Nesse belo ano para os cinéfilos e para todo mundo que gosta
de filmes inteligentes fomos brindados com diversos projetos que emocionaram,
causaram indignação, calafrios e muitos outros tipos de sentimentos, sentados
em nossas cadeiras de frente para a telona. Entre produções do Canadá, China,
França, Arábia Saudita, Itália, Estados Unidos e com mais de 500 filmes vistos
esse ano, nasceu a minha lista com os 10 melhores trabalhos de 2013.
10. O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, 2011)
Ganhador de mais de 26 prêmios internacionais, chegou aos
cinemas brasileiros neste ano o novo e elogiado trabalho do cineasta Philippe
Falardeau (do excelente C'est pas moi, je le jure! ), O Que
Traz Boas Novas. Qual o papel do professor? Educar ou ensinar? O longa
levanta essa questão básica da educação centralizado nos interessantes diálogos
entre pais, educadores e alunos. Além disso, o filme é delicado, transborda ao mesmo
tempo pureza e maturidade. Na trama, após uma tragédia inestimável, uma escola
enfrenta um grande problema com seus alunos. Abalados, pais e orientadores
buscam uma saída para a superação de toda uma classe até a chegada do novo
professor de origem argelina, interpretado pelo ótimo ator Mohamed Fellag (O
Gato do Rabino). Esse é o tipo de filme para ver ao lado de quem você
ama e quem sabe fazer uma sessão dupla e iluminar a sala de cinema com brilho
no olhar, de ter encontrado alguém que te entende e gosta das mesmas coisas que
você.
09. A Vida Secreta de Walter Mitty (Walter Mitty, 2013)
Você já fez algo realmente extraordinário? Com um roteiro do
sempre competente Steve Conrad (À Procura da Felicidade), baseado em
um personagem fantástico criado pelo escritor americano James Thurber no conto
publicado na revista The New Yorker em 1939, o novo trabalho como diretor do
astro de Hollywood Ben Stiller A Vida Secreta de Walter Mitty se
propõe em ajudar ao público a encontrar a verdadeira beleza do sonhar contido
dentro de todos nós. Contando também com a participação mais do que especial do
ganhador do Oscar Sean Penn, A Vida Secreta de Walter Mitty se
consolida a cada minuto de fita como um retrato maduro entre a realidade e a
ficção. Então pessoal, o jeito é seguir o ABC de Walter Mitty. Veja o mundo. Os
perigos que virão. Chegue mais perto. Sinta. Esse é o propósito da vida. Não
percam essa fabulosa experiência cinematográfica que Jung iria amar. Bravo!
08. Um Toque de Pecado (Tian zhu ding, 2012)
O filme ganhador do prêmio de melhor roteiro no último
Festival de Cannes chegou aos cinemas brasileiros no finalzinho deste ano,
causando grande euforia nos cinéfilos que não puderam conferir suas exibições
na Mostra Internacional de Cinema de SP 2013. A verdadeira identidade de uma
China perdida em suas desilusões emocionais é o foco deste belo e violento trabalho
de Jia Zhang-Ke (que dirigiu o excelente Em Busca da Vida (2006)). Em pouco
mais de duas horas de fita, entramos em um quebra-cabeça social modelado
primorosamente por Zhang-Ke (que assina também o roteiro). A qualidade no modo
de contar essa história transforma Um Toque de Pecado em um dos
melhores filmes do ano.
07. O Sonho de Wadjda (Wadjda, 2012)
Ganhador de elogios ao redor do mundo, desembarcou no Brasil
o drama O Sonho de Wadjda. Tendo influência do clássico da década de
40, O
Ladrão de Bicicletas, de Vittorio De Sica (Desejos Proibidos), o
longa fala sobre a destemida juventude que calça All Star e com uma mescla de
inteligência e sabedoria consegue burlar qualquer símbolo de prepotência de uma
sociedade machista no tempos atuais. É no mínimo um filme ousado, aguerrido e
alentado. Talvez chocante para alguns. Pelos diálogos nos identificamos e
torcemos para que mais Wadjda apareçam nesse mundo tão perto e conservador.
Bravo! É o tipo de filme que procuramos em dezenas de sites, inúmeras lojas, sites
estrangeiros, pois queremos dar de presente para alguém que amamos e nutre a
mesma paixão que temos pelo cinema.
06. Questão de Tempo (About Time, 2013)
Um pôster do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
preso na parede de um quarto já era o primeiro indicador que iríamos conhecer
um sonhador, romântico e que faz de tudo para ser feliz. Em Questão
de Tempo, o diretor e roteirista neo-zelandês Richard Curtis (Um
Lugar Chamado Notting Hill) nos leva a conhecer Tim e sua incrível
jornada à procura de um futuro ao lado de um grande amor. Uma trilha sonora
jovem e popular embala esse ótimo trabalho que é aquele tipo de filme que todo
mundo na sala de cinema faz uma corrente imaginária positiva para que o
desfecho seja feliz. Esse é o tipo de filme que você quer ver com a pessoa que
ama. Se ela não puder ir, por ter provas no dia seguinte a exibição, vá com sua
prima e pense nela. Fale do filme, mande mensagens no whatsapp, indique e faça
o coração dela saber que precisa ver esse filme para entender cada dia mais que
o amor de cinema está presente também na vida real.
