Para onde a ganância te leva quando o mundo passa a ser um
território sem limites? Falando sobre a ambição capitalista dos tempos
modernos, criticando duramente o mercado de ações e dando um soco no estômago
de qualquer puritano, o excepcional cineasta norte-americano Martin Scorsese
volta a trabalhar com seu mais querido pupilo, Leonardo Di Caprio, no já
aclamado O Lobo de Wall Street. Baseado no livro homônimo escrito por Jordan
Belfort, o filme consegue a fórmula perfeita ao ser dinâmico e empolgante sem
perder um minuto de brilhantismo. São as três horas mais rápidas que você
viverá dentro de um cinema.
Na história, acompanhamos a trajetória meteórica de Jordan
Belfort (Leonardo Di Caprio), um homem com apenas um foco em sua vida, ser
muito rico. Após um início conturbado em uma empresa promissora, consegue
inteligentemente absorver tudo o que precisava para se tornar um guru na arte
de fazer as pessoas investirem seu dinheiro. Com a ajuda do amigo Donnie Azoff
(interpretado pelo hilário Jonah Hill), funda sua própria empresa que logo se
torna uma das mais rentáveis e visadas pela polícia em Wall Street. Ao mesmo tempo que segue ganhando cada vez
mais dinheiro, encontra o amor de sua vida, Naomi (Margot Robbie) e abusa
diariamente de todos os tipos de droga. Esses vícios acabam o levando ao fundo
do poço.
Agitação, números, ações, empolgação, euforia, dinheiro.
Scorsese joga no liquidificador essas variáveis e consegue executar um dos
melhores filmes deste ano, com toda a certeza. É uma direção controladamente
perfeita, conseguindo captar cada milímetro cúbico do complexo protagonista. O
público é dominado pela história do minuto um até o distante minuto cento e
oitenta. Somos reféns de uma experiência cinematográfica sem papas na língua,
aberta ao absurdo e escancaradamente brilhante. O vencedor do Oscar, eterno
diretor de Taxi Driver, é que nem vinho, só melhora com o tempo.
O Lobo de Wall Street é um retrato, um raio-x de seu personagem
principal. Ao descontrole desejo de ficar milionário ao intenso abuso de
drogas, percebemos a cada sequência as antes imperceptíveis inconseqüências do
protagonista. O filme não deixa de ser uma crítica social aos anos 80 e aos
tempos atuais, onde o tráfico de drogas e a prostituição rondam os altos e
baixos escalões da sociedade norte-americana. Scorsese não esconde nada: mostra
as orgias, o fácil caminho até as drogas quando se tem dinheiro e as aventuras
sexuais sem limites de Jordan Belfort. O filme, indicado ao Oscar de Melhor
filme deste ano, não chega a chocar. Até as sequências mais fortes tem sentido
em existir.
Leonardo Di Caprio mostra mais uma vez o grande ator que se
tornou em anos trabalhando ao lado de seu mestre. Faz o possível e o impossível
para ganhar seu primeiro Oscar, sugando e reproduzindo todas as facetas de seu
rico personagem. A dupla acerta novamente, transformando um possível personagem
chato e antipático em um ilimitado ser carismático que o público vai demorar
para esquecer. Cinema bom é assim mesmo, elogiamos, elogiamos e mal acaba já
queremos assistir novamente. Não deixem de conferir um dos mestres da sétima
arte em um dos seus melhores filmes da carreira. Bravo!