01/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #401 - Márcio Moraes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Márcio Moraes tem 28 anos, é Executivo de Vendas América Latina na distribuidora Califórnia Filmes, atua na distribuição de longas nacionais e internacionais para cinema, televisão e plataformas digitais. Trabalhou anteriormente na distribuidora Art-House, Imovision e na Fundação Padre Anchieta – TV Cultura. Também é ator de teatro há 13 anos, diretor-fundador da Trupe Caçadores de Tatu (Taturema) e da Tatu – Escola de Teatro, em Sorocaba no interior de São Paulo. Cursou Rádio, TV e Internet na Universidade Anhembi Morumbi.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A minha sala preferida com certeza é o Reserva Cultural, além de já ter trabalhado para o Jean Thomas na Imovision, é um dos cinemas que mais frequentei com pessoas muito queridas e que tem uma potente programação alternativa. Acho que as lembranças que a sala de cinema te proporciona pela experiência em si e o ponto de encontro entre pessoas, que vão para além de apenas o filme, também contam muito nessa decisão – então, sem dúvidas o Reserva é minha sala preferida.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Dogville (2003), fiquei dias refletindo sobre o filme e lembro até hoje dessa sensação.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Gosto muito do Lars Von Trier e meu filme favorito é o Dançando no Escuro (2000) com a Björk.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Não tenho um favorito, mas dos últimos que vi que mais gostei foram As Boas Maneiras (2018) de Juliana Rojas e Marco Dutra, Aos Teus Olhos (2017) de Carolina Jabor e Anna (2018) de Heito Dhalia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É guardar um espaço especial da sua vida para viver a experiência cinematográfica e ser transpassado por ela.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Com certeza, e entendem de cinema como um todo – tanto quando arte como enquanto mercado. Cada sala tem a sua própria “clientela” e por consequência, temos programações feitas para atender essas demandas. Um programador precisa acompanhar constantemente o cenário e por consequência, assiste muita coisa e isso por si só é “entender de cinema”.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Com absoluta certeza: não, eu não vejo o streaming e as novas mídias conseguindo transpor o “encontro”. Assim como o teatro, a sala de cinema promove uma reunião catártica de pessoas, além de trazer uma impressionante e gigantesca tela onde se projeta a imagem causando um impacto que nem a melhor TV consegue – existe uma mágica nessa combinação que traz a aura de evento para a além da sua reprodutibilidade técnica. Além de que sempre que uma nova mídia chega diz-se que a anterior vai se encerrar e vemos cada vez mais que isso não é verdade, elas coexistem dentro das suas dimensões.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Corpo e Alma (2017) de Ildikó Enyedi, Dentro da Casa (2013) de François Ozon, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor (2005) de Jean-Marc Vallée e Monsieur & Madame Adelman (2017) de Nicolas Bedos, são filmes que eu gosto muito e sempre falo pras pessoas assistirem.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

As salas já reabriram e fecharam várias vezes ao longo da pandemia. Eu pessoalmente acho que é algo muito sensível de se discutir, porém com as devidas medidas de segurança e conforme permitido pelo governo entre os lockdowns, não me oponho.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Temos uma produção intensa, muito ativa, onde podemos encontrar espaço pra todos os projetos. É fenomenal o que os filmes de comédia da Downtown/Paris conseguem arrecadar de bilheteria, é incrível a visibilidade internacional de projetos nacionais em premiações como os títulos Babenco, Bacurau, A Vida Invisível, etc. Porém hoje atravessaremos um momento muito complicado causado tanto pela pandemia quanto pela ausência das políticas públicas e desmanche da ANCINE. Por mais que muitas produtoras ao longo dos anos conseguiram se estabilizar e produzir constantemente, a ausência dos fomentos governamentais causam efeitos devastadores e afetará o que será produzido e o quanto será produzido daqui para frente no país pois a ausência desses recursos minará a diversidade criativa, e apenas o mercado em si pautará o jogo – quem deter recursos conseguirá produzir, concentrando muito mais o que virá em poucos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Tudo o que a Fernanda Torres faz, eu assisto.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é encontro, desejo e contar histórias.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não me lembro de nada muito inusitado, mas teve uma época que eu ia quase todos os dias ao cinema, e teve uma semana em que eu perdi uma lente de contato e demorei uns dias pra comprar, nesse meio tempo eu ficava praticamente assistindo os filmes com um olho só – a triste vida do míope.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

“Vai passarinho, você como as crianças também tem direito a liberdade”

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu sempre penso que todos podemos desenvolver a sensibilidade necessária pra produzir uma obra de arte, seja ela em qual mídia for. Não acredito que apenas quem viu tudo (Até porque não se é possível ver tudo) é a única pessoa capaz de desenvolver com talento, a sensibilidade e a exatidão necessária pra executar um longa-metragem, mas com certeza o repertório aprimora o senso estético e criativo e contribui muito para o resultado final do cineasta.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Muito difícil, eu costumo esquecer e eu já tive que assistir muita coisa ruim por trabalhar com distribuição, não vou conseguir citar um filme.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu amo qualquer documentário de espaço do Discovery Channel ou do History, mas meu documentário favorito é Jogo de Cena (2007) de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Só em pré-estreias com a presença do elenco, rs.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de O Resgate (2012), que sequestram a filha dele.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Variety, Deadline, TelaViva, Worldscreen/TV Latina e Hollywood Reporter.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Globoplay, Amazon Prime Video, WOW Plus, Netflix e DirectvGO.