Os gritos de uma angústia sonhadora. Selecionado para o
Festival Varilux de Cinema Francês 2016, o drama Marguerite é uma longa-metragem deleitável, que possui
interpretações fantásticas. Década de 20, França, em uma época onde Chaplin
andava por Paris, dividido em capítulos, atos, Marguerite possui um roteiro muito bem estruturado e uma direção
detalhista muito perto da perfeição. Essa é uma vantagem em ter um diretor
autoral na condução de uma obra tão complexa. Méritos do cineasta Xavier
Giannoli que com certeza, com este trabalho, vai ganhar um espaço na memória
dos cinéfilos.
Inocente, sonhadora, indomável. Marguerite, interpretada
pela fabulosa Catherine Frot, é uma mulher deveras interessante, louca por
ópera, milionária, vive em quase total reclusão em um casarão longe do agito do
centro da capital francesa. Sua vida consiste em sonhar, projetar e realizar
pequenas apresentações em um limitado círculo de amigos da alta sociedade
francesa. A questão é que a personagem principal, que exala uma dose
exorbitante de carisma em cada sequencia, canta completamente desafinada e suas
performances são camufladas pelo orgulhoso círculo de amigos.
Analisando um lado importante da personagem principal, o
psicológico, o ato de se apresentar a tira da loucura e de seus intensos
pensamentos tristes, a arte se torna uma blindagem a qualquer tipo de sentimento
ruim. Marguerite é incompreendida em sua essência durante todo o tempo, somente
seu simpático mordomo Madelbos a ajuda em suas deliciosas e surpreendentes apresentações.
Porém, com sua bondade e porque não dizer simplicidade, acaba conquistando a
quase todos que a conhecem.
A transformação do marido também é feita de maneira bela e
inesperada. Antes, um envergonhado, traidor e infeliz parceiro vai aos poucos
se tornando um porto seguro às ações da protagonista, vira quase um protetor
dos sonhos de sua esposa. O personagem se vê em uma guerra entre a vergonha e o
sonho. E assim, chegamos a grande pergunta que o filme está envolvido: Quem de
nós possui um coração puro o suficiente para julgá-la?