02/01/2016

Crítica do filme: 'Mississippi Grind'



A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais. Dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, Mississippi Grind poderia ser mais um filme sobre jogos senão fosse a carismática complexidade da relação de amizade da dupla de protagonistas interpretada por Ryan Reynolds e Ben Mendelsohn. O longa-metragem que estreou em agosto nos Estados Unidos é bem honesto ao retratar o cotidiano de aflição de uma pessoa viciada em apostas de todos os tipos. 

Na trama, conhecemos Gerry (Ben Mendelsohn) um homem à beira do fracasso que vaga pelas noites da cidade onde vive apostando tudo, e praticamente o que não tem, em diversas mesas de jogos de apostas diferentes. Certo dia, em uma mesa de pôquer, conhece Curtis (Ryan Reynolds) um simpático falastrão que logo de cara fica amigo de Gerry. Ambos resolvem realizar uma espécie de Road Trip em busca de dinheiro. Entre uns drinks e outros, entre as mais diversas mesas de poker e jogos de azar dos Estados Unidos, a dupla de amigos faz uma viagem rumo à liberdade da solidão.

A alma da trama é a peculiar relação que se estabelece entre os dois personagens. É uma relação de amizade mas com mentiras de ambas as partes, embora, desde sempre, pareça que um precisa do outro. É quase um equilíbrio mútuo que vemos ao longo das sequências. O público interage o tempo todo com o que se passa na telona, a dupla de atores esbanja carisma em cena, o que facilita a comunicação da história com o espectador. Um, é tímido, tem problemas sérios com dinheiro, fruto de seus pesadelos de ansiedade com qualquer forma de aposta. O outro, além de não ter o dedinho do pé, é uma alma com grandes mistérios, quase indecifrável. 

Dois amigos de personalidades completamente diferentes que se cruzam quase por acaso em uma mesa de pôquer. Trama simples? Nem tanto! Roteirizado pelos próprios diretores, Mississippi Grind foge dos clichês usando a peculiaridade de seus protagonistas aliado a um toque refinado na direção, além de possuir uma trilha sonora magnífica, clássicos do jazz instrumental são incorporados às cenas em diversos instantes.

Ainda sem previsão de estreia no nosso circuito, Mississippi Grind (infelizmente) tem poucas chances de chegar por aqui. O filme é ótimo e se tiver oportunidade, não deixe de assistir. Muitas vezes pensamos nos objetivos de embarcar em uma jornada mas muitas vezes a própria viagem é o destino.
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01/01/2016

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Crítica do filme: 'Burnt (Pegando Fogo)'

O perfeccionismo é um perigoso estado de espírito em um mundo imperfeito. Baseado em uma história de Michael Kalesniko, Burnt (Pegando Fogo) é mais um daqueles filmes onde se tem uma boa idéia, um roteiro até certo ponto interessante, com um personagem forte mas uma certa demasia de clichês acabam ofuscando um pouco o fulgor do arrevesado protagonista. Dirigido pelo experiente produtor John Wells (Álbum de Família), o longa-metragem que teve quase Keanu Reeves no papel principal, dá até água na boca quando pensamos nos maravilhosos pratos que desfilam ao longo dos 101 minutos de projeção mas falta um pouco o aprofundamento dos coadjuvantes personagens na trama para ser uma degustação cinéfila completa.

 Na trama, conhecemos o brilhante chef de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper), um homem com um passado conturbado regado à brilhantismo, babaquices com outros colegas de profissão e vícios que o foram afundando ladeira à abaixo. Depois de passar meses sumido, tentando uma espécie de reabilitação em forma de jornada pessoal, volta a um grande centro culinário que é Londres e tenta cumprir um novo objetivo: conseguir a sua terceira estrela Michelin (algo como o Oscar da culinária mundial). Para isso, reúne uma competente equipe e conta com a ajuda Tony (Daniel Brühl) um amigo do passado.

