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16/10/2022

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Crítica do filme: 'Bem-Vinda, Violeta!'


Para contar uma história é preciso desprender-se da realidade e embarcar na ficção? Partindo de uma análise bastante ampla sobre o universo sempre peculiar do processo criativo, Bem-Vinda, Violeta! , inspirado no romance ‘Cordilheira’ do escritor brasileiro Daniel Galera, é um filme que navega nas turbulências emocionais de uma protagonista que se descobre em crise através da personagem que está criando para seu novo livro. Fernando Fraiha, um dos diretores do famoso programa Choque de Cultura, volta à direção de um longa-metragem de ficção, após o ótimo La Vingança (2016), nesse filme que é pura reflexão sobre os sentidos da existência humana.


Filmado em Ushuaia, na Patagônia argentina, na trama conhecemos a escritora Ana (Débora Falabella) que resolve embarcar em uma viagem para uma espécie de laboratório criativo onde ela e outros escritores participam de dinâmicas comandadas pelo enigmático Holden (Darío Grandinetti), um homem cheio de personalidade que ficara famoso no mundo literário após queimar exemplares dos seus livros no dia do lançamento. Os dias nesse lugar são intensos e provocantes, há uma necessidade de um abandono de si mesmo e um embarque na personalidade dos principais personagens das respectivas obras. Aos poucos, a forte protagonista começa a se perder, se descontruindo em torno de uma de suas personagens do seu último livro.


O maravilhoso nesse interessantíssimo projeto, que é ambientado na cordilheira dos andes, são as diferentes formas de enxergar todo esse processo criativo. Cada um de nós vai chegar ao desfecho (que tem uma cena emblemática) interpretando o que viu de maneiras diferentes. A produção de ideias em busca de uma certa originalidade é o foco de quem procura os aulões de Holden. Completamente isolados, os escritores passam o pente fino na sua própria personalidade e experiências de vida. A questão para Ana é: embarcar ou não na proposta? Voltar ao passado e enfrentar traumas e situações que estão presas num subconsciente pode ser uma jornada dolorosa que impactará com o seu presente (vemos isso com a desconfiguração do seu relacionamento com o marido).


Um misto de loucura em contraponto ao autoconhecimento chega para a personagem quando se vê perdida, curiosa sobre suas aflições. Bem-Vinda, Violeta não é um filme fácil, ele vai acontecendo aos poucos, então a atenção redobrada é necessária para uma melhor imersão nos momentos reflexivos que chegam pelas entrelinhas, na investigação artística, nos caminhos conflituosos da mente e emoções humanas. Profundo, reflexivo, aborda algumas das infinitas maneiras de explorar a criatividade e ao mesmo tempo chegar em incontroláveis abismos emocionais.



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15/10/2022

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Crítica do filme: 'Noites de Paris'


Coração de mãe, sempre cabe mais um. Explorando o início, meio e fim da década de 80 numa França agitada em vários campos, na visão de uma mulher com um lado maternal forte, o cineasta parisiense Mikhaël Hers nos apresenta um longa-metragem quase em forma de crônicas que coloca a família no centro dos conflitos. Exibido no Festival do Rio 2022, o drama intimista Noites de Paris é protagonizado pela atriz Charlotte Gainsbourg.


Na trama, conhecemos Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), uma mulher de fala mansa, culta, que estudou psicologia e se separou recentemente de um homem que a abandonou. Ela mora com os filhos, Judith (Megan Northam) e Mathias (Quito Rayon Richter) num belo apartamento, com uma esplendorosa vista para uma grande cidade francesa. Mas a situação deles não é tão confortável assim, passando por várias fases e apertos financeiros. A protagonista tem certa dificuldade de adormecer, nessas horas assiste a um programa no rádio e tempos depois, quando procurava diariamente um emprego, acaba conseguindo um trabalho na equipe desse programa. Um dia, durante o período em que busca um mais amplo sentido para sua trajetória, chega na vida dessa família Talulah (Noée Abita), uma jovem que tem problemas com drogas que acabará se sentindo aceita nessa família, mesmo com idas e vindas ao longo de toda a década de 80.


Numa época em que os cinemas franceses não deixavam ninguém mais entrar nas sessões após cinco minutos do início do filme, é o pontapé inicial dessa história onde já conhecemos a protagonista em um momento onde sente que precisa estar próxima dos filhos, ou até mesmo saber ouvir o que eles tem a dizer sobre ela. Há um foco na mãe e no filho (a filha é apenas uma figurante na história). A relação maternal é uma constante evidente que ganha novos caminhos com a chegada de Talulah. Elisabeth se identifica com ela muito por conta da fragilidade (que na protagonista até se desenvolve em coragem ao longo do tempo), algo que as duas tem em comum. A linha temporal segue por dentro da década de 80 onde conflitos ligados à pais e filhos são vistos.


Com um roteiro escrito por três pessoas, uma delas o próprio diretor, percebemos que possa haver uma certa proximidade do mesmo com pelo menos uma parte do que assistimos. A ideia do programa de rádio, por exemplo, um importante momento na trajetória da protagonista, foi adaptado a partir de memórias de Hers sobre um programa antigo, da década de 70, que ficou 20 anos no ar e era exibido ao vivo pelo rádio madrugada à dentro.


O cinema também tem seu cantinho no roteiro, num momento metalinguístico onde até um dos melhores filmes de Nicolas Cage, Birdy (Asas da Liberdade, no Brasil) é a escolha dos personagens para assistirem. A arte parece andar com os personagens que são muito ligados às questões culturais que se desenvolvem na cidade luz. O gosto pela poesia e a escrita de um dos personagens acaba sendo algo que faz parte da trajetória, em todos os momentos, dos diálogos mais felizes da família.  


Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim e rodado quase todo no bairro Beaugrenelle, em Paris, lugar construído na década de 70, Noites de Paris nos trás uma série de lições que podem servir de reflexão, principalmente para quem, com medo de perder, mantém vivas memórias passadas sem conseguir viver o presente.

 


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06/09/2022

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Crítica do filme: 'A Casa'


Quando as emoções ficam à frente da razão. Imagina uma situação onde você tem uma vida confortável, uma família feliz, um apartamento luxuoso com uma vista maravilhosa, um emprego muito bom, só que em algumas semanas, como um efeito dominó, tudo isso se perde. No drama espanhol A CASA, escrito e dirigido pela dupla David Pastor e Àlex Pastor, nós somos testemunhas de um homem em espiral de inveja e loucura querendo tomar a vida de outra pessoa. Um suspense mesclado com drama que nos leva a pensar a todo instante sobre os seres humanos e suas fraquezas.


