31/10/2021

Crítica do filme: 'O Jovem Caçador de Baleias'


A realidade de alguns, longe de muitos. Exibido na Mostra de SP 2021, a Co-produção Rússia, Polônia, Bélgica, O Jovem Caçador de Baleias (Kitoboy) busca seus objetivos na sensibilidade dos porquês, nas inconsequências, que podem ser interpretadas como ato de coragem por alguns. As relações de um vilarejo no estreito de Bering (que liga os oceanos Pacífico e Ártico, entre a Rússia e os Estados Unidos.) com a tão sonhada vida na América é marcada aqui pelo conflito emocional de uma paixão imaginária. Dirigido pelo cineasta russo Philipp Yuryev, O Jovem Caçador de Baleias é uma saga reflexiva sobre o universo globalizado.


Na trama, conhecemos o jovem Leshka (Vladimir Onokhov) que vive seus dias pacatos em um vilarejo bem distante dos badalados grandes centros do mundo, no estreito de Bering. Como a maioria dos jovens locais, vive de caçar baleias. Quando a internet enfim chega ao local se diverte com amigos e conhecidos vendo shows de garotas pela grande rede (camgirls). O protagonista acaba se apaixonando por uma delas e resolve embarcar em uma jornada para tentar conhecê-la e declarar todo seu amor.


Com sua população predominantemente masculina, os desejos de alguns de chegar até a América e os conflitos disso como forma de crítica social acabam tomando conta das ações do personagem. Nos primeiros arcos mostra o ambiente como é, o cotidiano do vilarejo isolado que recebeu internet faz pouco tempo e onde a eletricidade é controlada (em certa hora do dia, simplesmente não tem luz e onde podemos ver velas por toda as casas). Há tempo para mostrar o ritual de despedida, forte e presente na cultura local mesmo que o foco seja o conflito emocional de Leshka.


O protagonista intriga. Aprende inglês com livros bem didáticos para enfim concretizar em sua cabeça, traça planos mirabolantes em busca de seus objetivos, custe o que custar. Somos testemunhas desse recorte, do despertar do jovem entrando na era da internet, da globalização, do acesso instantâneo a vários universos, onde se conectam pessoas de todo o mundo em pouco cliques. O descontrole emocional torna-se aparente, evidente, aliado `uma falta de maturidade constante como se o mundo em que vive nunca tivesse dado a ele uma chance de pensar sobre a vida e o futuro. É difícil mostrar os conflituosos sentimentos que se sucedem por imagens e ações em um recorte de vida tão distante ao nosso pensar, méritos de Yuryev e cia que realizam um bom filme para refletir.