Ela vale o ingresso e se ganhar o Oscar ano que vem, dessa vez será merecido!

O roteiro possui os méritos de criar uma personagem com um passado trágico o que acaba se conectando com aquela situação desesperadora, virando força e justificando a luta pela sobrevivência da protagonista. Todo esse leque de emoções: passado, presente, lembranças, medo, angustia é muito bem distribuído e notamos isso nas ações da personagem a cada minuto. Ao longo dos 91 minutos de fita, é impossível tirar os olhos da tela mesmo que os últimos 20 minutos de filme deixem um pouco a desejar no quesito exageros da heroína. Os últimos 5 minutos são totalmente descartados mas muita gente vai gostar.


Como dizia o poeta sueco Vilhelm Ekelund: “A origem de toda a angústia é a de ter perdido o contato com a verdade”, Gravidade pode ter cometido algumas falhas reais dentre as fábulas físicas criadas para a aventura dar certo. Somando-se a isso – e caminhando com cuidado para não soltar nenhum spoiler indelicado – o desfecho vai gerar sérios conflitos entre os que conseguiram achar esse filme um espetáculo e aos que assim como eu acharam desnecessário esse final, além da exagerada louvação hollywoodiana.
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10/10/2013

Crítica do filme: 'Lore'


Dirigido pela cineasta australiana Cate Shortland (Somersault), o drama sobre a segunda guerra mundial Lore é uma troca de perspectiva sobre a ótica do Holocausto. A família dos vilões desses tempos violentos e desumanos também sofrem e isso é mostrado friamente, com muitos detalhes, neste excelente trabalho. A atriz Saskia Rosendahl dá um verdadeiro show na pele da protagonista que dá título à trama, com apenas quatro trabalhos no mundo do cinema, a artista alemã de 20 anos será um rosto freqüente no cinema europeu nos próximos anos, podem anotar!

Lore é baseado na obra The Dark Room, de Rachel Seiffert e conta a história de uma irmã que leva seus irmãos em uma viagem os expondo a verdade das crenças ensinadas por seus pais. Durante o caminho, um encontro com um refugiado misterioso, faz a protagonista aprender a confiar em alguém que toda a vida foi ensinada a desprezar. Ao mesmo tempo, vai descobrindo a verdade sobre a família e o regime onde foi educada. Segura e com novas convicções para seu futuro ruma para um destino cheio de surpresas.

O roteiro é muito bem escrito por Robin Mukherjee. Consegue recriar o cenário imaginado de tristeza, dor e sofrimento que a história pede. A emoção é constante, dosada na medida certa para comover, gerar indignações e argumentações – essas últimas no pós-filme. Não chega a ser uma lição de vida mas demonstra que a vida é uma grande caixa de surpresas e o futuro é um lugar indeterminado.


A co-produção Alemanha-Austrália consegue se diferenciar dos outros inúmeros filmes que abordam esse mesmo assunto. Neste drama, somos surpreendidos por uma visão diferente dos fatos, mais ou menos como ocorre no comovente O Menino do Pijama Listrado (2008). As descobertas dos irmãos sobre todas as atrocidades feitas durante anos por pessoas perto deles desconstroem e transformam todos esses personagens. O público é guiado brilhantemente pelas ótimas sequências captadas por Cate Shortland. A grande lição que fica da história é triste mas não deixa de ser uma verdade global: ame o impossível, porque é o único que te não pode decepcionar. 
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Crítica do filme: 'Terra Firme'

Com a pomposa frase “jamais deixarei uma pessoa no mar” é aberta a discussão sobre o bom longa-metragem italiano Terra Firme. O diretor Emanuele Crialese (Novo Mundo) consegue desenvolver muito bem seus personagens nesse drama que promete agradar a muitos amantes da sétima arte durante suas exibições, a partir da próxima sexta-feira (11), nos nossos cinemas. A direção de arte é impecável e a história comove, um prato cheio para qualquer pessoa que gosta de filmes do velho continente.   

