O que você vê quando olha pra mim? Baseado no livro homônimo do escritor Walter Dean Myers, lançado no final da década de 90, Monstro é o retrato de uma sociedade que acusa sem pensar, que julga pela cor, acaba com sonhos, definindo destinos de maneira cruel. Um filme de tribunal com um protagonista (interpretado pelo excelente Kelvin Harrison Jr, que inclusive fará B.B King no novo filme de Baz Luhrmann ainda sem título) em grande destaque que busca em sua narrativa impactante, sensível, refletir toda a emoção, sentimentos que transbordam dentro de seu drama. Primeiro longa-metragem de Anthony Mandler.
Na trama, conhecemos Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), um jovem e sonhador de 17 anos que está
prestes a completar o último ano de escola e ir para a faculdade. Cinéfilo,
sonha em ser diretor de cinema e estuda em uma das melhores escolas públicas
dos Estados Unidos. Mas toda sua vida futura fica com um ponto de interrogação
quando é acusado de ter participado de um assalto a uma mercearia onde uma
pessoa foi assassinada. Assim, vamos vendo a narrativa sob a ótica de Steve
sobre tudo que aconteceu até o dia de seu julgamento.
O estilo da narrativa chama bastante a atenção, em formato
de crônica pessoal para o protagonista, uma declamação de todo um recorte de
vida, sua trajetória até chegar ao banco dos réus, somos testemunhas de
opiniões, olhares, julgamentos, por meio de fotos também, todo o universo que
cerca esse jovem acusado de participar de um crime que não cometeu. O seu
criativo expressar artístico é a veia unificadora de toda a narrativa muito bem
filmada pelas lentes de Mandler. Sua relação com a família é bastante intensa,
principalmente com o pai (interpretado por Jeffrey
Wright) talvez pelo seu ponto de vista ser tão enigmático, não dá pra saber
se ele acha o filho culpado ou inocente. A mãe católica (a ganhadora do Oscar Jennifer Hudson) não aparece muito.
Outra relação importante pra trama é com a advogada (interpretada pela ótima Jennifer Ehle), talvez a única que
acredita no réu logo de primeira se tornando peça chave para o desfecho.
Será que nossa sociedade está finalmente preparada para conseguir
refletir sobre um filme importante como esse? Abordando muito mais do que os tremores
e arrepios vividos por um jovem negro acusado de maneira desleal, o projeto
expõe toda a ótica que muitos possuem sobre o tribunal, as regras da lei e
seus personagens. Profundo em seus diálogos, impactantes em seus exemplos, lançado
em 2018 no Festival de Sundance, Monster, no
original, chegou à Netflix nessa
semana.