O auto respeito é a raiz da disciplina, a noção de dignidade
cresce com a habilidade de dizer não a si mesmo. Após conseguir alguns Oscars
no ano passado com o excelente Clube de
Compras Dallas, o cineasta canadense Jean-Marc Vallée volta ao mundo do
cinema para contar uma história real de dramas e superação. Livre, que estreia no Brasil na
primeira parte de janeiro do ano que vem (2015), é uma espécie de “Na Natureza Selvagem” light, onde, por
meio de flashbacks vamos conhecendo os traumas, as escolhas e os dramas da
protagonista , interpretado de maneira competente pela ex-legalmente loira Reese
Witherspoon.
Na trama, conhecemos Cheryl, uma mulher que se vê em uma
fase da vida cheia de mágoas, decepções, e resolve percorrer quase 2.000
quilômetros de trilha, enfrentando calor, frio e os perigos de andar sozinha
por lugares pouco frequentados. Ao longo
dessa gigantesca caminhada, vamos entendendo melhor a vida dela por meio de
flashbacks e memórias, principalmente, a intensa relação de carinho com sua mãe
(interpretada de maneira fabulosa por Laura Dern) e seu ex-marido Paul (Thomas
Sadoski).
Se perguntando sempre se deve seguir em frente ou se deve
cancelar a aventura, pensando em desistir a cada 2 minutos, Cheryl é apresentada
ao público já no início da jornada de maneira nua e crua, comendo Gororoba com
nozes, gororoba com atum e aprendendo na marra como se vive solitária em um
lugar desconhecido. O roteiro, assinado pelo craque Nick Hornby (Alta Fidelidade), é baseado nas memórias
da verdadeira Cheryl, na obra Wild: From
Lost to Found on the Pacific Crest Trail. O grande mérito desse script é conseguir
detalhar ao máximo todas as ações que levaram a personagem principal a fazer
essa caminhada. O espectador percebe logo que a personagem exala carisma e vai
nos mostrar uma poderosa história de vida.
Os coadjuvantes, que preenchem o passado e o presente da
incrível personagem, ajudam e muito a contar essa história. O grande destaque,
sem dúvidas, é a figura da mãe na vida de Cheryl, interpretada pela atriz Laura
Dern. Com uma atuação simplesmente fenomenal e uma forcinha do roteiro que
volta e meia preenche a tela com informações da intensa relação entre as duas
personagens, Dern contribui para que possamos sentir ao máximo toda a verdade
que há na relação de uma mãe e uma filha. Pena que as grandes premiações só
estão lembrando de Witherspoon e
esquecendo da eterna musa de David Lynch.
Não deixem de conferir essa profunda história que fala sobre
amor e a tentativa do renascimento de uma corajosa mulher.