Os acasos da roleta, o movimento das cartas. Lançado no final da década de 90, o longa-metragem O Crupiê nos leva até a jornada de um introspectivo escritor que enxerga em uma oportunidade de trabalho observar e preencher as páginas de seus livros com histórias que giram em torno de um cassino. Dirigido pelo cineasta britânico Mike Hodges e com roteiro assinado por Paul Mayersberg o filme é um drama existencial que impacta o espectador com os caminhos que percorre o galanteador protagonista.
Na trama, conhecemos Jack Manfred (Clive Owen), um homem que tenta conseguir um grande chance em uma
editora no sonho de escrever um best-seller. Com muito tempo para escrever mas
com a grana curta, devendo inclusive o aluguel para a namorada Marion (Gina McKee) que mora com ele, recebe
uma ligação certo dia de seu pai, um malandro que mora na África do Sul que
conseguiu para Jack um emprego como crupiê em um cassino em Londres. Jack
aceita o serviço e começa a trabalhar no lugar. Lá conhece os funcionários, os
jogadores e conforme vai gostando da nova profissão acaba atraindo conflitos
para seu presente mas que podem servir como variáveis importantes para seu
próximo livro.
O enigmático personagem principal, brilhantemente interpretado
por Owen, abre as portas do seu pensar deixando o espectador imerso em sua
história. O uso da narração em off nos acopla em uma espécie de metalinguagem onde
parece que estamos folheando uma obra em constante construção. O campo de
interesse de Jack vai do relacionamento morno e inconstante com a namorada, até
o seu tom observador em relação aos jogadores que passam diariamente por seus
olhos e suas mesas. Os conflitos vão se acumulando, fato que o lado escritor
adora parece muitas vezes se jogar em situações que simplesmente poderia
descartar.
O ambiente do Cassino, das apostas, das superstições, ganham
espaço a todo instante. O roteiro é detalhista nos leva para uma jornada na vida
desse homem, que parece muitas vezes confiante demais nas oportunidades que lhe
aparecem e que enxerga no dom que possui, o de observar, uma razão de
existência. Intrigante esse personagem.