O confronto das palavras com o real. Concorrente a Palma de
Ouro na edição passada no Festival de Cannes, Geu-hu, no original, é um retrato
profundo sobre os sentimentos, suas razões e emoções quando afloram, fala
também sobre a existência e maneiras de pensar sobre, não deixando de lado a forma
como enxergamos as visões dos outros. Fragmentado quase em capítulos
desordenados, com um preto e branco maravilhoso de pano de fundo, O Dia Depois mostra mais uma vez a
todos o imenso talento do cineasta sul coreano Hong Sang-soo que nos apresenta
a arte de decifrar as filosofias do universo de maneira madura e ao mesmo tempo
as incertezas imaturas dos relacionamentos.
Na trama, conhecemos Song Areum (Min-hee Kim), uma jovem que
vai para o primeiro dia de seu novo emprego em uma pequena editora comandada
por Kim Bongwan (Hae-hyo Kwon). Se identificando demais com seu novo chefe
durante os longos diálogos que participam os dois durante um almoço, tudo ia
muito bem. Mas certa hora do dia, a esposa do seu chefe aparece de surpresa e
começa a tirar satisfações com Areum sobre uma possível traição com seu marido.
A partir disso, embarcamos em uma viagem rumos as verdades dessa delicada
situação, principalmente quando a verdadeira amante de Kim Bongwan volta a cena.
A estética é exuberante. Entre os zooms e os paralelos da
lente do ótimo Hong Sang-soo conhecemos uma curiosa história preenchida
detalhadamente com diálogos inspirados. O inusitado faz com que o drama no dia
de Areum vire quase uma comédia pastelão, por conta das absurdas idas e vindas
provocados pelo perturbado e indeciso chefe da editora, interpretado pelo
excelente ator Hae-hyo Kwon. Repleto de lições de moral que não duram dois
minutos, a gangorra dos acontecimentos do quarteto criado é pra lá de cômico e
explica bastante sobre as características dos personagens.
Estimado em 100 mil dólares, valor consideravelmente baixo, O Dia Depois chega nos próximos meses
no circuito brasileiro. Um filme poderoso, de diálogos intensos, onde os
personagens lutam a todo instante atrás das curas que encontram facilmente em palavras mas somente às vezes na
realidade.