Burnt (Pegando Fogo) é a prova que muitos clichês em um filme podem destruir totalmente uma receita de sucesso. Mas antes de chegar aos exageros que a produção comete, começamos com o lado forte da história com um protagonista que chama a atenção pelo perfeccionismo e dedicação em uma profissão amada por todos. Bradley Cooper incorpora com competência seu difícil personagem, explorando principalmente suas emoções quando a ‘chapa esquenta’, no rigoroso cotidiano dos chefs das melhores cozinhas mundo à fora. A falta de elementos de contorno ao personagem, esclarecimentos de seu passado e interações com os coadjuvantes acabam deixando a fita não rica para o público explorar com mais vontade a história.

Os clichês infelizmente comandam um pouco da receita do filme. Fora da cozinha parece que o roteiro prefere navegar em águas chatas, constantemente já vista em outras produções hollywoodianas. Um dos fatos que chama a atenção foi praticamente anular o ótimo Daniel Brühl, não dando a chance do mesmo explorar com mais força seu personagem que podia e devia ser mais interessante para a história.


Mesmo se tornando uma historinha água com açúcar com os passar dos minutos, Burnt (Pegando Fogo) pode se sustentar na magia que tem o ato simples de cozinhar, e essa determinação na cozinha do chef Adam Jones faz pelo menos o público ficar com certa atenção na telona. O que deixa triste os cinéfilos é que a trama poderia ter uma melhor evolução.
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31/12/2015

Crítica do filme: 'Spotlight - Segredos Revelados'

Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. Um dos grandes favoritos para ganhar a estatueta do Oscar na próxima grande festa do cinema, Spotlight - Segredos Revelados realmente é um baita de um filmaço que mostra detalhadamente uma investigação feita por um jornal de Boston sobre os abusos de sacerdotes da Igreja Católica contra crianças. Com uma direção impecável do cineasta norte-americano Tom McCarthy (diretor do fabuloso O Agente da Estação) e com um elenco para lá de inspirado, essa longa-metragem coloca todo o foco no jornalismo investigativo e na força que a mídia possui em nossa sociedade.

Lançado no último Festival de Veneza, o filme, baseado em fatos reais, gira em torno de uma equipe de jornalistas investigativos comandados Robby (Michael Keaton) que acabam descobrindo um escândalo ligado à igreja católica que escondia casos de abuso de menores por padres na cidade de Boston. Lutando contra grandes forças que sempre protegeram essa história, os jornalistas precisam lidar com muitas surpresas e bastante paciência para poder apurar todos os fatos e publicar a matéria. A reportagem rendeu aos jornalistas o prestigiado Prêmio Pulitzer de serviço público em 2003.

Ao longo dos 128 minutos de projeção (que nem vemos passar), acompanhamos um grande embate entre os que protegem a igreja católica e os combatentes da mídia. Com algumas batalhas de tribunais, apuração e descobertas surpreendentes ao longo do processo da matéria, o espectador fica com um ar de curiosidade a cada sequência sobre como vão se definir aqueles fatos. Principalmente quando um embate entre estratégias dos próprios jornalistas fica cada vez mais aflorado mas sempre caminhando no mesmo objetivo. Nesse momento surge um dos grandes personagens do filme Marty Baron (talvez a melhor atuação da carreira de Liev Schreiber), o novo editor do Jornal que incentivou o start nas apurações iniciais do caso.


Spotlight - Segredos Revelados tem estreia confirmada no Brasil no dia 07 de janeiro e deve ser um grande sucesso de público não só porque conta com rostos conhecidos do grande público mas porque possui uma poderosa trama, completamente envolvente do início ao fim. Não percam!
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Crítica do filme: 'Brooklyn'

O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda oportunidade. Depois de bons trabalhos em longas-metragens passados (como o ótimo Boy A), além de ter dirigido dois episódios da badalada série norte-americana True Detective, o cineasta irlandês John Crowley volta às telonas com uma trama bem água com açúcar que não deixa de ser uma homenagem aos milhares de imigrantes irlandeses que partiram para a America em busca de oportunidades e ajudaram a construir pontes, estradas e outros. O grande destaque de Brooklyn, vai mesmo para a competente interpretação de Saoirse Ronan que deve beliscar uma vaguinha na categoria Melhor Atriz (merecidamente) no próximo Oscar.

