05/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #5 - Zeca Seabra

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual, o cinéfilo Zeca Seabra é visto constantemente em mesas de bate papo sobre cinema ou entre uma sessão e outra nos cinemas de Copacabana, no Rio de Janeiro. Formado pela PUC-RJ em Comunicação Social na década de 80, Zeca é um dos mais queridos críticos de cinema da capital carioca. Conversar com ele sobre cinema é sempre enriquecedor e o papo dura horas e horas! Com tanta história para contar sobre esse universo mágico audiovisual, convidamos o jornalista para responder nossas perguntas.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho uma ligação muito profunda com Copacabana (bairro que morei 1/3 de minha vida). Frequento o Roxy desde adolescente por ser um dos cinemas de rua mais imponentes da cidade (1.600 lugares) e pela facilidade de acesso. Depois da reforma nos anos 90, continuei frequentando as 3 salas que, para minha surpresa, mantém uma programação variada e eclética. O Roxy faz parte do Festival do Rio e todo ano dou preferência à sua programação.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tinha 10 anos quando fui no Metro Copacabana assistir 2001 - Uma Odisséia no Espaço com meu pai e fiquei extasiado com a ópera futurista de Kubrick. Foi quando caiu a ficha que o cinema era algo mais que uma simples diversão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Kubrick - 2001 e Barry Lyndon

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho profundo respeito por Central do Brasil, que foi um filme com uma tremenda identidade brasileira mas com características universais. A história da jornada de dois seres diferentes que desbravam um país gigantesco para encontrar suas raízes, me toca profundamente.  Além disso, temos o reconhecimento internacional da primeira e única indicação de uma atriz brasileira ao Oscar.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo não é ter uma atitude passiva e sentar numa poltrona e dizer para a tela: Me divirta. É participar e manter um diálogo frequente com a arte e reconhecer que em cada filme existe uma referência e um tema que não estão visíveis.  

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu diria que a menor parte faz isso. Em cidades como RJ e São Paulo, o leque é bem mais amplo e tem profissionais que realmente entendem de cinema, mas basta ir um pouco para as periferias e verificar a péssima qualidade da programação que entopem as salas com os mesmos blockbusters em horários alterados.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. E falo isso com receio, pois vejo uma nova geração preguiçosa viciada em cultura rápida e cômoda que não frequenta cinema porque em poucas semanas terão os filmes na palma da mão.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Uma Vida Oculta (A Hidden Life) do Terrence Malick. Passou em circuito pouco antes da pandemia explodir. É um belo trabalho do Malick baseado numa história real de um camponês austríaco que se recusou a lutar pelo nazistas transformando-se num mártir da 2º Guerra. Planos de tirar o fôlego.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não saberia responder esta pergunta com alguma certeza. Por um lado, acho que muitas salas não irão resistir até a descoberta de uma vacina em ampla escala, o que é uma pena. Por outro, acho arriscado confinar um grupo de pessoas em ambiente fechado por quase 2 horas. É uma questão muito complicada.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O grande problema do nosso cinema é a distribuição comercial. O grande público só tem acesso às comédias populares, deixando de assistir filmes com mais conteúdo crítico. No entanto muitos cineastas brasileiros estão mais preocupados com o reconhecimento internacional que seu filme terá em festivais e mostras abrindo mão de uma linguagem mais acessível. Alguns excelentes filmes nem entram em circuito nacional e essa briga não é saudável pois gera uma enorme necessidade de insumos, patrocínios e suportes para o cinema sobreviver. O cinema tem que ir até o público e não ao contrário.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Marcélia Cartaxo. Desde A Hora da Estrela de 1985, sigo o trabalho desta fantástica atriz nordestina. Seu último trabalho, Pacarrete, infelizmente não chegou ao circuito comercial pelas razões citadas acima, o que é uma pena.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é sonhar de olhos bem abertos

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

No meio de uma sessão no Itaú Unibanco em Botafogo, um gato pulou no meu colo me dando um susto tremendo. O animal entrou pela porta dos fundos do cinema e se escondeu numa das salas, aparecendo no meio da sessão. Ficou no meu colo até o fim da sessão e depois fugiu.