O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso convidado de hoje é paulista e tem cinco décadas de
amor ao cinema. Cinéfilo, formado em cinema na Universidade de Brasília, José Eduardo Belmonte é diretor e
roteirista. Fez seu primeiro curta-metragem, Três (1995), sob orientação de Nelson
Pereira dos Santos. Subterrâneos,
em 2003 foi seu primeiro longa-metragem e depois uma série de importantes trabalhos
no audiovisual nacional: A Concepção
(2005), Se Nada mais der Certo
(2008), Meu Mundo em Perigo (2010); Billi Pig (2012); O Gorila (2012); Alemão
(2014); Entre Idas e Vindas (2016); Carcereiros - O filme (2019). Atualmente,
Belmonte está na parte de montagem de outros quatro projetos: Auto da Mentira, Alemão 2, As Verdades
e O Pastor e o Guerrilheiro.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Me mudei pro RJ faz pouco tempo- até pela proximidade eu vou
muito no Net da Gávea.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
São dois. Solaris
do Tarkovski e Gaviões e Passarinhos do Pasolini
- os dois vi aos 15 anos anos numa mostra sobre cinema fantástico - o primeiro
me causou estranhamento, mas intrigou muito. O segundo me causou profunda
identificação com a liberdade criativa.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Também não existe um. Tenho uma lista de cinco preferidos
que vai mudando com o tempo. Mas hoje seriam Godard (Prénon Carmem), Scorsese (Touro indomável) Johhnie To
(Exilados), Alain Resnais (Meu Tio da América)
e Fritz Lang (Scarlet Street) - se você me perguntar ano que vem provavelmente
algo vai mudar.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Difícil um só também, rs. Mais numa lista tríplice: Terra em Transe (Glauber Rocha), Macunaíma
(Joaquim Pedro de Andrade) e São Bernardo (Leon Hirszman).
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É ter amor pelo cinema-
é gostar, se dedicar, ter curiosidade pelas diferenças, pelos detalhes,
estar aberto a mudanças, perseverar.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
O cinema talvez seja a arte que, por causa do seu modo de
produção, mais sofra a dicotomia entre negócios e arte- daí penso que pode até
ter pessoas que conhecem cinema na programação, mas acho - ênfase no acho - que
quando um filme faz boa bilheteria o exibidor dá preferência a esse,
independente se esse filme for uma experiência cinematográfica menos
interessante que outros filmes.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Penso que não, pois o hábito de ir para um lugar escuro e
ver/ ouvir histórias com um grupo Existe desde do tempo das cavernas. Mas sim,
talvez a configuração que exista hoje mude e talvez a sala de cinema acabe pra
alguns tipos de filmes. Como tudo na vida haverá perdas e ganhos - a proporção
de cada parte disso só o tempo dirá.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Não consigo um também. Confiança
do Hal Hartley; Sudoeste do Eduardo Nunes; Tell
me Lies do Peter Brook; Nelson
Mandela: The Myth and Me de Khalo
Matabane; se começar a fazer uma lista aqui não acabo rs. Acho que isso
valia uma mostra.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Minha opinião é que não. Mas a questão é que é uma doença
nova que ainda não sabemos muito sobre ela. E se a vacina demorar- e se ela não
ter imunidade por um longo tempo- e se os cinemas quebrarem- existe alguma
forma de abrir algum protocolo de segurança- existe algum plano econômico
factível pra socorrer as salas de cinema? Acho importante que se junte a
sociedade pra discutir sobre essas questões e consigamos consenso com
discernimento. Sei que não sou um especialista, mas hoje não consigo entender
porque algumas coisas abrem e outras não.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Hoje existe um volume de produção muito grande e enfim uma
possibilidade de indústria se formando - ainda que nesse momento esteja
estagnada- e pra quem começou em Brasília nos anos collor- em que a produção
era um longa por ano e em Brasília era um curta a cada dois anos- ver isso é
bom. Ver muita gente produzindo e outros polos de produção pelo país. Mas acho
que a gente precisa ainda buscar mais a diversidade- de estilos, de modos de
produção, de gente fazendo- e procurar entender mais o país pelos nossos
filmes.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Tem um curta metragista que admiro muito que está agora
chegando ao primeiro longa: Cássio
Pereira dos Santos- que é formado em cinema em Pequim. E também acompanho
com interesse toda a produção da Filmes
de Plástico e do Gabriel Mascaro.
12) Defina cinema com
uma frase:
Duas rs.
“O cinema não tem fronteiras nem limites.
É um fluxo constante de sonho.” - Orson Welles.
“Cinema é a importância do que está dentro do quadro e o que
está fora.” — Martin Scorsese.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Na faculdade fui com um colega ver o Ano Passado em Marienbad do Alain
Resnais- e meu colega estava no churrasco e tinha bebido muito e naquelas
horas do filme que as cenas ficam se repetindo em looping ele falou pra mim:
"cara, to muito bêbado, to vendo a mesma cena várias vezes..."
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi- mas são as tentativas de cinema comercial
brasileiro- é uma longa trajetória de tentativa e erro.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Não precisa- não existe uma regra. Mas claro, o conhecimento
só agrega e aumenta seu repertório.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Tenho habilidade que gosto em mim que é de esquecer um filme
ruim- ou não ir até o final de um.
17) Qual seu
documentário preferido?
Na Captura dos
Friedman. Nunca consigo um - então tem Cabra
Marcado pra Morrer.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Só em festival de cinema. Mas já senti vontade quando vi Estrada Perdida do David Lynch e Asas do Desejo
do Wenders.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Tem dois: Leaving Las
Vegas e A Outra Face