Na trama, baseada na obra homônima do escritor irlandês Colm Tóibín, acompanhamos a história de Eilis (Saoirse Ronan) uma jovem irlandesa que resolve, ajudada por sua irmã, ir tentar a vida no longíquo Estados Unidos da America. Chegando em terras norte americanas, Eilis passa por um médio período de transação e começa a enxergar toda sua vida de outra forma. Quando supera os momentos de transição, uma notícia sobre sua família na Irlanda faz com que ela tenha que voltar para a terra natal, isso fará com que Eilis tenha que fazer escolhas difíceis.

A América é uma experiência nova, Eilis não sabia o que esperar. Mesmo muito tímida, a jovem se sobressai nos Estados Unidos, consegue boas amizades com jovens que moram na pensão onde vive, financiada pela igreja (que bancou sua ida aos EUA) se forma em contabilidade na Universidade do Brooklyn e ainda arranja um namorado descendente de italiano.Há um desenvolvimento, até certo ponto, um pouco profundo da personagem principal em relação à maturidade.  Conseguimos enxergar essa transformação por conta da excelente atuação da atriz Saoirse Ronan, que conquista o público com muita leveza e sutileza já nas primeiras cenas.


Brooklyn ainda não tem data certa para estrear no nosso circuito mas tomara que tenha oportunidade. Por mais que não seja um filme profundo da maneira como podia ser, em relação à adaptação literária mesmo, é um projeto interessante que deve agradar quem curte finais felizes e histórias de amor e superação. 
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30/12/2015

Crítica do filme: 'Os Oito Odiados'

Em seu oitavo trabalho, o cineasta norte-americano Quentin Tarantino volta às telonas mais uma vez com o gênero faroeste, de pano de fundo, para contar uma história repleta de entrelinhas sobre o pós-guerra civil norte-americana. Os Oito Odiados, com estreia garantida no dia 07 de janeiro do próximo ano, é um filme grande (2 horas e 47 de projeção), com arcos bem longos e uma história muito interessante que insinua uma representação de cada personagem no contexto da passagem histórica já mencionada. Para brindar os cinéfilos, a genial trilha sonora é assinada pelo mestre Ennio Morricone.  

Alguns anos após a Guerra Civil Americana, conhecemos o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell), conhecido como ‘o enforcador’. John está indo para o vilarejo de Red Rock onde entregará a criminosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para a justiça e ficará com a recompensa de 10 mil dólares. No caminho, encontra o misterioso Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um ex-soldado que adora contar uma história, e também Chris Mannix (Walton Goggins), um homem que está indo assumir o posto de xerife da cidade de Red Rock. Após enfrentarem uma forte nevasca, eles buscam abrigo em um lugar conhecido pelo Major mas chegando lá, fortes surpresas os aguardarão. 

Esse novo trabalho do cinéfilo Tarantino parece uma peça de teatro aberta ao público. Nos sentimos na plateia vendo e ouvindo o desenrolar de uma trama cheio de entrelinhas em praticamente um cenário, com muitos e ótimos atores em cena. Falando em atuações, Bruce Dern (do excelente Nebraska)  dá um show e toma as atenções durante boa parte do projeção. Samuel L. Jackson e seu debochado personagem, também está ótimo no papel do cruel Major Marquis Warren. Jennifer Jason Leigh, muito especulada para disputas de prêmios importantes na próxima temporada de premiações, interpreta com profundidade sua difícil personagem.

Em certos momentos, percebemos que estamos em uma trama ao melhor estilo Agatha Christie onde temos que adivinhar quais as verdadeiras intenções de cada intrigante personagem que vão surgindo conforme o filme avança em seu inteligente roteiro. Nesse instante, o oitavo longa-metragem do diretor de Pulp Fiction, alcança a atenção do público e o roteiro (assinado pelo próprio Tarantino) brilha com diálogos instigantes. Os Oito Odiados, que teve um orçamento por volta de 60 milhões de dólares, tem o mérito de ser muito bem explicado, até um narrador aparece mais forte nos desenrolares dos fatos, e a não linearidade da trama ajuda no suspense. 

O filme estreia em breve e não temos dúvidas que é um bom trabalho. Mas não podemos dizer que é o melhor filme de Tarantino. O arco introdutório um pouco longo acaba freando um pouco as expectativas mas o brilhantismo do roteiro, o entrosamento do elenco e as associações dos personagens com a guerra civil americana são espetaculares. Tarantino é assim mesmo, um diretor que volta ao passado para ser sempre um cineasta a frente de seu tempo.  