O longa é um sinal de alerta, uma crítica social aos confins da pobreza e consequentemente a fuga ilegal para uma nova terra com oportunidades. Na trama, uma família que vive numa ilha (que não existe nem no Mapa Mundi), enfrenta muita dificuldade quando resolvem ajudar imigrantes ilegais. A ética do mar é muito mais forte, para os envolvidos na trama, que qualquer lei de imigração. O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção pela qualidade como é feito, alterando imperfeições e habilidades com muita realidade.

Quem sente mais a situação é o mais jovem na tríade familiar é o protagonista Filippo. Sua trajetória é uma espécie de amadurecimento forçado, explodindo e tentando absorver seu destino, muitas vezes motivado por uma impulsividade fora do comum. A Ingenuidade do personagem Filippo é passada com uma naturalmente impressionante, méritos para o jovem ator Filippo Pucillo (Novo Mundo). Mimmo Cuticchio (Baarìa - A Porta do Vento) e Donatella Finocchiaro (Para Roma, com Amor) com seus personagens carismáticos, completam a família e são preponderantes para o sucesso das subtramas.

Muitas vezes, a dúvida paira na cabeça da voz feminina da família Giulietta (Donatella Finocchiaro), que não sabe se tem que ajudar os imigrantes ou não. A dúvida é repassada ao espectador que acaba a sessão tendo muitos assuntos para conversar na mesa de bar. A personagem é intrigante e desenvolve com fortes argumentos seus pontos de vista, visando principalmente a segurança de sua família.


Ao longo das sequências vemos impressionantes paisagens, deslumbrantes. A câmera detalhista do diretor ajuda a contextualizar o que vemos na telona, fato que enriquece o longa, que foi o indicado da Itália para o Oscar 2012 a melhor filme estrangeiro. À bordo de Santuzza, o barco da família, o espectador tem ótimos 88 minutos de muito drama e dúvidas. Recomendado aos cinéfilos que gostam de cinema europeu.
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09/10/2013

Crítica do filme: 'Salvo - Uma História de Amor e Máfia'

O que dizer de um filme que não quer dizer nada? Vencedor de alguns Festivais neste ano, o longa-metragem italiano Salvo - Uma História de Amor e Máfia gerava expectativa de todos por conta de sua sinopse insinuante e repleta de elementos que poderiam compor uma boa história. Tudo vai para água abaixo quando o roteiro, praticamente sem diálogos, deixa o filme insosso e altamente sonolento. Aquelas olhadas para o relógio são constantes transformando o que era para ser uma agradável exibição em uma terrível perda de tempo.

Durante os 104 minutos, o espectador é exposto a uma história desinteressante protagonizado por um assassino profissional chamado Salvo (Saleh Bakri), um contratado pela máfia italiana para assassinar o seu principal rival. O que ele não esperava era encontrar Rita (Sara Serraiocco), uma jovem cega por quem cria um relacionamento conflituoso, porém, cheio de carinho e afeto. Quando seu chefe – interpretado por Mario Pupella (A Siciliana Rebelde) - o confronta para saber o porquê da missão não ter sido realizada por completo, Salvo irá mudar completamente o seu destino.

Os diretores do projeto Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, ambos em seu primeiro longa-metragem na carreira, conseguem desenvolver um bom ritmo nas sequências - que por sinal são bastante violentas mostrando uma realidade absurda -  porém, perdem totalmente o foco quando o longa entra na questão dramática. A falta de diálogo atrapalha muito a condução da história e acaba influenciando nas imagens que não dizem absolutamente nada para o espectador.

Sara Serraiocco tenta se sobrepor ao marasmo desenxabido que o filme vai se demonstrando. Sua personagem Rita, cega, é uma das poucas coisas que o espectador consegue acompanhar sem impaciência. 
Demonstrando um certo mistério nas suas atitudes, começa a criar uma empatia em relação ao protagonista que no fundo não sabemos se é vilão ou mocinho – pelo menos na visão dessa curiosa personagem.

