As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por
acaso que elas permanecem. E vem da Índia o filme mais delicado do ano até o
momento. Escrito e dirigido pelo cineasta indiano Ritesh Batra, em seu primeiro
longa-metragem na carreira, The Lunchbox
teve uma estreia surpresa no circuito carioca nesta última semana o que fez
com que editorias especializadas em sétima arte corressem em pleno fim de
semana para as salas de cinema para poder dizer ao público o que esperar dessa
surpreendente história. Mesclando comédia, romance e um drama muito bem
estruturado, o filme merece aplausos de pé de todo mundo que ama cinema.
Na curiosa história, conhecemos dois personagens que sofrem
por amor, cada um à sua maneira. Saajan Fernandes (interpretado pelo excelente Irrfan
Khan) é um homem solitário que está prestes a se aposentar depois de 35 anos na
mesma empresa. Já Ila (Nimrat Kaur) é uma mulher que se sente muito sozinha,
pois, é rejeitada pelo marido que a trai constantemente. Quando um equívoco no sistema de entregas de
refeições de Mumbai - os Dabbawallahs – acontece, todo almoço preparado por Ila
para seu marido vai para Saajan. Assim, essas duas almas carentes por um grande
novo amor, constroem juntos um mundo paralelo de amizade, carinho e afeto
através de bilhetes deixados nas marmitas nas quais as comidas são entregues.
Até que certo dia eles resolvem se conhecer pessoalmente.
A narrativa é sensível, gostosa, leve, engraçada, conquista
o primeiro do primeiro ao último minuto com elegância e competência. Nos
sentimos nos delicados filmes de Fellini, nas conturbadas situações nos dramas
de Truffaut, nas boas e delicadas cenas cômicas de diversas comédias francesas.
Ritesh Batra consegue encontrar uma fórmula muito interessante de direção e
roteiro encaixando cada personagem de maneira harmoniosa com a história. Esse
filme é um daqueles que você paga para ver de novo.
The Lunchbox chega
ao circuito nacional para dizer definitivamente aos preconceituosos de plantão
que o cinema indiano pode ser espetacular e não necessariamente precisa de
dancinhas esquisitas no final de suas histórias. Mas e se tivesse dancinhas?
Qual o problema? É da cultura alegre deles, isso é louvável. Vai dizer que
vocês nunca pensaram em dançar junto com o elenco ao final de Quem quer ser um Milionário?
O filósofo alemão Schopenhauer costumava dizer que o destino
embaralha as cartas, e nós jogamos. Não é verdade? O filme mostra exatamente
isso. Há uma ação do destino mas quem dá o final da história são ações dos
personagens. Esse ótimo longa-metragem indiano merece ser conferido por todo
mundo que acredita nos seus sonhos. Às vezes, o trem errado vai para a estação
certa. Nunca deixe de acreditar nisso!