Tentando criar uma atmosfera de suspense do início ao fim, o
cineasta Jim Mickle (Stake Land - Anoitecer Violento) chega
aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (29) com seu mais recente trabalho. Somos
o que Somos é um filme em que não existem risos. Caras sisudas,
ambientes lúgubres e diálogos com citações religiosas fervorosas recheiam essa sonolenta
fita, um remake de um longa-metragem mexicano escrito e dirigido por Jorge
Michel Grau, que peca por não conseguir desenvolver muito bem os personagens
principais da história.
Na trama, conhecemos a família Parker que logo de cara sofre
com o falecimento suspeito da matriarca e com a chegada de uma tempestade
terrível. Esses dois acontecimentos mexem com a rotina da pacata família que esconde
segredos inimagináveis do resto da população da cidadezinha em que vivem. A
figura do pai, interpretado de maneira preguiçosa pelo ator Bill Sage (Preciosa
- Uma História de Esperança), não consegue avultar-se sobre a história.
Toda a trama gira em torno deste personagem que passa o tempo todo com a cara
fechada, amargurada, cozinhando e tentando esconder os segredos de sua família
a qualquer preço.
O roteiro do filme é aquele quebra-cabeça dos mais difíceis
de encontrar as peças certas nos encaixes corretos. O público percebe que está
prestes a se surpreender nas próximas cenas e analisa com cuidado todas as
dicas que os personagens deixam em suas atitudes suspeitas. Um ritual de
passagem, uma tradição familiar sinistra, o confronto ideológico entre o certo
e errado das duas jovens irmãs são abordados de maneira superficial deixando de
criar uma sintonia entre trama e público.
Em alguns momentos, as cenas geram um certo calafrio e
indigestão. As surpresas macabras vão sendo mostradas e deixando o espectador
aterrorizado com o ritual da família Parker. Mas o filme não consegue ser mais
do que uma trama misteriosa, deixa tantas lacunas para serem completadas que
chega ao desfecho com o público sentindo falta de maiores explicações e mais
desenvolvimento da história e dos personagens. Entre um desses personagens mal
desenvolvidos, Marge a vizinha da família, papel da eterna top gun girl, a
sumida atriz Kelly McGillis (Top Gun: Ases Indomáveis).
A tentativa de criar uma família que Hannibal adoraria conhecer
gera ao longo dos 110 minutos de filme uma frustração gigante. Não existe
qualquer sintonia entre personagens, história e cinema. Porém, vale o aviso: se
for assistir a esse filme não vá logo depois do almoço. Sem dúvidas, Somos
o que Somos é uma sobremesa indigesta em muitos sentidos.