28/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #66 - Giovanna Landucci


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa convidada de hoje é uma grande cinéfila paulistana. Giovanna Landucci desde pequena assistia com seu pai pilhas de fitas VHS que ele trazia aos fins de semana de filmes e desenhos animados. Ao final de cada história ele gostava de fazer um exercício com ela e seus irmãos de interpretar as mensagens do filme. Assistiram 500 vezes Karatê Kid com esse intuito, por exemplo. Ele sempre queria que Giovanna e sua família aprendesse algo daquilo que consumiam. Por isso escolheu se formar em Publicidade, Propaganda e Marketing e há dois anos começou a escrever críticas e elaborar resenhas dos filmes que assistia. Cinéfila de carteirinha, também se considera serie maníaca afinal, o streaming e as plataformas digitais ganharam um espaço na vida de todos que não há como voltar atrás e vieram para expandir as áreas do audiovisual. Mas além de tudo isso, também é geek e adora o universo pop dos super-heróis e das sagas que assistiu tantas vezes nos desenhos animados. Tem uma grande dificuldade em escolher favoritos e fazer listas, mas quando o dever chama, precisa descobrir o curador que existe dentro de si e ir atrás de realizar um ranking sempre que necessário.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Adoro cinema de rua. O meu destaque vai para três salas que se dedicam a trazer filmes nacionais e estrangeiros que são mais voltados a festivais e fora do circuito hollywoodiano os chamados filmes "cult" (apesar de eu não gostar muito dessa nomenclatura). São elas: Petra Belas Artes, Espaço de Cinema Itaú e Reserva Cultural.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Fui assistir Free Willy com minha mãe e meu irmão quando estreou no cinema. Meu pai sempre teve a "mania" de pedir que a gente interpretasse a mensagem do filme, para que a gente dissesse o que aprendeu, e nesse filme meu irmão pequenininho (acho que ele tinha uns seis anos de idade) falou pra minha mãe: "Você é a minha baleia" isso nunca saiu da minha mente e acho que é um dos motivos pelos quais hoje gosto de escrever sobre cinema pra enxergar e colocar na escrita as nuances, as analogias, metáforas, e camadas dos filmes.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Vixi, eu tenho um problema sério para criar listas e escolher favoritos. Mas, acho que serei clichê em dizer que Alfred Hitchcock com suas nuances de cinza, suas histórias ousadas, belas fotografias sempre me chamou a atenção. Psicose é um marco na história do cinema e Janela Indiscreta um dos meus favoritos, Os Pássaros tem cortes e fotografia lindos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Escolho um recente, apesar de inúmeros filmes maravilhosos que podemos apreciar, gosto muito de O Animal Cordial. Além de ser um filme que extrai o pior lado do ser humano e mostra nuances de terror psicológico, Gabriela Amaral Almeida conseguiu fazer terror brasileiro de um jeito que só víamos em Mojica e, fazê-lo com recurso, qualidade de som e imagem. Mas como nunca consigo ficar apenas com um, indico também Casa de Areia porque gosto de seu minimalismo.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar cinema independente do país de origem do filme e do gênero ou estilo cinematográfico isso inclui também as novas janelas streaming e plataformas digitais e filmes mainstream, blockbusters ou fora do circuito hollywoodiano.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, acredito que a programação é feita voltada para o público daquele cinema. Quem escolhe a programação e desenha a grade, faz os acordos comerciais e reserva as datas para as distribuidoras precisam ter certeza do que o público daquela localidade gosta e quer ver e, para isso, pode-se ter somente noção de marketing e vendas. Mas claro que conhecer e gostar de cinema sempre será um diferencial do local.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Eu espero que não. Cinema não é só exibição de filme em uma tela grande, é um mergulho em uma experiência.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Pode ser mais de um? brasileiro: Cinema, Aspirinas e Urubus. Um clássico internacional (daqueles que são uma aula de cinema): O Encouraçado Potemkin e O Piano.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, mas tendo em vista que abriram parques, academias, shoppings, comercio como um todo, não vejo porque manter cinemas fechados, desde que estes se comprometam a fazer limpeza de ar condicionado, higiene das salas, ter seguranças para garantir o uso de mascaras, seguir os protocolos de distanciamento, etc, mas se você me perguntar o que eu faria, não iria ao cinema até ter uma vacina e não teria aberto nenhum destes outros estabelecimentos.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Nos últimos 20 anos só tem melhorado. Temos muitos cineastas novos com bastante potencial e nosso cinema possui qualidade de som, imagem, montagem, fotografia que não deixa a desejar tanto é que muitos filmes são premiados ou indicados a prêmios em festivais internacionais de peso, como Cannes, Veneza e Berlim.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Vou ser clichê e dizer que amo Fernanda Montenegro seja uma pequena ponta ou um protagonismo ela é incrível e indispensável ao cinema nacional.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma expressão de arte que encanta e transmite vida.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Ahhhh fui assistir a um filme de terror (gênero que admiro mas que tenho muito medo ainda mais daqueles que possuem muito jump scare) e um casal sentado atrás de mim, a menina ria o tempo todo e narrava o que estava acontecendo no filme. Eu sou do tipo que pede pra pessoa respeitar e parar, me bateu um nervoso...

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O filme em si é ruim, diria que uma Lua de Cristal versão axé music, tem enquadramentos ruins, roteiro mal elaborado, cenas desnecessárias e as vezes mal feitas, mas retrata a realidade de muitos brasileiros do sertão nordestino que migram pra cidade grande em busca de melhorar de vida (o tal do êxodo rural) então tem sua parcela de importância na história do cinema nacional. Só que é por existir filmes assim, que lembram as chanchadas e o trash movie (ou filme B) que o brasileiro não valoriza nosso cinema.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Carl Gustav Jung falava muito sobre o inconsciente coletivo e sobre o homem e seus símbolos, a partir daí Campbell criou a teoria da Jornada do Herói que é utilizada para construção de roteiros. Acho que para se dirigir um filme precisa ter referências, não somente vivências e experiências próprias mas também, estudar muito (não é só ter feito faculdade de cinema e cursos técnicos da área) mas criar estas referências, ler bastante, ser antenado. Obvio que se somado a isso, você é cinéfilo e conhece muito de cinema, é um plus para sua paleta e construções que venha a realizar, afinal, quanto mais conhecimento, melhor!

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Atualmente 365 dias da Netflix. Mas sou do tipo que não acredita em filmes ruins, acredito que cada filme tem seu público alvo e sua mensagem, talvez porque eu tenha formação em publicidade eu enxergue desse jeito, mas, meus amigos cinéfilos e críticos costumam dizer que eu gosto sempre de tudo. Se bem que atualmente estou mais seletiva tanto é que pra mim 365 Dias é um desserviço e uma grande porcaria (nunca pensei que um dia eu fosse dizer essas palavras sobre um filme)

 

17) Qual seu documentário preferido?

Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos e Torre das Donzelas (eu avisei que não conseguia fazer lista pequena rs)

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Sim, filmes que encerram grandes sagas como por exemplo no caso de Star Wars e Vingadores me arrancaram palmas, e exibições de filmes brasileiros que mereceram o reconhecimento como foi o caso da oportunidade de assistir no Teatro Municipal dentro da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo a Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou e A Vida Invisível.