05/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #6 - Alysson Oliveira

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Mestre e doutorando em Letras pela FFLCH-USP, o jornalista e crítico de cinema Alysson Oliveira, uma das pessoas mais gentis e educadas desse universo do audiovisual brasileiro, é o convidado de hoje da nossa coluna sobre cinéfilos. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e sempre recheando a timeline dos sortudos ‘facebookanos’ que o seguem no site criado pelo Zuckerberg, com dicas sobre filmes e livros, Alysson tem um impressionante texto sobre filmes, que lemos sempre no Cineweb, site no qual escreve desde os anos 2000.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala preferida é o Itaú da Augusta, porque foi o primeiro “cinema de arte” a que fui (nem tinha esse nome, era Espaço Unibanco), e também por sua programação variada concentrando-se em filmes independentes e afins, também pela localização.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Leopardo, na escola, no final dos anos de 1990. Foi uma descoberta de “filme antigo”, que ia muito além do que via até então – basicamente Hollywood. E se tornou um dos meus filmes favoritos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários, mas escolho, então, Stanley Kubrick e seu Barry Lyndon, que depois de ver várias vezes na tela da televisão, pude ver no cinema, na Mostra de 2013 – e, depois disso, nunca mais tive coragem de ver novamente na tela da televisão.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

S. Bernardo, pela sua austeridade formal, e a maneira como Leon Hirszman colocou na tela a prosa de Graciliano Ramos, dando vida a um mundo decadente e de disputa de poder e propriedade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Não sei muito bem, talvez alguém cujo senso crítico tenha sido desenvolvido a partir de ver filmes quase que indiscriminadamente.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria não  - levando em conta que conheço vários Cinemarks, Kinoplex, e afins – mas os que frequento, como os Itaús, Cinesesc, Belas Artes e Reserva Cultural, sim. Esses são cinemas claramente programados por pessoas que entendem do assunto.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, e também não deverão se render a modismos, como exibição de shows etc. Acredito que uma parte das salas se adaptarão, mas continuarão sendo cinema, exibindo filmes.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Morvern Callar, da escocesa Lynne Ramsay. É um filme sobre uma crise existencial, sobre uma mulher que precisa descobrir a si mesma, e cai no mundo para isso. Tem algo de Antonioni.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, de forma alguma. É um risco de contágio enorme não apenas para frequentadores, mas, principalmente, funcionários que deverão se deslocar até o trabalho, a maioria, em transporte público.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A produção brasileira vinha bastante boa, até que, nos últimos meses, diminuíram os investimentos e incentivos. Não sabemos o que vai acontecer daqui pra frente. Vamos torcer que não seja algo como na Era Collor, quando se fazia, com sorte, um filme por ano. Não creio que hoje chegue a esse limite, mas, desconfio que, infelizmente, a produção nacional sofrerá um baque.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant. Acho-o um dos maiores diretores brasileiros de todos os tempos. Seus filmes são perspicazes na figuração do Brasil e de uma subjetividade brasileira – especialmente da classe média – no século XXI.


12) Defina cinema com uma frase:

É onde a realidade fica escancarada, mesmo que possa parecer o contrário.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Minha primeira ida ao cinema. Devia ter uns 3 anos, e fui ver ET. Tinha medo do escuro, e cheguei com o filme já começado, com aquele monstro assustador na tela, gigantesco. Chorei de medo o filme inteiro. Fiquei mais de dez anos sem ter coragem de ir ao cinema. Só na adolescência que fui novamente.