02/04/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #350 - Sabrina Demozzi


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Curitiba (Paraná). Sabrina Demozzi tem 37 anos, é jornalista, mestre em História, pesquisadora, roteirista e professora. Desde 2014 vem se especializando em criação e planejamento de conteúdos audiovisuais de não-ficção com foco em Direitos Humanos, Soberania Alimentar, Comportamento e Educação. Tem um imenso interesse por tudo o que nos torna humanos. Ajuda a descobrir e contar histórias por meio do audiovisual; Achar outros jeitos de ver o mundo. Compartilhar saberes com quem tem vontade de aprender, e: buscar os meios para entender a nossa sociedade.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação?

Detalhe o porquê da escolha- Foram algumas em Curitiba: o Cine Luz que fechou em 2009, o Ritz (que fechou em 2005)...  Hoje aguardo ansiosa a volta do queridíssimo Cine Passeio, que é um "oásis" em Curitiba pra quem gosta de cinema e não quer entrar em um shopping. O espaço é lindo, a programação é mais voltada ao cinema independente e há ali uma preocupação em valorizar a memória cultural da cidade.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Impossível mencionar só uma diretora ou um diretor...  Sou de sagitário e gosto de muita coisa ;) Te digo três coisas favoritas em três filmes favoritos: a) a capacidade de retratar a dor e o medo a partir da experiência de um jovem camponês na Segunda Guerra Mundial (Vá e Veja do Elem Klimov, 1985); b) a complexidade das emoções humanas e personagens incríveis (além da aula de fotografia) Paris, Texas (Wim Wenders, 1984); c) o retrato da falta de empatia e ausência de vitalidade na classe média argentina (O Pântano, Lucrécia Martel, 2001).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Idem... adoro o cinema nacional e acho difícil elencar um só. Vibro com o trabalho da Laís Bodanzky, da Anna Muylaert, da Susanna Lira (documentários), do Kleber Mendonça, do João Moreira Salles. Adoro, óbvio, Vidas Secas, Deus e o Diabo, o doc. Serras da Desordem do Tonacci... mas, já que é pra escolher um, vou mais pela referência do tipo de cinema que eu gosto muito:  Que horas ela volta (Anna Muylaert, 2015).

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfila é encontrar a força pra continuar se encantando com o cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não tenho como afirmar, mas prefiro crer que sim. Tenho confiado e tem dado certo ;)

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Ao contrário. As pessoas estão ávidas para experienciar o cinema em toda a sua dimensão. Uma coisa não substitui a outra: streaming é legal, mas é mais uma forma de assistir as coisas. Há o espaço de viver o filme, falar sobre. Cinema é interação também. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Millennium Mambo (Hou Hsiao-hsien, 2001).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, né? Escrevo hoje (21/03) em um momento especialmente complicado para o Brasil.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sempre existiu qualidade no cinema brasileiro, apesar de toda a "pancadaria" contra o cinema nacional. A história do cinema no Brasil é reflexo do trabalho de muita gente aguerrida, que sonhou (e sonha) em fazer cinema. Nos últimos 12 anos houve maior profissionalização, mais parcerias internacionais e diversidade de produções.

 

Vale mencionar que o setor do audiovisual brasileiro figura entre os cinco mais relevantes da economia brasileira, gerando empregos e movimentando a economia criativa no país. Essa "qualidade" a que você se refere, só se mantém se houver apoio e incentivo à produção audiovisual no país. Isso é um dos maiores desafios de quem trabalha com audiovisual atualmente.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

A artista que, pra mim, simboliza o máximo do talento e do trabalho em prol da cultura no Brasil é a Fernanda Montenegro. Desde menina eu me encanto com ela.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é enfrentamento.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vi duas senhoras muito elegantes "passando mal" ao perceberem que haviam entrado na sala errada, onde passava Flores Raras (Bruno Barreto). Elas foram ver um filme bobinho sobre um casamento e acabaram se deparando com a história da paixão arrebatadora entre a poetisa Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo. Elas estavam inconsoláveis, faziam negativas com a cabeça, mas não tiraram o olho da tela e nem arredaram pé da sala. 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Realmente não consigo... é um não-filme, mas poderia ser legal. Adoro axé e a premissa de conto de fadas na Bahia poderia render uma boa história, já que se trata de um gênero musical que sofreu bastante preconceito à época.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que para se dirigir um filme é preciso associar conhecimento técnico e paixão. A pessoa pra dirigir um filme tem que amar filmes, acima de tudo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Só guardo as lembranças dos bons filmes.

Dos ruins nem o nome lembro ;) 

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Adoro documentários e saber como realizá-los é o meu ofício. Assisto a muitos documentários e não tenho um preferido. Mas, pra trazer umas referências contemporâneas de verdadeiras joias, indico Honeyland (Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov, 2019), Notturno (Gianfranco Rosi, 2020), Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar (Marcelo Gomes, 2019), Agente Duplo (Maite Alberdi, 2020).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não... 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem, obviamente. 

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Gosto muito da Revista Cinética, o Indiewire, o Independent e a Variety.