O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Lara Sampaio tem 21 anos, é Co-CEO do
Quarentena Online Film Festival, uma das criadoras do formato inovador do
festival de cinema completamente online e aberto, nascido 19 dias depois do
início da pandemia. Além disso, é Showrunner de um webreality pós-Masterchef
chamado “AfterChef” indicado ao festival Cawcine. Além disso, é produtora e
editora do seu primeiro longa-metragem “Desafio: Ilha Grande x Copacabana”,
lançado em 2020. O filme fala sobre nove ultra-maratonistas aquáticos que se
põem a atravessar 110km em alto mar. Ademais, tem 10 curta-metragens atuando em
diversas funções, dentre elas direção, roteiro, edição, dublagem, atuação,
produção etc, com 10 indicações em filmes como “VIRA-TEMPO”, “Jorge de Caio”,
“No Ar”.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Gosto muito do Cinema
Itaú, porque lá tem filmes comerciais e independentes, então pego todo o
leque de possibilidades narrativas.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e
pensado: cinema é um lugar diferente.
Scooby Doo,
alguns dos de live-action, não me lembro qual. Sempre foi muito mágica a
experiência de aproveitar um ambiente escuro, com ar condicionado e cheirinho
de pipoca. Juntando com o filme, era o perfeito relaxamento e viagem que se
precisava. Várias vezes esquecia que estava sentada em uma cadeira, me sentia
ao lado dos personagens, desvendando os mistérios.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Confesso que não tenho muito isso, mas se tivesse que
escolher alguém seria o Jordan Peele
e o meu favorito dele é Us.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
É muito difícil escolher, são muitos. Mas eu ficaria
bastante em dúvida entre "Que Horas
Ela Volta?" e "Xingu".
São dois filmes que contam sua história de uma forma extremamente sensível.
Utilizam da simplicidade para trazer profundidade, além de transmitirem sua
mensagem por meio de uma linguagem mais acessível a qualquer pessoa que
assista, e não necessariamente só para um cinéfilo ou profissional do
audiovisual.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É assistir todo tipo de filme de todo tipo de lugar e gostar
disso. É quem gosta desde o que é considerado arte e o que não é, porque isso
não passa de uma bobagem. É reconhecer o que gosta e não ter vergonha disso,
mas assistir também o que não gosta e saber o porquê. É assistir de tudo e não
ter vergonha de nada.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece
possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?
A grande pergunta seria "o que é entender de
cinema"? Criar um tipo de programação que faz com que o cinema não se
sustente, não é entender de cinema ao meu ver. Assim como criar um tipo de
programação que não dá espaço para novas narrativas e diferentes linguagens,
profissionais de diferentes tamanhos, também não é entender de cinema. A grande
questão está em montar um modelo de negócio que funcione para dar espaço para
que não tem, mas sustentar aquele espaço com o que é vendível para que ele não
morra. Não há tristeza maior do que ver um cinema fechando. Poucos cinemas
fazem isso, isso é certo, porque não é nada fácil e extremamente desafiador.
Saber balancear isso é o grande entendimento de como funciona um cinema.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não mesmo, cinema já teve mais crises existenciais seculares
do que todos nós.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Benzinho de Gustavo Pizzi.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Eu não tenho como firmar uma resposta sobre a questão. Se
considerarmos uma situação onde o quadro da pandemia se encontra mais controlado,
por mais que sem a vacina, de repente a ida ao cinema do jeito que vários
lugares têm feito com espaços entre as cadeiras, quantidade limitada de
ingressos, sem bomboniére, sem ninguém tirar a máscara etc, as pessoas teriam
que se preocupar em não tocar em nada e higienizar suas cadeiras, pois ficariam
paradas assistindo ao filme durante 02h. Uma questão é se vale a pena abrir um
cinema para lucrar míseros ingressos das poucas pessoas que iriam, sendo que
sabemos que os cinemas se sustentam pela pipoca de 30 reais e a bomboniére
estaria fechada. Ao mesmo tempo, manter salas que custam mais de 60 mil reais
paradas, sem funcionamento, também é uma perda absurda de dinheiro. Contudo,
nos encontramos numa guerra com o invisível, literalmente milhares de mortes
por dia, quem sou eu para dizer que temos que voltar a funcionar antes da
vacina? É uma questão ultra complexa com muitas variáveis. A única questão que
sempre ressalto é a necessidade e a habilidade que temos de nos reinventar, de
nos adaptar. Não só por sermos artistas, mas por sermos brasileiros. Não
podemos assistir os filmes na tela grande agora, por que não criar streamings,
sites, canais, qualquer coisa para que esses filmes não fiquem guardados na
gaveta e esses cinemas zerados de bilheteria? O que puder ser feito diante do
que nos há disponível neste momento, tem que ser feito.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Excelente, mas podemos melhorar. Ainda precisamos ter mais
investimento para desenvolvimento e distribuição para aproveitar o máximo
possível de nossas histórias, além de conseguir vendê-las e vinculá-las a mais
janelas e possibilidades de espaço.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Anna Muylaert.
12) Defina cinema com
uma frase:
Indefinível.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Colocaram um filme adulto em uma sessão infantil, houve um
pânico absurdo entre pais e mães. Crianças assustadas e famílias estressadas,
presenciamos cenas fortes de depressão, agressão e violência. Não diria que foi
inusitada, apenas que foi horrível.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Não assisti ainda.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha
que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?
Não, eu acredito que para você dirigir um filme você precisa
ter muitas referências. Não é só filme, é série, é YouTube, é pintura, é
desenho, é música, é clipe, é poesia, é livro, é dança... Não se pode
restringir a apenas a filmes.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Ano Passado Em Marienbad.
17) Qual seu
documentário preferido?
Estou Me Guardando
Para Quando o Carnaval Chegar.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Claro, muitos.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Eu tenho uma memória afetiva infantil pelo A Lenda do Tesouro Perdido. Provavelmente não é o melhor que vi dele, mas gosto muito
e é o primeiro que me lembro.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Nenhum, eu prefiro revistas e portais que falam sobre o
mercado, como a Exibidor. Sites com
críticas e resenhas não me interessam muito. Gosto quando apenas preciso ler
sobre um filme específico. Mas para esse tipo de conteúdo, prefiro o YouTube,
canais como o Vanity Fair, por
exemplo.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
O Disney+ e o Netflix, são os únicos que consigo
assinar no momento.