O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Curitiba (Paraná).
Sabrina Demozzi tem 37 anos, é jornalista,
mestre em História, pesquisadora, roteirista e professora. Desde 2014 vem se
especializando em criação e planejamento de conteúdos audiovisuais de
não-ficção com foco em Direitos Humanos, Soberania Alimentar, Comportamento e
Educação. Tem um imenso interesse por tudo o que nos torna humanos. Ajuda a
descobrir e contar histórias por meio do audiovisual; Achar outros jeitos de
ver o mundo. Compartilhar saberes com quem tem vontade de aprender, e: buscar
os meios para entender a nossa sociedade.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação?
Detalhe o porquê da escolha- Foram algumas em Curitiba: o Cine Luz que fechou em 2009, o Ritz (que fechou em 2005)... Hoje aguardo ansiosa a volta do queridíssimo Cine Passeio, que é um
"oásis" em Curitiba pra quem gosta de cinema e não quer entrar em um
shopping. O espaço é lindo, a programação é mais voltada ao cinema independente
e há ali uma preocupação em valorizar a memória cultural da cidade.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Impossível mencionar só uma diretora ou um diretor... Sou de sagitário e gosto de muita coisa ;) Te
digo três coisas favoritas em três filmes favoritos: a) a capacidade de
retratar a dor e o medo a partir da experiência de um jovem camponês na Segunda
Guerra Mundial (Vá e Veja do Elem Klimov, 1985); b) a complexidade
das emoções humanas e personagens incríveis (além da aula de fotografia) Paris, Texas (Wim Wenders, 1984); c) o retrato da falta de empatia e ausência de
vitalidade na classe média argentina (O
Pântano, Lucrécia Martel, 2001).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Idem... adoro o cinema nacional e acho difícil elencar um
só. Vibro com o trabalho da Laís
Bodanzky, da Anna Muylaert, da Susanna Lira (documentários), do Kleber Mendonça, do João Moreira Salles. Adoro, óbvio, Vidas Secas, Deus e o Diabo, o doc. Serras da Desordem do Tonacci... mas,
já que é pra escolher um, vou mais pela referência do tipo de cinema que eu
gosto muito: Que horas ela volta (Anna
Muylaert, 2015).
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Ser cinéfila é encontrar a força pra continuar se encantando
com o cinema.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não tenho como afirmar, mas prefiro crer que sim. Tenho
confiado e tem dado certo ;)
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Não. Ao contrário. As pessoas estão ávidas para experienciar
o cinema em toda a sua dimensão. Uma coisa não substitui a outra: streaming é
legal, mas é mais uma forma de assistir as coisas. Há o espaço de viver o
filme, falar sobre. Cinema é interação também.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Millennium Mambo
(Hou Hsiao-hsien, 2001).
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não, né? Escrevo hoje (21/03) em um momento especialmente
complicado para o Brasil.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Sempre existiu qualidade no cinema brasileiro, apesar de
toda a "pancadaria" contra o cinema nacional. A história do cinema no
Brasil é reflexo do trabalho de muita gente aguerrida, que sonhou (e sonha) em
fazer cinema. Nos últimos 12 anos houve maior profissionalização, mais
parcerias internacionais e diversidade de produções.
Vale mencionar que o setor do audiovisual brasileiro figura
entre os cinco mais relevantes da economia brasileira, gerando empregos e
movimentando a economia criativa no país. Essa "qualidade" a que você
se refere, só se mantém se houver apoio e incentivo à produção audiovisual no
país. Isso é um dos maiores desafios de quem trabalha com audiovisual
atualmente.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
A artista que, pra mim, simboliza o máximo do talento e do
trabalho em prol da cultura no Brasil é a Fernanda
Montenegro. Desde menina eu me encanto com ela.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é enfrentamento.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Vi duas senhoras muito elegantes "passando mal" ao
perceberem que haviam entrado na sala errada, onde passava Flores Raras (Bruno Barreto).
Elas foram ver um filme bobinho sobre um casamento e acabaram se deparando com
a história da paixão arrebatadora entre a poetisa Elizabeth Bishop e a
arquiteta brasileira Lota de Macedo. Elas estavam inconsoláveis, faziam
negativas com a cabeça, mas não tiraram o olho da tela e nem arredaram pé da
sala.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Realmente não consigo... é um não-filme, mas poderia ser
legal. Adoro axé e a premissa de conto de fadas na Bahia poderia render uma boa
história, já que se trata de um gênero musical que sofreu bastante preconceito
à época.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que para se dirigir um filme é preciso associar
conhecimento técnico e paixão. A pessoa pra dirigir um filme tem que amar
filmes, acima de tudo.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Só guardo as lembranças dos bons filmes.
Dos ruins nem o nome lembro ;)
17) Qual seu
documentário preferido?
Adoro documentários e saber como realizá-los é o meu ofício.
Assisto a muitos documentários e não tenho um preferido. Mas, pra trazer umas
referências contemporâneas de verdadeiras joias, indico Honeyland (Tamara Kotevska,
Ljubomir Stefanov, 2019), Notturno
(Gianfranco Rosi, 2020), Estou Me Guardando para Quando o Carnaval
Chegar (Marcelo Gomes, 2019), Agente Duplo (Maite Alberdi, 2020).
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Não...
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Coração Selvagem,
obviamente.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Gosto muito da Revista
Cinética, o Indiewire, o Independent e a Variety.