Em meio a ondas de revolução espalhadas pelo Brasil, com direito
a protestos de paz e reivindicações da sociedade, chegou aos cinemas na semana
passada (14/06) o drama nacional A Memória que me Contam. Dirigido pela
experiente cineasta Lúcia Murat, o filme autoral coloca em discussões temas
como a Ditadura Militar, a Luta armada e o passado de muitos personagens que
viveram dentro de uma das fases mais conturbadas de nossa Pátria. Para contar
algumas curiosidades sobre esse novo trabalho, fomos conversar com a diretora.
Núcleo do Cinema: Você acredita
que seu filme vai conseguir conquistar todo tipo de público?
Lúcia Murat: Na experiência
que eu tive nas projeções, fiquei muito surpresa, os jovens se encantam muito
pelo filme. Normalmente esse tipo de projeto não tem personagem jovem mas nesse
tem. Acabou gerando uma empatia por parte de muitos, por ver essa juventude na tela
de maneira não caricata. Isso foi muito surpreendente, principalmente na Mostra
Tiradentes onde sentimos de perto a reação do público. Como qualquer filme
autoral, esse trabalho tem várias camadas de leituras, as pessoas que viveram
na época vão ter uma interpretação, as pessoas mais jovens outra. Eu espero que
todos consigam ter a sua leitura. Todo mundo já perdeu alguém e o filme trata
de perdas, então, isso está provocando uma empatia com o público.
Núcleo do Cinema: Como você chegou
aos nomes de Irene Ravache, Simone Spoladore e Franco Nero para o filme?
Lúcia
Murat: Em relação à Irene (Ravache), o filme foi escrito para ela. Sobre a
Simone, eu queria muito uma pessoa que tivesse essa capacidade de transmitir um
olhar triste, além de ser uma excelente atriz. Com o Franco Nero, eu tinha um
personagem italiano no filme e eu queria um ator oriundo desta terra para fazer
o papel (não queria um ator brasileiro com sotaque italiano), assim, listei
alguns nomes e cheguei ao nome do Franco.
Núcleo do Cinema: Ainda é muito
difícil fazer cinema no Brasil? Alguns diretores da nova geração ainda
encontram obstáculos para colocar o filme nos cinemas.
Lúcia Murat: A grande
dificuldade hoje é a distribuição. Tem mais ou menos uma estabilização da
produção, que vem desde a retomada. Mas as dificuldades de distribuição, principalmente
para filmes autorais, de identidade, filmes que buscam alguma coisa está muito
difícil. O mercado se reduziu tremendamente, o número de salas que exibem esse
tipo de trabalho reduziu muito.
Núcleo do Cinema: Quais os seus
próximos projetos ligados a cinema?
Lúcia Murat: Estamos trabalhando!
(risos) Tem um documentário que vamos rodar em breve sobre a retomada dos
índios ligados ao Brava Gente Brasileira, 15 anos depois do que houve com eles.
A Memória que me
Contam está concorrendo ao trigésimo quinto Festival de Cinema de Moscou e
se tornou uma boa opção aos jovens brasileiros para, quem sabe, entenderem
melhor um outro Brasil, em outros tempos de revolução.