Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que
fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura rotina impossibilitada do
sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e
precisa lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky
(Bicho de Sete Cabeças), é um filme
que emociona e gera reflexões, aliada a uma impactante atuação da atriz Maria
Ribeiro que consegue prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de
Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo
ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos anos terem protagonistas
femininas tão marcantes, inesquecíveis.
Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira
que está em crise no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no
emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia atordoante de sua
mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai Homero (Jorge Mautner) na verdade
não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma
grande transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.
Uma super heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar
seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu
casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma perturbação
inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto
cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje. Como para
todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como a
aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as explosões
em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação
irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e,
assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada
esquina.
Na parede da memória, a lembrança é o quadro que dói mais.
Epicentro, estopim, da virada na história e quando acontece a virada da
personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo
que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner)
afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as atitudes irresponsáveis
dele na vida.
Nessa última semana estreou Mulher-Maravilha nos cinemas.
Mas a história muito mais marcante, talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da
vida real, que troca a luta com super poderes por tentativas diárias de
conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz chega aos cinemas
brasileiros no final de agosto e você simplesmente não pode perder.