As facetas do amor em conflito com as escolhas. Em menos de 90 minutos de projeção, o longa-metragem francês Notre Dame consegue de forma metafórica, avançando a mente de uma jovem arquiteta, mãe e sonhadora criar um grande raio-x sobre reflexões que temos ao longo de nossas vidas quando nos sentimos em uma sinuca de bico. Dirigido pela atriz e cineasta Valérie Donzelli (do ótimo A Guerra Está Declarada e que inclusive é a protagonista do projeto), o filme navega por um melodrama ligado ao universo fantasioso dos desejos. Se torna interessante quando o espectador percebe as ótimas analogias sociais embutidas na agitada vida da personagem principal.
Na trama, conhecemos a arquiteta Maud (Valérie Donzelli), mãe de dois filhos no início da adolescência que
é separada (ou não) do ex-marido, o faz nada Martial (Thomas Scimeca). Quando, de maneira bastante inusitada, acaba
ganhando um concurso para renovação estética do pátio diante da catedral de
Notre-Dame sua vida vira uma loucura maior ainda e precisará lidar com um
gigante orçamento, as intervenções de seu chefe, o reaparecimento de um antigo
amor do passado, uma gravidez inesperada e escolhas que precisarão serem
tomadas.
O primeiro arco é quase alucinante, uma série de informações
saltam aos nossos olhos, posicionados na forma de analogias sobre o dia a dia
corrido de uma mulher forte, batalhadora e guerreira mas que sofre demais com
sua situação de idas e vindas com o ex-marido. Criativa, usa da força de seus
sonhos para se imaginar, e de fato tentar conseguir almejar seus desejos no
campo profissional e também no amoroso. O foco é todo em Maud, através de suas
escolhas vamos percorrendo um ótimo recorte atual sobre a força feminina em uma
sociedade ainda muito machista.
Notre Dame usa
das metáforas e analogias para mostrar a desconstrução e logo depois a
construção de uma personagem, sempre à frente do seu tempo mas que tropeça nas
suas próprias incertezas. A proximidade com a realidade, se formos pensar em
muitas forças femininas que temos pelo mundo, é algo que chega rápido e se
conecta com o espectador. Os sonhadores entenderão muito bem o que alguns
acharão um eterno labirinto de emoções.