Na trama, conhecemos o publicitário Javier (Javier Gutiérrez), um homem que sempre teve bons empregos, morava em ótimos lugares que certo dia acaba perdendo todo esse status que conquistou após ser demitido e nunca mais conseguir um outro emprego muitas vezes por ser considerado velho demais para algumas empresas. Tendo que fazer uma nova engenharia financeira na sua vida, precisa vender o apartamento luxuoso que morava com a família. Só que os dias vão passando e Javier não consegue ficar longe do apartamento, inclusive invandindo-o várias vezes para saber mais detalhes da vida do novo morador, o vice-presidente de uma empresa de transportes Tomás (Mario Casas). Assim, começa uma obsessão que terá um destino trágico para alguns.


A parte psicológica bem detalhada do protagonista nos leva a uma jornada de reflexões. Javier não aceita de maneira nenhuma a perda de seu status profissional, de sua vida confortável. Como lidar com isso? Cheio de conflitos internos que vão muito além da inveja iminente, vemos isso na maneira como lida com o filho e a esposa no cotidiano, ultrapassa todos os limites embarcando em uma narrativa somente sua (oriundo do seu ar egoísta), não deixando rastros de lucidez em nenhum momento, se jogando na reta inconsequente onde se coloca em uma via unilateral extremamente cruel com os outros que na cabeça dele se tornam obstáculos no seu caminho.


Na outra parte dessa história vemos um homem buscando a redenção de seus traumas, um problema com álcool que quase acabou com seu casamento e o afastou de sua filha. Como vice-presidente da empresa comandada pelo pai da esposa, se vê exposto por ter esse cargo, em cotidianos tensos mas buscando soluções para não voltar à bebida, inclusive indo a um grupo de apoio para pessoas que sofrem do mesmo mal.


A Casa é um recorte de duas vidas, a reconstrução e a destruição, que acabam se chocando por conta da ambição e inveja sem limites de um protagonista consumido pelos seus sentimentos de reconquista, uma variável que usa a sociedade e a boa vontade como trampolim para sua jornada egoísta.



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20/08/2022

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Crítica do filme: 'Ata-me!'


Os impulsos da mente longe do equilíbrio. Abordando a loucura e um curioso retrato da Síndrome de Estocolmo, Pedro Almodóvar escreve e dirige Ata-Me! seu último filme da década de 80. Estrelado por Antonio Banderas e Victoria Abril o longa-metragem contorna os transtornos obsessivos de um protagonista desequilibrado que busca suas afirmações no presente na figura de uma ex-atriz pornô por quem sente um amor impulsivo. Ao longo dos 101 minutos de projeção vamos percorrendo essa curiosa história sem deixar de refletir sobre tudo que acompanhamos pelo caminho.


Na trama, conhecemos Ricky (Antonio Banderas) um jovem sedutor que passou grande parte do seu tempo em vida em instituições psiquiátricas. Quando enfim consegue a liberdade, não pensa duas vezes e vai atrás de sua atual obsessão, Marina (Victoria Abril) uma ex-atriz pornô que está atualmente rodando um longa-metragem. A perseguição começa e logo Ricky consegue prender Marina em seu próprio prédio buscando durante dias fazer com que ela o aceite como seu amado.


Há uma tentativa de preenchimento de lacunas sobre a personalidade de Ricky (principalmente no desfecho), o que pode ser considerado como algo simplista se levarmos e conta todo o contexto dos assédios cometidos. Sua afirmação, seu propósito de vida é ligado ao desejo que sente por aquela mulher. O descontrole é uma palavra chave para definição desse intrigante personagem. Desequilíbrio é outra. A síndrome de Estocolmo aqui é colocada como complemento, talvez até mesmo um fechamento de recorte psicológico da personagem Marina, uma mulher que sofre com o assédio (não só de Ricky) constantemente.


O uso da comédia não alivia o denso e profundo refletir sobre os assuntos que levanta essa poderosa fita do grande cineasta espanhol. Almodóvar usa o paralelo da loucura e do amor como se entrassem em choque, assim gerando argumentos para reflexões de diversas formas.



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09/08/2022

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Crítica do filme: 'Gêmeo Maligno'


As barreiras do sonho e seu desesperante acordar por meio do reflexo das emoções e medos. Dirigido pelo cineasta Taneli Mustonen, Gêmeo Maligno nos leva a uma jornada cheia de saídas onde nos damos conta de um clima de mistério no ar que caminha entre a razão e a loucura. Essa produção finlandesa falada em inglês e com locações na Estônia busca surpreender com reviravoltas mirabolantes principalmente em seu desfecho. A direção é competente, nos deixa em um clima de tensão constante. As suposições abrem argumentações diferentes sobre qual o sentido em relação a tudo que vemos.

Na trama, conhecemos o casal Rachel (Teresa Palmer) e Anthony (Steven Cree) que após uma trágico acidente de carro, onde perdem um dos filhos gêmeos, resolvem se mudar para Finlândia, numa casa isolada que servia como uma espécie de paróquia do lugar. Anthony que é escritor finlandês, conhece mais a região do que a esposa. No início buscam se familiar com tradições locais em uma região que insiste em falar a língua local mesmo sabendo o inglês. Não conseguindo de adaptar, seu cotidiano é repleto de sonhos estranhos e a desconfiança em relação a tudo e a todos começa a ser algo presente.


O recomeço é algo que está na estrada de reestruturação emocional dessa família ainda muito abalada pelo acidente que culminou na partida de um dos gêmeos do casal. As primeiras linhas do roteiro nos levam para reflexões sobre o luto, o tempo de assimilar uma perda e seguir em frente. A culpa também está embutida nessa passagem, assim como as lembranças, as referências em muitos lugares e até mesmo as metáforas em forma de sonhos/pesadelos.


O misticismo toma conta da história em determinado momento, complicando lacunas não preenchidas. Mas seria um artifício para esconder as verdades da trama? Assim buscamos o entendimento das ações que se sucedem pelos olhos de Rachel. O enxergar ao seu redor a leva em uma jornada onde se juntam as reflexões sobre o papel da mãe, o lado materno. Os curiosos recortes, não associados a fé, voltam na questão da culpa, forma abstrata que precisamos percorrer para o entendimento dessa história.


