A matemática é a única ciência exata em que nunca se sabe do
que se está a falar nem se aquilo que se diz é verdadeiro. Baseado no livro The Man Who Knew Infinity: A Life of the
Genius Ramanujan, de Robert Kanigel, O
Homem que viu o Infinito é apenas o segundo trabalho atrás das câmeras do
desconhecido cineasta Matt Brown. Reunindo elementos muito interessantes para
explorar a história de um gênio da matemática que usava de sua fé como
plataforma para voar, o longa metragem promete agradar crítica e público,
principalmente pelas atuações dos personagens principais, interpretados pelo
bom ator Dev Patel e o experiente e sempre brilhante Jeremy Irons.
Na trama, conhecemos o humilde matemático indiano Srinivasa
Ramanujan (Dev Patel) que mora em um lugar bem pobre em uma Índia fragilizada e
carente por ajuda. Ramanujan é matemático e seu sonho é conseguir publicar
alguma de suas teorias que ele acredita que podem dar uma luz à diversos conceitos
que muitos diziam impossível. Assim, contando com a ajuda de pessoas que gostam
dele, consegue que uma de suas cartas chegue até o grande Professor de
Matemática Pura da Universidade de Cambridge, Godfrey Harold Hardy (Jeremy
Irons) que logo o chama para Universidade (ouvindo os sábios conselhos do amigo
e também brilhante matemático John Edensor Littlewood, interpretado pelo ótimo Toby
Jones) e juntos começam a trabalhar em diversas teorias que vão de análise
progressões de números primos até teorias que futuramente ajudariam a
esclarecer os mistérios dos buracos negros.
Em uma época onde brilhavam mentes como a do filósofo e
matemático Bertrand Russell (que por sinal, aparece no filme, interpretado por Jeremy
Northam), surge o tímido, introspectivo e lotado de fé indiano que mudaria os
rumos da matemática nas décadas futuras (e até hoje!). Ramanujan, muito bem detalhado
no filme, dizia que suas fórmulas matemáticas vinham de sonhos e seus grandes
embates com seu tutor Hardy eram sobre isso. Esse último queria que Ramanujan
provasse sempre o caminho matemático que o levou a escrever suas teorias, quase
que um ou dois passos atrás nas ações do genial matemático. Mas essa cobrança
era para o bem dele, o desenvolvimento não só matemático mas social/vital do protagonista
é notório e surge também por conta do excelente e emocionante trabalho de Dev
Patel. Nessa relação de Gênio e Tutor havia um contraste muito grandes quanto a
fé e emoções, discussões calorosas e diálogos muito interessantes deixam o
espectador com a sensação de angústia e aflição em muitos momentos. O passar
esses sentimentos através das interpretações é uma conexão fundamental para que
o público lembre desse belo trabalho durante bom tempo.
Os laços familiares ganham pequena parcela no roteiro.
Talvez o elo mais fraco na história, a superfície é o máximo que se alcança
nessa parte. Por mais que mostre com eficácia, uma boa parte da cultura e os conflitos
vindos de uma fé exigente, a sua relação distante, apresentada pelo filme, com
a esposa e a mãe que moram em Madras (Índia), onde Ramanujan nasceu, deixam a
outra parte da história muito mais interessante. No seu desfecho, bastante
emocionante por sinal, esses laços familiares ganham um pouco mais de força mas
não deixam de ser parte coadjuvante do filme.
Ramanujan publicou mais de 30 artigos e foi empossado na
prestigiada Royal Society. Suas contribuições no mundo da matemática são
gigantescas e muitas de suas teorias, encontradas após seu precoce falecimento,
vão levar décadas para chegarmos a entendê-las (de tão complexas). Ele dizia
que todo número tinha sua importância, o 1729, por exemplo, é um belo número: é
o menor inteiro formado pela soma de dois outros inteiros elevados ao cubo! Esse
grande ser humano merecia um filme como esse, com inúmeras qualidades e muito emoção.
Ramanujan não só viu o infinito mas conseguiu um lugarzinho no coração de todos
nós que pensamos sobre as leis do universo. Bravo!