Nosso convidado de hoje é cineasta e cinéfilo! Santiago
Dellape realizou um longa-metragem, dois telefilmes e seis curtas que ganharam
mais de 40 prêmios. É formado em Audiovisual e Jornalismo pela UnB, com estudos
em Teatro, Cinema e TV pela UCLA (EUA). A
Repartição do Tempo, seu 1º longa, foi premiado no 37º Fantasporto, em Portugal, e distribuído nos cinemas pela O2 Play. Dirigiu o telefilme de Natal Meio Expediente, coproduzido pela Globo Filmes e exibido em 77 países
pela Globo Internacional.
Obs: Conheci pessoalmente esse grande cinéfilo num antigo
cinema em jacarepaguá onde ele seria exibido o ótimo A Repartição do Tempo, seu primeiro longa-metragem. Espero que nos
encontremos amis vezes querido cinéfilo!
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Atualmente é o Cine
Drive-In de Brasília, que até pouco tempo atrás era o último da América
Latina. Agora com a pandemia estão surgindo outros em várias cidades, mas eu
fico com a tradição do nosso, que existe desde 1973 e que foi cenário do filme O Último Cine Drive-In, do Iberê Carvalho. Num passado que agora
parece remoto eu escolheria a programação do Cine Brasília, sempre de muito bom gosto e com filmes de fora do
circuito, além de ser palco do Festival
de Brasília – que esse ano, dizem, deve migrar pro Drive-In.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que lembro de ter assistido no cinema foi Batman, de Tim Burton, devia ter uns seis anos de idade. Foi num cinema de rua
que hoje não existe mais, o Cine Karim,
que ficava numa área arborizada da superquadra onde morávamos. O filme me
causou um tremendo impacto e lembro de ter ficado muito tempo impressionado com
o assassinato do casal Wayne. No Natal daquele ano eu ganhei um saco de risadas
do Coringa.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Stanley Kubrick - O
Iluminado
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Cidade de Deus –
não só pelo virtuosismo técnico e pelo abalo sísmico que provocou na época, mas
porque eu havia acabado de começar a fazer cinema quando o filme foi lançado,
então CDD me influenciou e continua influenciando significativamente até hoje.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Pegando a dica de um amigo, gosto de pensar no cinéfilo mais
como alguém que ama os filmes do que necessariamente alguém que assiste um
filme atrás do outro. De outra forma eu não poderia me considerar cinéfilo
(rs). Acho que não assisto a tantos filmes quanto gostaria ou deveria enquanto
diretor, mas amo o ritual – principalmente o de reassistir aos prediletos.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Nunca me detive na questão, mas gostaria de acreditar que
sim. É complicada essa definição “entender de cinema”, traz a noção de que o
cinema precisa ser decifrado, quando prefiro crer que está acessível a todos.
Por outro lado se for no sentido de “estudar”, acho que sim: o ideal é que a
programação seja feita por pessoas que estejam constantemente estudando, ou
seja, ampliando seus horizontes e assistindo aos mais diversos filmes, das mais
diversas cinematografias.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Duvido muito. Talvez as salas precisem se readaptar aos
novos tempos, mas não acho que a humanidade vá renunciar ao rito coletivo de se
assistir a filmes numa tela grande, dentro de uma sala escura. É um hábito já
por demais entranhando em nós e minha aposta é de que ele ainda vai nos
acompanhar por milênios, assim como o teatro.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Crimes Temporais
(Los Cronocrímenes), de Nacho Vigalondo.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Nas cidades que cumpriram o isolamento e já observam
achatamento da curva de infectados, e desde que sob um protocolo rígido de
distanciamento e desinfecção, eu acho possível – no entanto eu mesmo não me
arrisco nem recomendo!
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Altíssima qualidade. Desde o mais nutritivo enlatado à mais
sofisticada art house, temos cinema para todos os gostos. Penso que o mundo
enxerga essa qualidade também, e a presença constante e numerosa do Brasil nas
últimas edições do Festival de Berlim e de premiações internacionais como um
todo é prova disso.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Camilo Cavalcante,
diretor.
12) Defina cinema com
uma frase:
Amor sem palavras,
cinema mudo: não falo nada, você sabe tudo.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Eu e alguns amigos que fundamos a Lumiô Filmes em Brasília uma vez fomos convidados a nos retirar do Cine Brasília porque estávamos com um
garrafão de vinho Mioranza à tiracolo. Errados eles não estavam em nos
expulsar.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
É a coda perfeita para o Brasil da década de 90.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Seria bastante recomendável, mas indispensável não é.
Pode-se trabalhar como diretor contratado, sem qualquer envolvimento afetivo com
o projeto, mas tenho para mim que esse comprometimento sempre se reflete no
produto final.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Faces da Morte,
Traços da Morte e similares. Independente das mortes serem reais ou
encenadas olhando hoje em dia a ideia me parece abjeta, gostaria de poder
“desver”.
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