Gêmeo Maligno caminha nas tensões do medo para desabrochar como um recorte tendendo ao psicológico que acaba fazendo sentido no momento em que entendemos as verdades.

 

 

 

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13/07/2022

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Crítica do filme: 'O Telefone Preto'


Quando o indescritível, até mesmo o misticismo, vira um paralelo com a realidade. Baseado em um conto homônimo do autor norte-americano Joe Hill (filho do grande Stephen King), O Telefone Preto nos faz embarcar em uma história chocante que liga o forte elo entre dois irmãos que sofrem com ambíguo pai à trajetória de loucura de um sequestrador de crianças. Ao longo dos eletrizantes 103 minutos de projeção, repleto de simbolismo, de interpretações sobre a fé, o público é conquistado do início ao fim nesse grande trabalho de Scott Derrickson, um cineasta para sempre termos em nossas listinhas de filmes. Consegue junções interessantes de seus personagens, alguns que caminham entre superficialidade com ações presente com uma profundidade no choque com a realidade. Foi assim, como O Exorcismo de Emily Rose e também em Doutor Estranho. O Telefone Preto é mais um senhor trabalho!


Na trama, conhecemos Finney (Mason Thames), um jovem de cerca de 13 anos que vive uma vida repleta de conflitos ao lado da irmã Gwen (Madeleine McGraw). Eles moram com o pai, o alcóolatra Terrence (Jeremy Davies), um homem conservador e muito rígido que está repleto de infelicidade em sua rotina. Finney sofre bullying na escola diariamente e possui o forte elo de carinho e afeto com a irmã como sendo um Oasis em meio ao caos de conflitos emocionais que atravessa. Na cidade onde moram, algumas crianças começam a desaparecer. Um dia, voltando da escola, Finney acaba sendo sequestrado por um homem em uma van repleta de balões pretos. Ele vai parar um porão onde tem apenas uma cama e um telefone preto, sem o fio. Conforme os dias vão passando, algo inusitado acontece, o telefone começa a tocar e Finney percebe que os outros jovens sequestrados pelo mesmo homem estão tentando ajudá-lo a sair daquela situação.


Vamos falar um pouco do marketing do filme para início da análise. Impressionante como os materiais divulgados conseguem prender a atenção e assim mesmo esconder essa história como um todo, colocando o vilão como uma mera peça no tabuleiro, como coadjuvante. Embarcamos nessa jornada com o foco no protagonista, um jovem que nos mostra a realidade de muitos, com o bullying presente na sua rotina, com um quebra-cabeça tumultuado em relação a família. Sua irmã é seu grande porto seguro, uma jovem que busca na fé explicações para questões do mundo algo que dentro do contexto se inclina para o misticismo, fato aqui importante pois corre em paralelo na trajetória dela e do irmão em dois focos distintos. Voltando a Finney, a construção desse personagem é brilhante, nos jogam elementos no início que serão compreendidos nos arcos conclusivos trazendo elos com a realidade.


Nesse suspense aterrorizante, muito por conta do lado psicológico fortemente embutido nos conflitos, o vilão se torna um elemento coadjuvante. Não há muita profundidade em relação aos seus porquês, mesmo assim nos prende a atenção nas ações presentes, esse que tem um arco construtivo também ligado a questão de irmãos. Ethan Hawke está muito bem no papel.


São tantas portas abertas para serem analisadas dentro de conclusões satisfatórias por conta dos argumentos apresentados que podemos afirmar que esse projeto é um dos grandes filmes de suspense de 2022. O Telefone Preto era muito aguardado e vai superar expectativas! Imperdível!



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30/06/2022

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Crítica do filme: 'Esperando Bojangles'


As surpresas e realidades no caminho da fantasia. Baseado no livro homônimo do escritor francês Olivier Bourdeaut, Esperando Bojangles, um dos destaques da seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2022, é uma história emocionante que contorna de maneira bem leve os caminhos incompreendidos da loucura deixando a reflexão ao público a cada instante. Traçando paralelos entre o lado bom da vida e a fantasia somos testemunhas de protagonistas que se confundem entre o real e o faz de conta, um modo de viver onde a inconsequência resolve cobrar as vezes de maneira implacável. A direção é assinada por Régis Roinsard e no elenco, os maravilhosos Romain Duris e Virginie Efira.


Na trama, conhecemos Georges (Romain Duris), um contador de histórias, meio malandro, que durante uma festa que chegou de penetra acaba conhecendo a bela Camille (Virginie Efira), por quem logo se apaixona e tem um filho. O cotidiano deles é repleto de festas, contas sem pagar, vivendo em um universo de fantasia que acaba passando para seu filho. O casal tem a rotina de escutar, naquelas vitrolas antigas, em muitos desses momentos a canção Mr. Bojangles. Em certo momento, Camille começa a apresentar sinais de que não quer nem consegue acessar o cotidiano e a realidade que se apresenta.


O filme é de uma sutileza ímpar. O brincar de faz de conta apresentado é uma fuga da realidade, as questões mundanas de andar pelos conflitos não importava muito aos personagens. O contraponto chega quando Georges começa a perceber que a esposa possa estar ultrapassando as tênues linhas da fantasia com a realidade.


Outros personagens também nos apresentam suas visões para os protagonistas. Aos olhos do filho, aos poucos, é como se um castelo de cartas fosse caindo em efeito dominó, levando-o da fantasia de inesquecíveis momentos às dolorosas questões que a vida coloca pelo caminho. Há um curioso personagem, Charles (Grégory Gadebois), que acompanha a família durante todos os anos, uma espécie de padrinho daquela união, um alguém que se coloca como um ombro amigo nos momentos delicados.


No momento de virada da ótima trama, nos deparamos com um arco dramático muito profundo, emocionante onde escolhas precisarão serem tomadas. Dentro desse contexto, vamos enxergando um pouco do volume de emoções que transbordam sem controle, até mesmo os horrores dos métodos que eram usados para o combate à esquizofrenia (o filme é ambientado em décadas atrás).


