A confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio. Com um
elenco inspirado, um roteiro delicioso e uma direção primorosa, a comédia,
indicada ao Oscar 2015 pela Bélgica, O
Novíssimo Testamento é um daqueles filmes originais que abrem um grande e
largo sorriso dos cinéfilos desde seu início até seu desfecho. Ao longo de
inesquecíveis 112 minutos de projeção, vamos acompanhando a trajetória
inusitada de ninguém mais, ninguém menos, que Deus e sua busca em consertar o inconsertável.
A delicadeza com que o diretor Jaco Van Dormael (do impossível de esquecer Mr. Nobody) conduz esta jocosa trama é
algo bem peculiar e que merece ser visto e revisto.
Le Tout Nouveau
Testament no original, estreou no último dia 21 de janeiro e conta a
história de Deus (Benoît Poelvoorde), que, no imaginário mundo dos roteiristas
deste projeto, é casado e tem uma filha. Ele está entediado e sua única e
peculiar diversão é definir as conseqüências das atitudes das pessoas, criando
situações irritantes para elas. Chateada com essas atitudes do pai, a filha de
Deus invade o computador dele envia uma mensagem para os celulares de todas as
pessoas na Terra dizendo quando casa uma delas vai morrer. Além disso, ela, com
a ajuda do irmão J.C, resolve montar um novo testamento e corre atrás de
discípulos na Terra. Assim, por conta de tudo isso e mais um pouco, Deus será
obrigado a descer e tentar resolver a situação.
Para quem se intitula como cético ou muito certinho pode ser
que não consiga encontrar pontos de interações com essa fábula dos tempos
modernos. O projeto é genial em muitos sentidos. Fala do amor em novíssimas
circunstâncias, praticamente declama a normalidade entre sentimentos de uma
mulher e um gorila, mostra uma face desconhecida do poder da aceitação do ser
humano. Há uma metáfora expressiva em cada subtrama, as pinceladas de
peculiaridade acopladas nas pancadas na normalidade são de longe o grande
charme do filme que tem no seu elenco nomes como: Catherine Deneuve, Benoît
Poelvoorde e François Damiens.
Em uma época onde encontrar a originalidade no cinema cada
vez vem ficando mais difícil, ainda bem que existem cineastas como Van Dormael,
que dão luz, brilho e renovam a magia no ato de assistir um filme. Bravo!