05/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #202 - Beatriz Cascardi


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Ribeirão Preto. Beatriz Cascardi tem 22 anos. Sua paixão por cinema começou na adolescência, e por isso cursou e se formou em Rádio Tv e Internet. Durante seu tempo na faculdade, produziu e dirigiu alguns títulos, documentais e ficcionais, e também desenvolveu uma pesquisa sobre 'solidão da mulher negra'. Recentemente inaugurou o @panoramica.cine (no Instagram), uma página que propõe uma introdução ao cinema teórico de maneira leve e simples, explorando temáticas como gênero, estrutura de roteiro e claro, indicações de filmes!

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Infelizmente moro em uma cidade pequena da Grande São Paulo, e por aqui não temos nenhuma sala de cinema. Para acessar uma programação que eu goste, preciso ir até o centro de São Paulo. Gosto bastante da programação do Petra Belas Artes e da Cinesala também.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Por maior que seja o clichê, a primeira vez que entendi que o cinema era maior do que os filmes que estava acostumada a ver, foi ao assistir Pulp Fiction, com meu irmão quando eu tinha 15 anos. A partir daí, minha relação com o cinema mudou completamente, e um pouco mais tarde, ao assistir O Iluminado, do Kubrick, percebi que gostaria que trabalhar com cinema de alguma forma.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Meu diretor favorito é o Ingmar Bergman, e o filme Sonata de Outono (1978). Eu acho incrível e muito inspirador a forma que o Bergman utiliza o diálogo pra desenvolver os personagens e a trama, de uma forma que não seja expositiva, ou meio bobo.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é o Aquarius, do Kléber Mendonça Filho. O que eu mais amo nesse filme é como a trama é construída de uma forma sutil. e se desenvolvendo na frente dos nossos olhos, mas também na complexidade dos personagens fora o tempo fílmico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar cinema, e não só filmes.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que existam diferentes interesses quando falamos sobre programação. Nem sempre o interesse principal é montar uma programação edificante pro espectador, muitas vezes elas são desenvolvidas com base nos lucros, por esse motivo vemos salas de cinema exibindo o mesmo filme o dia todo, e não dando espaço para títulos nacionais, por exemplo.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, ir ao cinema é coletivo, e não existe streaming que substitua isso.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Todas as vezes que tenho a oportunidade recomendo Revange (Coralie Fargeat, 2017). O filme explora e ressignifica clichês de filmes de vingança. Nele, temos uma heroína com uma força que não é aparente, mas que emerge com muito gore e tensão. Assisti esse filme no cinema, e as pessoas vibravam junto.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito que não, mas que no ponto que as coisas estão, com o isolamento já muito flexibilizado, acredito que não faça tanta diferença.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito boa, só ladeira acima.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não perco um filme da Gabriela Amaral Almeida, diretora de Animal Cordial (2017) e A Sombra do Pai (2018). Ela é bastante próxima ao terror, e trabalha disso de forma muito brasileira.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Busca pela realidade.

 

13) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi, mas eu sei que deveria.

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que não, existem muitas formas de se conectar com a arte de contar uma história através de imagens, assistir filmes é com certeza uma delas, mas existem outras formas de estudar.

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

Grande Hotel Budapeste. Não consigo acreditar que alguém liberou orçamento pra isso!!!

 

16) Qual seu documentário preferido?

Meu documentário favorito é o Olmo e As Gaivotas, da Petra Costa (apesar de ter me decepcionado com Democracria em Vertigem). O documentário é performático, e conta a história de uma atriz de teatro que, devido a uma gravidez de risco, precisa ficar presa em seu apartamento, vivendo a solidão e as dores de gerar uma vida.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não, mas recentemente assisti Trama Fantasma do Paul Thomas Anderson, e bati palmas no sofá de casa. Esse filme me despertou de tantas maneiras, e me emocionou tantas vezes que a única solução foi aplaudir.

 

18) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Gosto de me informar através de revistas acadêmicas, mas gosto muito do Omelete e se algumas páginas no instagram!