Parece que a dança misturada com dramaturgia vem ganhando
cada vez mais espaço nos nossos cinemas. Depois do interessante Esse
Amor que nos Consome, chega aos cinemas na próxima sexta-feira (29) o
trabalho da diretora Tânia Lamarca, Ensaio. Elementos de dança, teatro e
cinema se misturam de maneira desencontrada transformando uma simples história
em uma experiência profunda e com uma beleza poética fruto dos belos movimentos
corporais dos personagens principais. Rodado todo em Florianópolis, o longa
metragem parece um aulão pré-vestibular sobre a revolução Farropilha.
Ensaio, rodado no longínquo ano de 2010, conta a história de um
excêntrico diretor de um espetáculo de dança chamado Caio (Chico Caprario) que
esta preste a estrear seu novo projeto, um trabalho meticuloso sobre Anita e
Garibaldi. Seus dois bailarinos principais, Eva (Lavínia Bizzotto) e Daniel (Bruno
Cezario) que dão vida aos protagonistas, demonstram toda suas dores e conflitos
pessoais durante esses ensaios. Eva enfrenta uma gravidez
indesejada e o seu parceiro de palco, lembranças do passado em sua terra natal
aterrorizada pela ditadura militar décadas atrás.
As poderosas batidas nas teclas do piano e o som envolvente
dos violinos, fruto da trilha sonora do pianista e compositor Alberto Andrés
Heller, tentam rechear o filme de tensão e emoção. O problema é que em alguns
momentos o que acontece em cena não é compatível com as melodias, confundindo o
espectador. Não há profundidade nos papéis e o roteiro é falho em não conseguir
construir com bom senso a ponte entre as danças e a história. Resumindo, o
filme passa longe de ser harmônico se perdendo na tentativa de ser uma obra feita
para cinema.
Um dos grandes pecados do projeto é a falta de objetivos dos
elementos que aparecem em cena mesmo com as visíveis doações emocionais dos
artistas. O personagem Caio, diretor do espetáculo, é um eterno descontrolado
dentro da trama deixando o público confuso muitas vezes. Um breve oásis quando
pensamos em competência cênica é a atriz Lavínia Bizzotto, intérprete de Eva,
que mostra uma entrega intensa de corpo, alma e coração, levando o filme nas
costas em quase todos os momentos.
Na tentativa de ser um filme com os padrões cinematográficos,
propriamente dito, Ensaio acaba sendo uma experiência que testa o público em
interações não muito comuns quando pensamos em sétima arte. É um trabalho que
será elogiado por Ana Botafogo, Deborah Colker e Carlinhos de Jesus pois convence
muito mais sendo um espetáculo de dança do que sendo um filme para cinema.