O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Márcio Moraes tem 28 anos, é Executivo
de Vendas América Latina na distribuidora Califórnia
Filmes, atua na distribuição de longas nacionais e internacionais para
cinema, televisão e plataformas digitais. Trabalhou anteriormente na
distribuidora Art-House, Imovision e na Fundação Padre Anchieta – TV Cultura.
Também é ator de teatro há 13 anos, diretor-fundador da Trupe Caçadores de Tatu
(Taturema) e da Tatu – Escola de Teatro, em Sorocaba no interior de São Paulo.
Cursou Rádio, TV e Internet na Universidade Anhembi Morumbi.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
A minha sala preferida com certeza é o Reserva Cultural, além de já ter trabalhado para o Jean Thomas na Imovision, é um dos cinemas que mais frequentei com pessoas muito
queridas e que tem uma potente programação alternativa. Acho que as lembranças
que a sala de cinema te proporciona pela experiência em si e o ponto de
encontro entre pessoas, que vão para além de apenas o filme, também contam
muito nessa decisão – então, sem dúvidas o Reserva é minha sala preferida.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Dogville (2003), fiquei dias refletindo sobre o filme e
lembro até hoje dessa sensação.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Gosto muito do Lars
Von Trier e meu filme favorito é o Dançando
no Escuro (2000) com a Björk.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Não tenho um favorito, mas dos últimos que vi que mais
gostei foram As Boas Maneiras (2018)
de Juliana Rojas e Marco Dutra, Aos Teus Olhos (2017) de Carolina
Jabor e Anna (2018) de Heito Dhalia.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É guardar um espaço especial da sua vida para viver a
experiência cinematográfica e ser transpassado por ela.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Com certeza, e entendem de cinema como um todo – tanto
quando arte como enquanto mercado. Cada sala tem a sua própria “clientela” e
por consequência, temos programações feitas para atender essas demandas. Um
programador precisa acompanhar constantemente o cenário e por consequência,
assiste muita coisa e isso por si só é “entender de cinema”.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Com absoluta certeza: não, eu não vejo o streaming e as
novas mídias conseguindo transpor o “encontro”. Assim como o teatro, a sala de
cinema promove uma reunião catártica de pessoas, além de trazer uma
impressionante e gigantesca tela onde se projeta a imagem causando um impacto
que nem a melhor TV consegue – existe uma mágica nessa combinação que traz a
aura de evento para a além da sua reprodutibilidade técnica. Além de que sempre
que uma nova mídia chega diz-se que a anterior vai se encerrar e vemos cada vez
mais que isso não é verdade, elas coexistem dentro das suas dimensões.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Corpo e Alma
(2017) de Ildikó Enyedi, Dentro da Casa
(2013) de François Ozon, C.R.A.Z.Y. -
Loucos de Amor (2005) de Jean-Marc
Vallée e Monsieur & Madame
Adelman (2017) de Nicolas Bedos,
são filmes que eu gosto muito e sempre falo pras pessoas assistirem.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
As salas já reabriram e fecharam várias vezes ao longo da
pandemia. Eu pessoalmente acho que é algo muito sensível de se discutir, porém
com as devidas medidas de segurança e conforme permitido pelo governo entre os
lockdowns, não me oponho.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Temos uma produção intensa, muito ativa, onde podemos
encontrar espaço pra todos os projetos. É fenomenal o que os filmes de comédia
da Downtown/Paris conseguem
arrecadar de bilheteria, é incrível a visibilidade internacional de projetos
nacionais em premiações como os títulos Babenco,
Bacurau, A Vida Invisível, etc. Porém hoje atravessaremos um momento muito
complicado causado tanto pela pandemia quanto pela ausência das políticas
públicas e desmanche da ANCINE. Por mais que muitas produtoras ao longo dos
anos conseguiram se estabilizar e produzir constantemente, a ausência dos
fomentos governamentais causam efeitos devastadores e afetará o que será
produzido e o quanto será produzido daqui para frente no país pois a ausência
desses recursos minará a diversidade criativa, e apenas o mercado em si pautará
o jogo – quem deter recursos conseguirá produzir, concentrando muito mais o que
virá em poucos.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Tudo o que a Fernanda
Torres faz, eu assisto.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é encontro, desejo e contar histórias.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não me lembro de nada muito inusitado, mas teve uma época
que eu ia quase todos os dias ao cinema, e teve uma semana em que eu perdi uma
lente de contato e demorei uns dias pra comprar, nesse meio tempo eu ficava
praticamente assistindo os filmes com um olho só – a triste vida do míope.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
“Vai passarinho, você como as crianças também tem direito a
liberdade”
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Eu sempre penso que todos podemos desenvolver a
sensibilidade necessária pra produzir uma obra de arte, seja ela em qual mídia
for. Não acredito que apenas quem viu tudo (Até porque não se é possível ver
tudo) é a única pessoa capaz de desenvolver com talento, a sensibilidade e a
exatidão necessária pra executar um longa-metragem, mas com certeza o
repertório aprimora o senso estético e criativo e contribui muito para o
resultado final do cineasta.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Muito difícil, eu costumo esquecer e eu já tive que assistir
muita coisa ruim por trabalhar com distribuição, não vou conseguir citar um
filme.
17) Qual seu
documentário preferido?
Eu amo qualquer documentário de espaço do Discovery Channel
ou do History, mas meu documentário favorito é Jogo de Cena (2007) de Eduardo
Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Só em pré-estreias com a presença do elenco, rs.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Gosto de O Resgate
(2012), que sequestram a filha dele.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Variety, Deadline,
TelaViva, Worldscreen/TV Latina e Hollywood Reporter.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Globoplay, Amazon
Prime Video, WOW Plus, Netflix e DirectvGO.