Com tanto filme bom estreando no dia 11 de outubro - Os belos dias (2013), Gravidade (2013), Lore (2012) - Salvo - Uma História de Amor e Máfia se torna uma opção nula na hora de escolher qual o seu divertimento no fim de semana. Aproveitem melhor o dia de vocês, afinal o ingresso é muito caro para perdermos nosso glorioso tempo.


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Crítica do filme: 'Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses

Com uma legião de fãs em todo mundo, fruto da globalização em massa dos animes que viraram seriados no Japão e exportados para todo o mundo, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (11) Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses. Com os dubladores originais do seriado, liderados por Wendel bezerra, de volta, o filme conta ainda com a supervisão de Akira Toryama - o grande criador da saga de Goku e companhia.

Depois da épica batalha de Majin-Boo, o universo está totalmente em desequilíbrio mas a Terra consegue manter-se em paz, sendo apenas mantido pelas ações do Deus da Criação e do Deus da Destruição. Nessa nova aventura, para proteger o nosso planeta, nossos heróis vão precisar enfrentar um inimigo ainda mais poderoso, Bilus, que desperta de um longo sono e fica curioso com a notícia de um saiyajin que derrotou fortes adversários. Assim, empolgado em encontrar um oponente tão forte depois de tanto tempo Bilus desafia Goku: ou eles se enfrentam ou a Terra é destruída.

Os fãs dos quadrinhos vão encontrar um confronto épico nas telonas, repleto de cenas de ação e conversas recheadas de sarcasmos. A técnica de animação usada é espetacular e não foge das naturalidades e dos fortes traços orientais em todas as suas interações. É um filme produzido para a toda uma geração que acompanhou Goku, vegeta, Bulma, Gohan e todos esses emblemáticos personagens oriundos dos mangás japoneses.

Para quem nunca ouviu falar ou desconhece as histórias, os personagens, os contextos, Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses é inteligente neste ponto. Dirigido por Masahiro Hosoda e com um roteiro de Yusuke Watanabe, o projeto faz questão de por meio de memórias dos personagens situar cada espectador para o que se desenvolve na telona. Ao longo dos 85 minutos, o público se diverte a todo o momento, virando uma ótima opção para os marmanjos nerds, a geração que acompanhou o seriado e aos papais e mamães que querem levar a garotada para se divertir no fim de semana.


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08/10/2013

Crítica do filme: 'Rota de Fuga'

Reunindo os dois maiores astros de filmes de ação das últimas décadas, o diretor Mikael Håfström – do ótimo filme suspense O Ritual – cria um universo próprio de destruições e brigas que gira em torno de um homem que passa mais tempo dentro das prisões do que fora. Lembram de Fuga de Alcatraz (1979) e um Sonho de Liberdade (1995)? Esse novo filme da dupla Sylvester Stallone (Alvo Duplo), Arnold Schwarzenegger (O Último Desafio) segue a mesma linha destes clássicos com o diferencial negativo de ser um filme totalmente pipoca que comete terríveis deslizes no seu fraco roteiro.

Em uma trama cheia de socos e pontapés conhecemos Ray Breslin (Stallone), que há oito anos entrando, testando e saindo dos presídios norte-americanos se torna uma autoridade em construções de segurança máxima. Certo dia, recebe uma proposta da CIA de testar um novo modelo de presídio, situada em um lugar desconhecido. Quando aceita testar esse presídio acaba se metendo em uma grande armadilha tendo que confiar no único amigo que faz nessa nova instalação, Emil Rottmayer (Schwarzenegger).

