Fica difícil saber por onde começar a falar dessa nova
comédia com cara, pescoço e pernas de global. Com um orçamento na casa dos R$
6,5 milhões, Até que a Sorte nos Separe 2 deve chegar aos cinemas
brasileiros na próxima sexta-feira com mais de 700 cópias. Se o número for esse
mesmo, provavelmente baterá alguns recordes e se tornará o filme de maior
lançamento da história do cinema nacional. A questão é: aonde foi parar a
qualidade nesses 6 milhões gastos? O roteiro é pífio, as atuações arrastadas e
a direção completamente perdida. Mais uma enorme decepção nacional do gênero
comédia.
Gravado no Rio de Janeiro e em Las Vegas, nos Estados
Unidos, Até que a Sorte nos Separe 2 volta a apresentar ao público as
confusões do tijucano Tino e sua família. Dessa vez, o personagem mais sortudo
do cinema nacional é salvo de uma eminente falência pela surpreendente herança
deixada por um tio de sua esposa. Com R$ 50 Milhões no bolso e com a simples
missão de jogar as cinzas do falecido tio meio do Grand Canyon, viaja com sua
mulher Jane (Camila Morgado) e seus filhos para Las Vegas onde, novamente, se
mete em diversas confusões no cassino do hotel onde está hospedado.
O roteiro é terrível. Bobagens gigantescas, toscas, se
misturam com diálogos sem o mínimo de veracidade e repletos de exageros. A
overdose de besteiras que vemos nas telonas chega ao seu ápice nas sequências
de MMA que só servem mesmo para promover esse esporte - nada violento
(sarcasmo) - que por acaso tem preciosos minutos reservados em uma famosa
emissora de televisão, que por acaso mais ainda tem uma certa influência neste
filme. Por que será?
A petropolitana Camila Morgado (a eterna Olga)
tem a fácil missão de substituir a atriz Danielle Winits que por algum motivo
não pode reviver a personagem que interpretou no primeiro filme. Isso é o que
chamamos de desperdício de talento. Morgado faz de tudo para dar algum oásis à
terrível história, porém, não consegue. O personagem de Leandro Hassum (Se
Puder... Dirija!), Tino, é um dos mais caricatos e chatos da história
do cinema nacional. A atuação do comediante é de dar pena, completamente
perdido em cena, exagera de maneira impressionante em sua atuação. Uma boa
seria Hassum voltar ao teatro, onde realmente é um dos grandes talentos
brasileiros. Fazer cinema não é tão fácil assim e nós cinéfilos não somos pacóvios!
A única coisa de interessante, e rezo para que não tenha
sido usado muito dos seis milhões nisso, é a participação especial (bem rápida)
de Jerry Lewis. O comediante norte-americano de 89 anos, que ficou famoso já na
década de 40 quando formou uma dupla espetacular com Dean Martin, interpreta
uma espécie de mensagem de hotel, talvez uma homenagem a um de seus filmes mais
famosos, O Mensageiro Trapalhão (1960). E saibam que filme Até
que a Sorte nos Separe 2 só não
ganhou nota zero por conta dessa homenagem.
Lançado ano passado, o primeiro filme levou mais de 3
milhões de espectadores aos cinemas. Essa sequência baterá esse número
facilmente. Mas será que é esse tipo de filme que o público quer assistir? Precisamos
desligar nossa inteligência durante o pouco mais de 90 minutos de fita e rir de
qualquer coisa que apresentam para nós? É justo com quem ama cinema e ainda
acredita nas produções nacionais? Com R$ 6,5 Milhões, em vez de bobagens,
poderiam dar a chance para dezenas de projetos mais interessantes que
certamente existem e estão espalhados pelo nosso país.