Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a
comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um
humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando
para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da
sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo
ou não.
Nessa semana, convidamos Clarissa Kuschnir, jornalista especializada em cinema que começou
sua carreira no audiovisual em algumas revistas como Ver video e Preview.
Além dessas publicações citadas, a nossa convidada já trabalhou em diversas
áreas da indústria cinematográfica brasileira: já foi repórter, crítica,
assessora de imprensa, júri em festivais de cinema, curadora e produtora.
Fatores que contribuíram para ser cada vez mais cinéfila, se tornando inclusive
uma grande colecionadora de filmes. Nas redes sociais, Clarissa sempre comenta
com bastante argumentação sobre os mais diversos assuntos ligados a essa arte
que amamos.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Em relação a programação mais independente fico com o CineSesc, que durante o ano inteiro
promove mostras de diferentes diretores mundiais. Nos últimos meses, antes da
quarentena, eu vinha frequentando bastante também a Cinemateca. Me bate uma tristeza de saber o que estão fazendo, como
esse nosso patrimônio. Quanto ao circuito comercial, eu gosto muito das salas
do Cinépolis, principalmente as do
complexo JK Iguatemi.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e
pensado: cinema é um lugar diferente.
São tantas lembranças da infância. Frequento salas de
cinema, desde muito pequena. E eu ia muito aos cinemas de rua da Avenida Santo
Amaro, aqui em São Paulo (entregando a idade rs). Minha mãe me lembrou outro
dia, que eu fiquei encantada com a animação Bernardo e Bianca, da Disney.
Mas dois filmes que mexeram muito comigo foram: Os Saltibancos Trapalhões (nunca esqueço minha emoção ao final do
filme) e E.T, que eu tive a
oportunidade de assistir naquelas salas enormes do centro de São Paulo (os meus
tios avós me levaram). E eu lembro que eu tive que ficar sentada no chão, pois
o cinema estava lotado.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Sergio Leone, e
claro, Era Uma Vez na América.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Poxa, difícil de responder, pois sou muito ligada ao nosso
cinema. Mas vamos lá. Depois que assisti A
História da Eternidade, do pernambucano Camilo Cavalcante, ele se tornou meu filme número 1 da lista. Acho
que A História da Eternidade é tão
universal. Ele é pura poesia, retrata um Brasil que muitos desconhecem mas de
forma muito sutil, encantadora e muito emocional. Sem contar as belezas do
sertão sendo retratadas ali, com uma das mais belas fotografias que eu já vi,
no cinema nacional.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Eu acho que o cinema me traz tantos aprendizados, além de
entreter claro. Sem contar que ele já me levou para tantos lugares, tantos
festivais e me fez conhecer tantas pessoas bacanas. Mesmo nos momento mais
difíceis, não tem como um bom filme, não nos fazer bem. A prova disso é pelo
momento mundial que estamos passando e os filmes, além da arte são um bálsamo
para nós. Sem contar que esse é o meu trabalho. Foi o que sempre quis
fazer. E Já fiz tantas coisas dentro
desse universo. Agora só falta dirigir...
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece
possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
Eu acho que cada cinema tem seu público especifico. Então,
para cada tipo de complexo, há um tipo de programação. O que eu penso é que
alguns programadores poderiam olhar melhor para o cinema independente
autoral e, para cinema nacional. E sou defensora de que
se possa trazer de voltas os curtas, para as salas de cinema. Mas para isso
acontecer é preciso ir atrás, aprender e até entender melhor o que acontece
fora dos grandes circuitos comerciais.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Isso eu nunca achei. Mesmo na época do boom do mercado de
vídeo (e olha que minha formação cinéfila, se deve muito a esse mercado) eu
achei que os cinemas fossem acabar. A experiência de se assistir a um filme em
sala de cinema é única. É uma imersão de algumas horas ali sem o contato com o
mundo, que traz as mais diferentes emoções.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Eu vou citar aqui o ótimo e divertido filme uruguaio Whisky do diretor Juan Pablo Rebella (falecido em 2006) e Pablo Stoll, que eu acho que muitas
pessoas não viram. Se puderem vejam!!!
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Outra pergunta complexa para nós cinéfilos, pois mesmo com
todos os protocolos de segurança, acho muito complicado (pelo menos para mim)
entrar em uma sala de cinema, nos próximos meses. O problema é que no Brasil,
as pessoas não respeitam as regras. Se na ruas, muitas pessoas não estão
respeitando nem o uso de máscaras, imagine em um lugar fechado (mesmo com a
obrigação do uso). Como será esse controle? Tanto de limpeza quanto de controle
de público.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Sou suspeita para
falar. Acompanho há muito anos, afinal de contas, cresci vendo o cinema dos Trapalhões. E, desde a retomada, em
meados dos anos 90 e com a criação do Ancine nos anos 2000, além de leis de
incentivo, nosso cinema tem se diversificado e muito. Sem contar, os cineastas
que fazem cinema na guerrilha. Temos muita coisa de qualidade, mas que muitas
vezes, esses filmes não têm uma boa distribuição e não chegam ao grande
público. Sem contar que a cada ano, o número de curtas metragens tem aumentado
em quantidade e qualidade. Temos muito festivais independentes acontecendo (principalmente
no interior). O nosso maior problema agora é a nossa atual política que ameaça
toda uma cadeia que levou tantos anos para se consolidar.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Irandhir Santos.
12) Defina cinema com
uma frase:
Quanto mais cinema melhor.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
Eu frequentava muito o Cine
Mam (que não tem mais), aqui em São Paulo. Aí uma vez eu estava assistindo
ao filme Tokyo-Ga em uma Mostra do Wim Wenders. Estava tudo silencioso,
até que um maluco começou a mexer em um saco plástico. Mesmo com as pessoas
chamando a atenção dele, ele não parava. Ele ficou praticamente o filme
inteiro, mexendo naquele saco. Pode uma coisas dessas???