Esperando Bojangles é um filme muito mais profundo do que aparenta, nos leva em uma viagem, muitas vezes cômica, mas que apresenta um lugar astroso que a mente humana as vezes pode acessar.



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02/05/2022

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Crítica do filme: 'Louca Obsessão' *Revisão*


O confronto entre a razão imóvel e a loucura pulsante. Um dos grandes filmes da década de 90, Louca Obsessão foi se tornando ao longo do tempo um clássico do cinema. Não é pra menos, uma história intrigante que diz muito sobre personalidades e o estado da psique humana que acaba sendo em seu constante clímax um grande duelo entre a razão e a loucura. Baseado na obra Misery do escritor Stephen King e dirigido por Rob Reiner, o projeto é um suspense chocante. Por seu papel no filme, Kathy Bates venceu seu primeiro e único Oscar.


Na trama, acompanhamos um pacato escritor de sucesso chamado Paul Sheldon (James Caan) que está prestes a entregar a primeira e única cópia de seu mais novo livro. No seu processo de escrever, ele sempre vai para uma cabana numa região gelada do estado do Colorado. Saindo desse lugar rumo ao encontro com sua editora, ele acaba sofrendo um grave acidente. Ele acorda em uma casa onde mora Annie (Kathy Bates) uma enfermeira super fã do escritor que viu o acidente e o ajudou. Nos primeiros dias de recuperação Paul acha que tirou a sorte grande mas aos poucos vai entendendo que se meteu em uma grande enrascada e precisa encontrar soluções para fugir daquele lugar.


Em cárcere privado, a luta do escritor é contra seus medos e as imprevisibilidades da psicopata da porta ao lado. Assim, vemos ao passar do tempo todas suas tentativas de fugir daquela situação conforme vai melhorando os movimentos de seu corpo, fragilizados pelo grave acidente. O ponto de encontro de seu lado racional chega através de sua própria obra, fator de interseção com a enfermeira psicótica, assim na promessa de resgatar à vida uma personagem importante que morreria em seu próximo livro, Paul consegue ganhar um tempo para entender a situação que se encontra.


Annie é uma personagem enigmática do início ao fim. Imprevisível, alucinada, solitária, psicologicamente abalada, psicopata, vários adjetivos nessa linha são possíveis para definir essa personalidade extremamente complexa. Ela encontra em Paul o afloramento de sua obsessão, fato recriado em outros momentos do seu passado nebuloso que vamos conhecendo com leves pitadas de descobertas ao longo dos quase 110 minutos de projeção.


Louca Obsessão é imprevisível, um projeto que marca a luta entre a razão e a loucura que conta com uma atuação inesquecível da grande Kathy Bates.

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14/12/2021

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Crítica do filme: 'Encontros'


As linhas interpretativas entre o certo e o errado. Chegou na Amazon Prime Video, o drama com pitadas de thriller Encontros. Dirigido pelo cineasta Michael Pearce, sem seu segundo longa-metragem como diretor, o projeto é uma inteligente jornada rumo aos paralelos que a vida nos traz depois que passamos por traumas profundos e sofrimentos não estancados. Testemunhamos um homem desesperado com informações que o deixam longe de alguma normalidade, seja o que isso for. O roteiro é detalhista mostra com muita força os conflitos de um protagonista que vê sua inconsequência pela vertente de um abalado psicológico, ao mesmo tempo é uma reconstrução de relação entre um pai e seus filhos, ligados por um espírito de aventura. Mais uma baita atuação do ator Riz Ahmed.


Na trama, conhecemos o militar Malik (Riz Ahmed), que foi criado em um orfanato, virou fuzileiro naval indo em mais de dez missões mas acabou sendo levado à corte marcial por agredir seu capitão. Um homem alucinado e obsessivo por uma praga alienígena que pode estar contaminando pessoas em todo o mundo. Ele vai em uma missão de resgate dos dois filhos para levá-los a um lugar seguro. Desesperado atrás de alguma solução ou de pelo menos entender a situação que está, ele e os filhos, embarcam nessa jornada de auto descoberta. Um colapso nervoso? Alienígenas em forma de invertebrados com exoesqueleto quitinoso? Ele está vendo coisas que não existem? É uma história que vamos entendendo aos poucos. Há um clima de tensão bem presente em grande parte do filme. A trilha sonora é eletrizante, vai de Phil Collins à Iron Maiden.


Não sabemos ao certo se tudo que o protagonista fala é verdade, desesperado atrás de alguma solução refletimos sobre outra questões e outros pontos de vista. Quando testemunhamos a força da mentira aos olhos de uma criança diálogos fortes se sucedem. Um pai de família, que não interage com os filhos faz anos. Aos olhos da experiente agente de condicional vemos o conflito sobre o benefício da dúvida por acreditar num condenado mas ter muitas dúvidas sobre isso tempos depois. Navegando na psicologia mais profunda, o foco e as linhas de entendimento chegam no que podemos chamar de resposta mental, que envolve emoções, pensamentos e comportamentos mais específicos, também conhecido como gatilhos emocionais.  


Encontros é um dos melhores lançamentos da Amazon Prime Video desse ano de 2021. Não perca!

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15/05/2021

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Crítica do filme: 'Um Divã na Tunísia'


As quebras de paradigma e as aberturas para reflexões através de conversas. Dirigido pela cineasta francesa Manele Labidi, em seu primeiro longa-metragem, Um Divã na Tunísia nos mostra a saga de uma mulher forte, destemida, corajosa e deveras solitária. O roteiro mantém-se em tom reflexivo, o riso chega mais para os que alcançam as entrelinhas dentro de um contexto sobre problemas, feridas emocionais e razões/emoções sobre a indefinição do destino. A trilha sonora assinada pelo dinamarquês Flemming Nordkrog dita o ritmo desse recorte cultural com tons em vertente da psicologia.


Na trama, conhecemos Selma (Golshifteh Farahani) uma jovem e solitária psicanalista que chega na Tunísia, mais precisamente em sua terra natal Túnis, que não visita desde os 10 anos, para abrir um consultório e atender pacientes no terraço de uma casa. Buscando mudar a natureza dos problemas das pessoas, trazendo uma nova perspectiva, logo faz bastante sucesso com a vizinhança mas a burocracia quase de fachada do enrolado serviço público local a pressiona para uma licença que nunca chega.


