O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Campos dos
Goycatazes (Rio de Janeiro). Tiago
Quintes tem 32 anos, é produtor e diretor de documentários. Com o
"Sufoco da Vida" ganhou dois prêmios na 17a Edição do Gramado Cine
Vídeo 2009. Graduado em Cinema pela Estácio de Sá, especialista em Artes
Visuais pelo SENAC RJ, mestrando em Cinema e Audiovisual pela UFF Niterói. Servidor Federal no cargo de Técnico em
Audiovisual no Instituto Federal Fluminense, lotado na reitoria, em Campos dos
Goytacazes RJ. No IFF realizou o projeto
Cinema: Arte e Tecnologia, ministrando cursos livres na área do cinema e
audiovisual para os estudantes do ensino médio-técnico.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Na minha cidade atualmente tem duas empresas de cinemas
dentro de shopping centers diferentes e mais uma empresa que estava a ponto de
inaugurar, também dentro de um shopping. Entre esses dois cinemas que estavam
abertos antes da pandemia o meu preferido é o Kinoplex Avenida, principalmente porque costumava passar mais
filmes brasileiros em relação a outra rede que atua na cidade de Campos.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e
pensado: cinema é um lugar diferente.
A memória mais antiga que eu tenho de uma sala de cinema foi
numa sala de rua na cidade de Araruama, onde nasci. Fui levado pelos meus pais,
juntamente com minha irmã mais velha, para assistir a animação O Rei Leão (1994). Lembro que a sala
estava lotada e que o filme era legendado. Provavelmente meus pais só
conseguiram ingresso para a sessão legendada. Eu ainda não sabia ler, e minha
mãe passou a sessão inteira cochichando no meu ouvido as falas! Eu lembro que
me encantei com aquele lugar e com o tamanho da tela, dos personagens, que pra
uma criança de cinco anos era proporcionalmente enorme, mas me incomodei com o
fato de não entender o que os personagens falavam. rs
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Bem difícil citar somente um nome e somente um título. Pra
mim funciona como uma coisa de momento. Tem diretoras e diretores e também
filmes que gosto muito, mas que dependendo do "mood" da vida naquele
momento não é o tipo de filme ou direção que me toca. Não sei dá para entender.
Mas já que é pra falar somente uma pessoa, vamos lá: Alfred Hitchcock, A sombra de uma dúvida / Shadow of a Doubt (1943).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Um que tenho como emblemático é o Mar de Rosas (1977), da diretora Ana Carolina. Me agrada ao mesmo tempo a brasilidade do filme, os
devaneios, o surrealismo, as cores, o argumento e a direção feita pelo olhar
feminino da Ana.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É se interessar por tudo o que está relacionado com o
cinema. Se interessar pela captura do movimento, pela óptica, pela arte da
projeção, pela linguagem visual não verbal e também verbal e pela forma de
expressão artística que as imagens e sons montados proporcionam.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Primeiramente, o que é uma pessoa entender de cinema? É
entender sobre filmes considerados mais artísticos? É ser crítico? É ser um
pesquisador com diploma? É entender e estar dentro das lógicas do mercado capitalista
cinematográfico? Falando somente sobre Campos, acho que a programação da cidade
é feita por pessoas que trabalham analisando as questões de público como um
consumidor e cliente (consumidor dentro de um shopping, diga-se de passagem) e
muitas vezes guiados pelo que o mercado distribuidor supõe sobre o público
consumidor, mas estas suposições podem errar.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não acredito nisso. E estou apostando em um boom na ida a
salas de cinema quando (e se) essa pandemia der uma trégua. Muito provavelmente
após todos nós estarmos vacinados, lembrando que temos que continuar a tomar
todos os cuidados possíveis, nada de aloprar na sala de cinema. Mas entendo que
a situação das salas deve estar ficando cada vez mais difícil, sem recursos por
estarem sem público e sem nenhuma ajuda do governo neste sentido.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Não é tão desconhecido, mas vai: Barravento (1962), Glauber
Rocha.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Na situação atual, neste abril de 2021, onde as coisas estão
ainda piores, acredito que não. Eu não tive coragem de ir em uma sala que
reabriu durante a pandemia. Mas penso que as salas de cinema, principalmente as
de pequeno porte e pequenas redes, precisam de ajuda neste momento para se
manterem até uma possível situação de pós-pandemia.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Gosto muito da atriz, diretora, curadora e dramaturga Grace Passô.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vou usar a do diretor brasileiro Humberto Mauro, que pra mim é a melhor definição: "Cinema é
cachoeira".
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Eu lembro que em 2004 estava muito afim de ver o filme Cazuza - O tempo não para, do Walter
Carvalho. Mas a classificação indicativa era 16 anos, e eu tinha 15. Eu chamei
um amigo, que já tinha 16, e falsifiquei no "paintbrush" minha
carteirinha do colégio (a mesma que dava direito a meia entrada), fingindo que
eu tinha 16 anos. Passei batido! Acabei de entregar aqui minha contravenção de
adolescente (haha) mas valeu muito a pena! Achei o filme incrível e fiquei
emocionado com a história desse grande poeta.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Merece um parabéns quem conseguiu fazer filme no Brasil em
1998.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Se ser cinéfilo é apreciar o cinema, todos os diretores e
diretoras são um pouco, não? Mas o termo acaba carregando uma característica de
"vício", de alguém que somente pensa em cinema.Se tratamos das obras,
algumas deixam claro o traço de cinefilia de seus autores e outras não.
Resumindo: Não precisa. Acho os filmes do Eduardo Coutinho ótimos, e não vejo
grandes traços de cinefilia em suas obras. Por outro lado acho o trabalho do
Kleber Mendonça Filho fantástico, e me agrada muito todas as referências e o
modo como isso é colocado em suas obras.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Era uma vez em
Hollywood... / Once upon a time in Hollywood... (2019), de Quentin Tarantino.
17) Qual seu
documentário preferido?
Babilônia 2000
(1999), Eduardo Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim. Várias vezes, em festivais de cinema. Principalmente no
Festival do Rio.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Gosto do Senhor das
Armas / Lord of War (2005), de Andrew
Niccol. Mas tem muito tempo que não assisto.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
O portal da SOCINE - Sociedade de Estudos de Cinema e
Audiovisual, da qual faço parte. Eu me graduei em Cinema e atualmente atuo como
pesquisador e mestrando em Cinema e Audiovisual na UFF (Universidade Federal
Fluminense).