Escrito, dirigido e interpretado pelo artista francês Bruno
Podalydès, o filme mais doidinho do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, Um Doce Refúgio, é uma prosa leve e
suave sobre o despertar para a vida através de uma simples obsessão. Ao longo
dos 105 minutos de projeção, vamos navegando com o protagonista em seu mundo secreto
e explorando a cada sequência um inconsciente muito particular. É um daqueles
filmes que você ama ou você odeia.
Na trama, conhecemos o tímido e contido Michel (Bruno
Podalydès), um artista gráfico que vive uma pacata vida com sua mulher Rachelle
(Sandrine Kiberlain). Andando com sua motinho de casa para o trabalho e do
trabalho para casa, mostra não estar muito feliz com a vida que leva. Michel é
fascinando pelo mundo aeronáutico e sem querer acaba descobrindo que um caíque tem
uma engenharia parecida. Assim, resolve comprar esse enorme objeto, escondido
de sua mulher e amigos, e acaba embarcando em uma peculiar história de
autodescoberta.
Para comprar a ideia deste trabalho é preciso muita atenção
à psicologia agregada ao personagem. Obviamente estamos vendo um obsessivo
sonhador que de uma maneira totalmente inconsequente e silenciosa resolve
descobrir outras opções e caminhos para sua vida sem graça. Explorando sonhos,
uma relação um pouco distante com uma convivência social, e um certo erotismo
dentro de sua acesa imaginação, Michel aos poucos vai mostrando-se para o
público. O personagem ao longo da projeção vai se abrindo devagarinho e assim vamos
descobrindo sua essência.
Comme un avion, no original, possui ótimos coadjuvantes que
ajudam a contar essa história. As ótimas Agnès Jaoui e Vimala Pons são as
responsáveis para uma inversão interessante que acontece já perto do ato final.
O que não dá para negar é que durante toda a projeção, há uma naturalidade e
originalidade impactantes, fruto, provavelmente, do filme ser escrito, dirigido
e protagonizado pela mesma pessoa. Atenção professores e estudantes de
psicologia, Um Doce Refúgio é um projeto
que pode interessar bastante vocês.