Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a
comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um
humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando
para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da
sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo
ou não.
Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de
Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque
Virtual, o cinéfilo Zeca Seabra
é visto constantemente em mesas de bate papo sobre cinema ou entre uma sessão e
outra nos cinemas de Copacabana, no Rio de Janeiro. Formado pela PUC-RJ em
Comunicação Social na década de 80, Zeca é um dos mais queridos críticos de
cinema da capital carioca. Conversar com ele sobre cinema é sempre
enriquecedor e o papo dura horas e horas! Com tanta história para contar sobre esse
universo mágico audiovisual, convidamos o jornalista para responder nossas
perguntas.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Tenho uma ligação muito profunda com Copacabana (bairro que
morei 1/3 de minha vida). Frequento o Roxy
desde adolescente por ser um dos cinemas de rua mais imponentes da cidade
(1.600 lugares) e pela facilidade de acesso. Depois da reforma nos anos 90,
continuei frequentando as 3 salas que, para minha surpresa, mantém uma
programação variada e eclética. O Roxy
faz parte do Festival do Rio e todo
ano dou preferência à sua programação.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Eu tinha 10 anos quando fui no Metro Copacabana assistir 2001
- Uma Odisséia no Espaço com meu pai e fiquei extasiado com a ópera futurista
de Kubrick. Foi quando caiu a ficha
que o cinema era algo mais que uma simples diversão.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Kubrick - 2001 e Barry Lyndon
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Tenho profundo respeito por Central do Brasil, que foi um filme com uma tremenda identidade
brasileira mas com características universais. A história da jornada de dois
seres diferentes que desbravam um país gigantesco para encontrar suas raízes,
me toca profundamente. Além disso, temos
o reconhecimento internacional da primeira e única indicação de uma atriz
brasileira ao Oscar.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfilo não é ter uma atitude passiva e sentar numa
poltrona e dizer para a tela: Me divirta. É participar e manter um diálogo
frequente com a arte e reconhecer que em cada filme existe uma referência e um
tema que não estão visíveis.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Eu diria que a menor parte faz isso. Em cidades como RJ e
São Paulo, o leque é bem mais amplo e tem profissionais que realmente entendem
de cinema, mas basta ir um pouco para as periferias e verificar a péssima
qualidade da programação que entopem as salas com os mesmos blockbusters em
horários alterados.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Espero que não. E falo isso com receio, pois vejo uma nova
geração preguiçosa viciada em cultura rápida e cômoda que não frequenta cinema
porque em poucas semanas terão os filmes na palma da mão.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Uma Vida Oculta (A Hidden Life) do Terrence Malick. Passou em circuito pouco antes da pandemia
explodir. É um belo trabalho do Malick
baseado numa história real de um camponês austríaco que se recusou a lutar pelo
nazistas transformando-se num mártir da 2º Guerra. Planos de tirar o fôlego.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não saberia responder esta pergunta com alguma certeza. Por
um lado, acho que muitas salas não irão resistir até a descoberta de uma vacina
em ampla escala, o que é uma pena. Por outro, acho arriscado confinar um grupo
de pessoas em ambiente fechado por quase 2 horas. É uma questão muito
complicada.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O grande problema do nosso cinema é a distribuição
comercial. O grande público só tem acesso às comédias populares, deixando de
assistir filmes com mais conteúdo crítico. No entanto muitos cineastas
brasileiros estão mais preocupados com o reconhecimento internacional que seu
filme terá em festivais e mostras abrindo mão de uma linguagem mais acessível.
Alguns excelentes filmes nem entram em circuito nacional e essa briga não é
saudável pois gera uma enorme necessidade de insumos, patrocínios e suportes
para o cinema sobreviver. O cinema tem que ir até o público e não ao contrário.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Marcélia Cartaxo.
Desde A Hora da Estrela de 1985,
sigo o trabalho desta fantástica atriz nordestina. Seu último trabalho, Pacarrete, infelizmente não chegou ao
circuito comercial pelas razões citadas acima, o que é uma pena.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é sonhar de olhos bem abertos
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.
No meio de uma sessão no Itaú Unibanco em Botafogo, um gato
pulou no meu colo me dando um susto tremendo. O animal entrou pela porta dos
fundos do cinema e se escondeu numa das salas, aparecendo no meio da sessão.
Ficou no meu colo até o fim da sessão e depois fugiu.