A protagonista enche a tela com assuntos importantes para refletirmos sobre (mesmo aqueles que não conhecem muito a região). Navegamos pela cultura de um país com tradições árabes mas que cada vez mais tende ao ocidente. Assim, de maneira quase inusitada, vamos aprender um pouco sobre através dos pacientes que veem na personagem principal uma intelectual parisiense. Tem paranoicos que sonham com ditadores e outras questões, um parente com problemas com bebida, alguns com problemas na interpretação de sua fé, problemas na família e tantos outros.


Os caricatos personagens do serviço público tunisiano fazem muito sentido dentro da crítica social que o filme toca, além de darem um ótimo tom cômico à trajetória da personagem. Dos que mais chamam a atenção: a secretária do ministério da saúde que sempre arranja um tempinho para vender suas muambas e uma dupla de policiais que não sabem de nada aliados a um chefe de polícia que está confuso sobre seus sentimentos para com a protagonista.


Um fato curioso chega no arco final, quase uma consulta com Freud, em tom de desabafo conhecemos as angústias escondidas da profissional de saúde que guarda muitas coisas dentro de si. Um belo desfecho que acaba fechando um ciclo recortado dentro de um novo contexto social e político de uma região que está ainda se abrindo para novos costumes e para o mundo.

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17/04/2021

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10 Filmes para você que gosta de Psicologia – Parte 2


Amores platônicos, obsessões, amizade entre um inusitado ser vivo e um homem em caos emocional, uma jovem em busca de justiça contra o abuso masculino, um caótico restaurante que vira palco de sangrentos diálogos, uma jovem e seu estudo sobre o suicídio, um homem em meio a suas memórias e perdendo a noção da realidade, uma mulher que encontra o seu lugar pleno de felicidade roubando bancos e muitas outras histórias nos chegam nessa parte dois do nosso especial contínuo 10 Filmes para você que gosta de Psicologia para analisar o ser humano e seus caminhos rumo a um entendimento (ou não) sobre o viver.

 

Abaixo a lista dessa segunda parte, com filmes da França, EUA, África do Sul, Alemanha, Brasil, Espanha.

 

Professor Polvo

 

Tudo na vida tem começo, meio e fim. Um homem e seus conflitos em certa etapa da vida, consumido pelo stress de um cotidiano caótico em não encontrar um oásis dentro das obrigações que se amontoam em sua vida. Durante mais de 200 dias na África do Sul, resolve interagir todo esse tempo com um polvo e assim acaba embarcando em uma série de descobertas sobre como vive esse molusco de oito tentáculos e que possui uma série de ventanas. Uma narrativa detalhista, emocionante, que mexe com nossos campos reflexivos nos paralelos que encontramos entre as leis da vida de um polvo e nós que estamos fora da água. Professor Polvo, produzido pela Netflix, está concorrendo ao Oscar de Melhor Documentário em 2021.

 

Hipnotizante, inspirador. Uma história que pode parecer quando a gente lê a sinopse meio sem sentido, começa a mostrar porque é tão profunda quando começamos a entender as mudanças na maneira de pensar do mergulhador que se sente outro planeta debaixo da água. Acaba criando uma inusitada amizade com o polvo, esse que possui uma capacidade surpreendente e criativa de enganar seus inúmeros predadores. Ricas imagens preenchem a tela a todo instante, é como se estivéssemos dentro daquele pedacinho do oceano acompanhando de perto toda essa saga sem objetivo específico mas sempre surpreendente.

 

A parte onde descobrimos a força de vontade de se reconstruir é um clássico exemplo da vida, onde milhões espalhados pelo mundo precisam diariamente buscar suas chances de uma confortável trajetória em uma concorrência muitas vezes desleal mas mesmo assim, a maioria de nós, consegue de alguma forma (ou faz de tudo) sobreviver. Há mais paralelos: o sacrifício, a felicidade, as dificuldades, os obstáculos, nada de novo mas sempre com o olhar do inacreditável pelas intensas imagens que conseguimos acompanhar.

 

História de amizade, leis da vida, paralelos com os cotidianos espalhados por aí. Um dos grandes documentários dos últimos anos, despretensioso mas que consegue emocionar até os corações mais distantes de emoções.

 

Meu Pai

 

Como superar o que para você mesmo é insuperável? Indicado a seis Oscars em 2021, Meu Pai, é uma espécie de um jogo de suposições dentro de um labirinto de situações. Um vai e vem emocional constante, do êxtase à amargura. Um engenheiro aposentado cheio de manias, apreciador de ópera, dentro de um apartamento em Londres com um quebra-cabeça para resolver, um jogo de um jogador apenas, mesmo com personagens surgindo a todo instante, passa seus dias, de alguma forma, bastante solitário. Nossos olhos são Anthony, vamos descobrindo onde cada peça se encaixa junto com ele. Um roteiro primoroso onde não conseguimos tirar os olhos da tela. Magistral atuação de Anthony Hopkins. Roteiro e direção assinados pelo cineasta francês Florian Zeller, seu primeiro longa-metragem como diretor.   

 

 

Na trama, conhecemos Anthony (Anthony Hopkins), um homem já no terço final de sua vida, perto dos 80 anos, que vive seus dias em um apartamento confortável em Londres onde recebe a visita constante de sua filha Anne (Olivia Colman). Quando essa última conta para ele que está indo morar em Paris, situações diferentes começam a aparecer nos seus dias, até mesmo personagens diferentes mas que significam algo ao redor da vida dele, e assim conflitos familiares são trazidos à tona. Alucinações? Lembranças? Quais peças não estão lugar?

 

 

Guiado por uma trilha sonora bastante incisiva (assinada pelo compositor e pianista italiano Ludovico Einaudi), o filme é a constatação do tempo em poucos momentos no sofrido acesso às memórias de um homem que nunca conseguiu se desvencilhar dos traumas de sua vida, principalmente uma tragédia com uma de suas filhas. Lutando contra a própria mente, buscando ao equilíbrio entre a razão e emoção para entender tudo que projeta com vida nesse momento, Anthony embarca em uma viagem com objetivo de desatar algumas amarras de consternação das lembranças de sua alma detalhista.

 

 

Paranoico? Medo de ficar sozinho? Aos poucos, junto com o inesquecível personagem, vamos percebendo que algumas coisas não fazem um certo sentido, há muitas coisas estranhas acontecendo ao seu redor, o que faz a passos largos caminhá-lo para um ato final angustiante. Vale novamente destacar a maestria de um ator que possui um domínio impressionante de seu espaço cênico, o inesquecível Anthony Hopkins em uma de suas melhores performances na carreira.