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Crítica do filme: 'O Quarto de Jack (Room)'

Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade. Baseado na obra de Emma Donoghue, um dos filmes mais emocionantes das temporadas de premiações importantes do cinema mundial é sem dúvidas esse O Quarto de Jack (Room). Dirigido pelo cineasta irlandês Lenny Abrahamson, do interessante Frank, é uma aula de como o amor familiar pode vencer as barreiras mais difíceis que a vida coloca em nossa direção. Com uma atuação esplêndida da dupla Brie Larson e Jacob Tremblay, Room (no original) é um dos filmes que vai estar em algumas categorias no próximo Oscar com toda certeza.

Na trama, conhecemos a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino que acaba de fazer 5 anos e mora com a mãe em um quarto de 10 metros quadrados. A rotina do menino é ver televisão, ler e sonhar. Conforme a curiosidade, sobre o mundo fora do quarto, do menino começa a fica mais intensa, a mãe chamada de Ma, depois de Joy, (Brie Larson) embarca em uma jornada de explicações sobre a situação que vivem e o que realmente existe fora daquele quarto. Até que um dia, mãe e filho bolam um plano para conseguir sair do lugar onde vivem.

O universo dos sonhos é o caminho para enfrentarmos os absurdos que somos expostos em nosso cotidiano. A produção, que venceu o Grande Prêmio do Público no Festival Internacional de Cinema de Toronto 2015, fala bastante sobre a imaginação e o universo do sonhar. Nesses momentos, o ator mirim Jacob Tremblay vira gente grande e domina com uma força enorme as sequências. Impressionante a atuação de Jacob.

O filme cresce demais no segundo ato, numa luta quase desesperada da mãe para explicar ao seu filho como de fato é o mundo fora daquele quarto. Sequestrada faz sete anos, quando voltava da escola aos 17 anos, Joy possui uma esperança muito forte ainda de que vai conseguir fugir com seu filho e voltar para sua família. Nesse e em outros momentos de emoção, somos testemunhas de uma interpretação fabulosa da atriz californiana Brie Larson.

Após uma virada na história, já quase nos atos finais, o mundo aos olhos de Jack se torna outro, é como se nascesse outra vez. O interessante e muito bem abordado é a situação da mãe nessa virada, onde encontra mais dificuldades ainda na transformação. Joy entra em uma depressão profunda e fica bastante confusa sobre o velho e o novo mundo que agora está presente.


O Quarto de Jack (Room) estreia no Brasil dia 18 de fevereiro do próximo ano e promete emocionar bastante nossos cinéfilos. Uma das lindas lições que o filme nos passa é a de que Monstros são grandes demais para existir, principalmente quando temos pessoas que nos amam perto da gente. Não deixem de assistir a esse filme. Belo trabalho. 
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28/12/2015

Crítica do filme: 'A Travessia'

Você não pode mentir no palco, o público sempre saberá o que há em seu coração. Contando uma história real que ocorreu nos Estados Unidos na década de 70 e dirigido pelo craque Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro), A Travessia tem um ritmo eletrizante e uma trilha sonora ótima, empolgante, que lembra certos filmes de ação dos anos 90. No papel principal, Joseph Gordon-Levitt (A Origem), dá vida a um personagem que transborda carisma, interpretado por esse que é um dos melhores atores de Hollywood nos dias atuais.

Na trama, ambientada na década de 70, conhecemos o showmen francês Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt) um jovem sonhador, expulso de casa pelo seu pai autoritário, que resolve bolar um plano improvável de realizar uma travessia ilegal por meio de um cabo de aço entre as famosas torres do World Trade Center, em Nova York. Para tal, reúne um grupo de amigos, franceses e norte-americanos que embarcam na loucura do projeto. Pensando em não falhar, resolve também pedir a ajuda ao experiente equilibrista Papa Rudy (Ben Kingsley).