Sem nenhum controle mais sobre a sua vida, só a respiração, Ray Breslin - o rei das fugas - é o típico super-herói que Hollywood adora. O cara que passa por dificuldades o filme todo mas no final consegue sua redenção. Como todo herói de filme, precisa ter um vilão para combater. Jim Caviezel (Na Mira dos Assassinos) interpreta um dos vilões da trama – o temido diretor de presídio Willard Hobbes. A frieza e crueldade do personagem tenta ser passada de maneira calma e fria por Caviezel mas a tentativa de criar um vilão memorável acaba virando um psicopata desregulado que não passa verdade com seus atos.

Não podemos negar que a dupla legendária juntos em um filme é uma adrenalina nostálgica que deve alegrar a diversões fãs de filmes de ação no mundo todo. Em cena, os dois relembram sequências de outros filmes, uma grande homenagem para os fãs dos artistas. Falando em veteranos da telona, a participação especial de Sam Neill (Para Sempre) mal é notada, personagem pouco aproveitado na trama – uma pena. Para quem quiser conferir essa obra, por mera curiosidade, desligue o pensar, compre a pipoca e divirta-se. Mas há coisas melhores para fazer com seu tempo.  



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07/10/2013

Crítica do filme: 'Paraíso' (Festival do RJ - 2013)

“Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira.” Com essa frase do grande Pablo Neruda (que explica muito desse filme), apresentamos uma das grandes surpresas do Festival do Rio 2013. Produzido por Gael García Bernal (No), Paraíso é, antes de tudo, uma grande lição de como o amor é importante para nossas vidas. Guiados pela estética e inteligência da cineasta Mariana Chenillo, o drama mexicano possui uma grande pitada de humor que faz o público se emocionar em muitos momentos.

Na trama, acompanhamos Alfredo (Andrés Almeida) e Carmen (Daniela Rincón), um casal de classe média mexicano que está dando um passo importante e se mudando para uma nova casa onde vão morar juntos pela primeira vez. Ambos são gordinhos e isso nunca foi problema para eles. Até que certo dia, após um bullying sofrido por Carmen na festa da empresa em que trabalha Alfredo, a protagonista resolve embarcar em uma dieta com um grupo especializado e leva junto seu marido.

Os protagonistas fogem dos padrões de beleza - forçadamente colocados em quase todo os filmes por Hollywood para atrair público ano após ano em suas produções e isso é algo admirável. O desenvolvimento dos personagens é profundo e o público é contemplado com ótimas sequências. A cena de sexo – que abre o filme - entre os dois gordinhos é algo sentimental, demonstrando pureza e todo o carinho que essas duas almas possuem um pelo outro. Chega a emocionar.

O emagrecimento que afasta e faz sofrer por não estarem alinhados. Alfredo consegue se desenvolver em sua dieta – ficando viciado em aparelhos de ginásticos e abandonando de vez a quantidade de comida que fazia parte de sua lancheira de super-herói. A delicada e sensível Carmen – que usa um par de brincos de pipoca - por outro lado começa a engordar e acaba se enfiando em um buraco de tristeza, solidão e decepções. A excelente trilha sonora dita o ritmo desse carrossel de emoções.

O sonho e as desilusões são muito bem detalhados pela câmera sensível da diretora Mariana Chenillo. Conforme a história vai passando pelos nossos olhos percebemos que o paraíso não é um novo lugar, é um estado de espírito. Não percam essa história mais gostosa que torta de chocolate!


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Crítica do filme: '7 Caixas Paraguaias' (Festival do RJ - 2013)

O sonho e a violência ganham contornos surpreendentes no elogiado drama paraguaio 7 Caixas Paraguaias. Dirigido pela dupla Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori, o filme é uma grande caixinha de surpresas onde o espectador é o grande privilegiado. O longa-metragem (a maior bilheteria da história do cinema paraguaio) mostra o sonho, nos gestos e expressões do jovem protagonista que leva uma vida na pobreza, trabalhando duro todos os dias em um mercado de muambas, uma espécie de 25 de março (SP) ou Uruguaiana (RJ).

