O prazer, o desejo nos encontros entre a dominação e a submissão. Baseado em uma obra da romancista norte-americana Mary Gaitskill, Secretária, filme lançado 20 anos atrás, é uma jornada intensa, provocante, que mostra os caminhos do prazer de maneira fundamentada em percepções, sentimentos, desejos, em um tour por duas mentes que se encontram a partir de uma relação profissional convencional até chegarem as descobertas íntimas. Dirigido pelo cineasta Steven Shainberg.
Na trama, conhecemos Lee (Maggie Gyllenhaal) uma tímida mulher que passou por muitos momentos
de aflições na vida, inclusive precisando ser internada por um tempo por conta
do vício em se cortar. Quando recebe alta da clínica, percebe que seu mundo de
alguma forma está no mesmo lugar que deixou e acaba investindo em uma profissão
de datilógrafa. Assim, acaba chegando até o escritório de um advogado, Mr. Grey
(James Spader), um homem
extremamente controlador, amargurado, rígido que começa um jogo de dominação
com a protagonista, fato que mudará a vida dos dois para sempre.
Os paralelos entre a dominação e a submissão. Construído de
maneira instigante, que traça um raio-x bem profundo de cada um dos dois personagens
protagonistas, o roteiro apresenta paralelos dentro de ações e consequências,
partindo das características dos elos construtores dessa história até os
encaixes em relação aos desejos. O sexo aqui se torna algo secundário, as
fantasias dominam os personagens. Muito antes do Mr. Grey da era das redes
sociais (aquele personagem dos famosos livros de E. L. James), existiu esse Mr. Grey interpretado brilhantemente por James Spader. Há semelhanças mas essa
produção aqui consegue ser muito mais profunda e provocante falando sobre o
mesmo tema.
As descobertas do prazer se chocam sobre o momento dos
personagens. Mr. Grey parece que luta contra seus desejos, busca o controle em
relação a tudo mas parece ter o descontrole como marca. Ele acaba encontrando o
equilíbrio na relação com Lee, essa uma mulher que se descobre para a vida
através do prazer vivido pelas situações com o chefe. Há o componente da dor
como fator de reflexão, quase um elo entre os personagens, uma por conta do
sentimento em relação as dores físicas, o outro mais na dor emocional, um
grande conflito por ter aqueles impulsos.
Ao fim, chegamos a conclusão que um dos objetivos desse
interessante projeto é nos fazer entender sobre a intimidade. Abre-se uma porta
para o pensar também sobre desejos, o sexo, as fantasias e o prazer. Um filme
muito interessante.