A realidade de alguns, longe de muitos. Exibido na Mostra de SP 2021, a Co-produção Rússia, Polônia, Bélgica, O Jovem Caçador de Baleias (Kitoboy) busca seus objetivos na sensibilidade dos porquês, nas inconsequências, que podem ser interpretadas como ato de coragem por alguns. As relações de um vilarejo no estreito de Bering (que liga os oceanos Pacífico e Ártico, entre a Rússia e os Estados Unidos.) com a tão sonhada vida na América é marcada aqui pelo conflito emocional de uma paixão imaginária. Dirigido pelo cineasta russo Philipp Yuryev, O Jovem Caçador de Baleias é uma saga reflexiva sobre o universo globalizado.
Na trama, conhecemos o jovem Leshka (Vladimir Onokhov) que vive seus dias pacatos em um vilarejo bem
distante dos badalados grandes centros do mundo, no estreito de Bering. Como a maioria
dos jovens locais, vive de caçar baleias. Quando a internet enfim chega ao
local se diverte com amigos e conhecidos vendo shows de garotas pela grande rede (camgirls). O protagonista acaba se apaixonando por uma delas e resolve
embarcar em uma jornada para tentar conhecê-la e declarar todo seu amor.
Com sua população predominantemente masculina, os desejos de
alguns de chegar até a América e os conflitos disso como forma de crítica social
acabam tomando conta das ações do personagem. Nos primeiros arcos mostra o
ambiente como é, o cotidiano do vilarejo isolado que recebeu internet faz pouco
tempo e onde a eletricidade é controlada (em certa hora do dia, simplesmente
não tem luz e onde podemos ver velas por toda as casas). Há tempo para mostrar
o ritual de despedida, forte e presente na cultura local mesmo que o foco seja
o conflito emocional de Leshka.
O protagonista intriga. Aprende inglês com livros bem
didáticos para enfim concretizar em sua cabeça, traça planos mirabolantes em
busca de seus objetivos, custe o que custar. Somos testemunhas desse recorte,
do despertar do jovem entrando na era da internet, da globalização, do acesso
instantâneo a vários universos, onde se conectam pessoas de todo o mundo em
pouco cliques. O descontrole emocional torna-se aparente, evidente, aliado `uma
falta de maturidade constante como se o mundo em que vive nunca tivesse dado a
ele uma chance de pensar sobre a vida e o futuro. É difícil mostrar os conflituosos
sentimentos que se sucedem por imagens e ações em um recorte de vida tão
distante ao nosso pensar, méritos de Yuryev e cia que realizam um bom filme
para refletir.