Em 7 Caixas Paraguaias somos apresentados a Víctor (Celso Franco), um carreteiro de 17 anos, que trabalha dia e noite em um famoso mercado no centro de Assunção (Paraguai) sonhando em algum dia ser famoso e aparecer nas telinhas das televisões que lotam as lojas do grande mercado. Certo dia, recebe uma proposta diferente e misteriosa, transportar 7 caixas de madeira até um lugar, cujo conteúdo ele desconhece, em troca de uma nota rasgada ao meio de 100 dólares. Assim, ao lado de sua amiga Liz (Lali Gonzalez) precisa chegar até o seu destino fugindo de todos que não querem que isso aconteça.

O drama vira suspense em questões de minutos. Somos jogados em uma história envolvente de ambição, segredos e assassinato. Com um ritmo ao melhor estilo Corra, Lola, Corra (1998), a câmera dos diretores apresenta uma realidade impressionante, sempre tremendo e captando as expressões dos personagens de maneira detalhista mesmo que alguns cortes secos mal feitos e enquadramentos esquisitos apareçam de vez em quando.

A história poderia ser ambientada no Brasil, facilmente. Não deixa de ser um filme-denúncia contra toda a corrupção e violência que acontecem nesses grandes centros urbanos de compras. O mundo mafioso do mercado é hostil, competitivo e há milhares como Victor esperando trabalho para levar as compras dos clientes em troca de uma pequena remuneração.


Os diálogos e situações inusitadas que acontecem são bem recebidos pelo público que executa gargalhadas em muitas sequências. O ritmo dinâmico, a inversão rápida entre os gêneros drama, suspense e comédia são uma ótima sacada e conquistam a todos. Dê uma chance aos nossos vizinhos, os vinte minutos finais de filme valem o ingresso. Bravo!
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Crítica do filme: 'A Grande Beleza' (Festival do RJ 2013)



Um dos diretores mais fantásticos do cinema atual Paolo Sorrentino (que dirigiu a ótima atuaçao de Sean Penn no filme Aqui é o Meu Lugar) chega novamente aos cinemas brasileiros apresentando um personagem e seu conflito. Dessa vez, criticando assiduamente a alta sociedade europeia, seus altos e baixos, coloca um recheio de exuberância, luxo, dança e glamour através do olhar do amadurecimento de um homem e seus passeios nas memórias.

Jep Gambardella – interpretado pelo excelente ator italiano Toni Servillo (A Bela que Dorme) – anda e contempla sua cidade, Roma. Sempre muito elegante, com seus ternos caros e seus sapatos de grife, o jornalista (famoso por ter escrito um best-seller) vive diariamente em festas na alta sociedade italiana. Cercado de pessoas e contatos importantes, somos testemunhas de diálogos maravilhosos, repletos de sarcasmo, sentimento e verdades proibidas. Levando sua vida entre um deboche e outro, Jep começa a repensar sua vida quando abordado insistentemente sobre suas próximas publicações.

Coreografias remexendo os quadris, quase um flashmob no melhor estilo macarena, além de um coral afinado anunciam que estamos prestes a entrar em um mundo exclusivo, onde só os poderosos possuem acesso. Conhecemos essa história pelo olhar amadurecido de seu protagonista. Somos jogados para um delicioso passeio dentro da alta sociedade italiana pelo olhar e conhecimento do grande personagem principal, que não deixa de ser um fantástico contador de histórias.

Muitos vão achar que o filme não deixa de ser um resumo de contos de um excêntrico jornalista, acomodado, que começa a ter pequenos lapsos de uma grande mudança em sua vida, oriunda de lembranças de seu primeiro amor. As reflexões e conclusões geniais do Bon Vivant moldam a história escrita por Sorrentino. A perereca soviética, as confissões de um padre quase papa, as girafas que somem, poderiam muito bem ser modelados como contos que juntos formam esse belo filme.

