06/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #8 - Sandra Maya

O cinema é uma força que emociona e nos faz querer sempre a assistir o próximo filme. Seguindo na nossa série de entrevistas com queridos cinéfilos espalhados pelo Brasil que nos contam um pouquinho, por meio de determinadas perguntinhas, um pouco de toda sua paixão e amor pela sétima arte.

Hoje, que vamos entrevistar é uma das mentes mais cinéfilas que existem no Rio de Janeiro. Carioca, cinéfila, psicoterapeuta holística formada pelo Instituto Antonio Vieira, Sandra Maya é gerente e produtora da Cavideo, a fantástica locadora de filmes ainda ativa no Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro do Humaitá. É impressionante a memória da nossa convidada, esse que vos escreve já foi várias vezes na Cavideo e Sandra, sempre simpática, já deu várias dicas de filmes sempre com uma simpatia contagiante. Muito ativa nas redes sociais, sempre falando sobre cinema em sua página pessoal do Facebook.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Unibanco Artplex. Conforto das poltronas, ar condicionado perfeito, boa livraria, perto de casa.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Ben-Hur quando era criança pela beleza e pela história (imitava as cenas em casa), e, adolescente, Gritos e Sussurros do Bergman, pela densidade dos personagens, o ambiente, a dor. Era muito jovem para avaliar os filmes tecnicamente, mas sabia que amava isso e queria fazer parte desse universo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa é difícil. Depende muito da obra, sou assim. Mas considerando o conjunto, Quentin Tarantino. Ele é um arquivo vivo dos anos 70/80. O melhor, Pulp Fiction, mas ele sempre inova seus filmes de maneira absurda.  E, apesar de tantos diretores maravilhosos, tenho outro que vale mencionar, Frank Darabont. Ele conseguiu fazer três filmes do Stephen King virarem obras primas. Adoro King, mas eles esculacham seus livros em cinema.       

                              

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Adoro documentários, já produzi um e vejo diariamente algum. Amo Edifício Master do Eduardo Coutinho. Ele era um mestre no que fazia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aquela pessoa que não poder passar um dia sem ver pelo menos um filme, procura notícias sobre o que vai ser lançado, sobre técnicas de filmagem, pesquisa o trabalho dos diretores, dos atores, lê tudo, não deixa escapar nada, não importa o período, respira cinema, vive essa arte maravilhosa diariamente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, acho que abrir uma sala de cinema é uma grande responsabilidade e você precisa oferecer um pouco de cada coisa que o público quer ver. Se você tem um negócio desses é para se realizar e passar o que você ama para frente, não pode ser só comercio, tem que ter sua alma envolvida. É uma possessão e você precisa de seguidores.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não posso acreditar nisso, acho que não. A sensação de sentar em uma poltrona de cinema e assistir um filme é algo inexplicável. Aquilo te envolve, te leva para outro mundo. Eu sou assim, quero devorar cada detalhe, saio de mim e vou para lá. As vezes o filme acaba e preciso de um tempinho para voltar daquele universo. Fui criada assim, criei meu filho assim e pretendo influenciar meu neto. Você precisa respirar isso para entender. Se acabar, ficarei sem uma parte de mim.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

Parente é Serpente do Mario Monicelli. Recomendo esse porque não sou fã de comédias, mas esse filme é sensível, uma comédia gostosa de ver, tem um drama comovente por toda história e acho todos tem alguém na família parecido com alguém daquela família. Monicelli é um gênio da comedia.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, infelizmente ainda penaremos um pouco.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que ele é de picos. Era ótimo, caiu muito, voltou a se reerguer com ótimas produções, mas agora está fraco de novo, muito comercial. Não que não deva ser comercial, é o que dá dinheiro, mas podemos fazer bom cinema sem ter o formato de tv.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Hoje?  Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é a arte de nos fazer viver e conhecer outras realidades, outras vidas, sem deixar a nossa para trás.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O lançamento de Star Wars no Unibanco Artplex. Todos foram a caráter. Achei sensacional. Eu gosto de ver essas coisas, não considero fanatismo, considero paixão mesmo. E foi muito legal ver o filme no meio de seus personagens.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vixe, virou cult mas nunca vi.

 

15) Você faz parte da equipe de uma das maiores locadoras de cinema ainda em atividade na América Latina, a Cavideo, no Humaitá, Rio de Janeiro. Como é trabalhar numa locadora em 2020? Os bate papos sobre cinema continuam fantásticos?

Os bate papos sempre serão fantásticos, principalmente porque quem vai agora é realmente cinéfilo. Mas o movimento foi bem afetado pelo streaming, pena. Eu sinto medo de um dia isso acabar porque hoje considero a Cavideo memória viva DO CINEMA. Tem tudo que você não vai ver em lugar nenhum, talvez nunca mais, pois não estão em streaming, nem em tv paga. Você leva um filme para casa a um custo mínimo, vê a hora que quer e tem sempre outro para ver. Principalmente o cinema nacional antigo, que foi esquecido pelos distribuidores, ainda temos muito para oferecer sobre ele. Acabar com as locadoras hoje, quando temos tanta tecnologia para vermos quase em telão em casa é cortar as pernas da 7ª arte.

 

16) Diga uma curiosidade sobre algum artista que alugou um filme na Cavideo.

Quando Matheus Nachtergale esteve na loja, antes da pandemia, procurando um filme que ele tinha feito, ele ficou encantado. Quando ele começou a ver os vários filmes que tínhamos dele falou: - “Meu Deus, vocês tem tudo que eu fiz, nem eu tenho tudo isso.” Ficou tão emocionado que quase chorou. Aquilo foi uma grande emoção para ambos.