05. A Grande Beleza (La Grande Bellezza, 2013)
Um dos diretores mais fantásticos do cinema atual Paolo
Sorrentino (que dirigiu a ótima atuação de Sean Penn no filme Aqui
é o Meu Lugar) chega novamente aos cinemas brasileiros apresentando um
personagem e seu conflito. Dessa vez, criticando assiduamente a alta sociedade
européia, seus altos e baixos, coloca um recheio de exuberância, luxo, dança e
glamour através do olhar do amadurecimento de um homem e seus passeios nas
memórias. Aos amantes de obras de arte, A Grande Beleza permite um grande
tour, exclusivo para príncipes e princesas, por dentro de corredores memoráveis
lembrando muito – nestas sequências - o clássico filme do russo Aleksander
Sokurov, A Arca Russa. O protagonista fascina pois conhece tudo e todos.
Molda seus raciocínios através da larga experiência que possui dentro dessa
burguesia dominadora em que vive. É o tipo de filme que vemos no chão do
cinema, por não ter mais lugar na plateia, ao lado do amor de sua vida que pode
reclamar um pouquinho pelo filme ser muito longo.
04. Ferrugem e Osso (De rouille et d'os, 2012)
Quantas formas de amor existem? Escrito e dirigido pelo
cineasta francês Jacques Audiard (O Profeta), Ferrugem e Osso é um
drama que consegue tocar a alma de todos os espectadores de maneiro bruta,
intensa, deixando um rastro de emoção em cada sequência. Estrelado pela
ganhadora do Oscar Marion Cotillard (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge)
o filme é adaptado de uma história do autor Craig Davidson que mais parece o
encontro da era moderna entre a bela e a fera. A trajetória fria, triste e
vazia da personagem principal, a bela moderna Stephanie, se agrava com um
acontecimento que muda para sempre sua vida. A partir desse momento, a
personagem amadurece e conseguimos acompanhar essa linda mulher com outros
olhos. Marion Cotillard está mais uma vez excelente em um papel sofrido, onde
precisou de muita doação, dessa que é uma das melhores atrizes francesas de sua
geração.
03. O Último Elvis (El Ultimo Elvis, 2012)
Festas para uns, vida para outros. A subida lenta pela
escada, logo no início do filme mostrava que muitos detalhes seriam mostrados
durante os poucos mais de 90 minutos do ótimo drama argentino O Último Elvis.
Dirigido pelo cineasta Armando Bo, o longa personifica o drama em torno de um
pai de família que busca uma vida melhor, paralela ao sonho que sempre teve. A
maneira comovente que é apresentada essa história aproxima o público na série
de fatos que preenchem aos poucos a telona. A inconsequente busca de um sonho
nem sempre é uma história feliz. A sessão nostalgia e as canções que nunca
sairão da memória são detalhes muito bem aproveitados pela história. Afinal,
quem inventou o rock and roll nunca sai de moda!
02. Azul é a Cor mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2, 2013)
E vem da terra de Godard o filme mais quente deste ano, Azul
é a Cor mais Quente. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche, ganhador da Palma de Cannes neste ano, o
drama francês é uma excepcional e comovente história recheada de diálogos
árduos, cenas picantes e uma inteligente análise dos sentimentos humanos, feita
de forma transparente, real e bastante atual. O longa metragem é provocante,
chocante e ao mesmo tempo apresenta contornos dramáticos em forma de gestos de
ternura e carinho de suas personagens. Esse é um filme que ficará na sua
memória por muito tempo. As conversas em alto nível intelectual vão agradar o
público. As amantes dão um show de conhecimento das artes argumentando sobre
quadros de Picasso e conversando sobre teorias de Sartre. Os cinéfilos são
abençoados com duas grandes interpretações. Todos os prêmios do mundo para as
atrizes Léa Seydoux (Adeus, Minha Rainha) e Adèle Exarchopoulos.
Vocês não podem perder esse lindo trabalho. Um dos melhores filmes do ano, sem
dúvidas! Bravo!
01. A Caça (Jagten, 2013)
O que começa em novembro e não termina nunca mais.
Discussões em familiares, bebedeiras e caça entre amigos, o novo trabalho do
aclamado diretor, criador do movimento Dogma 95, Thomas Vinterberg (Submarino)
é um daqueles filmes inesquecíveis onde sentimos do lado de cá da telona toda a
angústia e injustiça que ocorre nas sequências desse projeto, disparado, o
melhor filme do ano. A construção dos personagens dentro do contexto,
especialidade de Vinterberg é o grande pilar desse drama comovente que gera uma
comoção do público. Poucas vezes assistimos um filme e já pensamos nos debates
que podem acontecer. A culpa, o perdão, a indignação. Sentimentos que andam em
conjunto destruindo emocionalmente os personagens e brindando o público com uma
verdadeira obra de arte. Cinema bom é assim mesmo, faz o público refletir.
Bravo!