O lado bom da vida é descobrirmos, cada dia que passa, mais
sobre ela. Dirigido pelo cineasta colombiano Rodrigo García, diretor do
fabuloso Albert Nobbs, Últimos Dias no Deserto conta uma passagem
na vida de Jesus Cristo, quando o mesmo passa por um grande desafio em relação
a sua fé. Para o papel do protagonista, o experiente e sempre ótimo Ewan McGregor
que mais uma vez consegue desempenhar com louvor um excelente e difícil
personagem. Com uma fotografia belíssima, uma trilha sonora delicada que compõe
todos os momentos do filme, da aflição ao conflito das emoções, o longa
metragem exibido no Festival de Sundance do ano passado é um achado delicado,
um drama com pitadas religiosas que fará cada espectador pensar melhor sobre
sua própria vida e suas esperanças que crescem e morrem durante nossa
trajetória na Terra.
Na trama, baseado no Velho Testamento, acompanhamos Jesus (Ewan
McGregor) viajando totalmente sozinho pelo deserto alguns dias. Em jejum,
caminhando muitas vezes sem saber a direção correta para Jerusalém, Jesus
encontra uma família, um menino com sonhos a realizar e um pai com uma visão descrente
sobre o mundo que vive. Ao mesmo tempo, a personificação do Diabo põe totalmente
em cheque seu amor pelo pai e sua incrível fé.
A câmera de García é acolhedora, se apega aos mínimos
detalhes para mostrar as origens das pequenas aflições do filho de Deus durante
essa jornada. Cheio de cortes e com
cenas bem secas, um quebra cabeça sobre a figura santa de Jesus é montada de
maneira sublime. Seu confronto com a personificação do diabo (interpretado pelo
próprio McGregor), que ocorre durante boa parte da projeção, são memoráveis.
Conseguimos sentir toda a aflição que esses diálogos provocam no protagonista.
O paralelo do filme com as nossas vidas vem em forma das
escolhas que tomamos, principalmente nos diálogos e nas cenas com a família que
encontra no deserto. Além de também de focar quase que superficialmente, mas de
maneira poética, sobre enormes sentimentos que vivenciamos a todo instante. Em
muitos momentos, ótimo Tye Sheridan divide essas cenas sobre escolhas com McGregor.
Mesmo sendo meio paradão, o filme consegue ter dinâmica, fala sobre salvação,
escolhas, morte, vida, medo, traição, fé e amor de maneira que toca os corações
mais amargurados.
Ação ao invés de palavras, senão isso, silêncio. Essa fita
corajosa que se protege de qualquer crítica usando a simplicidade e falando
carinhosamente sobre a fé, é um trabalho impactante, marcante. Últimos Dias no Deserto é um livro
aberto sobre a reflexão que precisamos ter sobre nossas vidas principalmente
quando estamos em dúvidas de nossa capacidade de acreditar em dias melhores.