Hoje, que vamos entrevistar é uma das mentes mais cinéfilas que
existem no Rio de Janeiro. Carioca, cinéfila, psicoterapeuta holística formada
pelo Instituto Antonio Vieira, Sandra
Maya é gerente e produtora da
Cavideo, a fantástica locadora de filmes ainda ativa no Rio de Janeiro,
mais especificamente no bairro do Humaitá. É impressionante a memória da nossa
convidada, esse que vos escreve já foi várias vezes na Cavideo e Sandra, sempre simpática, já deu várias dicas de filmes
sempre com uma simpatia contagiante. Muito ativa nas redes sociais, sempre
falando sobre cinema em sua página pessoal do Facebook.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Unibanco Artplex.
Conforto das poltronas, ar condicionado perfeito, boa livraria, perto de casa.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Ben-Hur quando
era criança pela beleza e pela história (imitava as cenas em casa), e,
adolescente, Gritos e Sussurros do Bergman, pela densidade dos
personagens, o ambiente, a dor. Era muito jovem para avaliar os filmes
tecnicamente, mas sabia que amava isso e queria fazer parte desse universo.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Essa é difícil. Depende muito da obra, sou assim. Mas
considerando o conjunto, Quentin
Tarantino. Ele é um arquivo vivo dos anos 70/80. O melhor, Pulp Fiction, mas ele sempre inova seus
filmes de maneira absurda. E, apesar de
tantos diretores maravilhosos, tenho outro que vale mencionar, Frank Darabont. Ele conseguiu fazer três
filmes do Stephen King virarem obras
primas. Adoro King, mas eles
esculacham seus livros em cinema.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Adoro documentários, já produzi um e vejo diariamente algum.
Amo Edifício Master do Eduardo Coutinho. Ele era um mestre no
que fazia.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Aquela pessoa que não poder passar um dia sem ver pelo menos
um filme, procura notícias sobre o que vai ser lançado, sobre técnicas de
filmagem, pesquisa o trabalho dos diretores, dos atores, lê tudo, não deixa
escapar nada, não importa o período, respira cinema, vive essa arte maravilhosa
diariamente.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Sim, acho que abrir uma sala de cinema é uma grande
responsabilidade e você precisa oferecer um pouco de cada coisa que o público
quer ver. Se você tem um negócio desses é para se realizar e passar o que você
ama para frente, não pode ser só comercio, tem que ter sua alma envolvida. É
uma possessão e você precisa de seguidores.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não posso acreditar nisso, acho que não. A sensação de
sentar em uma poltrona de cinema e assistir um filme é algo inexplicável.
Aquilo te envolve, te leva para outro mundo. Eu sou assim, quero devorar cada
detalhe, saio de mim e vou para lá. As vezes o filme acaba e preciso de um
tempinho para voltar daquele universo. Fui criada assim, criei meu filho assim
e pretendo influenciar meu neto. Você precisa respirar isso para entender. Se
acabar, ficarei sem uma parte de mim.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo:
Parente é Serpente
do Mario Monicelli. Recomendo esse
porque não sou fã de comédias, mas esse filme é sensível, uma comédia gostosa
de ver, tem um drama comovente por toda história e acho todos tem alguém na
família parecido com alguém daquela família. Monicelli é um gênio da comedia.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não, infelizmente ainda penaremos um pouco.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acho que ele é de picos. Era ótimo, caiu muito, voltou a se
reerguer com ótimas produções, mas agora está fraco de novo, muito comercial.
Não que não deva ser comercial, é o que dá dinheiro, mas podemos fazer bom
cinema sem ter o formato de tv.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Hoje? Selton Mello.
12) Defina cinema com
uma frase:
O cinema é a arte de nos fazer viver e conhecer outras
realidades, outras vidas, sem deixar a nossa para trás.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
O lançamento de Star
Wars no Unibanco Artplex. Todos
foram a caráter. Achei sensacional. Eu gosto de ver essas coisas, não considero
fanatismo, considero paixão mesmo. E foi muito legal ver o filme no meio de
seus personagens.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Vixe, virou cult mas nunca vi.
15) Você faz parte da
equipe de uma das maiores locadoras de cinema ainda em atividade na América
Latina, a Cavideo, no Humaitá, Rio de Janeiro. Como é trabalhar numa locadora
em 2020? Os bate papos sobre cinema continuam fantásticos?
Os bate papos sempre serão fantásticos, principalmente
porque quem vai agora é realmente cinéfilo. Mas o movimento foi bem afetado
pelo streaming, pena. Eu sinto medo de um dia isso acabar porque hoje considero
a Cavideo memória viva DO CINEMA.
Tem tudo que você não vai ver em lugar nenhum, talvez nunca mais, pois não
estão em streaming, nem em tv paga. Você leva um filme para casa a um custo
mínimo, vê a hora que quer e tem sempre outro para ver. Principalmente o cinema
nacional antigo, que foi esquecido pelos distribuidores, ainda temos muito para
oferecer sobre ele. Acabar com as locadoras hoje, quando temos tanta tecnologia
para vermos quase em telão em casa é cortar as pernas da 7ª arte.
16) Diga uma
curiosidade sobre algum artista que alugou um filme na Cavideo.
Quando Matheus
Nachtergale esteve na loja, antes da pandemia, procurando um filme que ele
tinha feito, ele ficou encantado. Quando ele começou a ver os vários filmes que
tínhamos dele falou: - “Meu Deus, vocês tem tudo que eu fiz, nem eu tenho tudo
isso.” Ficou tão emocionado que quase chorou. Aquilo foi uma grande emoção para
ambos.