28/07/2020

Crítica do filme: 'Verão em Berlim' (Sommer vorm Balkon)


As entrelinhas da monotonia de um cotidiano sempre em crise. Utilizando a tática do ‘ritmo labirintesco’, o que de fato se aproxima da realidade, Sommer vorm Balkon, no original, lançado faz 15 anos na Alemanha e dirigido pelo competente cineasta Andreas Dresen explora as ações e consequências de uma classe média perdida em uma europa em constante transformações. Os contrapontos entre as idas e vindas dentro das situações da vida das duas amigas protagonistas coloca o que vemos sempre em pontas opostas, mostrando dor e sofrimento com pitadas de esperança. O roteiro assinado pelo alemão Wolfgang Kohlhaase se pergunta a todo instante, implicitamente falando: afinal, o que é felicidade?

Na trama conhecemos Katrin (Inka Friedrich) e Nick (Nadja Uhl), duas inseparáveis amigas que estão perto dos 40 anos e ainda não conseguem encontrar rumos em alguns campos de suas respectivas vidas. Quando a segunda, uma leitora assídua de Stendhal, começa um relacionamento com um caminhoneiro que leva tapetes pelas estradas da Alemanha, a primeira, que enfrenta forte preconceito por sua idade nas entrevistas de trabalho que vai, entra em certo desespero mas aos poucos começa a entender melhor toda a situação. Composto por pequenos recortes do cotidiano dessas duas ótimas personagens, o filme navega pelos conflitos europeus bastante atuais.

A classe média e seus problemas. Só por tocar nesse tema, o projeto seria um grande palco para análise de antepassados economistas e sociólogos. As reflexões do medo mas nunca deixar de tentar, transforma jornadas em ações longe de uma perfeição nos vários campos da vida: no amor, nas relações interpessoais, nas profissões. Há uma melancolia no ar que é facilmente detectada pelos olhos mais atentos, como se as personagens abrissem portas e sempre do outro lado tem a mesma coisa. Mas por conta disso a fita é honesta e bastante próxima da realidade, afinal, aqui desse lado da telona o dia a dia de muitos se reflete a enormes decepções e fragmentos de felicidade que se tornam poeiras em pouco tempo.