Os absurdos de um presente que não esquece do passado. Vencedor do BAFTA de melhor curta-metragem de ficção e indicado ao Oscar 2021 na mesma categoria, O Presente, sendo bem objetivo, gera angústia, raiva e um enorme sentimento de tristeza com a absurda situação vivida por um pai, sua filha e uma geladeira. Bons curtas são aqueles que dentro de um recorte chamativo, conseguem expor problemas universais. Dirigido pela cineasta britânica Farah Nabulsi, esse projeto palestino faz refletir sobre a intolerância jogada na nossa cara. Esse filme gera uma indignação profunda por sabermos que os fatos aqui relatados acontecem de diversas maneiras na realidade.
Na trama, conhecemos Yusef (Saleh Bakri), um homem de meia idade, trabalhador, que acorda em
uma manhã, após uma noite onde chegara muito tarde, com o objetivo de comprar
um presente para a sua esposa já que ambos completam mais um aniversário de
casamento. Assim, ele leva sua filha Yasmine (Mariam Kanj) para ir até Beitunia fazer compras e pegar o presente
da esposa. Só que para ir e vir, Yusef e todos que moram naquela região da Cisjordânia
precisam passar por um ponto de checagem israelense. E assim, um conflito se
estabelece na ida e na volta do resgate do presente.
A falta de liberdade do ir e vir é o principal ponto de
reflexão desse pequeno grande projeto. A falta de humanidade, compaixão dos
soldados na ‘fronteira’ mostram as hipocrisias que comandam ações do universo
da generalização em vez de olhar para o indivíduo. Sensibilidade? Isso não
existe nesses lugares. Tentando se locomover por uma Cisjordânia controlada,
com estradas segregadas, milhares de pessoas diariamente precisam ser ‘checadas’
perdendo princípios básicos dos seres humanos. O filme escancara verdades que
poucos gostam de dizer ou até mesmo conhecem. O cinema tem esse papel: gerar reflexões
para quem sabe trazer mudanças.