A luta pela sobrevivência é uma questão de persistência. O
drama camuflado de thriller Trapped (sem
tradução para o Brasil), dirigido Vikramaditya Motwane é uma daquelas histórias
inusitadas do cotidiano que acabam ganhando contornos épicos pelas lentes de um
bom diretor e um ator protagonista inspirado. O filme, basicamente, fala sobre
a sobrevivência, nossos instintos mais humanos e ainda provoca discussões no
campo religioso. Diretamente na Índia, esse belo trabalho deixará você com os
olhos grudados na tela e ainda imaginando teorias sobre seu final.
Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Shaurya (Rajkummar
Rao) que após criar coragem consegue se declarar para uma outra jovem que
trabalha em uma empresa com ele. Só que
tem um problema, a jovem está com data de casamento marcada com uma outra
pessoa (o famoso casamento arranjado). Para tentar continuar com seu grande
amor, o protagonista precisa encontrar um lugar para eles morarem em menos de
dois dias. Por circunstâncias do destino, consegue um apartamento no último
andar de um edifício em fase de espera do alvará para poder ser habitado. Na
primeira noite que se muda para lá, quando acorda, Shaurya deixa a porta da rua
bater com a chave do lado de fora. Totalmente sozinho, sem ter como sair do
apartamento e em um prédio desabitado, ele precisará de muita criatividade e
coragem para sobreviver.
O roteiro é cirúrgico. Define muito bem seus arcos, deixando
um grande espaço de clímax em seu miolo onde explora as ideias criativas que
surgem na cabeça do protagonista para sobreviver. Com apenas uma garrafa de
água, ele monta um engenhoso sistema de resgate da água da chuva, faz um estilingue
para tentar chamar a atenção dos vizinhos do prédio, mesmo estando a dezenas de
metros de altura, precisa definir se vai contra sua religião ou sobrevive
comendo um pombo. O filme não perde sua angústia em nenhum instante e isso é
algo excelente pois nos conectamos rapidamente com o que acontece em cena
tentando encontrar uma solução para o protagonista. Aliado a tudo isso, uma
atuação assombrosa do ator Rajkummar Rao, praticamente sozinho em cena durante
boa parte do filme, conquista a atenção do público.
Não é possível entender porque tantos poucos filmes indianos
chegam no Brasil. Será falta de observação das distribuidoras nacionais? O
último filme indiano que entrou no circuito exibidor que lembramos é o
espetacular Lunchbox, lançado pela
Imovision anos atrás. Um mercado tão influente na indústria como o indiano, com
tantos cineastas excelentes, merece cada vez mais ter espaço por aqui. Pena que
a maioria dos nossos cinemas que ainda continuam muito norte americanizados.