Figura presente em diversos festivais de cinema pelo Brasil,
dono de um texto maravilhoso sobre a arte de que tanto ama, nosso convidado é o
cinéfilo mais ranzinza que eu conheço e automaticamente um dos que mais
respeito e adoro conversar, Francisco (Frank) Carbone. Crítico de cinema,
jornalista. Se você digitar o nome dele no Google, vai ser creditado em tanto site
e matérias que deveria virar tema de documentário sobre cinéfilos. Com vocês,
meu amigo, Frank.
Obs: Não esqueço do dia que na cabine de Me Chame pelo Seu Nome, no RJ (mais
especificamente numa das salas do Grupo Estação), produzido pelo querido cinéfilo Rodrigo Abreu Teixeira. Quando acaba a sessão encontro Frank aos prantos.
Bonito ver o quanto uma obra pode emocionar até os amigos mais rabugentos J
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Grupo Estação,
especificamente os da Voluntários da Pátria. Bom, é lá que me sinto à vontade,
que vejo os grandes filmes em cartaz, que me sinto à vontade, que encontro
amigos, que troco ideias e, muitas vezes, afetos.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Bom, creio que você esteja falando da experiência
cinematográfica completa, e não filme visto em casa. Pois bem, o primeiro filme
que lembro de ter sentido um arrepio diferente dentro da sala de cinema, foi o Almas Gêmeas, do Peter Jackson. O assisti numa sala que não existe mais, e por lá,
vendo um filme adulto e sozinho, bateu uma certeza diferenciada.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Da vida, Bergman
- meu preferido é Persona, acho. São
tantas obras-primas desse mestre... entre os que estão vivos, Paul Thomas Anderson. Também ele me embolo
pra decidir o melhor, mas vou de Boogie
Nights, a despeito de inúmeros filmaços.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Bandido da Luz
Vermelha, do Sganzerla. Porquê?
Ah, é a minha praia o desafio, a ousadia, o risco, a experimentação.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo é, acima de tudo, não apenas amar o cinema como
complementar a sua visão com inúmeras trocas infinitas com outros como você.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Eu acredito que uma parte dessas pessoas entende, mas não
todas. E nem sei dizer se seriam a maioria, mas sinto que existe uma
mentalidade que precise combinar o conhecimento com a necessidade de cada
espaço.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Os 'coveiros do cinema' existem desde o início do mesmo.
Passaram pelas guerras, pela TV, pela Internet - acho que estão todos errados.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Ghost World, de Terry Zwigoff, é um dos filmes
emblemáticos da minha vida, creio que poucos viram.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Acho que não. Na verdade, eu acho que essa correria de
buscar datas para coisas como Tenet é
prejudicial não apenas ao cinema como negócio como principalmente às obras.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Essa última década o nosso cinema deu um salto qualitativo
que tem a ver com a descentralização do mesmo, da amplitude de olhares que
invadiram várias tribos, idades, sexos e lugares, e nos colocou num patamar
onde estamos de igual pra igual com o melhor cinema produzido no mundo, seja de
que parte for.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Atualmente estou fascinado por Grace Passô, em todas as vertentes que esse colosso de artista se
apresente. Nossa melhor tradução hoje.
12) Defina cinema com
uma frase:
O cinema me salva desde a adolescência, e hoje vai além da
minha vida - é um desdobramento meu.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Nossa, eu já vi de tudo. Já vi gente sendo retirada
carregada de uma sessão de Blue Jasmine
(Woody Allen), já vi críticos
extremamente mal educados dentro da sessão de Cães Errantes (Tsai
Ming-Liang), já vi bate boca por assento, já vi pessoas morrendo de rir em
'Saló' (Pasolini), já vi pessoas muito loucas aplaudindo uma sessão de
'Lendas da Paixão' (Edward Zwick)...
e muita coisa que eu não lembro agora. Comigo, duas situações inusitados - eu
caindo da cadeira na sessão de Mapas
para as Estrelas e dando esporro em espectadores em Árvore da Vida (Terence
Malick).