 

 

Palm Springs

 

Uma grande e ilimitada sessão de terapia. Indicado a dois globos de ouro nesse ano, Palm Springs, dirigido pelo cineasta Max Barbakow e com roteiro assinado por Andy Siara, é uma comédia disfarçada, há um abalo emocional reflexivo para os personagens em constante loop. Melancólico até certo ponto, caminha nessa linha que flerta com o desesperante só que de maneira inteligente, com questões da ciência envolvida pela física, e com carismáticos personagens. A dupla Andy Samberg e Cristin Milioti mostra grande sintonia em cena. Grata surpresa.

 

 

Na trama, conhecemos Nyles (Andy Samberg) um convidado distante de uma festa de casamento em um lugar isolado que após entrar em uma caverna misteriosa, durante o casamento, acaba acordando no mesmo dia do casamento infinitamente. O filme começa já com ele desiludido e meio que desistindo de tentar algo pra mudar isso, mas tudo muda quando num desses cenários repetitivos ele acaba puxando Sarah (Cristin Milioti), a irmã da noiva, para o mesmo loop.

 

 

Aceitar o fato? Procurar sentido nas coisas? Há um choque entre os sentimentos dos dois personagens, muito porque Nyles já está acomodado naquela situação faz bastante tempo e Sarah, por conta de uma situação que vendo o filme vocês saberão, quer correr desse loop o mais rápido possível, lutando bravamente contra esse ‘poder’ inusitado. O interessante é que o ponto de interseção acaba sendo dois, dependendo do ponto de vista: a eterna arte de fugir da solidão e um intenso amor que surge entre os dois. Acompanhando o filme de qualquer uma dessas óticas, você vai se divertir.

 

 

O que você faria se pudesse fazer o que quiser sem consequências, pois, o dia seguinte seria o mesmo que hoje? Uma premissa maravilhosa para mentes criativas e Siara consegue com suas linhas de roteiro nos fazer rir, refletir sobre a vida e torcer constantemente para os personagens encontrem uma saída mas sem esquecer de um duelo quase vital nesse jogo do loop que se torna a batalha da ética interpessoal misturada com a índole, isso, contra a inconsequência.

 

 

Banklady

 

Quando a adrenalina e o prazer acionam um gatilho em forma de transtorno de personalidade. Dirigido pelo cineasta alemão Christian Alvart, em Banklady voltamos para meados da década de 60, em Hamburgo na Alemanha onde uma mulher trabalhadora dentro de uma rotina monótona vira a primeira mulher assaltante de banco da Alemanha. O filme tem vários caminhos interessantes, desde a conturbada linha do bandido carismático, o foco da mídia, até uma psicologia complicada, desiludida no amor. A protagonista, interpretada pela ótima atriz Nadeshda Brennicke, parece viver em outro compasso do que a realidade que a cerca. Interessantíssimo filme alemão.

 

 

Na trama, conhecemos Gisela Werler (Nadeshda Brennicke), uma batalhadora que trabalha em uma fábrica de impressão e vive, além de sustentar, os pais já bem idosos. Sem propósitos na vida, vivendo uma solidão evidente desencontrada com seus sonhos de ser popular, ou mesmo, ter a mesma vida das modelos de revistas que sempre observa, a protagonista conhece Hermann (Charly Hübner), um ladrão de bancos que após algumas situações resolve desafiar Gisela para um assalto a banco. A partir desse ponto, a vida de Gisela muda e ela se torna impulsiva e imprevisível. Dentro de um universo machista, acaba sendo elemento surpresa durante um bom tempo.

 

 

Quando se impor as inconsequências que chegam em nossos caminhos? A transformação da personagem principal é algo bem notório. Quando vira uma assumida ladra de bancos, divide seu tempo em manter um emprego que já não precisa mais, entrar em conflito com os sentimentos que nutre quase obsessivamente por Hermann e planos cada vez mais audaciosos no seu rentável trabalho criminoso. Além disso, muda a atitude, ganha ares de preocupação com a vaidade principalmente quando percebemos que seus troféus são capas das revistas, quando vira quase uma figura carismática na mídia fervorosa da época.

 

 

O filme é dividido em arcos explosivos, tensos com um quê de insensatez psicológica. A chegada da investigação policial quando os crimes se tornam assuntos nacionais fazem o confuso e inexperiente Kommissar Fischer (Ken Duken), responsável pela investigação dos bancos roubados, um grande achado para o roteiro.

 

 

Quais os limites da razão e da emoção? Passando por cima dessa pergunta, a protagonista tem sonhos simples com obsessões sendo nutridas dentro dos seus diários choques com o perigoso jogo que sustenta seu ego.

 

 

Loucura de Amor

 

A difícil ponte entre os clichês e as inúmeras formas de emocionar o espectador. Simples, objetivo, dinâmico, aventureiro, curioso, amoroso, emocionante. Uma série de adjetivos saltam em nossas mentes logo na abre alas eletrizante, antes mesmo dos créditos, dessa pequena joia divertida espanhola, disponível no catálogo da maior dos streamings, Loucura de Amor. Contando a saga de um homem em busca das descobertas, às vezes hipócritas e desencontradas, para definir o amor acaba se vendo em uma jornada rumo às profundidades desse sentimento, aliado a isso noções quase que educativas sobre a arte de nunca pré julgar a ‘loucura’ alheia. Dirigido por Dani de la Orden com roteiro assinado por Natalia Durán e Eric Navarro.

 

 

Na trama, conhecemos Adri (Álvaro Cervantes), um jornalista que trabalha em uma revista badalada escreve sobre os mais diversos e muitas vezes polêmicos temas. Certa noite, saindo com dois inseparáveis amigos e acaba conhecendo Carla (Susana Abaitua) da maneira mais inusitada possível e ambos resolvem curtir aquela noite sem compromisso e depois não se verem mais. A questão é que a tal noite é intensa e inesquecível, deixando Adri desesperado nos dias seguintes atrás daquela mulher que acabara de mudar sua maneira de enxergar o mundo. Ele acaba a achando, e descobre que Carla é paciente em uma clínica psiquiátrica. Assim, o protagonista precisará bolar um plano bem fora do comum para tentar passar mais alguns dias perto do amor de sua vida.

