Com mais de 30 anos de carreira, dezenas de papéis em peças de teatro, novelas e filmes, Caco Ciocler foi o convidado de um painel de direção audiovisual no Festival de Cinema de Vassouras no Vale do Café. Em um lugar super agradável chamado Centro Cultural Cazuza (nome dado em homenagem ao inesquecível cantor), o veterano artista se reuniu com jornalistas e o público em um longo bate-papo onde caminhou por diversos assuntos.
Chamado para fazer uma mesa sobre direção, mesmo tendo uma
carreira recente nessa posição, o ator também veio lançar seu novo filme,
terceiro como diretor, o híbrido entre documentário e ficção O Melhor Lugar do Mundo é Agora. O
projeto não teve patrocínio, não
usou as leis de incentivo, Caco realizou sua obra, literalmente do quintal da
casa dele, pelo aplicativo Zoom. Usou a impossibilidade do cinema para fazer um
filme sobre a impossibilidade de fazer cinema. O filme foi selecionado na Mostra
de SP, no Festival do Rio e fora exibido na noite da última quarta-feira (26)
no Festival de Cinema de Vassouras no Vale do Café.
“Sou um diretor que tem achado no cinema a possibilidade de responder ao que eu acho que preciso reagir.” |
Muitos não sabem mas o renomado artista começou a carreira
dele como diretor na década de 90 dirigindo um curta-metragem chamado Trópico de Câncer que tinha um minuto
de duração que ele fez para o Festival
do Minuto. Acabou até vencendo esse festival. Depois foi contratado por uma
produtora para dirigir o documentário Esse
Viver Ninguém me Tira que participou da mostra competitiva do Festival de Gramado e do Festival do Rio. Anos mais tarde, em
2018, em uma época de um país completamente dividido, ele teve a ideia, depois
de pensar sobre um artista poder ser o presidente da república, pois um artista
deslumbra a necessidade de existência além do outro, surgiu o documentário road
movie Partida (disponível na Prime
Video) que após circular alguns festivais, ganhou um prêmio no Festival de Málaga.
Após atualizar o público presente sobre detalhes de sua
carreira na direção, Caco falou sobre as leis de incentivo: “Há um ataque tão
grande à Lei Rouanet, algumas pessoas falam as coisas sem saber. Esse governo ataca
tanto essa lei, mas por que ela não acaba? Porque além de tudo essa lei é
rentável para o governo. O governo contempla a possibilidade de você captar
esse recurso. É a empresa que ao invés de pagar o imposto, destina uma
porcentagem para esse projeto. A cada real que você investe por essa Lei
volta-se 3, 4 reais (já chegou a 7) aos cofres públicos. É uma lógica burra esse
ataque às leis de incentivo.”
Caco também falou sobre sua relação com o texto crítico, como os críticos enxergam o seu trabalho como diretor: “Sou muito suscetível à crítica, o que é bom e ruim. Quando eu tinha acabado de montar o filme Partida, a gente precisava mandar para um grande festival internacional. Fechamos um corte. Aí eu mandei para duas pessoas que eu respeito muito. Uma delas a Daniela Thomas (cineasta). Todo mundo até então tinha gostado do filme. A Daniela odiou o filme, acabou com o filme um dia antes da gente mandar pro Festival de Veneza. Algo me dizia que ela tinha razão. E foi ótimo eu não ter mandado o filme para o Festival. Ela apontou questões na crítica dela que me fizeram refletir. Eu mexi no filme todo. Eu gosto de ouvir, fico dias pensando, fico com raiva de quem não gosta (risos), eu sempre acho que podem ter razão em algum lugar. O filme que será exibido nesse Festival, O Melhor Lugar do Mundo é Agora, teve apenas uma pessoa, um crítico importante que não gostou do filme, eu penso nele todo dia (risos). Me pergunto: Será que ele tem razão? Mas acho que ele não tem razão não (risos).
Perguntado sobre uma questão se parte do público brasileiro
pode ter um certo pré-conceito ou até mesmo preconceito sobre o cinema feito
por aqui, o artista contou uma história que presenciou: “Eu estava em um cinema
dentro de um shopping em São Paulo e a pessoa perdeu o horário do filme dela.
Aí viu um cartaz de um filme brasileiro, chamado Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, a pessoa
que estava vendendo o ingresso olhou para ela e disse de maneira debochada: é
brasileiro.” “Mas isso tá mudando. O streaming está mudando isso. As pessoas
estão entendo o que é um bom personagem, as pessoas estão entendo o que é uma
trama sem precisar ser bem explicadinha, sem precisar ter tanta trilha sonora.
O streaming está trazendo uma sofisticação, não de linguagem cinematográfica,
mas de alguns elementos da dramaturgia audiovisual muito interessantes.”
O Melhor Lugar do Mundo
é Agora ainda não tem distribuidora nem sabemos se haverá exibições nas
concorridas salas de cinema do Brasil. Provavelmente no streaming você poderá
conferir mais esse filme desse grande artista brasileiro.