E se você pudesse recriar momentos com sua arte? E se mesmo assim não fosse suficiente para se ter tudo na vida? Afinal, o que é ter tudo na vida? Em seu primeiro longa-metragem (dirigindo e escrevendo), após três curtas e co-dirigir dois seriados, o cineasta Michael Sarnoski consegue encontrar uma fórmula mágica, intimista, mostrando ao público dentro do inusitado universo de um homem atrás de um porco que lhe fora sequestrado. Aos poucos vamos percebendo que há toda uma impactante história por trás, mostrada na tela tecnicamente de forma sublime, dentro de uma fotografia maravilhosa. É a grande atuação da carreira de Nicolas Cage! É uma profundidade impressionante que alcança para seu complexo personagem. Somos testemunhas da ressurreição de sua carreira. Com trabalhos nos últimos anos, em sua maioria, bastante questionáveis, quando Cage acerta vira algo inesquecível.
Na trama, acompanhamos Rob (Nicolas Cage) um homem que encara sua solitude como algo normal na
região de florestas no interior de Oregon, vivendo com seu porco que o ajuda a
resgatar trufas e assim vender para um negociante desse produto, o jovem
empreendedor Amir (Alex Wolff).
Certo dia, em uma noite fria, sequestram seu porco, levando o protagonista a
ter que encarar todo seu passado em busca do animal. Parece uma sinopse doida
né? Mas saibam, é um filme surpreendente.
O ritmo é lento mas necessário. Refletir dentro da melancolia
é algo muito difícil, anda-se em uma linha tênue onde qualquer desinteresse
pode chegar na cena seguinte. Mas Sarnoski
é um grande habilidoso na arte do surpreender, vai entregando ao público
essa história aos poucos, partindo do absurdo até as camadas mais densas. A
interseção são as perdas, um luto vestido de várias formas diferente por cada
personagem, encabeçados por um protagonista que junta todas as pontas soltas
mesmo que seu objetivo seja mesmo travar uma luta interna contra tudo que
deixou longe de seu atual viver.
Como o foco é quase total no personagem principal, esse
deixa migalhas de uma personalidade forte mas grande respeito de muitos dos que
sempre lembram dele. Ele anda pelas ruas todo machucado, sujo, isso não parece
importa aos olhos imperceptíveis do seu mundo ao redor. Vira um paralelo
profundo de como se sente por dentro, a amargura que transborda. Faz o possível
para que a página atual de sua vida seja virada mesmo que isso lhe traga a
volta de lembranças adormecidas de um passado que de alguma forma ainda lhe
traz muita tristeza.
Essas dores da perda, o emblemático instante do inesquecível
chegam de encontro quando quase que poeticamente usa sua carta na manga, a arte
de cozinhar, a questão do sentimento trazida à mesa. Um fechamento de um ciclo,
uma jornada, de autodescoberta sobre os caminhos que ainda pode conhecer ou simplesmente
deitar na sua cama aguardando tudo passar? Mas será que passa? Qual o próximo
passo? Ele existe? Pig é um dos
grandes filmes de 2021. Imperdível!