O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, formado em
Comunicação Social pela FACHA com MBA em Marketing pelo IBMEC. André Auler começou sua carreira em
1985 como produtor de comerciais e vídeo clipes. Depois, entre 86 e 93,
trabalhou na TV Manchete como produtor de programas documentais dirigidos pelo
cineasta Maurice Capovilla, e também
com programas da Linha de Show e de Eventos ao Vivo da emissora. Em seguida foi
para o SESC sendo o res-ponsável pelo departamento de vídeo da instituição onde
também dirigia, escrevia e produzia todos os vídeos. Em 1994 foi para Globosat
onde trabalhou como coordenador de produção no Telecine e entre 2000 e 2012 foi
Gerente de Programação e diretor do programa “What’s On” no Universal
Channel quando entrevistou várias celebridades de Hollywood. Dentre elas: Tom Cruise, Hugh Laurie (Dr. House), Will
Smith, Angelina Jolie, Dustin Hoffman, Harrison Ford, Robert Downey Jr, Gerard
Butler, Kiefer Sutherland, Reese Witherspoon, Ralph Fiennes, Lucy Liu, Jack
Black, Jon Favreau, Vin Diesel, Dwayne Johnson (The Rock), Paul Walker, Daniel
Radcliffe e o elenco da franquia “Harry
Potter”, Benicio Del Toro, Will
Arnett, Jonah Hill entre outros..
Em 2016, roteirizou, produziu e dirigiu o documentário Faces de um Conflito vencedor de 8
prêmios internacionais. Atualmente escreve, produz e dirige para o setor
audiovisual.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Rio de Janeiro. Não sei se posso dizer que tenho uma sala
preferida. Gosto da programação do Estação
Net Rio, do Espaço Itaú, mas
também gosto dos filmes que entram em cartaz no dito "cinemão": Cinemark e UCI.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O primeiro filme que vi na vida, ainda muito criança, que
foi O Calhambeque Mágico (Chitty Chitty Bang Bang) no Roxy em Copacabana. O Roxy naquela época era uma única sala
e, portanto, um cinema gigantesco com uma tela imensa, ainda mais para uma
criança de 5 anos.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Não tenho um diretor favorito. Sou bem eclético nessa
questão. Todos esses diretores mais famosos têm filmes que gosto muito e outros
nem tanto, mas dentre eles citaria o Alan
Parker, que aliás foi a minha primeira entrevista internacional para um
programa que eu produzia na TV Manchete
chamado "Cinemania". Gosto
muito também dos clássicos que são referência como Chaplin e Hitchcock que
foram inovadores e precursores na maneira de contar as histórias e, muitas
vezes, na forma de filmar determinadas cenas. Não posso deixar de falar do
argentino Juan José Campanella e do
espanhol Almodóvar porque seus
filmes geralmente são imperdíveis. Mas tem um diretor que, além de gostar muito
de seus filmes, gosto da maneira como ele humaniza as histórias: Ang Lee. Destaco 3 filmes dele: O Banquete de Casamento (1993), O Tigre e o Dragão (2000) e O Segredo de Brokeback Mountain
(2005).
4) Qual seu filme nacional
favorito e porquê?
São tantos.... mas um dos meus favoritos é Central do Brasil pela sua grandeza
dentro de sua simplicidade.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É se interessar e conhecer vários tipos e gêneros de filmes
de várias nacionalidades, inclusive os do "mainstream" e saber que
existe público para cada um deles. É conhecer um pouco mais sobre os filmes do
que o público em geral, como por exemplo o elenco, o diretor e o porquê de ele
ter usado determinadas técnicas ou formas de contar aquela história. É ter um
conhecimento mais profundo sobre cada obra.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não. A maior parte tem uma programação voltada para o grande
público e, consequentemente, as salas exibem apenas os chamados
"blockbuster" que são títulos que dão um considerável retorno
financeiro para os donos de cinema. Não que esses filmes sejam necessariamente
ruins. Nesse pacote vem ótimos filmes também, mas geralmente são filmes com um
apelo mais popular.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não acredito. O cinema tem sua magia. As salas de cinema não
acabaram quando houve a febre das videolocadoras. Pelo contrário, as
videolocadoras acabaram e as salas de cinema estão aí até hoje.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Dúvida (Doubt) de
2008. Apesar de ser um filme americano, e talvez considerado parte do
"cinemão", pelo que já conversei com amigos e pessoas que curtem
cinema, quase ninguém viu esse filme. A história é ótima e o elenco de
primeiríssima: Meryl Streep, Viola
Davis, Philip Seymour Hoffman e Amy
Adams.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Essa pergunta é difícil de ser respondida porque há no mundo
um problema de saúde pública. Então, o mais importante não é o que eu acho e
sim o que os protocolos de segurança e saúde definirem. Segurança em primeiro
lugar.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Em termos técnicos e artísticos o cinema brasileiro não fica
atrás do cinema de outros países que temos como referência como bons produtores
de filmes, tanto na América Latina, quanto Europa e Estados Unidos. Da famosa
retomada para cá melhoramos bastante. Mas acho que poderíamos dar mais chances
a novos diretores e roteiristas. Conseguir verba para a realização de um filme
melhorou com as leis de incentivo, mas ainda não é tão fácil quanto parece,
principalmente para nomes desconhecidos do grande público. Um outro problema é
a distribuição dos filmes nacionais. A maioria dos filmes brasileiros não
consegue sala e quando consegue é por apenas uma ou duas semanas, salvo raras
exceções.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é diversão, arte e cultura em forma de sonho que a
gente assiste acordado.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não sei se é uma história inusitada, mas uma vez fui num
sing-a-long no Cine Odeon do filme A Noviça Rebelde. Foi o máximo
ver e ouvir a plateia inteira cantando as músicas do filme. Claro que eu cantei
junto porque sei todas as músicas de trás pra frente desde criancinha.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
"Prefiro não comentar..."
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não. Precisa ser um bom contador de histórias. E com os
recursos cinematográficos que tiver disponível.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Eu nem sei o nome do filme. Foi um filme que passou num dos
Festivais de Cinema do Rio, no início dos anos 2000. O filme inteiro é um casal
se arrastando pelos cômodos da casa. Num momento ele arrasta ela no chão da
sala para o quarto e, no outro momento, ela arrasta ele da cozinha para o
banheiro. Aí, eles resolvem se arrastar no jardim da casa. Nas pouquíssimas
cenas em que um ou outro personagem fica em pé, o enquadramento só mostra do
pescoço para baixo. É inacreditavelmente chato e sem sentindo.
17) Qual seu
documentário preferido?
Faces de um Conflito
porque foi escrito, produzido e dirigido por mim rsrsrs... Mas fora essa
preferência egocêntrica, destaco o "Cine-Olho",
também conhecido como "Cinema-Olho"
de 1924, do russo Dziga Vertov. Vertov usa técnicas visuais e
enquadramentos extremamente ousados e inovadores para a época, inclusive o uso
da metalinguagem. Muitos cineastas da década de 60 para cá beberam da fonte
desse documentarista russo. Vários movimentos de câmera, enquadramentos e
maneiras de contar a história que hoje são corriqueiros, são criação de Dziga Vertov.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Não rsrs