Aos amantes de obras de arte, A Grande Beleza permite um grande tour, exclusivo para príncipes e princesas, por dentro de corredores memoráveis lembrando muito – nestas sequências - o clássico filme do russo Aleksander Sokurov, A Arca Russa. O protagonista fascina pois conhece tudo e todos. Molda seus raciocínios através da larga experiência que possui dentro dessa burguesia dominadora em que vive.

O único defeito do filme é o fato de se prolongar muito no seus últimos atos. Diversas conclusões são repetidas deixando o longa-metragem repleto de densidade. O público quase cansa com toda essa repetição que chega aos nossos olhos em forma de realidade que beliscam as fábulas mais bem contadas. Por sorte, a direção é impecável e a história seduz, dando créditos.

O amor muda destinos, modifica vidas, são dessas escolhas que vivem um ser humano, não há como negar. Sua trajetória só tem um guia, você. Seja quais forem suas escolhas daqui para frente, uma escolha certa é assistir a essa grande história.
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Crítica do filme: 'O Último Amor de Mr. Morgan' (Festival do RJ 2013)



O quão triste é perder alguém? Escrito e dirigido pela cineasta alemã Sandra Nettelbeck – que tirou leite de cabra da atriz Ashley Judd (Invasão à Casa Branca) no excelente filme Helen (2009) - O Último Amor de Mr. Morgan é um filme, vale dizer, sensível. Quem possui qualquer tipo de relação conturbada com seu pai terá suas estruturas abaladas. O vulnerável protagonista, interpretado brilhantemente pelo britanico Michael Caine (Truque de Mestre), guia o espectador  pela força que as imaginárias lembranças de sua falecida esposa tem sobre ele. Assim, somos jogados em um mar dramática cheio de emoções a todo instante.

Na trama conhecemos Matthew Morgan (Caine) um solitário vovô que vai se sentindo cada dia mais sozinho após a perda de sua adorável esposa. O ex-professor de filosofia da prestigiada Universidade de Princeton mora em Paris e parece fazer questão de não aprender o idioma local. Sua vida muda, passando a ter algum sentido, quando conhece a professora de dança Pauline (Clémence Poésy). Pauline tem as emoções a flor da pele – o que vira intimidação no primeiro momento para Mr. Morgan – mas ele acaba aceitando a relação de pai e filho que se estabelece, até a chegada dramática de seus dois filhos levando a um desfecho para lá de emocionante.

O filme, um pouco mais forte do que um copo de água com açucar, é o retrato de muitas relações familiares. Lindas paisagens, de uma França moderna e nublada, é o cenário escolhido da complexa relação que Mr. Morgan possui com o mundo, sem sentido, em que vive. Pauline acende uma chama de esperança mas a chegada do que restou de sua família acaba ganhando contornos dramáticos, já no meio do longa-metragem, o que só faz crescer a expectativa do público sobre como acabará essa história.

O longa-metragem (baseado em uma obra de Françoise Dorner) entra em um certo limbo quando um triângulo não definido é percebido pelo espectador. Porém, suas mensagens são muito bem aceitas pelo público que interage com risadas a muitas falas do protagonista em tal situação. Na segunda parte da história, a trama ganha mais contextos quando somos apresentados a família do personagem principal, principalmente pelos olhos de seu filho mais novo Miles (Justin Kirk). A relação pai x filho fica intensa a cada sequência, e os diálogos emocionados deixam o coração apertado que, na maioria dos espectadores que e identificam, se transformam em lágrimas compulsivas.

O desfecho gera opiniões diversificadas, pois o personagem torna-se carismático aos olhos do público que torce para um final feliz. Qual o sentido de vida que o personagem busca? Qual o último amor de Mr. Morgan? As respostas podem surpreender você, afinal, poucas coisas são mais deprimentes do que cabides velhos.

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