 

 

No fundo dos meus olhos, pra dentro da memória te levei. O amor é um dos pilares desse despretensioso filme, lançado sem alarde. Pisando sem medo em diversos clichês, o longa-metragem consegue se enrolar (no bom sentido) em uma fórmula carismática de nos convencer no seu arco principal e nos encher com quebras de paradigmas sociais (dentro de discursos super simples), principalmente a questão sobre a ‘loucura’. Há tempo também para lindos arcos sobre amizade e carinho ao próximo. As emoções e sentimentos são tratados de forma leve e que nos da muita vontade de assistir cada vez mais o desenrolar dessa fábula sobre os incompreensíveis caminho para se chegar ao tão sonhado estado de amor.

 

 

O Animal Cordial

 

O recorte impactante do psicológico em contraponto à normalidade. Um cenário, personagens intrigantes, violência e doses consideradas de descontrole comandam o clima de O Animal Cordial, longa-metragem lançado anos atrás no circuito brasileiro que consegue impactar e nos chocar através das linhas de seu poderoso roteiro. Escrito e dirigido pela cineasta Gabriela Amaral Almeida, o filme, bastante sangrento, é uma caixinha de surpresas que flerta com um efeito parecido que um plot twist pode conseguir.

 

 

Na trama, conhecemos Inácio (Murilo Benício), o dono de um restaurante que está prestes a encerrar mais um dia de trabalho ao lado de seus funcionários, principalmente o cozinheiro chefe Djair (Irandhir Santos) e a faz tudo Sara (Luciana Paes), além de um cliente jantando sozinho, o ex-policial Amadeu (Ernani Moraes) e em seguida chega o casal Veronica (Camila Morgado) e Bruno (Jiddu Pinheiro). Em certo momento da noite, uma dupla de assaltantes invade o local fazendo todos os personagens citados acima de refém. Só que a noite reserva muitas surpresas e somos testemunhas de algumas inversões sobre quem está realmente no comando das ações.

 

 

Uma equação sobre as hipocrisias da vida passada a limpo caminhando na linha do controle sobre o descontrole transforma o longa em uma imprevisível sequência onde ninguém é herói de nada mas há vilões por todas as partes. O roteiro é muito inteligente, transforma o espectador em testemunha, como se estivéssemos sentados em uma das mesas observando o desenrolar dos fatos. Não é moldada uma teia de mentiras para serem decifradas e sim um espinhoso caminho rumo à psiquê humana com traços de guerras entre classes. Gabriela Amaral Almeida é um nome para anotarmos em nossas agendas e sempre assistirmos aos próximos filmes dela.

 

 

Eu me Importo

 

A linha reta e obsessiva do inescrupuloso egoísmo em uma sociedade cheia de brechas. Caminhando na tênue linha do non-sense, Eu me Importo é profundo em uma crítica social constante sobre os valores do ser humano e as brechas da lei dentro das ações de uma sociopatia escancarada de uma mulher malévola. Acoplado a isso, subtramas desinteressantes e personagens distantes deixam na superfície os porquês, fatores importantes para entendermos fatos e ações. Em seu terceiro longa-metragem como diretor, o cineasta J Blakeson (que também assina o roteiro) busca na sua forte personagem o pilar para contar sua história. O filme, disponível na Netflix, foi indicado ao Globo de Ouro 2021 na categoria Melhor Atriz em filme Musical ou Comédia pela interpretação da ótima atriz britânica Rosamund Pike

 

 

Na trama, conhecemos Marla Grayson (Rosamund Pike), uma mulher de forte personalidade que achou uma mina de ouro em um negócio (nada ético) bastante rentável de guardiã de legal de pessoas idosas que não conseguem mais tomar atitudes. Com esquemas com uma médica, casas de saúde para idosos e enrolando juízes, ao lado de sua parceira de vida e sócia Fran (Eiza González) estão sempre planejando o próximo golpe. Um dia aparece a ficha de Jennifer Peterson (Dianne Wiest) e assim Marla rapidamente vira sua guardiã legal. Só que dessa vez, o alvo tem muito mais segredos do que aparenta e trará graves problemas para Marla e seus integrantes do esquema.

 

 

Podemos dividir o projeto em duas avenidas: a das críticas em relação a tudo que envolve esse esquema desleal e a da vida pessoal e com pouca relevância de alguns dos personagens. O longa-metragem tem ritmo por mais que pareça sempre como faltando alguma peça do quebra-cabeça. A inversão dos valores sociais (ou algo parecido com isso) é um contraponto interessante e faz refletir, nessa terra sem lei onde tudo é egoísmo, Marla é mais vilã do que um gângster que mexe com tráfico de pessoas? 

 

 

A sociopatia da personagem é muito bem definida e constante, fruto de um bom trabalho da ótima Rosamund Pike. Pena que o relacionamento com Fran é pouco explorado, a coadjuvante vira uma peça inconstante dentro de um roteiro que possui falhas mas busca na sua protagonista o brilhantismo do todo. Dianne Wiest, por exemplo, passa quase desapercebida, uma pena. Mas é você leitor quem precisa tirar suas próprias conclusões, o filme está disponível no mais famoso serviço de streaming disponível no Brasil. 

 

 

Promising Young Woman

 

Os traumas que nunca saem de nossas mentes e mudam radicalmente uma trajetória. Selecionado para dezenas de festivais e muito cotado para algumas categorias do Oscar 2021, escrito e dirigido pela cineasta e atriz britânica Emerald Fennell (em seu primeiro longa-metragem atrás das câmeras), Promising Young Woman é pulsante, intenso, usa do impactante, do sarcasmo, para criar um raio-x profundo para quem ainda tem dúvidas sobre o assédio, o machismo que acontece muito por aí. Mostrando o caminhar de alguns em cima da linha tênue do ‘benefício da dúvida ou acreditar em quem diz ser vítima?’ O projeto conta com uma atuação marcante da excelente atriz britânica Carey Mulligan.

