Não é bem o poder, não é bem a ganância, é o egoísmo. Nos colocando sobre os olhares dentro das quatro paredes do declínio de um relacionamento O Refúgio nos mostra as correntes do rompimento pelas fraquezas mais conhecidas pelo ser humano. Aqui não há dilemas, há certezas inconsequentes, algo que de alguma forma molda toda a trajetória de todos os integrantes dessa família. Em seu segundo longa-metragem como diretor (o primeiro foi o ótimo Martha Marcy May Marlene), o cineasta canadense Sean Durkin consegue refletir pelo tenso caminho abstrato das emoções perdidas.
Na trama, ambientada na década de 80, conhecemos Rory (Jude Law), um britânico que mora nos
Estados Unidos junto da esposa Allison (Carrie
Coon) e dos dois filhos do casal. Rory não está feliz e consegue um emprego
na Inglaterra fazendo uma enorme mudança na vida de todos da família. Só que
por lá, na terra da rainha, as coisas não saem conforme o planejado, o egoísmo
e o ego do protagonista levam a abalos perceptíveis nos alicerces da família.
Em meio a calorosas discussões e palavras fortes jogadas ao vento, a inconsequência
toma as rédeas em ações descontroladas e distantes.
Há um grande análise sobre o casal, algo que acontece dentro
de paralelos que nos mostram as ações e consequências que acabam influenciando
a todos os personagens. De um lado Rory e sua ganância sem fim beirando à
megalomania, que lida com um forte conflito do seu passado na recriação do seu
presente deixando a busca por dinheiro e principalmente status social tomar
conta de seus focos. Do outro lado, temos Allison, uma mulher que se encontra completamente
sozinha, em um país que não se sente à vontade, sem amigos, com a família
(principalmente seu marido) passando por mudanças bruscas. Tanto Jude Law quanto Carrie Coon dão um verdadeiro show em cena.
A infelicidade muitas vezes chega ao seu extremo nessa história,
com a paranoia tomando conta quando o pensar em um oásis se torna algo distante
e nada objetivo. Mas o lado emocional, muito bem explorado dá margem também
para pensarmos sobre o mundo naquele instante, em uma Inglaterra vazia de
ideias empreendedoras, dentro de um conservadorismo evidente, um país
completamente diferente do subúrbio norte-americano em que estavam, onde as
ideias inovadoras saltavam a cada esquina.
Há um exercício interessante para o espectador, definir o que
seria o refúgio do título. De bate pronto podemos acoplar o sentido à
trajetória dos dois personagens, nos desencontros da vida em outro país em dois
momentos distintos de suas vidas juntos.