Desfilando com elegância seu francês com sotaque da terra do Tio Sam, Joseph Gordon-Levitt se entrega bastante ao papel. O ato de sonhar é filmado em cada sequência dando uma suavidade próxima a realidade do protagonista. Por mais que muitas características da formação inicial de Petit tenham sido ‘esquecidas’ pelo filme, a partir da obsessão dele em desfilar sua arte pelas torres gêmeas acontece uma marcante sintonia entre o personagem e o público.


A grande sequência do filme, já na corda entre as torres do World Trade Center é espetacular, tem o poder de prender a atenção do público de maneira impressionante. Zemeckis consegue sucesso em um filme que acaba batendo um pouco de frente com um documentário aclamado mundialmente chamado ‘Man on Wire’. Vejam os dois filmes, é um belo complemento! 
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Crítica do filme: 'No Coração do Mar'

Após o eletrizante Rush: No Limite da Emoção, o cineasta vencedor do Oscar Ron Howard volta aos longas-metragens dessa vez para contar ao público uma história complementar a do clássico Moby Dick.  No Coração do Mar conta as verdades não ditas sobre um grupo de marinheiros que enfrentaram um dos maiores animais do planeta no meio de um dos oceanos, a milhas e milhas longe da terra. Com um orçamento que beirou os 50 milhões de dólares, o filme possui efeitos especiais maravilhosos, ótima edição, trilha sonora eficaz, além de uma forte e sólida trama que prende o espectador a todo instante. Um destaque na atuação vai para o experiente Brendan Gleeson que emociona bastante com seu sofrido personagem.

O filme, ambientado no ano de 1820, mostra, primeiro, os preparativos de um barco baleeiro chamado Essex que parte da Nova Inglaterra rumo aos famosos óleos de baleia, atividade bastante lucrativa nessa década. Toda a história é contada por Tom Nickerson (Brendan Gleeson), um dos poucos que sobreviveram a aventuram à Herman Melville (Ben Whishaw). No comando, George Pollard (Benjamin Walker) um capitão de navio que tem mais nome do que experiência; como primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth) um experiente em caçada de baleias que possui todo o respeito da tripulação. Ao longo de meses, a tripulação busca o maior número de óleo de baleia. Até que um dia, são atacados por uma gigantesca criatura marítima e agora precisarão lutar pela sobrevivência.

Os três arcos do filme são muito bem definidos e possuem a profundidade certa para entendermos a história e características mais marcantes dos personagens. No primeiro momento, rapidamente e com um recheio (que não chega a incomodar) de clichês, vemos a partida para a expedição onde já de cara é escancarado que teremos problema de relacionamento na linha de comando. No segundo ato, contém a ação mais específica e foca com detalhes na ganância do homem e os reflexos disso ao enfrentar uma força da natureza. Já no arco final, e talvez o mais surpreendente, é a luta pela sobrevivência e a necessidade de se fazer tudo para sobreviver.


Inspirado no conto dramático de Nathaniel Philbrick, que inspirou o famoso Moby Dick, o filme estreou no último dia 03 nos cinemas brasileiros e promete agradar bastante ao público. Conhecendo ou não a história de ‘Moby Dick’, não deixe de assistir a esse bom blockbuster.
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27/12/2015

Crítica do filme: 'Carol'

Nomeado a cinco categorias na próxima cerimônia do Globo de Ouro (e com grandes chances de ser indicado também em algumas categorias no Oscar do ano que vem), o novo trabalho do cineasta californiano Todd Haynes (Não Estou Lá) pode ser, desde já, considerado um grande hino ao amor em uma época recheada de preconceito. No papel título, a sensacional atriz australiana Cate Blanchett que mais uma vez deve levar para casa a estatueta de Melhor Atriz no próximo Oscar por mais esse impecável trabalho. Completando o elenco, e em atuações acima da média também, Rooney Mara e Kyle Chandler.

Baseado no livro The Price of Salt (1952), de Patricia Highsmith, Carol é ambientado na década de 50 e conta a história de Carol Aird (Cate Blanchett) uma elegante mulher que vive um casamento de aparências, para os outros diz ainda ser casada mas sua relação com o pai de sua única filha, Harge Aird (Kyle Chandler), já acabou faz tempo. Tendo um histórico de relacionamentos com outras mulheres, Carol se aproxima de encontrar novamente um grande amor quando conhece a vendedora Therese Belivet (Rooney Mara) com quem tem uma linda e inesquecível história de amor.

