02/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #76 - André Auler


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, formado em Comunicação Social pela FACHA com MBA em Marketing pelo IBMEC. André Auler começou sua carreira em 1985 como produtor de comerciais e vídeo clipes. Depois, entre 86 e 93, trabalhou na TV Manchete como produtor de programas documentais dirigidos pelo cineasta Maurice Capovilla, e também com programas da Linha de Show e de Eventos ao Vivo da emissora. Em seguida foi para o SESC sendo o res-ponsável pelo departamento de vídeo da instituição onde também dirigia, escrevia e produzia todos os vídeos. Em 1994 foi para Globosat onde trabalhou como coordenador de produção no Telecine e entre 2000 e 2012 foi Gerente de Programação e diretor do programa “What’s On” no Universal Channel quando entrevistou várias celebridades de Hollywood. Dentre elas: Tom Cruise, Hugh Laurie (Dr. House), Will Smith, Angelina Jolie, Dustin Hoffman, Harrison Ford, Robert Downey Jr, Gerard Butler, Kiefer Sutherland, Reese Witherspoon, Ralph Fiennes, Lucy Liu, Jack Black, Jon Favreau, Vin Diesel, Dwayne Johnson (The Rock), Paul Walker, Daniel Radcliffe e o elenco da franquia “Harry Potter”, Benicio Del Toro, Will Arnett, Jonah Hill entre outros..

Em 2016, roteirizou, produziu e dirigiu o documentário Faces de um Conflito vencedor de 8 prêmios internacionais. Atualmente escreve, produz e dirige para o setor audiovisual.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Rio de Janeiro. Não sei se posso dizer que tenho uma sala preferida. Gosto da programação do Estação Net Rio, do Espaço Itaú, mas também gosto dos filmes que entram em cartaz no dito "cinemão": Cinemark e UCI. 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que vi na vida, ainda muito criança, que foi O Calhambeque Mágico (Chitty Chitty Bang Bang) no Roxy em Copacabana. O Roxy naquela época era uma única sala e, portanto, um cinema gigantesco com uma tela imensa, ainda mais para uma criança de 5 anos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um diretor favorito. Sou bem eclético nessa questão. Todos esses diretores mais famosos têm filmes que gosto muito e outros nem tanto, mas dentre eles citaria o Alan Parker, que aliás foi a minha primeira entrevista internacional para um programa que eu produzia na TV Manchete chamado "Cinemania". Gosto muito também dos clássicos que são referência como Chaplin e Hitchcock que foram inovadores e precursores na maneira de contar as histórias e, muitas vezes, na forma de filmar determinadas cenas. Não posso deixar de falar do argentino Juan José Campanella e do espanhol Almodóvar porque seus filmes geralmente são imperdíveis. Mas tem um diretor que, além de gostar muito de seus filmes, gosto da maneira como ele humaniza as histórias: Ang Lee. Destaco 3 filmes dele: O Banquete de Casamento (1993), O Tigre e o Dragão (2000) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005).  

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

São tantos.... mas um dos meus favoritos é Central do Brasil pela sua grandeza dentro de sua simplicidade.  

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

É se interessar e conhecer vários tipos e gêneros de filmes de várias nacionalidades, inclusive os do "mainstream" e saber que existe público para cada um deles. É conhecer um pouco mais sobre os filmes do que o público em geral, como por exemplo o elenco, o diretor e o porquê de ele ter usado determinadas técnicas ou formas de contar aquela história. É ter um conhecimento mais profundo sobre cada obra.  

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maior parte tem uma programação voltada para o grande público e, consequentemente, as salas exibem apenas os chamados "blockbuster" que são títulos que dão um considerável retorno financeiro para os donos de cinema. Não que esses filmes sejam necessariamente ruins. Nesse pacote vem ótimos filmes também, mas geralmente são filmes com um apelo mais popular.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito. O cinema tem sua magia. As salas de cinema não acabaram quando houve a febre das videolocadoras. Pelo contrário, as videolocadoras acabaram e as salas de cinema estão aí até hoje.   

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Dúvida (Doubt) de 2008. Apesar de ser um filme americano, e talvez considerado parte do "cinemão", pelo que já conversei com amigos e pessoas que curtem cinema, quase ninguém viu esse filme. A história é ótima e o elenco de primeiríssima: Meryl Streep, Viola Davis, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. 

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Essa pergunta é difícil de ser respondida porque há no mundo um problema de saúde pública. Então, o mais importante não é o que eu acho e sim o que os protocolos de segurança e saúde definirem. Segurança em primeiro lugar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em termos técnicos e artísticos o cinema brasileiro não fica atrás do cinema de outros países que temos como referência como bons produtores de filmes, tanto na América Latina, quanto Europa e Estados Unidos. Da famosa retomada para cá melhoramos bastante. Mas acho que poderíamos dar mais chances a novos diretores e roteiristas. Conseguir verba para a realização de um filme melhorou com as leis de incentivo, mas ainda não é tão fácil quanto parece, principalmente para nomes desconhecidos do grande público. Um outro problema é a distribuição dos filmes nacionais. A maioria dos filmes brasileiros não consegue sala e quando consegue é por apenas uma ou duas semanas, salvo raras exceções. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase: 

Cinema é diversão, arte e cultura em forma de sonho que a gente assiste acordado.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não sei se é uma história inusitada, mas uma vez fui num sing-a-long no Cine Odeon do filme A Noviça Rebelde. Foi o máximo ver e ouvir a plateia inteira cantando as músicas do filme. Claro que eu cantei junto porque sei todas as músicas de trás pra frente desde criancinha.

  

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Prefiro não comentar..."

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Precisa ser um bom contador de histórias. E com os recursos cinematográficos que tiver disponível. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Eu nem sei o nome do filme. Foi um filme que passou num dos Festivais de Cinema do Rio, no início dos anos 2000. O filme inteiro é um casal se arrastando pelos cômodos da casa. Num momento ele arrasta ela no chão da sala para o quarto e, no outro momento, ela arrasta ele da cozinha para o banheiro. Aí, eles resolvem se arrastar no jardim da casa. Nas pouquíssimas cenas em que um ou outro personagem fica em pé, o enquadramento só mostra do pescoço para baixo. É inacreditavelmente chato e sem sentindo.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Faces de um Conflito porque foi escrito, produzido e dirigido por mim rsrsrs... Mas fora essa preferência egocêntrica, destaco o "Cine-Olho", também conhecido como "Cinema-Olho" de 1924, do russo Dziga Vertov. Vertov usa técnicas visuais e enquadramentos extremamente ousados e inovadores para a época, inclusive o uso da metalinguagem. Muitos cineastas da década de 60 para cá beberam da fonte desse documentarista russo. Vários movimentos de câmera, enquadramentos e maneiras de contar a história que hoje são corriqueiros, são criação de Dziga Vertov.  

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não rsrs