Nosso convidado de hoje é cineasta e mineiro, da cidade de Conselheiro Lafaiete. Atualmente
reside no RJ. Colaborador do site Cine Set, recentemente disponibilizou no
Youtube o seu primeiro curta-metragem, o documentário Só para Loucos. Já trabalhou
com o grande Bigode (Luiz Carlos Lacerda) como assistente de
direção no longa-metragem Introdução à
Música do Sangue e na série Rua do
Sobe e Desce, Número Que Desaparece exibida pelo Canal Brasil. Para contar um pouquinho sobre seus pensamentos
cinéfilos, enviamos as nossas pergunta dessa coluna para o querido cinéfilo
Diego.
1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a
programação? Detalhe o porquê da escolha.
Por morar em Botafogo, frequento bastante as salas do Grupo Estação e o Espaço Itaú de Cinema. A programação de ambos é sensacional, pois
consegue mesclar filmes autorais de diversas nacionalidades com o melhor do
cinema comercial.
2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado:
cinema é um lugar diferente.
A primeira vez que pisei numa sala de cinema foi em 1999,
para assistir à animação Tarzan, da Disney. Eu tinha 7 anos de idade. Até
então, eu só assistia filmes em uma TV de tubo. Imagina o que significa para
uma criança ver pela primeira vez uma projeção numa tela gigantesca! Para mim
foi um grande acontecimento.
3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?
Stanley Kubrick, dentre os estrangeiros. Laranja Mecânica me causou um impacto muito grande quando o assisti
pela primeira vez, aos 12 anos. Kubrick era um cineasta obcecado pela
perfeição, e isso está impresso em cada fotograma de seus filmes. Dentre os nossos
diretores, me identifico muito com o Cacá
Diegues. Sou apaixonado pelo seu cinema popular brasileiro e considero Bye Bye Brasil a sua obra-prima.
4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?
Central do Brasil, de Walter Salles.
Um filme extremamente brasileiro, mas que carrega uma mensagem universal que
conquistou o mundo inteiro. Não é à toa que trouxe para o Brasil prêmios
importantes como o Urso de Ouro, o BAFTA e o Globo de Ouro, além da primeira
(e, até hoje, única) indicação de uma atriz brasileira ao Oscar. Inclusive, ainda
é difícil de acreditar que Central do
Brasil perdeu o Oscar para um xarope como A Vida é Bela.
5) O que é ser cinéfilo para você?
Para mim, ser cinéfilo é ver o cinema muito além do que um
simples entretenimento.
6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você
conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
Sim. O problema é que maior parte desses programadores entendem
apenas de cinema comercial. São poucos os que conseguem montar uma programação
diversificada que atenda todos os públicos. Isso piorou com as redes multiplex
que invadiram os shoppings e transformaram as salas de cinema em lanchonetes
que passam filmes. Eu venho do interior de Minas Gerais, e nas poucas cidades
do interior que possuem salas de cinema, a situação é ainda pior. A programação
é péssima, praticamente todos os filmes são blockbusters e com cópias somente dubladas.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
De jeito nenhum! Apesar da praticidade dos serviços de
streaming e home video, importantíssimos na democratização do acesso aos
filmes, nada substitui a experiência de assistir a uma projeção numa sala de cinema.
O que pode acontecer é a diminuição de salas, como ocorreu nos anos 90 durante
o boom das fitas VHS. Mas, se o cinema sobreviveu às videolocadoras, não vai
ser a Netflix que vai acabar com
ele.
8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é
ótimo.
Shortbus (2006), de John
Cameron Mitchell. Um filme underground com roteiro aberto, diálogos
improvisados e personagens criados a partir de experiências pessoais dos próprios
atores.
9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de
termos uma vacina contra a Covid-19?
Seria maravilhoso, desde que sejam tomadas todas as
medidas de segurança por parte dos cinemas. Melhor ainda seria se o brasileiro
respeitasse essas medidas.
10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro
atualmente?
Como toda cinematografia, temos filmes muito bons e filmes
muito ruins. Sempre foi assim. De qualquer forma, como disse o historiador e
crítico Paulo Emílio Sales Gomes:
"Até o pior filme brasileiro nos diz mais que o melhor filme
estrangeiro."
11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.
Sonia Braga. Só o seu nome já é sinônimo de cinema brasileiro, é a
nossa musa máxima. E, sempre que temos a oportunidade de tê-la filmando por
aqui, é impossível não acompanhar o seu trabalho.
12) Defina cinema com uma frase:
Cinema é a minha religião.
13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala
de cinema.
Foi numa sessão de estreia da animação Viva – A Vida é Uma Festa, da Pixar. Quando o filme terminou e as
luzes se acenderam, todos os adultos estavam chorando. Desde os pais ou avós
que levaram suas crianças até os marmanjos que foram sozinhos ver o filme, como
eu.
14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...
Talvez o nosso melhor “pior filme”. A sequência final é
antológica!
15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha
que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?
Não necessariamente. Mas não consigo entender uma pessoa
que queira trabalhar com cinema e não gosta de assistir filmes. Porque todo bom
cineasta traz consigo referências das obras que assistiu ao longo da vida. E,
quanto mais ele expandir o seu conhecimento, mais bagagem ele terá para
realizar um bom trabalho. É importante ter contato com as cinematografias dos
mais diversos países, especialmente a nossa. Como levar a sério um diretor que
quer fazer filmes no Brasil, mas não conhece nada de cinema brasileiro???