 

 

Na trama, conhecemos a ex-estudante de medicina Cassie (Carey Mulligan) que mora com os pais em uma confortável casa. Ela trabalha em um café da cidade e passa suas noites indo a boates e points de pegação onde se finge de bêbada para dar lições em homens que dão em cima dela nesse estado. Há algum trauma, um gatilho para fazer o que faz e vamos entendendo melhor os seus porquês principalmente quando sabemos do suicídio de uma grande amiga nos tempos de faculdade. Mas tudo muda com a chegada novamente em sua vida de Ryan (Bo Burnham), um cirurgião pediatra que estou tempos atrás com ela.

 

 

Promising Young Woman é o caminho conturbado de uma protagonista, brilhante nos tempos de faculdade, que após o assédio e exposição de uma grande amiga resolve abandonar tudo e viver uma vida em busca de vingança contra o machismo descarado mesmo que isso a faça viver situações constrangedoras e perigosas. Sua única saída é a vingança e ela chega de maneira como se estivesse em um túnel onde é impossível enxergar o fim dele. O projeto não deixa de ser uma análise profunda sobre a sociedade que vivemos. As conturbações psicológicas da protagonista, na verdade, podemos enxergar também como uma série de gritos de indignação com as ‘absolvições’ de quem merece a punição.

 

 

Nos tempos atuais onde a luta contra o assédio se torna cada vez mais importante e dominante em diversos segmentos empresariais e da sociedade como um todo, o papel da arte em mostrar espelhos da sociedade é fundamental para consolidar esse pilar. Ótimo filme.

 

 

O Porco Espinho

 

Toda família feliz é igual mas toda família infeliz é única. Escrito e dirigido pela cineasta francesa Mona Achache, com roteiro baseado na obra A Elegância do Ouriço de Muriel BarberyO Porco Espinho, lançado no ano de 2009, é um belíssimo filme que usa de diversos contrapontos para nos fazer enxergar todo um contexto sob a ótica de duas solitárias (cada uma à sua maneira): uma jovem super esperta que está decidida a se matar e uma solitária zeladora leitora assídua. Diálogos sobre livros, questões existenciais, cotidiano estressante, impossível não abrir um sorriso e também não ficar com o coração apertado após assistir a esse belo trabalho que diz muito sobre amizade e esperança.

 

 

Na trama, conhecemos Paloma (Garance Le Guillermic), uma jovem inteligente, muito à frente do seu tempo, que está decidida a se matar por não mais conseguir aturar sua vida e se sentir deslocada em uma família egoísta, rica e distantes entre si. Mas no prédio que ela mora, não é a única que se sente solitária. Reneé (Josiane Balasko) é a zeladora do prédio e precisa aturar todo tipo de situação no seu dia a dia. Amante dos livros, conversa com os poucos amigos que tem. A chegada de um novo vizinho, Sr. Ozu (Togo Igawa), acaba mexendo com a vida não só de Paloma mas também com a de Reneé, criando inclusive uma amizade entre as duas.

 

 

Uma rigidez no pensar e a infelicidade no contraponto. Há duas protagonistas nessa história, o que torna essa jornada ainda mais interessante. Paloma é inteligente, estuda japonês e ama cinema. Com sua câmera portátil, filme situações ao seu redor e toda sua família, além dos moradores do prédio onde mora. Está envolvida de alguma forma no pensar da parábola do aquário, onde se sente limitada, sem saída em muitos momentos. Os desabafos dela são feitos virados para sua câmera, uma espécie de consulta a um psicólogo. Já Reneé impõe no seu lindo pensar limitações por conta de sua classe social e medos, principalmente com a chegada do novo vizinho que mexe muito com sua vida. Quando Paloma e Reneé se aproximam, conseguimos sentir a força da solidão das duas mas também que quando estão conversando a alegria e riso fácil as acompanham. Uma faz a outra ver algum lado bom da vida.

 

 

A vida e a morte, a eterna desconfiança sobre o destino. Há uma solidão evidente por trás do conhecimento mas quando esses se aproximam, tudo começa a fazer mais sentido. O Porco Espinho, filme que deveria ser visto por psicólogos e estudantes, é um fábula urbana muito interessante sobre a roda gigante de emoções que é viver.

 

 

Undine

 

O enigmático mundo entre o que pensamos e como sentimos. Exibido no Festival de Berlim, onde inclusive ganhou o prêmio da crítica (FIPRESCI) e ainda levou o concorrido Urso de Prata de Melhor Atriz, Undine possui um engenhoso roteiro que nos leva a um profundo drama, obsessões, palavras ao vento, perda, como o ser humano reage em momentos difíceis. Escrito e dirigido pelo cineasta Christian Petzold (um dos bons nomes na direção quando pensamos em cinema europeu, com ótimos trabalhos recentes) o projeto nos leva a uma jornada de conhecimento de uma personagem forte e muito complexa que possui um modo de pensar confuso, altera realidade com imaginação como se estivesse perdida dentro das interseções dos seus intensos relacionamentos e sentimentos. Cheio de simbolismos, o roteiro brinca com o espectador a todo instante.

 

 

Na trama, conhecemos Undine (Paula Beer), uma historiadora, que está à beira de uma certa loucura, discutindo sobre o iminente término de relacionamento com o namorado Johannes (Jacob Matschenz) que a traiu recentemente. Mas, por coincidência do destino, no mesmo dia que termina o relacionamento, encontra com o mergulhador industrial Christoph (Franz Rogowski) e logo surge uma paixão intensa entre os dois. Com o passar do tempo, idas e vindas de trem (a distância que separam os dois pombinhos), Undine encontra Johannes certo dia e esse momento poderá mudar pra sempre o provável final feliz dessa história.

 

 

Nos guiamos pelas ações de Undine a todo instante. Historiadora, obsessiva, uma solidão com a estranheza de não entender muito bem certas situações ao seu redor, muitas vezes introspectiva, vivendo uma fuga atrás da outra dentro de uma lógica fora da realidade. Uma alma carente que não sabe se definir fora de um relacionamento. Personagem extremamente complexa, um grande desafio para a competente atriz alemã Paula Beer.

 

 

O interessante e porque não dizer bastante original roteiro não fala somente sobre a complexidade psicologia por trás da sua protagonista, há espaço também para recebemos uma grande aula sobre Berlim e parte da história alemã através dos estudados momentos de palestras que a personagem ministra a muitos visitantes de um ponto turístico de Berlim. Há um vão entre a relação desses momentos com a maneira de pensar de Undine mas nada que atrapalhe o bom filme que se apresenta.

 

 

 

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