O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Leonardo Lopes tem 23 anos, é jornalista,
crítico de cinema e pós-graduando em Sociopsicologia. Desde 2014, integra o
portal Cinema de Buteco, com
coberturas de dois Festivais do Rio, duas Mostras de São Paulo, dezenas de
críticas, listas e podcasts pelo caminho.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Não há cinema em Arujá, onde passei a maior parte da minha
vida, e escolher um de São Paulo, para onde depois fui, seria muito óbvio.
Sendo assim, escolho o Cinemark do
Shopping Colinas, em São José dos Campos. São José fica alguns minutos mais
perto de Arujá do que a capital paulista, por isso frequentei muito o Colinas.
A programação é, dentro do que um cinema de shopping permite, diversificada, as
salas são boas e o principal, com certeza, é que há grande oferta de filmes
legendados (quem mora fora de uma capital sabe o quanto isso é raro).
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Não sobre o espaço físico, mas sobre o cinema, em si: Jurassic Park. Eu tinha uns 9, 10 anos,
quando ouvi a música do parque subir e roí as unhas com um filme pela primeira vez.
Obviamente, não comecei a estudar e descobrir mais dessa arte a partir daquele
momento, mas foi nele que uma chave virou.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Brian De Palma. Um
Tiro na Noite.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Invasor, de Beto
Brant. Aquilo é puro Brasil. Ambição, trambique, pessoas fora de seu lugar,
a subversão de uma história de sucesso. A cena do Anísio (Paulo Miklos)
filosofando na piscina da mansão da Marina (Mariana Ximenes) com Sabotage e Chorão
na trilha resume tudo.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
O cinema me aproximou das pessoas que eu amo. Me deu um
ofício, um lugar onde eu me encontro ao trabalhar, produzir. Me deu espaço de
encontro e pertencimento. Me deu uma maneira de encarar e dar significado ao
mundo. Me deu referência para memórias que eu tenho e coisas que ainda vou
viver. O cinema dá sentido à minha história.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece
possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
A maioria, não. Há ótimos cinemas gerenciados por gente
realmente apaixonada. Cinema, porém, é negócio. A maioria das salas estão em
shoppings e são programadas por um modus operandi das suas redes. Elas têm sua
importância.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Acabar, não. Minha preocupação é que elas se tornem espaços
muito restritos. Os grandes estúdios (Disney, Warner) e as empresas de
streaming (Netflix, Amazon) parecem interessados em diminuir a relevância dos lançamentos
no cinema e, com isso, a atividade pode se tornar exclusiva dos críticos,
pesquisadores e apaixonados. Esse público não basta para manter os cinemas como
uma atividade comercial forte e, portanto, presente em muitos lugares. Viraria
um mercado de nicho. A formação de novas gerações de fãs de cinema passa por
isso. Você não vê o mercado de discos de vinil, por exemplo, aumentando seu
público: quem já comprava, compra.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram, mas é ótimo.
Antes da Chuva, de
Milcho Manchevski.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não. São espaços fechados com pessoas dentro por, no mínimo,
uma hora e meia. O ambiente é inseguro.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Muito alta. Grandes filmes brasileiros são lançados ano após
ano. Faltam melhorias no sentido de comercialização e distribuição/ no
artístico, muito alta.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Irandhir Santos.
12) Defina cinema com
uma frase:
Vou usar uma do
Rubens Ewald Filho, que eu tenho tatuada: “Quem ama a vida, ama o cinema.”
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
A sessão era de Invocação
do Mal 2. Ainda nos trailers, uma mulher começou a reclamar com a outra a
respeito de um suposto assento trocado. Uma delas, não sei qual, deixou a sala
após uma breve discussão. Até aí, tudo normal. Passaram alguns minutos e ela
voltou ao local, mais raivosa e acompanhada, dirigiu-se ao lugar de sua
oponente e, pronto, barraco armado. Já nas primeiras cenas do filme, a gritaria
tomou conta, tinha gente filmando, flashes ligados e nenhuma ação da equipe do
cinema para conter a confusão. Saí e pedi meu dinheiro de volta.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Um meme.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que não. Há grandes diretores cinéfilos, mas não se
pode ignorar que o trabalho de direção tem um aspecto muito operacional,
também, em que às vezes essa paixão e vocação artística pode não ser
suficiente.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Difícil, hein. Vou de Esse
é o meu Garoto, de Sean Anders.
17) Qual seu
documentário preferido?
Edifício Master, de
Eduardo Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim. Na sessão de Cinema Novo, no Festival do Rio 2016. Além
dos méritos do filme, o palco (Cine Odeon) e a presença da Fernanda Montenegro e de outros figurões do nosso cinema no local
criaram uma atmosfera que pedia aplausos.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Empate: Con Air, de
Simon West, e Vivendo no Limite, de Martin Scorsese.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Na soma histórica, o Cinema
em Cena. Acesso com frequência o CinePlayers,
o blog do Roberto Sadovski e o Cinema com Crítica, que publica pelo
Instagram. E puxo a brasa para a minha
sardinha citando o Cinema de Buteco,
que também leio muito.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Hoje, o Telecine Play.
Catálogo ótimo.