Ganhador de elogios ao redor do mundo, desembarcou no Brasil
o drama O Sonho de Wadjda. Tendo influência do clássico da década de
40, O
Ladrão de Bicicletas, de Vittorio De Sica (Desejos Proibidos), o
longa fala sobre a destemida juventude que calça All Star e com uma mescla de
inteligência e sabedoria consegue burlar qualquer símbolo de prepotência de uma
sociedade machista no tempos atuais.
Passando pelos costumes distantes, culturalmente,
religiosamente e socialmente aceitos pelos sauditas, descobrimos a história de
uma corajosa menina chamada Wadjda que possui entre muitos sonhos, o desejo de
ter uma bicicleta. Diante do complicado objetivo, a menina moradora do subúrbio
de Riade precisará passar por cima, sempre com muito inteligência, de tradições
e restrições que as mulheres sofrem em seu país.
A forma como a menina enfrenta o senso comum da cidade onde
vive é a grande fonte de inspiração do filme escrito e dirigido pela cineasta Haifaa
Al-Mansour. Valente e objetiva Wadjda é um exemplo de perseverança dentro de um
regime tão autoritário e totalmente excludente quando pensamos nas mulheres. O
grande barato do filme é a forma como a jovem se relaciona com a mãe e como as
duas se parecem, como somos surpreendidos no desfecho da poderosa história.
A figura do pai também é muito bem analisada pela câmera
detalhista da diretora. A garota nutre um amor pela figura materna que
infelizmente está preocupada em conseguir um outro casamento e pouco faz por
merecer pelo carinho de Wadjda. Toda a educação da criança é modelada e
acompanhada pela brava mãe que brinda os cinéfilos com um gesto lindo no final
da história.
É no mínimo um filme ousado, aguerrido e alentado. Talvez
chocante para alguns. Pelos diálogos nos identificamos e torcemos para que mais
Wadjda apareçam nesse mundo tão perto e conservador. Bravo!