Uma coisa importante antes de alguns pontos de análise do filme: A personagem principal não é só Carol, Therese Belivet (Rooney Mara) rouba a cena em vários momentos! Descendente de tchecos, Therese é delicada, observadora e que segue seus instintos sem medos. Pelos olhos dessa última, na verdade, que vamos conhecendo as dificuldades da época e grande parte dos ‘clímaxs’ estamos sempre na ótica dessa. Quando as duas estão em cena, o que para nossa sorte são muitas vezes, a troca de olhares entre elas é sempre fulminante, há um interesse forte e recíproco, contido em cada gesto, cada atitude de que vemos ao longo dos 118 minutos de projeção. Blanchett e Mara simplesmente se entregam de corpo e alma em seus papéis.

Carol é uma forte personagem, uma mulher à frente de seu tempo, que causa um verdadeiro e peculiar impacto com sua presença. Quando uma questão jurídica chamada Cláusula da moralidade é presente na trama, vemos um dos maiores absurdos da justiça norte-americana, fruto do preconceito de uma época que não respeitava o amor entre pessoas do mesmo sexo. Mandante desse processo contra Carol, Harge Aird, interpretado pelo ótimo Kyle Chandler, que, entre um drink e outro, não admite perder a esposa, ainda mais para outra mulher, assim, a confronta o tempo inteiro. Pena que o filme não vai muito profundamente nesse briga de emoções, dariam ótimas cenas que deixariam a personagem melhor compreendida.


O longa-metragem, que estreia dia 14 de janeiro no Brasil, concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes neste ano e deve, merecidamente, ganhar muitos prêmios em festivais mundo à fora. Além da história muito bonita, uma adaptação muito profunda e interessante, Blanchett e Mara simplesmente valem o ingresso. Belo filme!  
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25/12/2015

Crítica do filme: 'O Lagosta'



A persistência é o caminho do êxito. Vencedor do prêmio do Júri no badalado Festival de Cannes deste ano, The Lobster, dirigido pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos (o mesmo do aterrorizante Dente Canino) é uma crítica social aos ‘mandamentos de comportamento de relacionamento’ em forma de distopia.  Colin Farrell, Léa Seydoux e Rachel Weisz estrelam esse longa-metragem que ainda não tem data para estrear no Brasil.

Na trama, acompanhamos, num futuro estranho, a saga de um arquiteto chamado David (Colin Farrell) que vive em uma sociedade cheia de regras, onde pessoas que estão solteiras são obrigadas a passarem 45 dias em uma espécie de hotel, cheio de regras,para encontrarem seus novos amores. A questão é que se o indivíduo não conseguir encontrar um novo amor, o mesmo é transformado em um animal de sua preferência. Assim, o protagonista embarca em uma jornada de descobertas e atitudes corajosas que vão definindo sua história. 

Indicado a 16 prêmios internacionais, The Lobster é um dos filmes mais malucos, bem diferente mesmo, da temporada. As críticas sociais que encontramos ao longo dos 118 minutos, algumas profundas, outras bem rasas, chegam de maneira impactante por conta do roteiro (assinado pela dupla Yorgos Lanthimos, Efthymis Filippou) detalhista que percorre situações, até certo ponto, absurdas mas que apresentam argumentos interessantes sobre algumas questões intocáveis na sociedade em que vivemos.

A personalidade dos personagens chama muito a atenção. Principalmente quando uma guerra pela sobrevivência é instaurada já em um dos arcos avançados da trama. O protagonista é interessante do início ao fim, e com certeza fica um pouco confuso com tanta loucura na sociedade que vive. O engraçado disso é que o próprio ator Colin Farrell deu entrevistas dizendo que mesmo após terminar as filmagens, ainda não entendeu o filme. 

The Lobster possui sua própria personalidade, a originalidade do roteiro é evidente e faz o espectador raciocinar em cima de argumentos até certo ponto complexos. Por conta, principalmente da peculiaridade desta história, The Lobster é um filme que merece ser visto pelos cinéfilos.

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